Capitulo I – Um péssimo dia
A tempestade castigava os campos aquela noite, enquanto o vento rugia espalhando estranhos sons que se confundiam com os gemidos dos mortos nos lugares mais afastados, onde o tempo se perdia entre as sombras. Àquela hora, era difícil visualizar qualquer ser vivo em meio ao dilúvio que se abatia sobre a Terra. Difícil, mas não impossível.
Não se você fosse um ninja. Não se você possuísse o byakugan.
Porém, a jovem de longos cabelos escuros, que tentava desesperadamente soltar as amarras que a prendia, não queria acreditar no que via. Ou melhor, no que não via. Sua linhagem sangüínea, considerada a mais forte em termos de percepção, parecia tê-la abandonado naquele momento. Por que ela ouvia os murmúrios, sentia o toque, se impregnava com o cheiro, mas seus olhos nada viam além dos pequenos seres da natureza que nada podiam fazer contra um ser humano. Desespero a dominou por completo quando, inutilmente tentou desativar seu byakugan, que continuava a ver tudo menos seus inimigos, que agora começavam a machucá-la, rasga-la, violá-la, enquanto seus gritos se perdiam no vazio. E foi então que aconteceu o mais improvável.
Hyuuga Hinata acordou de seu pesadelo.
Igual ao seu sonho, a tempestade castigava a noite. A janela do seu quarto batia descompassadamente com o vento, salpicando o tatame de água e lama. Por um momento ela imaginou que aquilo fosse outra peça pregada por sua mente, já que sentia dentro de si uma tempestade como aquela amedrontando sua alma. Ainda deitada na cama, tentava se livrar das sensações aterrorizantes causadas pelo pesadelo. Observou os contornos que as sombras faziam pelo quarto, enquanto seu coração ainda batia descompassado. Foi então que ela sentiu a bílis subindo pela garganta.
“Não, de novo não!” pensou enquanto se levantava e apressadamente se dirigia ao banheiro.
Aquelas crises de vômito estavam cada vez mais constantes, ela percebeu. A cada dia mais perto de seu martírio, elas se intensificavam, sempre no meio da noite, como se aguardasse a escuridão para atormentá-la, até atingir seu apogeu. Não conseguia mais manter qualquer comida dentro do seu estômago, e já havia perdido peso desde que seu pai havia anunciado seu futuro naquela fatídica noite. A data já estava marcada, não teria retorno. Seu aniversario de dezoito anos. O dia que oficialmente seria a líder do clã Hyuuga. O dia que seu pai fazia questão de frizar como o início da decadência dos Hyuuga...
Esse pensamento fez com que Hinata se debruçasse sobre a pia sentindo uma dor no peito, como se sua alma estivesse sendo partida em duas. Ninguém dentro do clã confiava em sua capacidade, em sua força. Na realidade, nem ela própria acreditava que alguma coisa dentro dela pudesse corresponder às expectativas de toda sua família quanto à sucessão. Lembrava claramente a reunião que tiveram dois meses atrás, onde toda a Souke se viu reunida na sala de reuniões. O único representante da Bouke era Neji, seu primo, que ficara sentado ao seu lado. Mesmo pertencendo à casa secundária dos Hyuuga, ele era muito respeitado dentro do clã por todos os membros.
Quando a reunião se iniciou, Hinata já sabia qual seria seu foco.
- Hiashi-sama – havia dito um dos membros da Souke – Não creio que Hinata-sama esteja preparada para assumir um cargo tão importante quanto à liderança do clã. Seria mais prudente se déssemos mais tempo para ela se preparar, ou entregarmos o controle do clã para alguém mais... – ele deu uma pausa e falou olhando para Hinata – Disposto.
- Quem decide o que deve ser feito nesse clã sou eu, Shota. – dissera seu pai aparentemente irritado. – E é direito de Hinata assumir esse cargo, mesmo que no momento ela não esteja preparada adequadamente.
Fechando as mãos no colo, ela desejou ardentemente sumir daquela reunião. Queria evitar aqueles olhares acusatórios que recebia agora de todos, como se culpassem a sua existência, ou a desafiasse a mudar a opinião de todos ali.
- Hinata assumirá o clã Hyuuga no dia de seu aniversário de dezoito anos – concluíra seu pai – Ou seja, daqui a em torno de três meses, no dia vinte e sete de dezembro, ela assumirá o controle da família. – olhando diretamente para ela, Hyuuga Hiashi acrescentou – Caberá a ela decidir se isso será o inicio do nosso declínio ou não.
Mas ninguém ali parecia disposto a concordar plenamente com o que dissera o seu líder. Alguns burburinhos foram ouvidos antes de alguém falar de novo.
- Não seria mais prudente – continuou o homem chamado Shota – Que esperemos Hanabi-sama atingir a idade apropriada e ela assumir o clã? Tenho certeza que todos, assim como eu, acreditam que ela terá mais condições de estar no cargo que sua irmã.
Hyuuga Hanabi, uma menina de treze anos que estava na sala, ao lado de sua irmã, levantou a cabeça diante da citação de seu nome e encarou profundamente o homem que falara.
- Não tenho interesse em ocupar o lugar de minha irmã. – sibilou entre os dentes.
A força e personalidade de Hanabi eram reconhecidas dentro do clã, e ninguém ousou discordar dela. Hinata a invejava. A menina sabia se expressar melhor que ninguém ali.
- A partir de hoje – continuou Hiashi como se não houvesse tido nenhuma interrupção ou questionamento – Hinata estará sobre os cuidados de Neji, que irá acompanhá-la nos treinamentos, bem como Hanabi também. Esperemos sua evolução durante esse tempo.
Neji, que até então estivera aparentemente alheio à situação com os olhos cerrados, abri-os lentamente. Todos o encararam, apreensivos. Seria digno de um gênio ser posto como um simples guardião?
Mas ele não se importou com nenhum daqueles que o encaravam. Os seus olhos se encontraram apenas com os de sua prima, que parecia apreensiva.
- Ajudarei Hinata-sama no que for necessário. – falou por fim.
Hiashi parecia satisfeito.
- A reunião está encerrada. – anunciou o líder do clã se levantando – Dispensados.
Depois que consideraram sua irmã caçula mais apta que ela, Hinata decididamente ficou decepcionada consigo mesma. Havia deixado que todos se retirassem e ficou sozinha na sala com Neji e Hanabi. A caçula havia pegado em sua mão e dito:
- Esqueça esses idiotas e se esforce. – e saíra em busca do pai.
Neji não dissera nada, apenas se levantara. E fora naquele dia que começaram suas crises. E apenas em relembrar tudo isso, fez com que elas se intensificassem mais. Vomitou novamente até que nada restou no seu estômago. Apenas um gosto amargo sobrara em sua boca.
“E dia ainda mal começou”, pensou triste “se ao menos eu tivesse em quem me apoiar...”.
Não queria sua irmã ou Neji olhando com compaixão para ela. Gostaria de alguém com quem partilhar os momentos de tristeza e alegria. Alguém em quem ela pudesse encostar sua cabeça e se deixar levar por seus carinhos. Ela sabia quem queria. Sabia quem podia fazer ela se sentir viva de novo.
Uma figura risonha de cabelos espetados surgiu em sua mente. Ele sempre enfrentava tudo de cabeça erguida. A força de vontade que ele demonstrava pra conseguir seus objetivos era invejável, e era o que ela mais admirava nele. Sempre lutador... Sempre confiante... Talvez por isso ele nunca houvesse reparado nela. Uma menininha fraca, que teme suas responsabilidades, indecisa, e que se debatia quase insanamente todas as noites em crises sem fim, trancada no banheiro ao menor sinal de cobrança lançada sobre sua cabeça... Deveria se envergonhar de si mesma...
Mesmo passado todos aqueles anos, mesmo que agora a Vila Oculta de Konoha fosse a de maior poderio militar, parecia que seus sentimentos eram inalterados. Ainda sentia aquela mesma palpitação no peito quando o via. E da mesma forma que quando tinha doze anos, não conseguia se aproximar dele. Estava agora quase uma mulher, cujo corpo já chamava a atenção de muitos homens. Mas não se interessava por ninguém. Seu coração estava preso às amarras daquele sentimento.
Sacudindo a cabeça para tirar esses pensamentos, ela se menosprezou por pensar em si mesma enquanto em breve teria a responsabilidade de todo um clã sobre seus ombros. Devia fugir dali se não quisesse enlouquecer diante daquela idéia.
Ou seguir o exemplo que ele sempre dera a todos e enfrentar tudo de peito aberto... Ou pelo menos tentar.
Sim, era isso que faria. Não podia fugir. Senão nunca poderia olhar para aqueles olhos azuis de novo de cabeça erguida.
Esse pensamento reconfortou um pouco seu coração. Lavou-se e voltou para seu quarto. Fechou a janela que ainda batia, e se deitou no futon.
Distante dali, o rapaz chamado Naruto dormia tranquilamente sem nem desconfiar que, àquela hora, uma bela garota chamada Hinata dormia e sonhava com ele, desejando somente uma vez poder confessar todos seus sentimentos mais ocultos.
O dia amanhecia sem nuvens e quente. Somente as poças d’agua pelo chão denunciava a chuva da noite passada. Os pássaros voavam em bandos pelo céu como uma celebração pelo novo dia. Em seu apartamento, porém, Naruto nada via desse espetáculo da natureza, pois ainda estava adormecido. Rolava por sua cama inconscientemente, até que fortes batidas na porta o derrubaram da cama.
Literalmente.
- Ai! – exclamou ele quando sua cabeça bateu no chão - Droga de cama está pequena pra mim... – resmungou passando a mão no lugar dolorido.
As batidas na porta continuaram insistentes. Alguém realmente estava com presa de falar com ele.
- Quem será a essa hora? – perguntou a si mesmo, tirando o gorro de dormir da cabeça e procurando se levantar - Ai! Droga de lençol!
Enroscado no lençol, que se recusava deixa-lo se levantar, ouviu as batidas se tornarem mais insistentes. Depois de travar uma pequena batalha com o lençol, Naruto finalmente conseguiu ficar de pé e abriu a porta. Não havia ninguém mais lá.
-Hã?! – foi tudo que ele conseguiu dizer diante do vazio – Droga! Fazem-me acordar por nada!
Quando ele se virou novamente para seu quarto, tomou um grande susto. Um anbu havia entrado pela janela de seu quarto e agora segurava uma carta diante de seus olhos. Então fora aquilo. Ele tinha uma mensagem e se cansara de bater na porta e agora estava ali, com sua máscara de urso, olhando fixamente para ele, e sem dizer uma palavra lhe estendeu uma carta. Olhando para o selo oficial da vila, exclamou:
– Uma carta da vovó Tsunade há essa hora?! – Naruto pegou o envelope e o analisou. Era realmente a letra dela e parecia uma convocação urgente. Sem tirar os olhos do envelope, acrescentou - O que ela quer?
Mas quando encarou o inesperado visitante, teve uma surpresa.
- Cadê ele? - ao virar-se pra falar com o anbu ele havia desaparecido.
O anbu já havia ido embora, e a janela do quarto de Naruto estava totalmente aberta, deixando a brisa fria da manhã entrar no aposento.
- Detesto quando eles fazem isso... – resmungou para o vazio.
Naruto rasgou ansioso o envelope imaginado o que a Hokage queria com ele a ponto de tirá-lo da cama aquele horário. Devia ser algo muito urgente.
- Uma convocação? Droga...
Deveria ser outra missão urgente, pensava ele se dirigindo ao banheiro. Aquilo já virara rotina desde que derrotara a Akatsuki e Orochimaru, três anos antes. Não tinha mais tempo de ficar em casa. Estava sempre em missões. Não que aquilo incomodasse, de forma alguma. Muito pelo contrário. Gostava de se manter ocupado. Mas ele era um jovem de dezoito anos já, e às vezes sentia necessidade de se distrair um pouco. Queria ter tempo de convidar Sakura para sair, mesmo que já imaginasse que ela diria um não, ou então, se aceitasse, acabaria levando Sasuke junto. Não que isso fosse ruim, mas queria ficar um pouco a sós com ela.
Sentiu-se mal ao pensar isso. Era bom ter o amigo de volta na vila, apesar de todos os percalços que enfrentaram para que ele fosse aceito novamente pelas pessoas de Konoha. Mas simplesmente não conseguia deixar de enxergá-lo agora como rival pelo amor de Sakura. Deixou que a água levasse aqueles pensamentos e depois se vestiu apressado.
- Vou tomar logo meu café da manha antes de ir lá. – falou baixinho como se avisasse a alguém.
Era comum ele falar sozinho. Talvez fosse uma forma que encontrara de aliviar a tensão de estar sempre sozinho. Enquanto o sol esquentava lá fora, ele procurou por qualquer coisa que fosse comestível para poder sair o mais rápido possível.
Todavia, ao abrir a geladeira, ele percebeu que precisava fazer urgentemente algumas compras. Era decepcionante ver que sua geladeira estava composta apenas por água, embalagens de ramen vazia e um leite talhado.
- Aiai... Vou ter que ir comer algo lá no Ichiraku. – disse fechando a geladeira e procurando sua carteira - Na volta, preciso passar no mercado.
Mesmo que não tivesse mais doze anos, Naruto não perdera o costume de se vestir de sua cor favorita, laranja, mesmo que a combinasse agora sempre com preto. Estava bem mais alto também, já passava inclusive de Sasuke e devia ter mais que um e oitenta de altura. Seu corpo havia se desenvolvido muito devido aos intensos treinamentos e ele se sentia mais confiante com sua nova forma, onde não estava nem muito leve, nem pesado demais. Mas seu apetite por ramen continuava tão apurado quanto antes. Depois de pegar sua carteira, Gama-chan, Naruto se dirigiu à barraca de ramen mais famosa da vila.
- O que vou comer hoje?- pensava em voz alta, com as mãos cruzadas atrás da nuca - Ramen com frango, legumes ou carne de porco? - abriu um grande sorriso - Acho que vou pedir um com tudo isso! – e apressou animadamente o passo.
Quando chegou em frente ao seu lugar favorito em toda Konoha, sentiu uma grande decepção.
- Droga, hoje definitivamente não é meu dia... - exclamou ao ver a barraca de ramen fechada – Vou ter que falar com a vovó Tsunade de barriga vazia... Espero que ela não demore...
Apressando-se, Naruto começou a pular de casa em casa em direção ao escritório da Hokage. Já imaginava que tipo de missão ela estaria preparando para ele. Com certeza seria mais uma daquelas missões de rank A onde ele passaria semanas afastado de Konoha. Deveria ser algo muito importante assim para tirá-lo da cama tão cedo e repentinamente. Quando estava na metade do caminho, ouviu alguém o chamando:
- Yo, Naruto! – era uma voz conhecida e sonolenta.
Era um rapaz muito alto e com os cabelos negros amarrados no alto da cabeça e que vestia um uniforme de jounin. Ele se aproximou e começou a acompanhar Naruto em direção ao prédio da Hokage.
- Shikamaru! – exclamou Naruto animado em ver o amigo - Como vai?
- Com sono... – respondeu ele bocejando – Detesto quando a Quinta me chama a essa hora. – e bocejou novamente aparentemente emburrado com o chamado que recebera.
- Oh, você foi chamado também? – surpreendeu-se Naruto.
Começava a ficar preocupado. Será que Shikamaru seria enviado para a missão junto com ele? Isso significava que era algo muito perigoso. Já não achava que era algo rank A. A presença de Shikamaru em uma missão junto com ele aumentava as possibilidades de ser uma missão rank S.
- Que cara preocupada é essa? – perguntou Shikamaru analisando seu rosto.
- Se você foi convocado também, imagino que tipo de missão a Vovó Tsunade tem para nós dois. – ele estava sério quando falou – Deve ser algo muito complicado.
O rapaz do clã Nara olhou por um momento confuso com a reação de Naruto, para depois da um sorriso discreto de compreensão.
- Ah, entendi. Você ainda não sabe né? – Shikamaru deu um sorrisinho malicioso
- Você sabe do que se trata Shikamaru? – perguntou Naruto preocupado.
- Sim eu sei. – falou triunfante – Mas se a Quinta não quer que você saiba então eu não vou te contar.
- Pô, Shikamaru, eu tô curioso! – protestou Naruto.
Por mais que ele insistisse, não consegui nenhuma palavra do amigo, somente sorrisinhos que o deixavam irritado. E assim seguiram os dois até a presença da Hokage.
**********
O gosto amargo e ruim ainda persistia em sua boca naquela manhã. Hinata vestira sua roupa de treino tão logo o dia amanhecera. Encaminhou-se relutantemente até o jardim de sua casa. Neji já a esperava em seu habitual traje de treino. Ele se levantou logo que a viu se aproximar.
- Bom dia Hinata-sama. – cumprimentara ele formalmente.
- Bom dia, Neji-nii-san. – retribuiu ela procurando sorrir para seu primo.
Neji não retribuiu o sorriso, mas ela não estranhou que ele não o fizesse. Talvez ele estivesse irritado por ser alguém com tanto potencial que estava sendo relegado a ajudar alguém como ela. Mas se ele não estava se sentindo bem, ela poderia liberá-lo dessa obrigação facilmente, bastava ele exteriorizar o que sentia. Mas demonstrar sentimentos nunca foi o forte de Neji. Então, se ele se sentia mal por estar treinando com ela, não deixou transparecer.
Como era de se esperar em todos seus treinamentos, ela não era páreo para Neji. Seu domínio de Taijutsu sequer o ameaçava. Não que fosse fraca. Muito pelo contrário. Comparado com as ninjas de sua idade, como Sakura e Ino que haviam se especializado em suporte como ninjas médicas e de manipulação de mente, e Tenten, que era perita em combate a distância, Hinata sabia que em nível de luta corporal era a melhor, sem dúvida. Mas ninguém reconhecia isso. E sempre a comparavam a Neji.
Seria realmente justo comparar alguém normal com outro que nascera um gênio?
- Você não está se concentrando na luta, Hinata-sama. – alertou ele depois de derrubá-la pela segunda vez.
- Desculpe Nej-nii-san. – pediu ela sinceramente – Vou me esforçar mais.
- Não faça isso por ninguém. Faça por você mesma.
Hinata o encarou um pouco surpresa. Parecia que ele sabia o que se passava em seu interior. Mas quando buscava por respostas, ele apenas desviou o olhar.
- Vamos continuar. – disse Neji assumindo a postura de luta dos Hyuuga.
Foram duas horas de treino, até que o sol ficou mais forte. Hinata suspirou ao perceber que o tempo já avançara bastante.
- Neji-nii-san, vamos parar por hora? – pediu ela olhando para o relógio na parede do clã – Preciso ir.
Ele também olhou para o relógio e concordou com a cabeça.
- Você não pode deixar-los esperando. – falou ele seriamente.
Concordando com a cabeça, ela se levantou e foi até seu quarto. O dia estava esquentando rapidamente. Tomou um banho bem frio para acalmar seus pensamentos e também seu corpo. Quando vestiu seu uniforme de jounin, seus olhos se detiveram instintivamente no calendário. Novembro chegava ao fim. O verão avançava e com ele a promessa de ter os seus dias de liberdades trancafiados. Sentiu novamente seu estômago se revirar, mas ainda não havia nada nele que pudesse colocar para fora. E decidiu não tomar café da amanhã naquele dia. Não queria passar mal na frente daqueles que a esperavam
Não podia se mostrar fraca diante de seu time. Eles precisavam dela.
Sorrindo ao pensar nos garotos que a esperavam no campo de treinamento, pensou que pelo menos aquela responsabilidade era satisfatória.
- Bom dia nee-san! – cumprimentou Hanabi passando rapidamente por ela.
A garota nem ao menos deu chance da irmã responder e já sumiu pelo portão do clã. Estava treinando com força total para se tornar Chunin, e Hinata invejava o bom trabalho que estava sendo feito por Rock Lee no time de Hanabi. Esperava que também estivesse fazendo um bom trabalho com os seus.
Já havia alcançado a porta de casa quando ouviu alguém chama-la discretamente.
- Hinata-sama.
Neji aparecera em sua frente, já de trajes mudados e também com os cabelos molhados como os dela.
- Algum problema Neji-nii-san? – perguntou preocupada.
- Não vai tomar café da manhã?
- Não. – respondeu corando. Talvez fosse medo de ter sua doença descoberta – Acho que nos empolgamos demais no treinamento e se eu for comer agora deixarei meu time esperando.
Não sabia se ele havia acreditado nela ou não. Mas Neji se aproximou dela e pegou a sua mão. Surpresa, Hinata viu que ele depositara nela uma maçã bem vermelha e madura.
- Aqui, para caso sinta fome. – disse ele se afastando em seguida.
Mesmo que ele não pudesse ver, ela abriu um grande sorriso.
- Obrigada Neji-nii-san!
E saiu alegremente pelo portão.
Depois que ela saiu, Neji ficou observando o lugar por algum tempo. Assumira a função de protetor de Hinata. Mesmo que muitos não considerassem aquele uma obrigação ao seu nível, fôra o que o líder do clã havia designado para ele. E iria cumprir-la rigorosamente. Mas naquele momento Hinata não precisava dele. E se voltou para o clã, disposto a assumir seus outros afazeres.
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Naruto e Shikamaru entraram ao mesmo tempo na sala da Hokage. Diferente do colega, o rapaz do clã Nara já sabia o que iria encontrar ali e não escondeu o sorriso diante do olhar abismado de Naruto.
Naquele momento, no escritório de Tsunade, a surpresa não deu trégua a Naruto. Se o chamado àquela hora já fora estranho, e a presença de Shikamaru a tornara preocupante, o que ele podia pensar agora diante do que via? Ali, naquele momento estavam reunidos todos os sensei da vila de Konoha, inclusive Kakashi, que lhe acenou com uma mão enquanto a outra segurava o Icha Icha Paradise vol 16. Naruto sorriu lembrando de Jiraya, que não aparecia por ali há algum tempo. O capitão Yamato, que acompanhara seu treinamento durante o período que tentava dominar seu jutsu para enfrentar a Akatsuki também sorriu para ele. A única pessoa que ele não viu entre os presentes fora Kurenai. Lembrava vagamente que ela estava afastada de suas atividades, mas não sabia o motivo. Além dos professores, estavam também todos os examinadores do Chunin Shiken, e os anciões da vila que ele não lembrava o nome, mas sabia que foram companheiros de time do Terceiro.
Olhando para todos aqueles presentes o encarando tão seriamente, não pode deixar de ficar nervoso. Parecia mais um julgamento que uma reunião, e todos aparentemente estavam apenas esperando por ele. Olhando para a Hokage depois de sua vista ter passado sobre todos os presentes, ele sentiu que estava em uma situação inusitada.
- Eu cometi algum crime e não percebi? – comentou Naruto tentando parecer descontraído, coçando a cabeça e soltando uma risadinha nervosa.
Os presentes começaram a rir também, exceto a Hokage e os conselheiros que continuavam sérios. Tsunade sequer olhava para ele, e trazia sua cabeça baixa, analisando um documento à sua frente. Pequenas conversas imperavam na sala enquanto esperavam o pronunciamento dela.
-Uzumaki Naruto – disse Tsunade finalmente, fazendo todos se calarem – Eu estive analisando sua ficha juntamente com os conselheiros Koharu e Homura. Temos designado mais missões para você que para a maioria dos ninjas na vila – Ela deu uma pequena pausa, onde cruzou as mãos e olhou fixamente para ele - Você tem sido um dos melhores ninjas de nossa vila, tendo sua margem de falhas quase inexistentes em missões...
Naruto sentiu o rosto ficar vermelho diante do comentário. Por que Tsunade o elogiava perante todos aqueles ninjas da vila? E o que Shikamaru fazia ali? Onde estavam os seus outros amigos? Não havia nenhum deles ali, nem mesmo Sakura e Sasuke.
- Puxa valeu... – agradeceu em jeito – Mas eu não...
- Não me interrompa! - esbravejou ela parecendo realmente irritada.
- Sim senhora! – respondeu ele corando mais.
Muitos riram diante da cena. A vila em peso sabia do enorme carinho da Hokage para com Naruto. Muitos inclusive quando se referiam ao rapaz o faziam como “o preferido”, alcunha que o próprio Naruto não gostava. Mas após presenciar o comportamento que um tinha com outro, era realmente difícil não concordar com aquilo.
- Como eu ia dizendo – pigarreou a Hokage acabando com os poucos murmúrios da sala - Apesar de todo sucesso você é ainda um mero genin.
Aquela era uma verdade que doía ainda nele. Até mesmo Sasuke, que passara tanto tempo longe de Konoha conseguira se tornar Jounin. Naruto não sabia se aquilo era apenas acaso, ou se tentavam mantê-lo afastado de qualquer responsabilidade. O fato era que, sempre que havia um Exame chunin, ele estava em uma missão. Na verdade, nos últimos tempos nem sabia como conseguia ter uma noite descente de sono. Estava sempre fora de Konoha. No inicio, sabia que tinha que ajudar a manter a vila estabilizada depois das perdas que houve com a guerra contra a Akatsuki e depois contra Orochimaru. Porém, parecia que Tsunade havia se acostumado a sempre designar as piores missões para ele. E agora, apesar de tudo, dizia claramente a ele que estava no mesmo nível de um garoto de doze anos que acabara de sair da academia.
- Nem me lembre disso – ele começou a reclamar, mas parou logo que viu o olhar dela.
Naruto não sabia, mas a Hokage se ressentia tanto quanto ele da sua posição dentro da vila de Konoha. Ela sabia de todo o esforço feito por ele em prol da população de Konoha. E naquele momento, queria poder retribuir tudo. Segurou o envelope nas mãos, com as ordens que pretendia dar para mudar o destino dele.
- Por ser um genin, há varias coisas que lhe são negadas. Então, eu reuni o conselho da vila para decidir quanto a seu futuro.
O estômago vazio de Naruto se contraiu ao ouvir essas palavras. O que ela preparara para ele? Achava que ele tinha responsabilidades demais para um mero genin e ia rebaixá-lo a fazer apenas missões de rank D? Mas essas especulações não duraram muito tempo. Pelo menos não quando ele viu o semblante satisfeito de Tsunade. A Hokage o olhava sorrindo e todos ao redor dela compartilhavam desse sorriso.
- Eu decidi o que fazer com você, Naruto, e fui apoiada pelos conselheiros e também por todos os examinadores chunins. – dando uma pausa para que suas palavras saíssem com efeito, ela decretou - A vila irá permitir que você se torne um jounin, mesmo que não seja um chunin ainda.
O choque inicial foi precedido por uma alegria nunca sentida antes por Naruto. A vila finalmente o reconheceu! Sem saber exatamente o que dizer, e com a certeza que estava fazendo a expressão mais idiota possível, Naruto simplesmente deixou toda a felicidade que sentia vir a tona.
- Yes! Viva!Yuuupiiiii!!! – gritava ele dando saltos de felicidade.
Ao lado dele, Shikamaru começou a rir. Mesmo com todo poder que ele tinha, mesmo tendo dezoito anos de idade, Naruto ainda era muito expansivo e ninguém se surpreendia que suas atitudes ainda lembrassem aquele menino de doze anos que pichara os rostos dos Hokage, na tentativa de chamar a atenção dos outros.
- Espera que ainda não acabou. – alertou Shikamaru colocando a mão no ombro do amigo.
Naruto se calou e parou de pular. Olhou para Tsunade, que ficara seria novamente e o olhava por cima das mãos cruzadas. E teve o pressentimento que o titulo de jounin não viria fácil.
- Porém, há uma condição. – esclareceu Tsunade
- Sabia que era bom demais para ser verdade... – comentou o garoto colocando as mãos atrás da cabeça.
Kakashi sorriu para ele incentivado-o. Todos ali, pareciam estar querendo mostrar uma confiança nele, que nem o próprio Naruto sabia que seria capaz de ter. Mas deveria ter. Era sua obrigação. Se quisesse ser um Hokage no futuro, não podia mostrar preocupação diante de todos aqueles presentes, principalmente dos membros do conselho. Sorriu de volta para seu antigo sensei e respirou fundo.
- Que condição é essa, Vovó Tsunade? – perguntou ficando sério de repente e encarando-a com os olhos azuis refletindo determinação. Não podia ficar amedrontado daquilo. Não já havia vencido coisas terríveis? Nada deveria superar tudo que já passara.
– Você terá que prestar um teste de habilidades. – revelou a Hokage.
- Teste de habilidades? – ele parecia não estar entendendo.
- Sim um teste para provar que você realmente tem condições de se tornar um jounin. – e entregou o envelope para Shizune, que se aproximou de Naruto e o estendeu para ele.
Então era isso! Um teste de habilidades. Sorriu ao receber o envelope de Shizune.
- Obrigado, Shizune-nee-san! Haha, um teste de habilidades? Isso será fácil! – sorriu confiante abrindo o envelope. Afinal, não havia coisa pior que enfrentar o líder da Akatsuki não?
- Serão dois teste: um escrito e outro de combate. – disse Tsunade como se quisesse acabar com a sua alegria
- Não, não será fácil... – murmurou ao ouvir a palavra “escrito” e ver as instruções nos papeis que recebera.
“Acho que prefiro enfrentar o líder da Akatsuki novamente...” pensou tristemente encarando a enormidade de conteúdos escritos no papel, que davam agora um nó em seu cérebro. E gemeu baixinho quando viu que a tal prova escrita seria em apenas um mês.
“Tanta coisa pra estudar e ela me dá só um mês?!” pensou horrorizado.
- Então aceita? – perguntou Tsunade diante da expressão mortificada dele.
Depois de um breve silencio, em que procurou toda a coragem que havia dentro dele, Naruto sorriu. Não ia se amedrontar por tão pouco. Tinha um longo caminho pela frente. E sentia que dava o primeiro passo naquele momento quando falou:
- E eu deixaria passar uma oportunidade como essa? – e apontando o polegar para si mesmo falou convicto – Pode escrever aí Vovó Tsunade, eu, Uzumaki Naruto, serei o próximo jounin da Vila de Konoha!
Os presentes manifestaram sua aprovação sorrindo para ele. Shikamaru bateu de leve no seu ombro e falou:
- É assim que se faz Naruto!
- Obrigado, Shikamaru. – agradeceu sinceramente.
- Ótimo! Dispensados! – disse a Hokage.
As pessoas começaram a sair e o cumprimentavam.
- Coragem que tudo dará certo Naruto! – falou Yamato dando uma tapinha nas costas dele.
- Vou avisando que ser um jounin não é fácil... – lembrou Kakashi.
- Se você quiser, te dou outra roupa igual a minha para você estudar! – disse Gai, fazendo a pose “nice guy”.
- Err... – murmurou Naruto se imaginando naquele colante verde – Não obrigado Gai-sensei, fico com essa roupa mesmo...
Quando quase todos já tinham saído da sala, ele ouviu a Hokage o chamando:
- Naruto?
- Sim? – perguntou ele se aproximando.
Ele já estava bem perto dela com um sorriso grande nos lábios, quando Tsunade deu um socão que fez Naruto voar porta afora. Todos os remanescentes, inclusive os conselheiros e Shizune, ficam boquiabertos.
- Tsunade-sama! – exclamou a secretária.
- Isso é pelo “vovó” – falou Tsunade irritada com a mão ainda fechada.
Capitulo II – Posso te ajudar
Naruto precisou de um tempo para se recuperar da forma violenta como a Hokage o tratara depois da reunião. Enquanto andava pelas ruas de Konoha, com o lado esquerdo do rosto totalmente inchado, murmurava consigo mesmo:
- Droga tinha esquecido o quanto a vovó Tsunade batia forte. – disse ele alisando o queixo – Agora o que farei com relação a esse teste escrito? O combate até que é moleza, mas uma prova?Aiaiai... É nessas horas que eu me arrependo por não ter prestado atenção às aulas do Iruka-sensei... – de repente, uma idéia veio a sua mente de forma assustadoramente clara - Hummm .... Iruka-sensei.... É isso! Vou pedir umas aulas ao Iruka-sensei!
Empolgado, Naruto mudou imediatamente o rumo de casa para a academia ninja. Tinha certeza que poderia contar com seu professor naquela hora. Ele nunca o abandonara quando ele precisava e também fora a primeira pessoa a reconhecê-lo ali naquela vila.
Ao chegar à academia, ele passou a procurar, sem êxito, por Iruka. Não sabia mais qual sala o sensei ensinava. Havia aumentado sensivelmente o número de crianças na vila.
- Aff, cadê ele? – perguntou depois de olhar a quarta sala.
- Ei, Naruto-niichan!!! – chamou uma voz conhecida.
Ao ouvir seu nome, Naruto se virou e tem uma enorme surpresa ao se deparar com Konohamaru num colete de chunin. Ele não era mais aquele menino agitado de seis anos trás. Com quinze anos, Konohamaru havia adquirido a estatura de um homem já feito, e possuía os cabelos alinhados de uma forma bem charmosa. Pelo que Naruto soube, ele também estava muito forte, e treinava constantemente com Asuma, tendo aprendido já a maior parte dos jutsus de sua família.
- Konohamaru... Chunin... – murmurou vendo o colete - Desde quando?
- Ah, isso? Desde hoje cedo! - falou animado - A Hokage-sama tirou a gente da cama hoje cedo para falar que a gente tinha passado.
- Ela adora fazer isso... - comentou Naruto – Peraí, você disse “a gente”?
- Sim meu time todo... – e dando uma pausa, Konohamaru começou a rir sarcasticamente. – Hehehehe...
- Do que você ta rindo? - perguntou Naruto desconfiado.
- Eu to mais perto de virar Hokage que você niichan!!!!
- Ora seu...
- Quem manda ser um incompetente que com dezoito anos ainda é um genin... - zombou o adolescente.
A face de Naruto se contraiu dolorosamente ao ouvir essas palavras. Konohamaru percebeu o semblante do seu amigo mudar de uma hora pra outra e pensou que talvez tivesse ido longe demais.
- Ei, Naruto-niichan? – chamou timidamente.
A raiva tomou conta de Naruto, juntamente com um sentimento de impotência e frustração.
“Somente um genin...” ele pensou aborrecido consigo mesmo.
- Ei, é brincadeira... – falou Konohamaru tentando animar Naruto - É... ahhhhhh!!!!!
Mas elas foram em vão. Naruto estalou os dedos ameaçadoramente para o garoto. Imediatamente Konohamaru começou a correr sendo perseguido pelo irado Naruto, enquanto faziam o maior escândalo pela escola.
- É BRINCADEIRA!É BRINCADEIRA NIICHAN!!! – gritava o menino aos prantos.
- DEIXA EU TE MOSTRAR O QUE ESSE GENIN PODE FAZER COM SUA CARA! - bradou Naruto irritado.
- Ei o que vocês pensam que estão fazendo?!
A voz irritada de Iruka pôs um fim à perseguição. Ele colocara a cabeça para fora de uma sala onde estava escrito “Sala de Vídeo” e Naruto descobriu o porquê de não tê-lo achado antes.
- Ah, Iruka-sensei... – murmurou Naruto desviando a atenção do assustado Konohamaru que aproveitou a situação para fugir para bem longe dos punhos de Naruto.
- Que estardalhaço é esse Naruto? – reclamou Iruka irritado - Tem crianças assistindo aula aqui! E o que foi isso no seu rosto?
- Desculpe sensei. Isso foi a Vovó Tsunade quem fez quando... É isso! Aulas! – exclamou de repente.
- Hã?! Do que você está falando Naruto? – indagou Iruka confuso.
Naruto começou a contar empolgado todo o episódio que acontecera mais cedo, sobre a oportunidade de se tornar jounin, que teria que fazer uma prova e isso incluía a parte do teste escrito.
- Então – disse encerrando a narração – Eu vim lhe pedir para me dar umas aulas para poder fazer essa prova.
- Fico honrado que você tenha lembrado de mim Naruto, porém... – Iruka suspirou chateado – Eu não poderei te ajudar. Tenho uma turma que está preste a concluir a academia e está sendo muito dispendioso prepará-los. Perdoe-me. – acrescentou ao ver a cara de Naruto.
- Tudo bem sensei. – falou desanimado – Vou procurar outra pessoa que...
- Eu tenho uma idéia. – interrompeu uma voz.
- Oh, Kakashi! – exclamou Iruka.
O jounin surgiu atrás deles repentinamente, segurando o Icha Icha Paradise, e parecia contente com alguma coisa.
- Kakashi-sensei! Você vai me dar aulas? – perguntou Naruto empolgado.
Kakashi suspirou.
-Infelizmente não, agora que você, Sasuke e Sakura não dependem mais de mim, eu fui designado pela Tsunade-sama para outro time. E ela me tirou da cama cedo pra me dar a noticia. – acrescentou desgostoso.
- É... Ela gosta de fazer isso. – concordou Iruka.
- Mas eu sei quem pode te ajudar. – disse o antigo sensei do Time sete.
- Quem?! O capitão Yamato? – perguntou Naruto lembrando do tempo que treinara com ele.
- Não. Ele também vai ser designado a um time. Existem muitas crianças novas para se tornarem genin.
- Então quem?
- Ora quem, a Sakura ou o Sasuke lógico. Eles ficaram felizes em contribuir para sua promoção. – comentou ele rindo por trás de sua máscara.
Naruto deu uma tapa na própria cabeça, como se isso tivesse sido a coisa mais obvia do mundo e exclamou:
- Claro! Por que não pensei nisso antes?! Vou falar com eles agora! Obrigado Kakashi-sensei, Iruka-sensei! – e sumiu da vista dos dois rapidamente.
Observando o rapaz se afastar tão rapidamente os jounins se entreolhara.
- Você acha que ele consegue? – pergunta Iruka preocupado.
- Tenho certeza que sim. Estamos falando do Naruto. – afirmou Kakashi.
*******
Sakura acordou com uma decisão tomada naquele dia. Tomou seu banho matinal e vestiu a roupa mais bonita que encontrou. Não precisaria ir ao hospital naquela manhã, pois acabara de sair de um plantão intenso de trinta e seis horas nos dias anteriores. Olhou no espelho, preocupada com a possível existência de olheiras. Apesar da aparência um pouco cansada, ela estava se sentindo bonita. Calçou suas botas e saiu de casa.
Seria naquele dia. Iria falar com Sasuke. Seria a última vez. Mesmo o amando muito, chegara à conclusão que aquele amor não correspondido estava acabando com ela aos poucos. Não queria se tornar uma pessoa amarga. Queria amar e ser amada, como toda mulher normal. Sim, Sasuke fora sua vida pelos últimos seis anos. Não só por esse seis... Por muito mais tempo. Por isso decidira por um fim naquilo, ou iria acabar enlouquecendo.
Sabia que o encontraria no prédio da anbu, por isso tomou o rumo de lá, rezando para que ele não estivesse ocupado. Enquanto andava, sua mente estava tecendo mil e uma suposições sobre a conversa que teria com ele. Seu estômago apertava, sinal que o nervosismo tomava de conta dela aos poucos.
“Sei o que devo fazer se ele me disser um não... Mas terei forças para isso? Para esquecê-lo?” pensava angustiada “Sakura! Você já decidiu! Nada de voltara trás agora!”.
- Olha, é a Sakura! Sakura!
Ela olhou rapidamente, e viu Ino parada em frente à floricultura da família. Mas ela não estava sozinha. Sai, o seu ex-companheiro de time, que havia sido colocado no Time sete no lugar de Sasuke três anos antes, estava lá também, com a mão passada na cintura de Ino, numa atitude muito intima. Sakura sabia que eles estavam namorando há algum tempo e sorriu se aproximando de ambos. Seria bom adiar um pouco o momento da decisão.
- Olá Ino, Sai. – cumprimentou ela.
- Olá Sakura. Indo trabalhar? – perguntou Ino sorrindo.
- Na verdade não. – esclareceu a outra – Apenas indo resolver uns problemas...
Sai encarou Sakura longamente e depois falou com seu sorriso tão característico:
- Levando em consideração que você se encaminha para onde fica a sede da anbu, esses problemas devem ser com o Sasuke-kun.
- Sai! – repreendeu Ino.
Sakura deu um sorriso encabulado para Sai.
- Como sempre, sincero demais Sai... Você devia pensar duas vezes antes de falar dessa forma...
- Estou mentindo? – perguntou o rapaz ainda sorrindo.
- Não, não está. – falou ela firmemente. Se havia tomado uma decisão, devia segui-la a ferro e fogo – Estou decidida a mudar tudo entre nós hoje.
Ino olhou para a expressão decidida de Sakura e imediatamente entendeu o que ela estava prestes a fazer. Mesmo com todas as diferenças, elas eram muito amigas e em certos pontos tinha atitudes semelhantes.
- Sakura – falou ela preocupada – Imagino o que você pretende fazer... Mas... Vale a pena pressionar um homem como o Sasuke-kun? Ele pode simplesmente dar de ombros e não dizer nada a você.
- Se ele fizer isso Ino, já sei o que fazer – seu coração se apertou diante disso, mas ela não se importou – O que não posso fazer é continuar a viver desse amor doentio que esta me consumindo... Se for para não ficar com ele, que eu saiba isso logo. Vou falar a ele mais uma vez dos meus sentimentos, mas será a ultima vez. Depois disso... – ela suspirou – Dependendo da resposta dele...
- Sakura... – murmurou Ino.
Ali estava uma coragem para se admirar, pensou a loira. Mesmo sabendo que provavelmente seria desprezada, ela queria resolver isso. Mas, mesmo diante da decisão de Sakura, ela duvidava que a médica fosse capaz de esquecer Sasuke mesmo se ele dissesse que não a amava. Depois de tudo que a garota vivera e sofrera por ele, principalmente nos três anos que precedera sua volta à vila, era impossível se desligar de tudo.
- Bem, eu desejo boa sorte. – falou Ino por fim.
- Obrigada. – agradeceu sinceramente.
- Espero que você possa tomar a decisão certa Sakura – continuou a outra – E que você não se arrependa mais tarde.
- Eu já tomei minha decisão Ino. Só falta me encontrar com o Sasuke-kun e colocar tudo em pratos limpos.
- Então pode começar. – disse Sai inesperadamente – O Sasuke vem vindo ai.
Como coração em disparada, Sakura olhou para trás. Sasuke vinha andando em sua direção calmamente, com sua expressão entediada de sempre. Se quando criança Sasuke sempre fora bonito, agora que já era um homem sua beleza se tornara mais selvagem e avassaladora. Seu olhar já era suficiente para deixar qualquer mulher na vila sem fôlego. Quando ele parou em frente aos três, deu um leve sorriso.
- Bom dia. – cumprimentou casualmente.
- Bom dia. – respondeu os outros três em uníssono.
- Que inusitado você por essas bandas Sasuke-kun. – falou Sai.
- Nem tão inusitado assim Sai. – respondeu ele, acrescentando depois – Você me parece muito bem.
- É minha companhia. – e abraçou fortemente Ino, que ficou escarlate com a demonstração de afeto.
- Sai! Não precisa ser tão expansível... – reclamou, mas com um sorriso no rosto.
Sakura riu diante da cena, mas não olhou para Sasuke. Sabia que precisava pedir pra falar com ele, mas simplesmente a voz não saia.
-Sakura. – falou Sasuke de repente.
Olhando para ele, Sakura sentiu suas pernas ficarem bambas.
- S-Sim Sasuke-kun?
- Eu gostaria de falar com você agora... É possível?
A expressão dele era séria e enigmática. O que ele teria para falar com ela? Com um nervosismo crescente, ela balbuciou:
- C-Claro...
- Então... Pode ser em um lugar mais reservado? – pediu ele ficando mais sério ainda.
- Isso, mostre atitude Sasuke! – brincou Sai.
- Sai! – repreendeu Ino mais uma vez, sendo ignorada por ele e recebendo um beijo na bochecha. Olhando para amiga falou – Desculpe esse idiota! Darei um jeito nele. Até mais! – e empurrou Sai delicadamente para longe dali.
Sasuke começou a andar em direção à saída da vila e Sakura seguiu-o de perto. Ainda se voltou para acenar para os amigos que ficaram para trás e começou a andar cautelosamente.
O que queria Sasuke? Era o que pensava ela.
O que Sakura não sabia era que Sai e Ino cogitavam a mesma possibilidade.
- O que você acha Ino? – perguntou Sai quando ele já tinha se afastado bastante.
- Dele podemos esperar qualquer coisa... – respondeu a garota.
- Adoraria segui-los e saber de tudo, mas vou voltar ao meu trabalho. – e dando um beijo na namorada, murmurou – Torcemos para que haja um novo casal nesta vila.
- Com certeza... – torcia Ino retribuindo o beijo do namorado.
-Então ela não está? – perguntou Naruto um pouco decepcionado.
- Infelizmente não. Ela saiu há pouco tempo.
- Ah, ok. Obrigado, Haruno-san.
- De nada, Naruto. Eu aviso a ela que você esteve aqui.
Naruto se despediu da mãe de Sakura com um aceno, mas mal conseguindo retribuir o sorriso que ela lhe oferecia. Aquilo estava se tornando mais difícil que o esperado. Depois de passar tanto tempo sendo somente um genin, ele finalmente tem a chance de estar numa posição de respeito da Vila de Konoha, e a oportunidade parece estar escapando de suas mãos. Tudo por causa desse maldito teste escrito! De quem teria sido essa maldita idéia?
Continuou a andar sem destino, com a cabeça baixa e os pensamentos em polvorosa.
- Droga Vovó Tsunade! Por que você permitiu isso? – exclamou em voz alta sem perceber.
- Com quem está falando Naruto?
Ino estava com um avental florido regando vasos de flores em frente à floricultura da sua família. Ela estava sorrindo, provavelmente achando engraçada a situação dele.
- Nada não Ino. Falando comigo mesmo. – respondeu encabulado.
-Sei... – comentou ela sorrindo.
- A propósito, onde está o Sai?
- Saiu daqui a pouco tempo. Foi trabalhar um pouco... E você, o que está fazendo por aqui? Sem missões?
Naruto suspirou.
- Na verdade eu estava procurando a Sakura... Tenho umas coisas pra falar com ela... – e dando uma pausa, olhou para a ninja a sua frente - A propósito, você viu a Sakura por aí?
- Sim, ela foi pra lá – respondeu apontando para a saída da vila – Mas devo avisar...
- Valeu Ino! – interrompeu Naruto bruscamente – Vou atrás dela agora! - e saiu em disparada.
-... Droga! – exclamou Ino vendo ele se afastar velozmente - Ela esta com o Sasuke... Nem me deixou falar... Eu hein? Que apressado!
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O vento soprou mais forte no momento que Sasuke parou no meio do bosque. Ele estava de costas para Sakura e a garota apenas podia imaginar o que se passava na cabeça dele. Não imaginava que tipo de assunto ele poderia ter para lhe falar. Afinal, agora estavam tão distantes um do outro. Ele havia se tornado chefe da anbu enquanto ela era uma médica no hospital de Konoha. O único do antigo Time sete que não exercia nenhum cargo mais importante era Naruto, mas mesmo esse vivia constantemente em missões, e quase nunca os três se encontravam. E sem dúvida, ela tinha muito mais contato com o rapaz que estava de costas para ela que o outro companheiro.
“Não sei o que ele quer...” pensou Sakura “Mas vou aproveitar essa oportunidade. Depois que ele falar o que quer, falarei dos meus sentimentos...”.
Repentinamente Sasuke se voltou e a encarou profundamente nos olhos. Suas pupilas estavam negras como sempre, mas Sakura sentiu intensidade muito maior que o normal. E percebeu que, o que quer que Sasuke fosse dizer, somente aquele olhar já valia a pena ter ido até ali.
- Sakura... – começou ele – Eu peço desculpas por ter te arrastado para longe da vila... Imagino que você devia ter assuntos importantes para resolver e...
- Não! – falou ela apressadamente – Eu não tinha nada para resolver! Estava apenas conversando com a Ino e o Sai...
“Ai que mentira descarada Sakura!” pensou ela “Você ia justamente atrás dele! Como pode mentir assim?!”.
Todavia, se Sasuke notou qualquer indicação de sua mentira, simplesmente a ignorou. E continuou a encará-la daquela forma intensa, como se quisesse se certificar que ela estava ali realmente. Depois de alguns instantes, ele se aproximou lentamente. Sakura sentiu seu coração disparar com a proximidade. Levando a mão em direção à cabeça dela, Sasuke acariciou levemente seus cabelos. Sentindo o rosto ficar imediatamente em chamas, ela balbuciou:
- Sasuke-kun...
Levantando a mão, ele pediu para ela parar de falar.
- Desculpe Sakura, mas quem deve falar aqui hoje sou eu... - e dando uma pequena pausa ele continuou – Eu pedi pra você vir até aqui por que... Por que... – ele fechou os olhos por um momento e depois os abriu – Eu gostaria de saber... Se você ainda me ama...
Uma onda de choque percorreu seu corpo. Era verdade? Sasuke havia feito mesmo aquela pergunta, ou seus ouvidos lhe pregavam peças?
- Sasuke-kun... – balbuciou – Por que você está me perguntando isso?
- Apenas me responda, por favor. – pediu ele.
“Ele se adiantou por mim... Vamos acabar logo com isso...” E respirando fundo, Sakura colocou todos os seus sentimentos para fora:
- Sim, Sasuke-kun... Eu te amo... Nunca deixe de te amar um só momento nesses seis anos. Tudo que eu lhe disse quando você abandonou Konoha, quanto o que falei quando você voltou ainda é verdade. Nunca deixou de ser. Eu te amo. Te amo tanto que chego a ter a sensação que vou sufocar! - as lágrimas que ela não queria derrubar começaram a lavar o seu rosto, acentuando o cansaço das horas trabalhadas no hospital – Eu não sei mais o que fazer! Você se tornou a minha vida há muito tempo e não sei o mais o que fazer! Eu não sei viver se não puder ter você perto de mim! Eu...
O choro abafou as outras palavras que queria sair, mas Sakura sabia que já falara o suficiente, como sabia que a decisão que tomara naquela manhã fora inútil. Não imaginava mais viver sem ter ele por perto. Não imaginava estar em outros braços que não fosse os de Sasuke. Se ele não a amasse, mesmo que a desprezasse, sabia que aceitaria qualquer migalha de atenção que pudesse recolher de suas mãos. Apertou os olhos, permitindo que toda sua insegurança viesse á tona.
Sasuke a observou inexpressivamente. Tal como Sakura, ele havia tomado uma decisão naquela manhã. E diferentemente dela, iria executá-la. E qual não foi a surpresa da médica quando se viu envolvida por aqueles braços pela primeira vez em seis anos. Ele nunca a abraçara. Sempre era ela quem tomava toda a iniciativa. Por isso ficou totalmente sem ação ao perceber que estava nos braços tão sonhados de seu amor.
Inclinando a cabeça em direção ao ouvido dela, Sasuke pronunciou baixinho:
- Sakura... Hoje, eu finalmente decidi admitir para mim mesmo algo que venho tentando esconder... – e alisando os cabelos dela, continuou – Decidi admitir que a amo. Quem sempre a amei.
O mundo repentinamente pareceu ter virado ao avesso. Levantando a cabeça, ela o encarou e surpreendeu-o sorrindo para ela. Não era uma ilusão. Não era um bushin. E não era uma mentira. Era Sasuke que a abraçava e a amava.
- Eu... - tentou falar alguma coisa, mas sua garganta estava apertada.
Percebendo o choque dela, Sasuke sorriu. Não precisava das palavras dela. Precisava apenas de sua presença. E se inclinando mais um pouco, deixou sua boca cobrir a dela delicadamente. Sakura fechou os olhos sentindo o gosto de Sasuke penetrar dentro dela como se fosse o fôlego que faltara na sua vida. O abraçou fortemente, sentindo seu cheiro e seu toque. Não queria que aquilo acabasse agora. Na verdade, não queria que acabasse em tempo nenhum.
O que Sakura não percebeu foi que outra pessoa também partilhava do momento deles. E que tão logo que viu o beijo se aprofundar mais, saiu silenciosamente e seguiu na direção oposta.
-Ei sensei, vamos parar por hoje?
Makoto parecia o mais cansado dos três. Desabou sobre as pernas tão logo ela parou de atacá-lo. Ele já estava sentado ofegante depois de apenas três horas de treino. Diante do comentário, Hinata sorriu.
- Você não acha que ainda é cedo para uma pausa Makoto? – perguntou ainda na pose de luta - Só treinamos uma parte da manhã!
- Deixa de ser mole Makoto! – falou Suzumi com as mãos na cintura – Você deveria dar exemplo, já que é o único homem do time!
- Concordo! – falou a outra garota, Yumi.
O Time três era realmente inusitado, pensou Hinata pela milésima vez. Era a primeira vez na vila que um time era formado por duas meninas e apenas um menino. Isso significava que agora as mulheres aumentavam de numero dentro da vila. E aquelas duas eram especiais. Mesmo tendo estranhado a principio a formação, não imaginava mais Suzumi e Yumi separadas. Mas talvez Makoto não pensasse assim, já que encarou as duas com uma expressão nenhum pouco satisfeita.
Rindo da cena, Hinata passou a observá-los. Yumi, com seus longos cabelos azuis claros, transmitia uma aura de serenidade e paciência. Sóbria, era de longe a mais analítica do time. Suzumi era o que se poderia chamar de rebelde. A bermuda folgada e a jaqueta colocada de forma despreocupada em cima do top preto lhe davam a sensação de um menino delicado. Os piercings que ela exibia e a touca que usava por cima da vasta cabeleira ruiva apenas reforçavam a imagem de moleque travesso. Makoto, olhando para as garotas se levantou. Era impressionante como ele era baixinho para idade que tinha. Vestia uma camisa preta com uma chama no peito, e seus olhos negros refletiam raiva. Balançou os cabelos também escuros e falou com sua voz ainda infantil:
- Mas já é quase hora do almoço! A Kurenai-sensei parava quando eu pedia... – choramingou.
Apesar de aquele ser um comentário constante, ainda doía. Desde que Kurenai teve que se afastar do seu time devido à gravidez, ela havia sido indicada pela própria sensei para cuidar do Time três. Estava gostando muito da experiência, pois mesmo com as desavenças constantes entre os membros, eram garotos muito talentosos. Porém se não fossem as comparações como aquela sempre presente em Makoto, tinha certeza que estaria se sentindo melhor. Quando viu que o garoto já havia se levantado, assumiu novamente a posição de luta.
- Bem vamos conti... - mas sua frase foi interrompida por uma presença estranha.
- O que foi sensei? – perguntou Suzumi ao ver a expressão preocupada de Hinata.
- Não se mexam. – Hinata advertiu – Byakugan!
Com seus olhos ela começou a vasculhar o bosque à procura do chakra pressentido até que o encontrou, se escondendo entre as arvores.
- Oh! – exclamou desativando seu byakugan.
Os três alunos a olhavam, assustados, principalmente Makoto.
- O que é sensei? – perguntou ele preocupado – Algum ninja inimigo?
Hinata sorriu nervosamente.
- Não é nada. Bem já que paramos, que tal vocês irem almoçar? Voltaremos às duas horas!
- Oba almoço!!! – exclamou o menino.
As crianças saíram rindo e pulando combinado o que comeriam, enquanto Hinata se encaminhava na direção do chakra pressentido.
Na direção de Naruto.
Não havia como piorar aquele dia. Essa foi a conclusão a que chegou Naruto. Sentado numa pedra, olhando seu reflexo na água, ele procurava o que tinha de errado consigo mesmo. Por que Sasuke e não ele? Por que eles estavam se beijando naquele momento? Nem ao menos teve coragem de interromper o momento deles. Nem odiá-los por isso. No fundo ele sempre soube. Sempre soube que depois que Sasuke ter voltado para a vila, três anos atrás isso aconteceria um dia, e eles ficariam juntos. Na verdade, parte se seu desespero para trazer o amigo de volta era pra fazer a Sakura feliz. Eles tinham direito de ficar juntos. Mas mesmo assim doía. Muito.
Hinata o observava de longe. Estava preocupada, pois nunca vira tanta dor nos olhos de Naruto. Ficou tentada a se aproximar, mas não tinha coragem. Sentia-se uma grande covarde. Ele estava ali, tão desamparado, como se precisasse urgentemente de alguém, e ela tinha tanto a oferecer a ele...
“O que eu tenho a perder mesmo?” pensou ao lembrar da noite passada “Só vou perguntar como ele esta, só isso...” dizia pra si mesma. E num momento de extrema coragem, começou a se aproximar dele.
Dias depois ao lembrar desse episodio, Naruto não saberia dizer o que o levou àquela atitude extrema. O estresse a que havia sido submetido ou a fome. Ou os dois. O certo é que é que quando ele sentiu uma presença se aproximando sorrateiramente, não consegui distinguir de quem era. Apenas formou o rasengan numa das mãos e atacou a figura que lentamente se aproximava. Foi só então que viu que cometera um erro. Era Hinata. Até hoje ele não sabe explicar como, mas usou toda sua força para dar um impulso com o pé e mudar o curso de seu ataque. Mas foi por pouco. Bem pouco. O rasengan passou bem perto do rosto da garota, deixando um fio de sangue escorrer, mas indo de encontro ao bosque.
Hinata ficou em estado de choque. Naruto quase a atacara. Ela ouviu apenas o estrondo do rasengan quando este atingiu as arvores e a poeira subiu. Não teve coragem de olhar para trás. Na verdade não tinha nem forças para se manter em pé. Lentamente caiu sentada sobre suas pernas, com lágrimas involuntárias correndo por sua face.
Naruto se sentiu o pior dos homens. Quase atacara uma amiga em sua fúria infundada. Todavia, o que mais lhe doeu foi ver o estado em que ficou a garota. Deu graças que ela não olhou para trás ou veria que, com o estrago que ele fez com o rasengan no bosque, poderia tê-la matado.
- Hinata... - chamou timidamente se aproximando – Me desculpe... Não era minha intenção... Eu não vi que era você... Hinata...
As dores voltaram mais fortes. Seu estômago se contraiu a ponto de fazê-la curvar-se de dor. Sentiu a bílis subir pela sua garganta, mas sufocou a vontade.
“Não, na frente dele não”, suplicou Hinata.
- Hinata? Você se machucou? Eu te machuquei? – perguntou angustiado.
“Respire. Se acalme. Não passe essa vergonha na frente dele.” Desesperada, Hinata dava ordens para seu interior procurando não vomitar na frente de seu amado. Foi difícil conter toda aquela ânsia, mas finalmente as dores passaram. Quando viu que estava segura, falou num fio de voz:
- E-estou melhor N-Naruto-kun... Foi só o susto...
Mesmo diante de suas palavras, Naruto ainda parecia seriamente preocupado.
- Eu não sei o que me deu... – se desculpou mais uma vez - Ou melhor... Acho que foi a fome, hehe... – e deu um sorrisinho nervoso.
Ficou mais aliviado ao ver que Hinata sorria timidamente diante do comentário dele.
“Preciso me redimir...” pensou aflito. E então teve uma idéia que lhe pareceu salvadora.
– Já sei! Para me redimir, vou te pagar um ramen, que tal?
Hinata pareceu considerar por um momento.
- C-claro.
“Eu vou ficar perto dele... E-Eu vou estar com ele...”. Pensou sem saber se sentia felicidade ou medo.
Naruto a ajudou a levantar-se, tomando cuidado de deixar a clareira que ele abrira no bosque longe da vista dela. Não queria que ela se assustasse mais ainda.
- Oh, você está machucada! – exclamou ele apontando o fio de sangue que escorria em seu rosto – Espere um pouco.
Enquanto se encaminhavam de volta a vila, Naruto tirou um lenço do bolso e ofereceu para Hinata.
- Pegue. Limpe o sangue.
Hinata sentiu o rosto ficar vermelho.
- O-Obrigada... – agradeceu colocando o lenço no lugar ferido.
O Ichiraku Ramen estava lotado àquela hora. Para atender a freguesia, o dono colocou umas mesinhas em frente à loja e acenou para Naruto assim que este, juntamente com Hinata, acomodou-se em uma das mesas.
- O de sempre, Naruto? – perguntou com um grande sorriso.
- Sim. O de sempre. – falou ele alegremente, e se voltando para Hinata perguntou – Qual você quer?
- A-Ah, pode ser o mesmo que você... – falou timidamente.
- Ei tio! Dois “de sempre”!
Um silêncio constrangedor se abateu sobre os dois enquanto esperavam os pedidos. Hinata constrangida por estar com ele, e Naruto constrangido pelo que havia feito há pouco. Ficaram assim por um tempo até que Naruto achou uma forma de iniciar a conversa:
- Er... Hinata, o que você estava fazendo no bosque?
- Ah, eu estava t-treinando o Time três...
- Sério? – perguntou admirado - Eu não sabia que você era responsável por um time...
- B-Bemn-na verdade não é meu... - falou timidamente – Estou substituindo Kurenai-sensei que está grávida...
- Uau, Kurenai-sensei vai ter um bebê? – ele agora estava realmente surpreso.
- V-Você não sabia Naruto-kun?
Ele coçou a cabeça, envergonhado.
- Tenho passado tanto tempo afastado da vila em missões que essas coisas para mim são novidades... Mas, imagino que Asuma-san deve estar muito feliz. E Konohamaru também! Afinal vai ganhar um priminho ou priminha né?
- S-Sim... Konohamaru-kun está muito feliz. – e criou coragem para sorrir pra ele.
- Puxa, deve ser legal ser um jounin... – se empolgou Naruto, que ficou estranhamente quieto depois de suas palavras.
Hinata sabia que, de todos os seus amigos, Naruto era o único que ainda era um genin. Imagina que ele se sentia muito mal por isso.
- N-Naruto-kun ainda pode se tornar um jounin... – falou insegura, mas tentando transmitir alegria pra ele.
- Estou começando achar que não. – murmurou baixinho.
- P-Por que, Naruto-kun?
Em poucas palavras, Naruto contou a ela toda historia desde a proposta da Hokage até aquele momento, exceto a parte de Sakura e Sasuke se beijando. Foi então que Hinata teve uma idéia que lhe deixou com a face extremamente vermelha e o coração palpitando.
- B-B-bem e-eu n-não sei s-se você v-vai querer, mas eu posso te d-dar umas aulas p-para a prova...
“ Que idiotisse Hinata!” pensou ela “Naruto-kun jamais aceitaria isso!”
Todavia, um lindo sorriso estampou-se no rosto de Naruto.
- Sério!? Você faria isso por mim?! – e segurou as mãos dela por cima da mesa.
-C-Claro. – gaguejou ela sentindo que podia desmaiar com o contato das mãos dele - M-mas só posso depois de treinar os meninos...
- Ah não tem problema. Eu posso até te ajudar nos treinos se você quiser!
A chegada do ramen poupou Hinata de fazer qualquer comentário, até por que ela provavelmente ela não conseguiria e Naruto soltou as suas mãos. Não sabia como, mas ia ser professora de Naruto e ele iria ajudá-la nos treinos.
“Eu só posso estar sonhando” pensou incrédula.
- Não vai comer Hinata? – indagou Naruto olhando a expressão indecifrável dela.
- C-Claro. - falou rapidamente Hinata, que teve a prazerosa sensação que naquela noite não haveria pesadelos.
Capitulo III – O primeiro passo é o mais difícil
- Mãe, já vou embora.
- Vá com Deus minha filha.
Sakura calçou as botas, pegou o estojo com medicamentos que estava em cima da mesa e abriu a porta. O dia ainda estava amanhecendo, mas já fazia um pouco de calor, afinal era verão. As chuvas tinham dado uma trégua e o céu exibia um azul límpido. A garota teve a impressão que o tempo refletia seu estado de espírito. Depois de anos de angustia e sofrimento, finalmente ela e Sasuke haviam se entendido. Parece que somente após três anos que Orochimaru e a Akatsuki foram derrotados, ela havia conseguido abrir os portões do seu coração do seu amado. Afinal, depois de tanto sofrimento e isolamento era difícil para Sasuke tentar seguir a vida novamente. Mas eles tinham dado um importante passo no dia anterior. Estavam namorando! A vontade dela era ir dançando até o hospital de Konoha! Quando saiu de casa e começou a caminhar alegremente, ouviu uma voz que a chamou hesitante.
- Haruno-san...
Ao se voltar, ela viu Hinata encostada em um poste, com uma mochila nas costas, como se estivesse ali há algum tempo.
- Oh! – exclamou Sakura – Hinata? Que surpresa! Nunca vejo você por aqui...
- É... Um pouco distante da minha casa, mas... – Hinata parecia constrangida e falava encostando os dedos um no outro – Eu gostaria d-de f-falar com v-você... É possível?
Sakura estranhou um pouco o pedido, afinal, ela e Hinata nunca foram muito próximas e apesar de terem feito academia juntas, nunca conversaram. Mesmo assim, sentiu que a garota queria lhe pedir algo, então respondeu:
- Claro que sim! Estou indo trabalhar lá no hospital. Você pode ir andando comigo enquanto fala, que tal?
Hinata fez que sim e acompanhou Sakura. Mas já estava arrependida de ter vindo. Era constrangedor demais pedir o que ela queria. Sakura, notando seu desconforto, decidiu ela mesma iniciar a conversa.
- Hum... Você queria alguma coisa comigo Hinata? – perguntou tentando parecer descontraída.
- B-Bem... – começou Hinata ficando um pouco vermelha – É sobre o Naruto-kun...
- Sobre o Naruto? – a expressão de Sakura então se tornou assustadora – Ele andou aprontando com você? Quer que eu quebre ele? – indagou estalando os dedos.
- Não Haruno-san! Não é isso! – apressou-se em dizer – É que já que o Naruto-kun vai fazer a prova para virar jounin, eu...
- O QUE?! O NARUTO VAI VIRAR JOUNIN?! – se surpreendeu Sakura.
- Ué, não sabia? – perguntou Hinata confusa. Um dos motivos que a levaram ali era por imaginar que a garota já sabia do que estava acontecendo.
- Não, ele não me falou nada – Sakura fez uma cara pensativa – Se bem que ontem minha mãe me falou que ele esteve lá em casa... Deve ter ido para me dizer. – e dando um grande sorriso – Estou feliz por ele, afinal não é sempre que é permitido que um genin vire jounin sem antes prestar o exame chunin!
Hinata sorriu um pouco tímida, contagiada com o entusiasmo de Sakura.
- Mas ele ainda vai fazer precisar fazer uns testes de habilidades e entre eles um escrito, então e-eu me ofereci p-para ajudá-lo a estudar s-sabe... meio que como professora. – justificou ficando um pouco vermelha - Aí eu gostaria de perguntar a você sobre... er... Bem... Qual o nível do Naruto-kun, já que vocês fizeram parte de um mesmo time e...
- Nível? – estranhou a médica.
Concordando com a cabeça, Hinata prosseguiu:
- Sim, t-tipo, o quanto ele sabe sobre teorias essas coisa...
Sakura analisou a garota a sua frente e suspirou antes de responder
- Nada.
- Como? – indagou a outra parando de andar.
- Nada. O Naruto não sabe de nada.
Hinata parecia meio confusa. Sakura também parou de andar e colocou as mãos na cintura, começou a explicar para ela exatamente o que suas palavras significavam, com uma expressão meio entediada:
- Hinata, o Naruto é um grande idiota, imbecil, tapado, burro, ignorante e semi-analfabeto. – falou categoricamente - Tudo que ele sabe foi aprendido na prática, que ele conseguiu errando. E errando muito. Você lembra da academia né? – e quando Hinata confirmou hesitante com a cabeça, ela continuou - Continua da mesma forma. Nem Kakashi-sensei, nem Jiraya-sama conseguiram modificar isso. Quem fez um pouco foi o Yamato-taichou e mesmo assim não foi essas coisas toda... Mas não faça essa cara – acrescentou ao ver a perplexidade de Hinata – não estou dizendo que ele é uma má pessoa. Você sabe tanto quanto eu que o Naruto é uma pessoa maravilhosa e um grande amigo. Um jumento, mas um jumento legal.
Era difícil acreditar no que Sakura dissera. Seja pelo ar risonho que ela mantinha enquanto falava, seja pela idéia que a própria Hinata fazia de Naruto. Sabia que ele tinha dificuldades no estudo, mas chamá-lo de semi-analfabeto era um exagero em sua opinião. Mas preferiu não falar nada a esse respeito. Iria fazer de seu modo para medir o conhecimento dele. Estava decidida a ajudá-lo!
- Não me interprete mal Hinata. – falou Sakura com doçura quando voltaram a andar e analisando a expressão pensativa da outra – Eu adoro o Naruto. É que ele nunca foi muito de estudar, isso deve se reconhecer. Adorei sua iniciativa de querer ajudá-lo. Eu mesma faria isso, mas – ela ficou corada – devo dar muita atenção ao Sasuke agora, já que estamos namorando... E tem o trabalho no hospital também.
Surpreendendo-se um pouco com a noticia do namoro, Hinata procurou sorrir para a garota.
- Entendo. – disse timidamente - Parabéns por você e o Uchiha-san. Torço para que vocês sejam muito felizes, Haruno-san.
- Obrigada. – agradeceu sinceramente - Mas... E você Hinata? Gosta de alguém?
Hinata ficou extremamente constrangida com a pergunta e pareceu perder a voz por um momento. Sakura deu uma risada satisfeita de quem tinha percebido a verdade e olhando para os lados sussurrou:
- É o Naruto? Você gosta dele, certo?
O coração da garota quase pulou pela boca. Seu rosto começou a corar numa velocidade surpreendente e ela teve vontade de sair correndo dali.
- E-Eu n-n-não s-sei do-do que v-você e-está falando, H-Haruno-san... – gaguejou nervosa.
- Ora Hinata, eu não sou boba. – comentou sorrindo e acenando a mão displicentemente - Sempre reparei que você ficava diferente quando o via. Além do mais, suas ações meio que te denunciam sabe? Veja: mesmo tendo que treinar um time você se oferece para ajudá-lo, vem até minha casa ainda amanhecendo para saber sobre ele e – aponta para a mochila de Hinata – posso ver alguns livros da academia em sua bolsa, imagino que são para Naruto...
Não havia como negar, mas ela também não queria admitir para Sakura seus sentimentos por Naruto, afinal ela era bem próxima ao rapaz e não sabia se podia confiar nela. Percebendo a desconfiança de Hinata, Sakura ficou séria.
- Eu não falarei nada a ele Hinata, não se preocupe. – e passando a mãos no cabelo curto, perguntou - Só me tire uma dúvida: por que você não procurou o Kakashi-sensei e perguntou a ele?
Aliviada por Sakura não ter insistido na pergunta e também pela discrição prometida pela garota, ela respondeu com a voz baixa:
- Bem... Ele é um pouco assustador...
- Assustador?! O Kakashi-sensei? Nada! – disse Sakura rindo – Ele ta mais para um pervertido... – e parando um pouco para analisar o que tinha dito, acrescentou - É foi melhor você ter me procurado mesmo...
O Hospital de Konoha surgiu em frente às duas. Mesmo àquela hora ele já apresentava um constante movimento de ninjas médicos e enfermeiras. Elas pararam imediatamente de andar e sorriram uma para a outra.
- Bem chegamos! - falou Sakura – Foi bom conversar com você Hinata! Nem nos tempos da academia trocamos tantas palavras, né?
- É... Bem, Haruno-san, obrigada – agradeceu a outra se curvando.
A médica sorriu delicadamente e balançou a mão em negativa.
- Ah, não tem o que agradecer. – e acrescentou - Pode me chamar só de “Sakura”, ok?
Hinata se endireitou e retribuiu o sorriso.
- Claro Haru... Digo Sakura. Até mais. – e começou a se afastar.
- Tchau. E, Hinata? – chamou quando a garota havia dado alguns passos.
- Sim? – ela virou para responder.
- Boa sorte com o Naruto. – acrescentou maliciosamente piscando o olho.
“Decididamente eu não deveria ter vindo aqui” concluiu Hinata se distanciando rapidamente sem coragem de olhar pra trás novamente.
“Que lindo” pensou Sakura vendo Hinata ir embora rapidamente “Espero que aquele idiota veja o que está bem embaixo do nariz dele”.
**********
Naruto estava ansioso. Ia ter a sua primeira aula com Hinata aquela tarde. Mal podia esperar. Sentiu-se extremamente sortudo com o fato de ter achado alguém como Hinata, que tão prontamente aceitou ensiná-lo, principalmente por que ele não teria coragem de pedir a Sakura ou a Sasuke depois do que viu. E além do mais, Hinata era tão delicada que provavelmente não exigia muito e teria paciência com ele.
Quando estava imaginando se teria que ir ao clã Hyuuga para ter suas aulas, ou como elas seriam, um garoto veio até ele na barraca de ramen, onde estava almoçando. Ele parecia extremamente mal humorado. Naruto reparou que ele era bem mais baixo que os outros meninos de sua idade, que também eram genin, e se perguntou se aquilo era algum empecilho para ele.
- Você é Uzumaki Naruto não? – perguntou ele chateado.
O menino tinha uma voz bem aguda, que parecia de uma menina. Ele vestia uma camisa preta com uma chama vermelha no peito que Naruto não reconheceu.
“De que clã será ele?” se perguntou enquanto o menino o olhava esperando uma resposta.
- Sim, sou eu. – respondeu confuso.
- Eu sou do Time da Hinata-sensei. – se identificou ele - E trouxe um recado.
Ele parecia extremamente desgostoso da “missão” que recebera.
- Ah, um recado! – exclamou contente. Hinata realmente pensava em tudo. Ela devia ter mandado um de seus alunos avisa-lo quanto ao horário e o local das aulas. – Obrigado... Qual seu nome?
- Makoto. – respondeu a contragosto – Otori Makoto.
“Otori... Onde já ouvi esse nome?” se perguntou. Mas em voz alta, disse:
- Qual o recado, Makoto-kun?
- As aulas começam às três horas na Biblioteca de Konoha. – falou Makoto parecendo chateado – Ela pediu pra dizer que levasse caderno e lápis.
- Muito obrigado Makoto-kun. – agradeceu sinceramente – Quer um ramen para recompensar o trabalho? – ofereceu alegremente.
Makoto o encarou por um instante e depois olhou para o dono da barraca de ramen. Colocando as mãos no bolso da bermuda vermelha, ele resmungou:
- Detesto massas. – e virando as costas, foi embora.
“Ele é tão mal humorado quanto Sasuke era na idade dele”... lembrou Naruto tomando rapidamente o resto do caldo do ramen.
Como fazia muito tempo, mas muito tempo mesmo que ele não estudava, logo depois de pagar o ramen e ir encontrar sua nova professora, ele decidiu passar pela livraria para providenciar o material. Empurrou a porta e acenou para um homem idoso que espanava as prateleiras.
- Oh, Naruto! – exclamou o dono da loja ao vê-lo entrando – Meu freguês favorito!
- Boa tarde Tanaka-san. – falou Naruto se aproximando.
- Você ficará feliz ao saber que chegou aquela coletânea de hentai que você tanto esperava! – e se dirigiu para trás do balcão.
- Sério?! – exclamou Naruto animado, porém depois lembrando do que tinha ido fazer ali - Er... Quer dizer... Hoje não. Vou levar apenas um caderno e um conjunto de lápis e borracha, por favor. – pediu meio tristonho.
- Caderno? – estranhou Tanaka – De desenho?
- Não, não. Caderno mesmo. De estudar.
Tanaka olhou para Naruto esperando que ele começasse a rir e disse que era brincadeira. Mas como o garoto continuou sério, ele supôs que fosse verdade mesmo. Pegou um caderno da prateleira atrás dele e colocou no balcão.
- Hã ... Caderno de estudar... – falou como se ainda tentasse acreditar no que ele dissera - Certo... Aqui está. – e entregou juntamente com alguns lápis e borrachas.
- Valeu tio. – agradeceu Naruto analisando o material.
- Mas me tire uma dúvida. – perguntou Tanaka curioso - Por que você está comprando um caderno, Naruto?
- É que eu vou fazer uma prova para virar jounin! – falou estufando o peito - Então tenho que estudar.
- Oh, que bela atitude! – elogiou o homem - Estou orgulhoso de você. Porém, todo estudante deve se divertir, então – ele tirou uma grossa revista de trás do balcão – não quer mesmo levar essa coletânea de hentai? – indagou num tom malicioso.
Era tentador. Mais de cem páginas de puro hentai! Naruto pensou que no final das contas não haveria problema nenhum em levar e além do mais, não dava para resistir.
- Ok, eu levo também. – decidiu sorrindo - Mas embrulha bem. Não quero que a Hinata veja.
Tanaka já estava embrulhando quando parou e encarou Naruto surpreso.
- Hinata? A menina dos Hyuuga? – perguntou.
- Sim. Ela quem vai me ajudar a estudar.
- Hum... – ele deu um sorriso malicioso e se inclinou pra frente falando baixo para Naruto como se estivesse falando um segredo - Tirou a sorte grande, hein rapaz? Ela é uma gracinha. – e piscou o olho.
- Calma, tio! Ela é só uma amiga. Vai me ensinar só isso. – Naruto tirou Gama-chan do bolso e pagou tudo, mas estranhamente evitou os olhos do vendedor à sua frente.
- Pronto. – disse Tanaka depois que recebeu o dinheiro - Caderno e lápis numa sacola e hentai em outra. – e sorrindo acrescentou - Ah, coloquei um brinde ai junto com a revista... Nunca se sabe né?
- Um brinde? – estranhou Naruto - Hã ... Valeu tio.
Agora, depois de comprado o material, Naruto apressou o passo para não chegar atrasado. Sempre detestou as desculpas esfarrapadas de Kakashi e não pretendia aderir a esse método.
********
- Mais documentos, Tsunade-sama! – avisou Shizune chegando com uma pilha de papel para a Hokage.
- Você não me dá uma folga Shizune... – reclamou ela recebendo os documentos.
- Claro que não! – enfatizou a secretária – A senhora tem obrigações a cumprir como Hokage!
- Certo, certo... – disse a outra abanando displicentemente a mão – Traga uma xícara de chá enquanto leio isso.
Shizune se dirigiu a uma garrafa térmica e começou a botar água quente em uma pequena chaleira. Tsunade olhou para ela e sorriu. Shizune parecia animada naquela manhã e ela sabia o porquê, mas preferiu não dizer nada por enquanto. Ficava extremamente feliz que as pessoas da vila estivessem acertando sua vida, e que tudo estivesse em paz. Naqueles três anos que precedera a derrota da Akatsuki, a Vila Oculta de Konoha havia crescido muito, se tornando a mais forte de todas as grandes cinco vilas. Todavia, a paz deles ainda continuava ameaçada. O poder despertava a inveja e sua aliada já estava ciente disso. Fazia alguns dias que tinha recebido uma carta do Kazekage que a deixara um pouco apreensiva.
“Temos que resolver isso logo...” pensou consigo mesma.
E não eram somente coisas como aquela que a deixava angustiada. Pensava em Naruto. Não o via desde o dia anterior, quando ele saíra de seu escritório com a noticia de que prestaria o exame para mudança de nível. Como ele faria para estudar para a prova do Exame Jounin? Teria conseguido falar com Sakura ou Sasuke como Kakashi o aconselhara? Conseguiria ele transpor aquela barreira?
- Preocupada com o Naruto-kun? – perguntou Shizune vendo seu olhar perdido.
Tsunade assentiu com a cabeça.
- Quero saber como aquele idiota vai estudar... – e lembrando de algo, perguntou - Você viu Sakura no hospital hoje? Sabe se ela vai ajudá-lo?
- Sim, falei com a Sakura-chan hoje, mas não vai ser ela quem vai ensinar o Naruto.
- Não? – se surpreendeu Tsunade – Quem será então? Sasuke?
Shizune sorriu um pouco e comentou baixinho como se fosse um segredo:
- Segundo a Sakura-chan me falou, é a Hinata-chan que vai ensinar a ele.
- Hinata? – estranhou ela – Mas Hinata é responsável por um time... Por que Naruto pediu a ela e não para outra pessoa?
- Bem, isso já não tem como saber. – falou a outra – Sakura não me falou nada a esse respeito... Mas parecia bem contente com o fato. Disse que vai ser bom para o Naruto passar um tempo com a Hinata.
A Hokage não pode deixar de sorrir também. Era de conhecimento de muitas pessoas que a garota possuía um belo sentimento com relação ao rapaz. E levando em consideração o atual romance entre Sakura e Sasuke talvez fosse melhor assim mesmo.
- Bem, continuemos o trabalho. – disse Tsunade batendo as mãos, mas com um sorriso satisfeito no rosto.
************
Naruto chegou pontualmente as três na biblioteca e ficou surpreso ao ver que Hinata já o esperava na frente do prédio.
- Boa tarde Hinata! – cumprimentou alegremente.
- Boa tarde, Naruto-kun... – respondeu timidamente – Vamos entrar?
Ele concordou com a cabeça, sorrindo alegremente.
- Claro! Estou ansioso para começar! Mas tenha um pouco de paciência comigo... Estou há algum tempo sem estudar, sabe...
Automaticamente, veio a mente dela as palavras que a Sakura havia dito àquela manhã. Mas Hinata procurou afasta-las de sua mente. Não queria a opinião de terceiros naquele momento. O importante era que ela conseguisse ensinar Naruto e que ele fosse aprovado naquela prova. Sabia o quanto aquilo significava para ele. Não era apenas um colete, ou uma promoção. Era mais um passo no sonho dele de se tornar um Hokage.
Havia algum movimento na biblioteca àquela hora, quando eles chegaram principalmente de alunos da academia. Naruto se impressionou com a quantidade deles. Havia muitas crianças na vila agora.
- Nossa, tá cheio. - falou ele rindo.
- Vamos mais lá no fundo. – chamou ela apontando para algumas mesas afastadas onde não havia ninguém.
Eles se acomodaram na ultima mesa, um de frente para o outro. Tendo o cuidado de deixar a sacola com a coletânea de hentai bem longe da vista de Hinata, Naruto tirou o caderno e o estojo de lápis colocando tudo em cima da mesa.
- Bem... – começou Hinata timidamente. Estar frente a frente e sozinha com Naruto a deixava muito nervosa, mas ela queria muito ajuda-lo, então tentou manter a calma e gaguejar pouco – A-Acho bom nós, antes de tudo, m-medirmos seu nível de conhecimento, para saber por o-onde começar. Por isso eu elaborei uma p-prova de conhecimentos básicos para você. Algum problema? – concluiu um pouco insegura.
- Claro que não – falou ele, mas sem muita convicção – Você é a professora, você que manda.
Tirando a prova que elaborara de dentro de sua mochila, Hinata lembrou de perguntar:
- A propósito, quando será a prova Naruto-kun?
- Recebi a data ontem mesmo depois que falei com a vovó Tsunade... – murmurou ele tristemente – Será no dia 19 de Dezembro, ou seja, daqui a quatro semanas.
O estômago dela se revirou. Bem próximo de seu aniversário.
Hinata entregou a prova a Naruto e esperou. Meia hora depois, ele a devolveu timidamente e passou a olhar pro chão como se ele fosse a coisa mais interessante do mundo. O motivo estava claro: metade das questões estava em branco e das que estavam respondidas, apenas uma estava correta. A pergunta era “O que é chakra”. Naruto parecia extremamente constrangido.
Hinata sorriu tranqüilizadora para ele depois que lera a prova. Não ia permitir que aquilo abalasse a confiança dele.
- Acho que vamos ter que começar nossa revisão pelo básico, né? Vou fazer um pequeno roteiro para essa semana para nos orientar.
A voz dela não tinha nenhum tom desapontado ou reprovador, reparou Naruto. Pelo contrário, ela sorria e parecia não se importar com o fato de estar diante de um ninja que mal sabia a diferença entre ninjutsu e genjutsu (uma das questões da prova que ele errou, havia trocado os conceitos). Hinata começou a rabiscar tranquilamente alguma coisa no caderno dele. Parecia disposta a ensiná-lo desde o começo mesmo, já que pegou o livro “Introdução aos conceitos de Chakra” e começou a folheá-lo. Naruto ficou apenas olhando enquanto ela fazia suas anotações tranquilamente. E foi reparando na forma suave de seus movimentos, que algo veio, involuntariamente, a sua cabeça o deixando um pouco envergonhado de ser ter notado naquele momento.
“Até que o tio tinha razão. Ela é uma gracinha...” pensou ele.
Não demorou para Hinata terminar o que estava escrevendo. E reparou que Naruto a olhava com um olhar estranho, pensativo.
- Algum problema Naruto-kun? – perguntou preocupada.
Ele se surpreendeu com o fato dela ter notado seu olhar e ficou extremamente sem jeito de ter sido pego enquanto pensava nela. Corando um pouco e coçando a cabeça, ele respondeu constrangido:
- Não é nada não...
- Ah ta... – falou ela entregando o caderno a ele - Bem preparei um roteiro simples, olhe.
Naruto pegou seu caderno e viu que ela havia distribuído os assuntos de acordo com os dias da semana:
1ª SEMANA – REVISÃO DOS CONCEITOS BÁSICOS:
1º dia: Definindo o Chakra
2º dia: Entendendo a estrutura da Vila de Konoha
3º dia: Vilas e Kages: História geral
4º dia: Ninjutsu, Genjutsu e Taijutsu – Conceitos e Teorias.
5º dia: Ferramentas de um ninja: da kunai dos genins à espada dos anbu
6º dia: Linhagens sangüíneas: o que são e como funcionam
- Isso é o básico que vemos no inicio da academia – explicou Hinata – Vamos ver essa semana apenas isso. Semana que vem te entrego o próximo roteiro mais avançado e assim por diante. Nos três dias anteriores ao teste, veremos os pontos mais prováveis de serem cobrados na sua prova. Hoje, o 1º dia, como você pode ver, falaremos apenas de chakra. Alguma dúvida?
- Sim. – disse Naruto olhando o roteiro - Por que você colocou só seis dias aqui? A semana tem sete.
Hinata corou um pouco diante da observação.
- Achei que você fosse querer um dia de folga...
- Que nada! Se você não tiver nenhum problema, eu quero estudar todos os dias! Eu preciso passar nessa prova!
Rindo com a determinação dele, Hinata falou:
- Por mim não tem nenhum problema. – e pegando o caderno dele acrescentou “7º dia: revisão” – Pronto assim teremos um dia só para revisar.
- Ótimo! Então vamos começar! – ele arregaçou as mangas da jaqueta – Manda essa definição de Chakra aí que eu tô empolgado!
O estudo durou até às seis da tarde, hora que a biblioteca fechava. Para surpresa e contentamento de Hinata, ele assimilou o conteúdo bem facilmente e parecia não ter dúvidas quanto ao primeiro tópico daquela semana. Quando ela o elogiou, Naruto se limitou a dizer:
- Bem, de chakra eu entendo. Afinal, tenho dois!
Após o fim da aula, Naruto guardou cuidadosamente seu material na mochila e já caminhava pelo corredor para a saída, quando Hinata o chamou:
- Naruto-kun, você esqueceu sua sacola.
E veio na direção dele segurando a sacola com a coletânea de hentai. Naruto ficou pálido. E se ela visse o conteúdo da sacola, o que pensaria dele?! Que era um pervertido e não iria querer mais ensinar a ele. Mas para seu alívio, Hinata apenas lhe entregou o pacote.
-A-Ah, obrigado. – agradeceu ele.
- De nada.
Naquele momento, um grupo de alunos barulhentos passou correndo por eles em direção à saída. Um deles esbarrou acidentalmente em Hinata, empurrando-a na direção de Naruto. Ele bem que tentou segura-la, mas acabou tropeçando também. Na tentativa de segurar nele para evitar a queda, Hinata acaba enroscando os dedos na sacola e, sem querer, a rasgou. Os dois caíram violentamente no chão um por cima do outro.
- AIAI, QUE BANDO DE MAL-EDUCADOS! – esbravejou Naruto - Você está bem Hinata?
A garota havia caído por cima dele e parecia um pouco confusa com a queda.
- S-Sim, eu só... – suas mãos na busca de apoio para se levantar encontraram um pacotinho estranho – Ué, o que é... – e perdeu sua fala no meio da frase.
- O que você estava dizendo? – perguntou Naruto passando uma das mãos na cabeça.
No momento em que olhou para ela ficou perplexo. Hinata estava extremamente vermelha, igual a um pimentão, olhando para as mãos onde segurava uma camisinha que estava junto com a coletânea de hentai.
“Então esse era o brinde?!” pensou Naruto horrorizado “Velho sem-vergonha, ele vai ver só... mas e agora, o que eu faço?!”.
************
Kakashi e Gai estavam indo em direção à biblioteca para poderem pegar uns livros para seus atuais alunos. Desde que haviam se desincumbido de seus antigos times, nem ao menos pensavam em serem sensei de um time de novo, todavia, a demanda de alunos era tão grande agora, que os jounins que tinham não davam conta e eles foram chamados novamente. A vila estava sempre movimenta com as missões aumentando cada vez mais e muitas crianças e casais. Era a perfeita imagem da paz.
- Então – falou Gai sorrindo – Vocês se acertaram?
- É finalmente... – murmurou Kakashi – Demorei algum tempo para convencê-la que eu falava a verdade.
Gai soltou uma risada.
- Isso é para você aprender que ser um namorador nem sempre é melhor coisa. Quando você encontra alguém e quer ficar somente com aquela pessoa, se você tiver uma fama como a sua, fica realmente difícil convencê-la que você está falando a verdade.
- Está me dando um sermão, Gai? – perguntou Kakashi, mas sem demonstrar irritação com o amigo.
- Digamos que sim... – e colocando a mão no queixo, fechou os olhos, continuando com seu raciocínio – Mesmo sendo meu rival, devo alerta-lo que uma mulher séria como Shizune não vai perdoá-lo se você não mudar um pouco por ela.
Kakashi deu de ombros e se defendeu:
- Mas eu mudei. Eu tenho demonstrado isso há meses, desde que decidi que queria ficar com ela seriamente.
- Ela precisava que você passasse esse tempo correndo atrás dela. – e fazendo a pose de nice guy, concluiu – As mulheres gostam disso!
Sem conter o riso, Kakashi deu uma tapinha no ombro do amigo.
- Você parece bem informado com relação às mulheres... Então me diga... E você e a Anko?
O sorriso de Gai morreu um pouco e ele ficou tristonho.
- O nosso caso é o oposto do seu. Quem não quer nada sério é ela...
No momento em que ambos começaram a gargalhar da situação em que se encontravam, um bando de alunos da academia passou correndo com eles, quase os derrubando.
- Ei meninos! – gritou Gai – Tenham mais cuidado!
Tão logo ele terminou de falar isso, ouviu um grito mais alto de dentro da biblioteca que dizia impropérios contra aquelas crianças também.
- Acho que é a voz do Naruto. – comentou Kakashi se dirigindo para lá.
**********
Naruto sabia que precisava fazer alguma coisa, mas não sabia o que fazer.
- AHHHH – ele gritou se levantando de um pulo e derrubando Hinata de seu colo – Não é nada que você estar pensando! Isso não é meu! – ele falou desesperado – Isso é de... de...de...
Atraídos pelo barulho, Kakashi e Gai não demoraram a entrar, para piorar o desespero dor rapaz que já não sabia o que fazer. Os dois jounins olharam com nítida curiosidade para a inusitada cena.
- Yo! – cumprimentou Kakashi – O que está acontecendo aqui Naruto? Está se sentindo bem, Hinata-chan? – perguntou olhando a face extremamente vermelha da menina.
Olhando para seu antigo sensei, Naruto tem uma idéia salvadora.
- É, isso não é meu Hinata! – gritou ele - É do Kakashi-sensei! – e tirando a revista e a camisinha da mão dela, que ainda está no chão em choque entregou a Kakashi – Feliz aniversário sensei! Desculpa se não embrulhei o presente!
- Hahá! Você faz aniversário e nem fala aos amigos! – vociferou Gai – Já sei! Você quer me deixar de fora da bebedeira e cair na farra sozinho né?! Por isso a Shizune-san demorou a acreditar em você! De forma alguma permitirei isso! Você só cai na farra se eu for junto!
Kakashi parecia confuso. Olhou para o que Naruto lhe entregara e depois para o rapaz.
- Mas não é meu... – foi então que olhando bem para Naruto que parecia desesperado, para Hinata que, ainda no chão, começava a se recuperar e para o time camisinha + coletânea de hentai, compreendeu a situação – Oh, obrigado por lembrar! – disse para o alívio de seu ex-aluno - Vou guardar com todo carinho! – e pôs alegremente o pacote na sua bolsa ninja.
Naruto ficou desolado com a situação. Sabia que nunca mais veria aquela revista.
“Dinheiro perdido” ele pensou vendo a alegria de Kakashi “Mas pelo menos a Hinata não pensa que sou um pervertido” suspirou aliviado.
- Vamos Kakashi! – bradava Gai – Vamos comemorar seu aniversário bebendo muito sakê! Por minha conta!
- Oh! É claro! E Naruto, obrigado mesmo! – disse piscando o olho e saiu sendo arrastado por Gai.
“Kakashi-sensei maldito!” pensou Naruto.
De pé e já recuperada do vergonhoso episódio, Hinata bateu o pó que ficou na sua roupa. Parecia extremamente constrangida.
- Errr... Te espero amanhã às três aqui novamente Naruto-kun – falou evitando olhar pra ele. – Boa noite. – acrescentou se curvando.
- Boa noite, Hinata. E desculpe por tudo.
Mas ela já estava distante demais, e não viu o pequeno sorriso que surgiu no rosto dele.
Sim, definitivamente o tio da livraria tinha razão.
Hinata era uma gracinha.
Capítulo IV – Vamos! Avante!
- Perguntas? – quis saber Hinata fechando o livro ao fim daquela aula.
- Então, deixe eu ver se entendi. – falou Naruto apertando os olhos e encarando seu caderno - As linhagens sangüíneas avançadas são genes dominantes?
- Sim.
- Significa que se você, Neji ou o Sasuke tiverem filhos, mesmo que não seja com pessoas do clã, as crianças herdaram as linhagens?
Hinata sorriu satisfeita.
- Exatamente. No meu caso e do Neji-nii-san, o Byakugan. No de Sasuke-san, o Sharingan.
- Hum... – Naruto coçou a cabeça – Acho que entendi. Mas tire uma dúvida: e o Sharigan de Kakashi-sensei?
- Bem – Hinata ajeitou os papéis – o Sharingan de Kakashi-sensei não é hereditário, ele foi adquirido no decorrer da vida dele. Então, os filhos dele não terão Sharingan.
- Ah, certo.
Naruto estava conseguindo compreender tudo até agora para alívio de Hinata. Apesar de ser coisas muito básicas que ele já havia ouvido falar, ela conseguiu aprofundar as teorias que eram muito importantes para os assuntos que viriam depois. Mas ela estava receosa com relação ao tempo. No ritmo que estavam talvez não houvesse tempo para abarcar tudo que era necessário. Pelo menos não se continuassem a estudar apenas três horas por dia. Naruto já parecia ter percebido isso também. No segundo dia em que estudavam, ele perguntara:
- Por que não podemos chegar mais cedo, Hinata?
- Eu tenho que treinar o Time três lembra? Isso consome toda manhã e um pedaço da tarde. – respondera sem jeito.
Ele não havia tocado mais assunto. Tinha consciência que ela possuía suas próprias obrigações e que já estava lhe fazendo um grande favor o ajudando aquelas três horas por dia. Mas ela queria ajudá-lo mais, muito mais. Então, para incentivá-lo a estudar sozinho, Hinata escreveu pequenos livrinhos com os resumos mais importantes. Eles traziam tudo de forma mais simplificada e o objetivo era que ele pudesse ler em qualquer lugar em que se encontrasse. Não sabia que ele realmente os lia até Sakura a encontrar na rua no dia seguinte em que lhe dera o primeiro.
- Você conseguiu uma proeza Hinata! – dissera rindo – O Naruto ta lendo!
E foi assim que soube que ele sempre estava com eles no bolso ou lendo.
Mas o ritmo estava cansando muito seu corpo, a deixando debilitada e enfraquecida. Sua rotina se tornou tão dura e disciplinada quanto à de um monge. Ela acordava antes do sol nascer para treinar com Neji, que fora uma exigência do seu pai.
- Tente aprender alguma coisa com ele! – lhe dizia constantemente.
Em torno das oito horas já se reunia com o Time três e treinava com eles até umas duas. Ficou satisfeita por nenhuma missão lhes ter sido designada durante aquela semana. Se isso acontecesse, seu tempo com Naruto ficava mais restrito do que já era. Depois de se despedir de seus alunos, só tinha tempo de ir em casa, tomar banho e voltar correndo para ensinar a Naruto. Ficava com ele até a biblioteca fechar e quando chegava em casa, mais uma sessão de treino, dessa vez com sua irmã, Hanabi. Acabava ir dormir sem jantar, por que ia preparar a aula do dia seguinte. O bom disso tudo, é que dormia tão profundamente que não se acordava mais durante as noites em suas crises. Nem tinha o que vomitar já que quase não tinha tempo de comer.
E apesar de toda essa dificuldade ela nunca havia se sentindo tão feliz. Sentia-se necessária e podia ficar mais perto de Naruto.
Ainda se sentia um pouco intimidada em sua presença, mas o fato dele estar precisando dela lhe dava uma certa segurança, mais do que ela já tivera antes.
- Bem, acabou a revisão da primeira semana. – anunciou Hinata quando o relógio bateu seis horas – Está pronto para começar o mais estudo pesado amanhã?
Naruto sorriu.
- Com uma professora como você, Hinata, não tenho por que me preocupar.
Ela sentiu seu rosto corar, mas consegui dar um sorrisinho nervoso. Estava conseguindo ficar mais a vontade com ele, mas isso não impedia de ficar corada com aquele comentário. Seu coração também bateu mais rápido e ela desviou a vista para o chão. Ainda não agüentava penetrar na profundidade azul dos olhos dele.
- Ahãm – pigarreou o bibliotecário se aproximando da mesa deles – Hora de fechar.
- Chato... – resmungou Naruto quando iam saindo da biblioteca – Vovó Tsunade deveria deixar essa biblioteca funcionando 24 horas...
Sorrindo do comentário dele, Hinata o acompanhou na saída. O movimento do prédio estava pouco naquela hora. Como as aulas já haviam acabado na academia, que era vizinha ao prédio da Biblioteca, apenas alguns retardatários, como eles, deixavam o local.
- Ei, Hinata! Quer comer um ramen comigo lá no Ichiraku? Por minha conta! – convidou Naruto animado.
Fazia apenas uma semana que eles estavam estudando, mas ele já sentia que tinha uma grande dívida com ela.
- Eu adoraria - disse sinceramente – Mas tenho que voltar para casa.
- Ah, que pena. – ele parecia triste, mas depois sorriu - Fica pra próxima então! Até amanhã!
Eles se separam na metade do caminho, Naruto seguiu para a barraquinha de ramen e Hinata para a casa.
A casa principal dos Hyuuga ficava um pouco afastada da aglomeração da vila e tinha uma grande extensão. Lá não residia apenas ela, o pai e a irmã, mas todo o clã Hyuuga, Souke e Bouke, que morava no mesmo local. Era como se fosse uma pequena vila dentro de Konoha. Pela ultima contagem que fora feita, existiam no clã Hyuuga em média de 250 pessoas. Um verdadeiro exército de Byakugan. Mas nem todos Byakugan eram iguais. Alguns manifestavam habilidades especiais, como a de ver os tenketsus e enxergar à grandes distâncias enquanto outros apenas viam a circulação do chakra. Nem todos Hyuuga se tornavam ninjas também. Muitos Hyuuga, normalmente aqueles de linhagem menos desenvolvidas, apenas faziam as tarefas normais. É claro que os ninjas eram os mais respeitados não havia dúvida. E o líder do clã obrigatoriamente deveria ser ninja. Era isso que estava destinado para ela.
Absorta em seus pensamentos, Hinata não percebeu a aproximação de uma pessoa que já a seguia há algum tempo, mas que se revelou tão logo ela adentrou nos domínios dos Hyuuga.
- Hinata-chan!
A voz trouxe um sentimento de nostalgia e saudosismo para ela.
- Iruka-sensei! Que surpresa! – falou ela parando de andar e esperando que ele a alcançasse.
Iruka se aproximou mais de Hinata, sorrindo.
- Como vão as coisas Hinata? – cumprimentou alegremente - Vejo que você cresceu bastante. Em breve fará dezoito anos se não me engano.
A menção de seu aniversário a deixou um pouco desconfortável e Iruka percebeu isso. O sorriso de seu rosto perdeu um pouco o brilho ao sentir seu estômago se contrair dolorosamente diante da menção daquele dia.
- Algum problema? – indagou preocupado. O rosto dela ficara um pouco pálido diante do comentário dele.
- Não, de forma alguma sensei. – apressou-se em dizer – Apenas surpresa por vê-lo aqui...
- É mesmo. Eu nunca venho para esses lados. – comentou ele olhando ao redor deles - Mas eu precisava falar com você. Sobre o Naruto.
O coração de Hinata começou a bater mais forte. Lembrou claramente do que Sakura falara. Se a garota sabia dos seus sentimentos por Naruto, será que Iruka também tinha conhecimento?
- S-Sobre o N-Na-aruto-kun? – gaguejou receosa.
- Sim. – respondeu ele estranhando a forma como ela estava se comportando. Parecia assustada.
- Gostaria de me acompanhar até minha casa? – convidou Hinata. Se era para conversar sobre Naruto, seria melhor que estivesse sentada. - Podíamos tomar um chá.
- Bem, eu não quero incomodar. – falou Iruka indeciso.
- Não será incomodo. – disse ela sorrindo - Venha.
O caminho da entrada da propriedade até a casa principal era um pouco longo e preenchido com casas de outros Hyuuga e também jardins. Iruka olhava tudo com um sincero interesse. Percebendo a curiosidade do antigo professor, Hinata perguntou:
- É a primeira vez que entra aqui sensei?
- Sim, a primeira. Nunca tinha tido a oportunidade de entrar no clã Hyuuga antes.
A verdade que Iruka não queria mencionar para Hinata com medo de constrangê-la era que o clã Hyuuga tinha a fama de serem péssimos anfitriões, e não querer ninguém de fora andando por suas propriedades. Mesmo acompanhando de Hinata, ele percebeu alguns olhares hostis à sua passagem. Talvez não tivesse sido uma boa idéia aceitar o convite dela.
- Hã... Hinata? – chamou ele timidamente - Será que não podíamos conversar aqui mesmo? O assunto é rápido e eu não quero atrapalhar suas obrigações...
- Não irá atrapalhar sensei. – tranqüilizou a menina - Nunca recebo visitas e por isso estou muito feliz de você ter vindo!
“Ao contrário dos outros da sua família” pensou ele.
A casa principal era enorme, reparou Iruka. Logo que chegaram, uma pessoa veio caminhando decidido na direção deles.
Hanabi parecia extremamente irritada e veio em direção a Hinata com um semblante de raiva.
- Você está atrasada de novo! – exclamou a menina - O que você faz tanto que não consegue chegar cedo? Está com medo de perder pra mim de novo? – acrescentou com um sorrisinho maldoso.
- Olá Hanabi-chan – cumprimentou Iruka sem jeito.
- Oh – exclamou a garota – Iruka-sensei... O que faz por aqui?
- Na verdade eu já estava de s...
- Ele veio me visitar Hanabi. – respondeu Hinata tentando controlar a irritação da menina – Se comporte como uma boa menina enquanto eu resolvo uns problemas de adulto com o sensei, certo? E nada de ouvir atrás da porta. Agora nos dê licença.
A caçula da Souke abaixou a cabeça um pouco inconformada e saiu pisando firme se distanciando dos dois.
Quando entraram na sala, uma jovem da Souke de longos cabelos levantou a cabeça surpresa ao ver Iruka ali.
- Hinata-sama. – cumprimentou ela se curvando – Umino-san, se não me engano.
- Sim, sou eu. – respondeu Iruka sorrindo.
- Umi. – falou Hinata se dirigindo à garota – Poderia preparar um chá para o Iruka-sensei, por favor?
- Sim Hinata-sama.
E ela se curvou mais uma vez e saiu da sala. Hinata apontou o lugar em frente a ela para que Iruka pudesse sentar. Ele se acomodou e observando sua aluna, falou sem jeito:
- Hanabi se tornou uma menina de temperamento bem forte, não foi?
- Forte até demais... – murmurou ela.
- Bem, Hinata-chan, eu nunca vi você tratar alguém daquela forma. – comentou ele rindo. – Tão segura de si.
- Minha irmã esta muito mal acostumada como você mesmo viu sensei – justificou ela com a voz triste – só consigo fazer ela me ouvir daquela forma. Se tratá-la bem quando ela é grossa, ela pisará em mim.
“Mas com certeza pagarei por meu atraso e por dispensá-la daquela forma mais tarde” pensou triste. Hanabi podia ser apenas uma genin, mas sua forma estava em um nível bem elevado e lutava igual à irmã, e podia superá-la facilmente quando se esforçava mais. Tentando tirar aqueles pensamentos de sua cabeça, Hinata perguntou ao seu antigo sensei:
– Mas me diga sensei, você queria falar comigo sobre o Naruto-kun?
Iruka assentiu com a cabeça.
- Você está ensinado a ele, não é mesmo? – perguntou.
- Sim, eu tenho ajudado ele a estudar. – confirmou ela
- O Naruto nunca foi de estudar, acho que você já percebeu. – falou como se pedisse desculpa - Mas eu venho reparando que dessa vez ele parece motivado a aprender, e isso me deixa muito satisfeito. Então eu queria saber: como ele está se saindo com você?
- O Naruto não é esse aluno mal que já me disseram. – defendeu Hinata - Ele até aprende rápido dependendo da matéria!
- Sério? Então você é uma ótima professora, para fazer ele se interessar.
Hinata ficou vermelha diante do elogio e balançou a cabeça veementemente.
- Não é mérito meu. Ele está se esforçando. Só estou com medo de que não dê tempo fazer tudo que eu tinha previsto...
Um mal estar tomou de conta de Iruka. Não havia tempo para estudar e Naruto acabaria falhando por causa disso?
- Por que Hinata-chan? – perguntou nervoso.
- O tempo é curto. Tenho que treinar com o Time três e sobra somente três horas para ajudar o Naruto-kun... Isso se não aparecer nenhuma missão até o dia da prova, o que agravaria a situação... Gostaria de ter mais tempo para ficar com ele. Ensinando, lógico. – acrescentou rapidamente.
Iruka sorriu.
- Que bom que existe alguém que se preocupe tanto com o Naruto. – comentou ele satisfeito - Ele precisa disso. De alguém que goste sinceramente dele.
Hinata abriu a boca para falar algo sobre o comentário de Iruka, mas foi interrompida pela chegada de alguém às suas costas.
Iruka imediatamente se levantou. E se curvando, cumprimentou formalmente:
- Boa noite, Hyuuga-sama.
Um frio pegajoso se apoderou do interior de Hinata. Era seu pai que estava às suas costas. Lentamente ele se aproximou mais, com seus olhos perscrutando o homem à sua frente.
- Ora, ora, temos visitas – falou Hyuuga Hiashi em um tom nada agradável.
Quando Hinata conseguiu encontrar as palavras que haviam fugido dela, falou no tom mais calmo que conseguira:
- Iruka-sensei veio até aqui me fazer uma visita papai. – falou displicentemente, mas torcendo para que seu antigo sensei não mencionasse as aulas que ela dava a Naruto.
Seu pai, nem ninguém do clã sabiam que ela havia se oferecido para servir de professora para Naruto. Não escondeu essa informação de caso pensado, mas achava melhor não comentar nada por enquanto. Não sabia qual seria sua reação.
Hiashi olhou para a filha e depois para Iruka e falou em um tom seco:
– É uma pena que ele tenha que se retirar. – falou sarcástico - Afinal você deve treinar com sua irmã, Hinata.
Um rubor imenso atingiu o rosto de Hinata. Percebendo que aquilo foi uma ordem para se retirar o mais rápido possível, Iruka falou:
- Até depois Hinata. Seu pai tem razão, você tem suas obrigações. Tomamos o chá depois – e sem esperar pela resposta da garota saiu da casa.
Hiashi esperou até que Iruka tivesse se afastado da casa para encarar a fila e dizer friamente:
-Você está perdendo tempo demais com coisas que não tem valor. Em vez de ficar conversando sobre inutilidades, vá treinar com Hanabi e tentar melhorar, se é que isso é possível. – e dando uma pausa sinistra, acrescentou - Afinal o dia de sua posse está perto, para infelicidade do clã.
E retirou-se do ambiente não dando importância para as lagrimas que rolavam no rosto de sua filha.
Na cozinha, Hanabi esperava a volta do seu pai ansiosamente, enquanto brincava com uma maçã despedaçando-a.
- Tomara que o papai já tenha botado o Iruka-sensei pra correr. – falou a garota rindo comendo um pedaço da fruta que acabara de cortar.
- Isso foi muita maldade, Hanabi-sama. – repreendeu Umi – Você não devia ter feito isso.
- Feito o que Umi? – perguntou Neji entrando na cozinha.
Ele parecia ter acabado de chegar de uma missão, pois ainda estava um pouco sujo de poeira. Encostou-se na porta, analisando as duas garotas à sua frente e deteve seus olhos em Umi.
- O que Hanabi-sama fez dessa vez Umi? – insistiu ele.
- Nada de mais Neji! – disse a menina abraçando ele contente – Eu estava com saudades!
- Neji-sama. – falou Umi séria – Hanabi-sama pediu para Hiashi-sama mandar Iruka-sensei embora para que ela pudesse treinar com Hinata-sama.
Neji afastou um pouco a garota e a encarou seriamente.
- Isso é verdade, Hanabi-sama? – quis saber ele.
Hanabi olhou para Umi com raiva e depois para Neji antes de responder irritada:
- Sim, é! Ela devia estar treinando comigo e não conversando! – e se voltando para a garota gritou – Dedo-duro!
E mostrando a língua, saiu da cozinha.
- Ela ainda é muito criança... – comentou Umi.
Neji deu de ombros e foi para seu quarto. Depois de tomar um banho iria ver como estava Hinata. Se realmente o pai da garota tivesse sido indelicado com Iruka, ela não estaria bem. E lembrou, depois do banho, de procurar conversar com Hanabi para ela parar de fazer aquelas coisas se quisesse ser realmente levada a sério dentro da família.
***************
Iruka estava preocupado. Pelo que Hinata falara, não daria tempo de deixar Naruto a par de todo conteúdo necessário para a prova de jounin. Não tinha como ele próprio ensinar o Naruto por causa da academia, e nem precisava porque ela estava fazendo um ótimo trabalho. Tinha plena consciência que Naruto não tinha capacidade de estudar sozinho. Se ao menos tivesse como Hinata e Naruto passarem mais tempo juntos.
Enquanto pensava essas coisas ele voltava para a vila. Uma coisa também o preocupava. A atitude de Hiashi com a própria filha fizera o professor se sentir mal. Hinata estava sendo tão solicita com Naruto, mas parecia que o líder do clã não percebia a pessoa maravilhosa que tinha dentro de casa.
“Mas ele deve agir assim pensando na sucessão dela. Afinal, Hinata será a próxima líder...”.
Decidiu deixar aquilo de lado. Afinal, mesmo que quisesse não tinha como ajudar Hinata naquela questão. Tinha que ajuda-la a ajudar Naruto. Era tudo que poderia fazer.
- Iruka-sensei! Tomando um ar noturno?
Shikamaru chegou acompanhado de Chouji e passou a andar ao lado do professor, que lhes sorriu. Os dois pareciam um pouco cansados, reparou Iruka.
- Shikamaru-kun, Chouji-kun! Quem bom rever vocês! O que estão fazendo?
- Estávamos indo comer lá no restaurante. – esclareceu Chouji – Depois do trabalho pesado que tivemos... – ele parecia chateado.
- Trabalho pesado? – estranhou Iruka.
- O Daymiou enviou novos livros para a biblioteca – explicou Shikamaru parecendo entediado – Como não havia mais ninguém disponível quando o carregamento chegou, sobrou para nós dois descarregamos todos aqueles livros... Cara foi tão problemático...
Iruka riu do comentário, mas sem deixar de admirar aqueles garotos que já eram homens e que haviam sido seus alunos. Sentia um imenso orgulho de si mesmo, por ter podido contribuir, ao menos um pouco, na formação deles.
“Queria ter feito mais por Naruto...” pensou tristemente.
Percebendo a preocupação de Iruka, Shikamaru perguntou preocupado:
- Algum problema sensei?
- Não, nenhum. – disse apressado – Só umas coisas que eu tenho que resolver.
- Nada se resolve de barriga vazia. – falou Chouji seriamente – Não quer jantar conosco no restaurante?
- Não posso, mas obrigado pelo convite. – agradeceu sinceramente.
- Não pode por que vai ver a Ayame lá no Ichiraku não é mesmo? – gracejou Shikamaru fazendo Iruka ficar imediatamente vermelho.
- D-De onde você tirou essa idéia menino? – protestou sem jeito – Preciso é falar com a Hokage!
“Mas não era nada mal passar lá no Ichiraku e comer um ramen...” pensou feliz.
- Certo sensei, se você diz... Bem Chouji – disse Shikamaru – Vamos logo comer e voltar para casa antes que cheguem mais caixas.
- Tenho pena de quem vai catalogar todos aqueles livros. – comentou o outro ao se afastarem – Vão passar semanas para terminar o serviço...
Foi então que Iruka teve uma idéia. Diante do que Chouji disse, sabia exatamente como podia ajudar Naruto. Mudando de curso, em vez de ir para o ramen tomou o curso do escritório da Hokage. Falaria com Tsunade sobre sua idéia.
E depois não seria má idéia comer um ramen e ver Ayame.
Correndo com um sorriso no rosto, ele acenou para Shikamaru e Chouji e desapareceu nas sombras da noite.
****************
Hinata caminhava como um fantasma naquela manhã. Seu pai, na noite passada após a saída de Iruka, havia submetido-a a um verdadeiro suplício físico e mental durante o treino. Estava esgotada. Nem a presença de Neji, que a procurara depois para saber se estava tudo bem adiantara. Para piorar, as crises de vômito voltaram mais fortes que antes durante a madrugada e seu esôfago ardia pelo esforço repetitivo, tanto que, nem ao menos tomara o café da manhã.
“Se eu sobreviver a hoje, sobreviverei a qualquer coisa” pensou sombriamente.
Como de costume ela chegou ao local de treinamento bem antes de seus alunos. Sentou em uma pedra e começou a mastigar uma erva medicinal que tinha encontrado durante o percurso. Shino uma vez a ensinara que aquela planta ajudava em problemas estomacais. E realmente sentiu um alívio refrescante quando engoliu a pasta amarga.
Imaginava como estavam seus companheiros de time naquele momento. Fazia alguns meses que não via Shino, desde que ele fora incorporado à anbu. Kiba estava bem atarefado, ajudando a irmã na clínica para animais e estudando para se tornar um veterinário como Inuzuka Hana. E por fim, Kurenai, sua sensei, estava grávida já de quase seis meses, lembrou.
“Preciso visitá-la... Sinto falta de todos... Mas com tantos compromissos, como posso me ausentar do clã? E principalmente agora que com as poucas horas que tenho devo ajudar o Naruto-kun!”
O trio de genins chegou um pouco depois, todos juntos. Yumi e Suzumi vinham alegres e acenaram animadas quando a viram, mas Makoto ainda bocejava e parecia irritado, como sempre.
- O que vamos aprender hoje? – ele já chegou perguntando.
- Bom dia para você também Makoto. – cumprimentou Hinata rindo – Hoje vocês aprenderão a fazer armadilhas.
- Oba!!! – exclamaram as meninas.
- Que chato. – resmungou Makoto – Não tem algo melhor?
As meninas começaram a dar cascudos no garoto, mas a professora não ficou chateada com as palavras dele. Já se acostumara a seu mal-humor.
- Sensei! – chamou Yumi quando soltou o garoto – Papai lhe mandou onigiris!
E estendeu vários bolinhos de arroz para a sua professora. Hinata sentiu o cheiro da comida e teve um espasmo no estômago, sentindo o gosto de bílis na boca misturada com o sabor da erva amarga.
- Obrigada Yumi, mas eu estou sem fome... Por que vocês não saboreiam a comida do pai da Yumi enquanto eu preparo o material?
- Oba, eu quero o de ameixa! – pediu Suzumi.
Nem mesmo Makoto resistia aos lanches que a menina de longos cabelos azuis trazia. Hinata se perguntava se ela herdara aquela meiguice do pai, já que sua mãe era conhecida por ser extremamente dura e exigente.
“Espero que ela se conserve assim...” pensou olhando para Yumi.
- Bem – disse Hinata se levantando depois de conferir o material e ver que eles tinham acabado com os bolinhos de arroz – vamos começar.
Mexer com armadilhas sempre foi o forte do Time oito, lembrava a sensei nostálgica enquanto tentava passar para seus alunos tudo aquilo que sabia daquela técnica. Todavia, a aula mal havia se iniciado quando foi interrompida por alguém.
- Hyuuga Hinata. – chamou uma voz grave
Era um anbu. Estava com a tradicional máscara de animal usada por todo esquadrão, mas Hinata reconheceu a voz como sendo a de Uchiha Sasuke. Seus alunos soltaram as cordas e ficaram olhando o homem à sua frente com uma mistura de respeito e medo.
- A Hokage a convoca junto com o Time três para se apresentarem em seu escritório. – e dando uma pausa, acrescentou - Imediatamente.
- Certo. – disse ela.
Eles guardaram o material e acompanharam Sasuke até onde Tsunade os aguardava. No caminho, enquanto pulavam de prédio em prédio para chegar ao escritório da Hokage, os meninos discutiam animadamente o motivo da chamada repentina.
- Oba, tomara que seja uma missão de rank S! – exclamou Makoto animado.
- Você não tem capacidade nem de participar de uma de rank D. – alfinetou Suzumi fazendo o garoto olhar com raiva para ela.
- Quietos! – reclamou Yumi – Estamos chegando.
Hinata, igual aos seus alunos, também imaginava que o motivo da chamada era uma missão, e diferente deles, não estava nem um pouco animada. Sair em missão significava deixar Naruto sozinho, sem ter quem o ensinara para a prova. E não havia como ela recusar partir em missão, já que sabia que os três genins sobre seu controle não podiam ainda realizar trabalhos sem sua supervisão.
“Tomara que não seja uma missão.” Pensava Hinata fervorosamente “E se for que não seja nada demorado!”.
Como o escritório estava cheio então eles tiveram que esperar para serem atendidos. Enquanto esperavam, vários ninjas que passavam por ali cumprimentavam alegremente Hinata, entre eles Rock Lee, que fez questão de parar um pouco e falar com ela.
- Como vai a Hanabi-chan? – perguntou animado.
- Muito bem Lee-san. – respondeu com um sorriso no rosto – Espero que ela não esteja te dando trabalho.
- De forma alguma! – negou ele veementemente – Eu adoro meus pupilos! Estou indo me encontrar com eles agora, nós temos uma missão!
- Eu acho que também teremos uma... – falou Hinata mais torcendo para estar errada.
Observando a cena, Yumi comentou timidamente.
- Nossa sensei é bem conhecida não é?
- Grande coisa. – resmungou Makoto – Olhe por quem ela é conhecida, por esse cara estranho de sobrancelhas grossas...
- Você fala como se você fosse normal... – rebateu Suzumi dando um cascudo no menino. – Além de ser um pintor-de-rodapé, tem voz de menina!
Quando Shizune apareceu na porta chamando eles, Lee já havia se despedido de Hinata e Yumi já havia acabado com a briga entre os seus colegas de time.
- Time três – começou Tsunade quando finalmente os atendeu – tenho uma missão de extrema importância para vocês.
- O que é? – perguntou Makoto animado – Espionar um daymio rival? Capturar um ninja do Bingo Book?
- Na verdade, estou precisando que vocês cataloguem os livros novos da biblioteca. – falou dando de ombros.
- O QUÊ?????? – exclamaram os três.
- Desde quando isso é importante?! – perguntou o garoto irritado.
- Ora, você estará contribuindo para a vida intelectual de Konoha! Quer honra maior? – exclamou a Hokage rindo.
Um sentimento de alívio tomou de conta de Hinata. Se aquela era a missão, não iria atrapalhar os seus estudos com Naruto.
– Agora vocês põem ir. - dispensou Tsunade - O chunin responsável pela biblioteca irá mostrar o trabalho a ser feito. Mas, Hinata, espere um pouco quero falar com você a sós.
Quando o time saiu da sala com Makoto praguejando alto, Tsunade olhou para Hinata, sorridente.
- Admiro sua iniciativa de ajudar o Naruto, Hinata. – falou a Hokage
A garota corou um pouco diante do elogio e falou:
- Eu apenas quero ajudá-lo...
- Por isso designei seu time para trabalhar com os livros. Estando na biblioteca o dia todo, você poderá ensinar ao Naruto mais tranquilamente. - E soltando uma risada completou – Mas parece que quem não gostou foi o seu time!
- Obrigada, Tsunade-sama! – agradeceu sinceramente Hinata se curvando – Não sei como agradecer. Eu sei como fazer essa prova é importante para o Naruto-kun!
- Agradeça garantindo que Naruto passe nessa prova. – disse sorrindo para a jounin - Por mim eu teria dado o título a ele sem essa cerimônia toda, mas os conselheiros acharam que já estávamos quebrando regras demais permitindo que um genin fizesse a prova para jounin.
- Entendo. Esforçarei-me bastante Tsunade-sama!
- Agora pode ir e avise àquele moleque que ele terá aulas em período integral.
Quando Hinata deixou a sala muito contente, Iruka, que estava camuflado no fundo da sala, apareceu.
- Obrigado Tsunade-sama, por atender meu pedido.
- Não tem de quê, Iruka. A idéia de colocar o Time três para catalogar os livros, me solucionou dois problemas: o que fazer com aquelas caixas e como ajudar Naruto.
- Hinata-chan foi muito gentil em se oferecer pra ajudar o Naruto. – comentou ele – Ela sempre foi uma ótima aluna e suas notas sempre foram bem próximas às de Sakura.
Tsunade continuou olhando para a porta, por onde a herdeira dos Hyuuga havia saído e sorriu maliciosamente.
- Mas quero lhe avisar uma coisa Iruka: acho que essas aulas não renderão apenas estudos! – e caiu na risada enquanto Iruka a observava sem entender o significado daquelas palavras.
Capítulo V – Eu me preocupo com você
- Droga, droga e droga! – Makoto chutou uma latinha de refrigerante que estava no chão – Que droga de missão!
- Confesso que fiquei surpresa, – observou Yumi – não é uma missão muito comum...
- Mas pelo menos será tranqüila. – comentou Suzumi satisfeita – Melhor do que ta no meio do mato atrás de animais de estimações de senhoras gordas e feias.
- Mas eu sei a razão de tudo isso... – comentou o garoto mal-humorado.
As garotas pararam de andar quando ouviram o colega falar aquilo e o olharam interessadas.
- Qual? – perguntaram as garotas em uníssono.
- Nossa sensei. – decretou sombrio - Ela é muito fraca e inútil. Por isso não nos dão missões boas...
- Tenha cuidado com suas palavras quando falar da Hinata... – reclamou uma voz irritada.
Naruto surgiu em frente ao Time três com uma expressão nada satisfeita e segurando a latinha que Makoto chutara.
- E tome cuidado também com o que chuta por ai, pirralho. – acrescentou colocando a latinha no lixo – Pode machucar alguém.
Makoto fez uma cara de desdém para Naruto. Imediatamente o rapaz lembrou de Sasuke. O humor do aluno de Hinata parecia está no mesmo nível de seu amigo naquela idade. O menino o encarou aborrecido e falou em sua voz aguda:
- Quem você pensa que é para falar assim comigo?
- Ele é Uzumaki Naruto. – respondeu Yumi em tom de repreensão – Ele salvou a vila da organização Akatsuki três anos atrás e resgatou o último dos Uchiha do cativeiro de um dos sanins lendários, Orochimaru. Então você deve respeito a ele.
Naruto se surpreendeu. Nunca alguém falara com tanta reverência a seu respeito. Sorriu feliz para a menina.
O Time de Hinata era diferente, reparou Naruto. Era a primeira vez que via um time com duas meninas. Imaginou como Makoto deveria se sentir sendo o único garoto no grupo, afinal a sensei também era mulher. Olhando bem para eles, Naruto analisava as meninas que ainda não conhecia. A mais alta tinha cabelos azuis e parecia a mais calma dos três. Fora ela que partira em sua defesa e imaginava que era ela também que colocava ordem no grupo. Usava uma roupa azul com uma blusa branca por baixo, uma bermuda cinza e ele achou as feições dela familiares.
“Como ela consegue andar com essa roupa toda no verão?” pensou imaginando o calor que ela deveria estar sentindo.
A outra menina... Bem, pareceria um menino travesso se não fosse às longas madeixas ruivas. Na falta de uma definição melhor, Naruto a achou um pouco rebelde. Tinha diversos piercings espalhados pelo corpo, e usava uma roupa muito folgada e desleixada. O hitaite de Konoha estava em uma touca em sua cabeça e ela possuiu olhos verdes muito intensos. Seria com certeza muito bonita em poucos anos, se decidisse parecer uma menina afinal.
“Será que os pais dela não se importam com essa aparência?” pensou Naruto.
- Não me importa quem ele seja! – esbravejou Makoto para sua colega depois que ela chamara sua atenção - Meu pai não gosta dele, nem eu!
- Seu pai não gosta de ninguém, Makoto. – suspirou Yumi.
- Por isso perdeu o comando da anbu para Uchiha Sasuke. – completou Suzumi.
A expressão do garoto agora era de vergonha e tristeza. Sentindo que aquele era um assunto que garoto estava claramente evitando, procurou desviar o assunto da conversa:
- Bem – murmurou Naruto coçando a cabeça e olhando para os três – Estou em desvantagem, vocês me conhecem mas eu só sei o nome do Makoto...
O menino bufou irritado, cruzou os barcos e olhou para o lado. As meninas se entreolharam e depois sorriram para ele:
- Kaneshiro Yumi. Muito prazer! – falou a menina alta de cabelos azuis se curvando educadamente.
- Kimura Suzumi. – falou a ruiva fazendo um V com os dedos.
- Mas pode chamar de cabeça de fósforo. – provocou Makoto.
- Se eu for enumerar as formas de chamar você seu imbecil, passarei o dia todo e não terminarei! – respondeu irritada dando um cascudo no menino. – Começando pela letra A: Ameba descerebrada!
- Como é?! – reclamou ele tendo sua orelha puxada imediatamente por Suzumi – Aiiii!!!!
- Parou os dois! – reclamou Yumi se metendo na briga – O que Uzumaki-san pensará de nós?
Naruto sorriu diante do tratamento da menina.
- Pode me chamar só de Naruto mesmo... E a propósito... Hã... Onde está Hinata?
- Está lá dentro falando com a Hokage. – esclareceu a ruiva ainda segurando a orelha de Makoto que parecia prestes a chorar.
- Procurando por mim? – perguntou Hinata que acabara de chegar. – Suzumi, solte a orelha de Makoto, por favor. – pediu olhando para sua aluna.
A menina libertou Makoto, sem antes puxa-la mais um pouco. Yumi se colocou no meio antes que ele pulasse em cima da colega, e Naruto sorriu sem jeito diante da cena.
- Bem... – começou ele – O Sasuke me disse que a Hokage tinha um assunto comigo, mas quando cheguei, ela me mandou esperar para falar com você. O que é? Algum problema?
Hinata sorriu.
- Nos acompanhe até a biblioteca que conto tudo. – falou enigmática.
Naruto acompanhou Hinata e seu time até a biblioteca, reparando que os meninos ficaram subitamente desanimados. Logo que chegaram ao prédio, o chunin responsável foi até eles. Era um rapaz alto, de cabelos castanhos claros e que inusitadamente carregava um grande espanador na cintura como se fosse uma espada. Olhou para todos eles e seus olhos se detiveram no Time três por alguns instantes antes de falar:
- Por aqui, por favor.
Ele os levou até os fundos, onde havia um depósito com vários caixotes contendo livros. Eles estavam empilhados uns sobre os outros e a maioria ainda estava fechada. O chunin acendeu a luz do lugar, revelando que não era apenas uma grande quantidade de caixotes, mas principalmente uma grande quantidade de livros e pergaminhos.
- Tudo isso?! – exclamaram os três.
- Sim, mas não precisa esse desespero todo. – falou ele com a voz calma - O trabalho é muito simples. Primeiro, coloquem os livros em ordem alfabética. Depois é só cataloga-los em fichas no computador. Ali está ele. – disse apontando para o computador no canto da sala – Só tem um, então vocês devem reversa-lo.
- Demoraremos semanas fazendo isso. – choramingou Makoto.
- Ainda bem que somos quatro. – observou Suzumi.
- Na verdade três. – disse o bibliotecário.
- Como assim? - quis saber Yumi.
- Ordens da Hokage. Apenas o time faz o trabalho. A responsável pelo time tem outra missão, certo Hyuuga-san?
Hinata fez que sim com a cabeça.
- Ótimo. Era só o que faltava! – reclamou Makoto cruzando os braços, irritado.
- Garoto, reclame menos e faça mais. – avisou o chunin olhando um pouco irritado para ele - Vocês já deviam ter começado.
Sentindo uma pontada de remorso por ser indiretamente responsável por aquela “missão”, Hinata deixou seus alunos no depósito e voltou à biblioteca onde Naruto a esperava, sentado na mesma mesa em que eles costumavam estudar.
- E então, qual assunto? – perguntou quando ela se sentou em frente a ele.
- Meus alunos receberam a missão de catalogar os livros novos da biblioteca. – falou ainda sem acreditar que o problema dos dois fora resolvido.
- Nossa que missão estranha. – comentou ele absorto.
- Eles ficarão pelos próximos dias sempre aqui na biblioteca... – se quase sem conter a alegria e ficando até um pouco vermelha, ela perguntou levando a mão fechada à boca – Hãã... Sabe o que isso significa Naruto-kun?
- Hum... – Naruto fez uma cara pensativa – Que eles vão ler muito?
Hinata suspirou e olhou para o lado encostando os dedos indicadores.
- Significa que poderei ficar com você o dia todo na biblioteca estudando...
Naruto abriu um largo sorriso e colocou as mãos nos ombros delas, animado.
“Naruto-kun esta tocando em mim...” pensou ela quase desfalecendo de tanta emoção.
- Isso é muito bom! – falou ele apertando um pouco as mãos nos ombros dela - Com certeza assim dará tempo de ver tudo! Hinata, agora tenho quase certeza que passarei nessa prova!
- Já estou te vendo num colete de jounin! – exclamou animada - Graças a Tsunade-sama. A idéia foi dela.
A noticia o surpreendeu um pouco. Afinal, não esperava que a Hokage tomasse uma atitude daquela, de designar uma missão para o time de Hinata somente para ela poder ensiná-lo. Mas abriu um largo sorriso, se arrependendo de ter ficado chateado com ela por causa da prova. Agora, precisava se redimir, agradecendo-a.
- Vou pegar meu material agora mesmo! – decidiu - E aproveito para agradecer a ela! – e saiu correndo pela biblioteca.
- Não demore Naruto-kun. – ela conseguiu dizer antes que ele sumisse porta afora.
Em seu escritório, Tsunade dava ordens a um grupo de genins, liderado por Kakashi.
- A missão é muito simples, vocês devem...
Mas foi interrompida por Naruto que adentrou na sala sem bater na porta e praticamente se jogou em cima dela. Todos ficaram olhando no momento em que Naruto a levantou, entusiasmado e a abraçando forte lhe deu um sonoro beijo na bochecha.
- Obrigado Vovó Tsunade! Prometo me esforçar muito para pagar a ajuda! – falou animado antes de sair da sala tão intempestivamente como entrou.
Enquanto Kakashi e seu novo time olhavam para a porta por onde Naruto acabara de sair, Tsunade passou a mão no local onde o garoto beijara ainda um pouco surpresa, mas extremamente satisfeita.
***************
- Pronto para começar a parte mais difícil, Naruto-kun? – perguntou Hinata preocupada tão logo ele chegou à biblioteca com seu material debaixo do braço.
- Sim! Eu to pronto! – exclamou animado – Nada mais vai me impedir de aprender tudo Hinata!
- Que bom Naruto-kun! Olhe, eu fiz outro roteiro daquele que eu te entreguei no primeiro dia. Mas como agora a gente tem mais tempo para estudarmos juntos – ela corou quando falou isso – eu fiz um pouco maior enquanto você foi no escritório de Tsunade-sama...
E estendendo a folha, mostrou-a para Naruto.
2ª SEMANA - CONCEITOS AVANÇADOS:
1º dia: Selos parte I: Genjutsu
Selos parte II: Ninjutsu
Selos parte III: Combinando Genjutsu e Ninjutsu com Taijutsu
2º dia: Estudo dos princípios de Taijutsu: corpo-a-corpo
Estudo dos princípios de Taijutsu: cálculos decorrentes de confrontos à distância
3º dia: Ninjutsu e concentração do Chakra
Precipitações do Chakra: o funcionamento do Genjutsu em combate
4º dia: Propriedades essências para a medicina ninja
Venenos e antídotos
5º dia: Surpreendendo o inimigo parte I: táticas de ataques-surpresa
Surpreendendo o inimigo parte II: preparando armadilhas
6º dia: Organizações secretas das Vilas Ocultas: quais são e como agem
7º dia: Revisão
- Então? – perguntou um pouco insegura.
- Bem... – Naruto parecia não ter entendido uma palavra do que acabara de ler – deve ficar mais fácil com você explicando né?
Porém, não fora assim. Como Hinata previra, Naruto começou a dar nítidos sinais de dificuldades. Durante toda a manhã, eles mal saíram do primeiro ponto proposto no roteiro, e isso estava deixando aborrecido e irritado consigo mesmo.
- Droga! Eu sou muito burro! – exclamou ele desesperado dando cascudos na própria cabeça.
- C-Calma, Naruto-kun – pediu Hinata angustiada – Nós só estamos começando...
- Sensei!
O Time três veio ao encontro deles parecendo estar muito cansados. Pelo visto, eles haviam trabalhado tanto quanto sua sensei naquela manhã. Estavam cheios de poeira e Suzumi espirrava constantemente.
- Estamos indo almoçar. – explicou Yumi com semblante cansado – Não vai vir conosco? Minha mãe adora quando a sensei vai almoçar lá em casa! Meu pai disse que ia fazer yakisoba hoje!
- Vamos sensei! – chamou Suzumi também – Eu e o Makoto vamos também!
Ela olhou para seus alunos, depois olhou para Naruto que segurava a cabeça entre as mãos, com os olhos fixos no livro.
- Pode ir Hinata. – falou Naruto sem tirar os olhos do livro – Eu vou ficar por aqui.
Mas Hinata jamais teria coragem de deixá-lo ali, sozinho e angustiado do jeito que ele estava. Olhou para seus alunos que esperavam uma resposta e sorriu.
- Yumi, diga a sua mãe que infelizmente não poderei hoje. – falou suavemente – Mas irei na próxima vez com certeza.
- Mas sensei... – começou Suzumi
- Ah, se ela não quer ir, não insista. – falou o garoto do time - Vamos logo que eu to morrendo de fome!
- Ouviram o Makoto. Vão logo. Vemos-nos à tarde.
Os garotos saíram logo em seguida, apesar de Yumi ter ficado extremamente triste por sua professora não ter ido junto. O chunin responsável pelo local também havia ido almoçar. A biblioteca estava vazia, exceto por eles dois.
- Por que você não foi com eles? – estranhou Naruto – Eu poderia me virar sozinho por aqui... Estou acostumado a fazer isso.
- E-Eu achei q-que poderíamos comprar um lanche na máquina lá fora e comer a-aqui mesmo. – ela propôs se sentindo uma idiota – A-Assim poderíamos continuar...
Naruto levantou os olhos do livro e a encarou. Mas Hinata nunca conseguia olhar nos olhos dele por muito tempo. Desviou o olhar e passou a encarar apenas o chão. Um silêncio constrangedor se abateu sobre os dois.
- Por que tanto esforço por mim Hinata? – perguntou ele procurando os olhos dela, que ainda fugiam.
- B-Bem..e-eu...e-eu – gaguejou ela sem saber o que dizer.
“Vamos sua idiota, a hora é agora. Diga a ele o que você sente!” pensava ela.
Ela tomou fôlego e o encarou, mas rapidamente desviou a vista. Não conseguia. Ainda não podia falar.
– E-eu... E-eu me preocupo com você, Naruto-kun. – disse se sentindo uma imbecil e apertando um lápis na mão - Você já me ajudou antes e eu queria retribuir...
Ele continuou tentando fazer com que ela olhasse para ele, mas não conseguia. Parecia mais interessada em olhar para o lápis que segurava entre os dedos.
“Ela está me escondendo algo” notou Naruto pela primeira vez. “Mas melhor não pressionar”.
- Então, que lanche você vai querer? – perguntou ele se levantando.
Na verdade, Hinata não estava com fome. Seu esôfago ainda queimava um pouco, estava se sentindo um pouco enjoada e tinha medo de comer e vomitar tudo depois. E lembrou que não havia posto nada no estômago ainda naquele dia.
- Pode me trazer qualquer coisa... – murmurou ela tentando parecer desinteressada. – Um suco de laranja talvez...
- Ok. Não demoro.
Eles comeram suco com bolinhos na mesa onde estavam estudando mesmo. E continuaram o estudo logo depois. Quando o time de Hinata voltou depois do almoço, eles já haviam passado para o segundo assunto e, quando o relógio já passava das cinco, haviam terminado o terceiro com muito custo. A cabeça de Naruto parecia que ia explodir tamanha fora a carga de informação. Uma dor latejante havia se instalado nela também e ele queria ir pra casa para poder tomar um banho e dormir.
- Naruto-kun... – chamou Hinata timidamente – Desculpe se exigi demais... – pediu olhando para o semblante cansado dele.
- Deixe disso, você não tem por que se desculpar. A culpa é minha por não ter sido um bom aluno desde pequeno. É um castigo. – sentenciou ele infeliz. – Acho que vou passar no hospital e pedir para examinar meu cérebro... Deve ta faltando alguma coisa nele. – brincou tentando parecer melhor do que realmente estava.
- E-Eu prometo que m-me esforçarei mais para te ajudar, Naruto-kun! – falou ela ficando totalmente vermelha.
Vendo toda a determinação dela em lhe ajudar, Naruto se sentiu imediatamente melhor. Não podia decepcionar Hinata.
- Eu prometo que passarei nessa prova! – bradou Naruto elevando a voz.
- E eu prometo que mato os dois se não pararem de falar alto dentro da biblioteca. – falou o chunin responsável olhando feio para os dois.
- Certo, certo... – resmungou o garoto.
Hinata só então olhou o relógio e percebeu que eram quase seis da tarde.
- Nossa já faz quase dez horas que estamos aqui! – surpreendeu-se ela falando baixinho para o bibliotecário não reclamar novamente com eles.
- Eita, é mesmo! – exclamou ele - Está na hora de irmos.
- Sim... Mas antes... N-Naruto-kun... Pegue este resumo... – e ofereceu a ele um caderninho de bolso com o nome “1º dia” escrito na capa – Para ler em casa... Já que parece que os outros foram úteis...
- Puxa e como foram! – disse animado - Já os li umas cinqüenta vezes!!! Hã... Ta, talvez não cinqüenta, mas muitas vezes!!! Obrigado, Hinata. – e pegou o caderninho.
Pronto, já concluíra sua parte naquele dia, pensou Hinata satisfeita. Ele, apesar de todas as dificuldades, havia terminado aquela etapa e estava com o resumo para estudar em casa. Ela já podia voltar para casa e recomeçar os treinos com sua irmã. Não era um pensamento muito animador, mas somente com a certeza de que, no dia seguinte, ela ficaria perto de Naruto novamente, lhe dava a sensação que poderia enfrentar aquela noite sem medo.
Recolheu suas coisas, guardo-as cuidadosamente e olhou para Naruto. Ele estava de costas, arrumando a mochila. Ela quis falar e desejar boa noite, mas ficou receosa. Era melhor ir logo ou chegaria atrasada, então se levantou para ir embora. Quando deu o primeiro passo, Hinata percebeu que não estava se sentindo bem e pensou em pedir ajuda a ele. Mas sua voz misteriosamente não saia. A sala começou a girar loucamente sobre sua cabeça e ela teve a sensação do chão ter sido retirado debaixo de seus pés. Sua vista escureceu rapidamente e ela nem ao menos teve tempo de chamar por Naruto antes que perdesse a consciência.
Naruto estava de costas para Hinata guardando o caderninho que ela tinha lhe dado, quando ouviu um baque surdo no chão. No primeiro momento achou que ela havia derrubado seus livros e quando se virou para oferecer ajuda, perdeu toda sua ação. Hinata estava caída sobre o piso, com os cabelos escuros emoldurando sua face pálida e respirando com dificuldade.
- HINATA! – ele gritou pulando a mesa rapidamente para chegar do outro lado onde estava a garota.
Acomodou Hinata nos braços e pôs a mão em sua testa.
- Está gelada... – murmurou.
- Ei, garotos! – reclamou o bibliotecário - Eu não disse que voc... Ei o que aconteceu?
O bibliotecário havia ido para reclamar do grito de Naruto, mas ao chegar à mesa, se deparou com o motivo dele e se aproximou rapidamente de onde estavam se agachando onde eles estavam.
- O que houve? – perguntou preocupado.
- Eu não sei. – falou Naruto angustiado – Ela simplesmente caiu desmaiada.
Muitos estudantes que estavam ali àquela hora começaram a se aproximar para ver o que estavam acontecendo. O burburinho deles começou a ficar mais e mais alto, até que todos no local correram para ver o que tinha acontecido e comentavam apontando.
- Ei, o que vocês estão olhando? – esbravejou o bibliotecário irritado – Saiam daqui!
Atraídos pelo barulho da biblioteca, o time de Hinata colocou a cabeça para fora da sala e viram o pandemônio que se instalara. Deixaram o deposito de livros e se dirigiram para o centro do tumulto, curiosos.
- Ei! – exclamou Yumi abismada ao se aproximarem mais – É a Hinata-sensei ali no chão!
E correram para tentar saber o que acontecia.
Naruto parecia não saber o que fazer naquela hora. Estava desesperado, ainda segurando a garota nos braços e tentando, em vão reanimá-la.
- Hinata? Hinata, fale comigo. Acorde por favor!
- O que houve com a Hinata-sensei? – perguntou Yumi depois que finalmente conseguiram chegar perto dos dois.
- Eu não sei...
Naruto só sabia que precisava tomar uma atitude. Não podia ficar ali na frente de todas aquelas crianças como um retardado e não fazer nada para ajudar Hinata. Se queria ser um jounin e também um Hokage, tinha que tomar decisões rápida e não ficar com cara de idiota diante de uma situação como aquela.
“E-Eu me preocupo com você...” as palavras dela voltaram à sua mente.
Ele precisava agir e rápido.
– Makoto, - disse ele se dirigindo ao menino - vá ao hospital de Konoha e procure Haruno Sakura e diga a ela que eu estou chamando-a urgentemente aqui. Yumi ajude o bibliotecário...
- Meu nome é Keigo. – falou o chunin.
- Que seja, ajude o Keigo a colocar esse povo todo pra fora, eles atrapalham, e Suzumi, me ajude trazendo um pouco de água para Hinata! Rápido!
***********
O dia estava tranqüilo. Nenhum ninja havia chegado ao local em estado grave. Sakura gostava de dias como aqueles, onde podia se sentar no jardim do hospital e observar os pássaros voarem enquanto descansava um pouco.
Enquanto estava sentada ali, sentiu duas mãos tocarem em seus ombros delicadamente. Ela já reconhecia aquele toque e sorriu.
- Sasuke-kun... – murmurou quando ele apareceu em frente a ela.
Sasuke usava a roupa da anbu e a máscara em forma de pássaro estava colocada ao lado de sua cabeça, deixando seu rosto à mostra. Ele sorriu para ela e se sentou do seu lado.
- Dia tranqüilo? – perguntou.
Ela assentiu com a cabeça.
- Faz tempo que não sento assim aqui nesse hospital. Gosto de me sentir útil, mas às vezes é bom saber que não há ninguém na vila que corra nenhum perigo de vida.
- Por enquanto está tudo tranqüilo também na anbu. – comentou ele – Mas é isso que me deixa apreensivo... Calmaria demais.
- Como assim, Sasuke-kun? – perguntou preocupada.
- Você não percebeu que a Hokage está diferente? Está mais séria?
Agora que ele comentara, Sakura viu que ele tinha razão. Tsunade agora passava mais horas que o normal em seu escritório e quase nunca Shizune precisava brigar com ela para poder trabalhar. Isso com certeza era um sinal de que havia alguma coisa errada.
- O que você acha que é Sasuke-kun?
- Não sei... Nada foi dito à anbu e é isso que me deixa mais apreensivo.O que quer que esteja acontecendo, ela tem mantido em segredo ou esta tentando resolver por outros meios.
- Mas você não desconfia de nada? – indagou ela começando a ficar realmente preocupada.
Quando ele abriu a boca para comentar, ouviram um burburinho vindo do corredor. Ambos se viraram para presenciar um menino correndo e sendo perseguido por duas enfermeiras.
- Você não pode entrar sem permissão! – dizia uma delas.
- Eu preciso falar com Haruno Sakura! – gritou ele – É importante!
- O que estávamos falando sobre calmaria mesmo hein? – murmurou ela suspirando.
Sasuke riu e se levantou acompanhando Sakura em direção ao tumulto.
- Ei, ei, o que está acontecendo aqui? – perguntou a médica.
- Esse moleque entrou sem permissão! – falou a enfermeira.
- Mas eu preciso falar com Haruno Sakura! – argumentou ele – Foi o Naruto-san quem me mandou!
- O Naruto te mandou? – perguntou Sakura.
- Foi. Você sabe quem é Sakura? – indagou ele olhando-a.
- Eu sou Sakura. E vocês duas podem deixar ele aqui que eu resolvo.
As enfermeiras ainda o olharam, desconfiadas, mas seguiram o que Sakura falou e foram se afastando. Sasuke olhou para o menino, sabendo que o conhecia de algum lugar. Olhou para o símbolo em seu peito e reconheceu como sendo aquele que era ostentado por uma grande parte da anbu.
- Você é um Otori, não é? – perguntou Sasuke – Deve ser Otori Makoto, não?
O garoto olhou espantado para Sasuke, mas logo o reconheceu e ficou constrangido. Sakura encarou os dois sem entender.
- Muito bem. – falou ela batendo as mãos – O que quer comigo, Makoto-kun?
E como se só tivesse lembrando do que viera fazer ali, ele começou a falar alto demais e rápido demais:
- Ai, a gente tava catalogando as porcarias, digo, os livros, aí ouvimos umas coisa e quando vimos ela tava no chão e ele me mandou vir aqui!
- Certo. – Sakura balançou a cabaça sem ter entendido uma só palavra – Alguém passou mal na biblioteca foi?
- Foi! Vamos logo! Ela precisa de ajuda! – e começou a puxa a mão da garota.
Sakura olhou para Sasuke e sorriu.
- Vou lá resolver esse problema... Nós encontramos depois!
Queria dar um beijo nele, mas o menino a puxava desesperado. Sakura só teve tempo de pegar sua maleta e o seguir um pouco contrariada. Sua calmaria tinha chegado ao fim.
****************
Instintivamente todos obedeceram Naruto sem contestar, não apenas Makoto, mas as meninas de seu time e até o bibliotecário. Para não deixar Hinata inconsciente no chão, ele a deitara no banco onde ela estava sentada antes. Lembrava vagamente do que Sakura tinha lhe dito sobre o que fazer com pessoas desacordadas.
- Bem, começamos folgando as roupas. – ele falava para si mesmo – Hinata me desculpe, mas vou ter que abrir o botão de sua calça.
E ele assim o fez. Desabotoou o botão da calça da garota e abriu também seu colete de jounin, retirando-o em seguida.
- Vamos Hinata, abra os olhos! – pedia ele olhando seu rosto - Não faça isso comigo, não me deixe preocupado.
- Naruto-san, ela está tão pálida! – falou Suzumi que estava tão preocupada quanto ele.
- Ótimo, a água! – exclamou ele.
Sakura não demorou a chegar. Parecia preocupada como se não entendesse ainda exatamente o que estava acontecendo, pois o garoto que Naruto mandara não soube explicar muito bem e estava muito nervoso quando fora até o hospital. Tudo que sabia era que alguém tinha passado mal na biblioteca.
Quando ela chegou o aposento já estava vazio exceto pelo Time três, Keigo e Naruto que tentava reanimar Hinata com água.
- Hinata? – surpreendeu-se Sakura - O que aconteceu?!
- Eu também quero saber por isso te chamei. – falou Naruto nervoso.
A médica se aproximou com a maleta depositando ela do lado do banco onde Naruto tinha colocado Hinata e passou a examiná-la rapidamente.
- Ela está com a pressão baixa, por isso está tão fria. – explicou.
- E o que vamos fazer?
- Você, nada. Eu vou reanimá-la. Depois verei o motivo do desmaio.
Tirando um frasco de dentro da maleta, Sakura começou a passar uma pomada de cheiro forte na testa e nos pulsos de Hinata. Depois, pegou o copo de água que Suzumi ainda segurava e colocou um remédio de cor verde nele.
- Naruto, me ajude aqui. Segure a Hinata enquanto eu dou esse remédio a ela. E cuidado. Não pode mexê-la. Ela irá sufocar se dermos o remédio de forma errada.
Naruto segurou Hinata cuidadosamente enquanto Sakura abria sua boca e despejava o líquido verde. Todos olharam ansiosos para Hinata, esperando sua recuperação. E ficaram felizes quando não demorou muito para que a garota desse os primeiros sinais de consciência.
- Naruto-kun... – ela chamou com os olhos ainda fechados.
- Eu estou aqui. – respondeu.
Hinata lentamente abriu os olhos. Sua mente demorou a assimilar o que estava acontecendo. Apenas viu que estava sendo segurada por Naruto e que todos, inclusive Makoto, a olhavam preocupados.
- O que aconteceu? – perguntou confusa.
- É isso que queremos saber. – falou Sakura sorrindo docemente para ela – Fique quietinha enquanto eu te examino.
Sakura passou a mão, que resplandecia de chakra, sobre a testa de Hinata e falou, aliviada, alguns momentos depois:
- Ah, nada de grave. Anemia.
- Anemia? – perguntou Naruto.
- Sim, anemia. Parece que esta mocinha não tem comido bem ultimamente... Não é mesmo?
Hinata ficou escarlate, e encostando as pontas dos dedos murmurou:
- Não exatamente...
- É mesmo, então me diga: o que foi seu almoço? – perguntou a médica incrédula.
- Apenas um lanche – quem respondeu foi Naruto se sentindo culpado – Bolinhos e suco.
- E de café da manhã? – insistiu Sakura.
- Bem... Nada. – respondeu envergonhada Hinata, sabendo que o melhor, naquele momento, era falar a verdade.
- Viu? Não disse? Você deve se alimentar direito, Hinata! Senão como você terá forças para ensinar ao imbecil do Naruto? – gracejou Sakura fazendo todos presentes começarem a rir.
- Eiiiiiiiiiiiiii!!!! – reclamou Naruto. – Eu não sou um imbecil! – e fazendo uma pausa, olhou para a garota sentada no banco - Sou, Hinata? – perguntou incerto.
- Claro que não! – ela se apressou a responder.
- Viu? A Hinata não me acha um imbecil! – falou cruzando os braços cheio de si.
- A opinião dela não conta. – sentenciou Sakura enquanto escrevia algo em um receituário – Aqui está, Hinata. Uma dieta para você seguir rica em ferro e vitamina C e o nome de um tônico que você pode adquirir lá na loja do clã Nara. E daqui a duas semanas quero examinar você de novo. – e começou a arrumar suas coisas para ir embora.
- Ei, Sakura. Por que você disse que a opinião da Hinata sobre mim não vale? – perguntou Naruto indignado.
Sakura o olhou seriamente.
- No dia que VOCÊ conseguir responder essa pergunta, deixará de ser um imbecil.
E saiu deixando Naruto confuso e Hinata extremamente envergonhada.
Capitulo VI – Perda de tempo
“Hum, então a resposta dessa é cinco... Hora de ir pra próxima.”
Naruto estava debruçado sobre uma pilha de livros, com seu caderno aberto e um monte de folhas amassadas no chão. Na parede, um calendário marcava o dia D, a data da prova em tinta vermelha, 19 de dezembro. Um pouco mais a frente, no dia 27, ele fez questão de fazer uma outra marcação. Dessa vez em tinta azul, estava escrito “Aniversário de Hinata”. Ele já estava pensando no que daria de presente para a garota. Afinal, já que ela estava ajudando tanto, merecia alguma coisa melhor. Até já tinha tirado um dinheirinho de Gama-chan e colocado em um pote de ramen vazia para não correr o risco de gastar tudo.
“Tenho que pedir uns conselhos a Sakura-chan. Nem imagino o que possa dar de presente para Hinata. Nunca dei presente para nenhuma menina...” pensava preocupado a cada cinco minutos, antes de balançar a cabeça e voltar a se concentrar nas questões à sua frente.
Tirou mais um livro que estava debaixo da pilha em sua mesa e começou a responder a questão seguinte. Seu quarto era bastante iluminado pelo sol, então Naruto estudava com as janelas abertas. Porém, mal havia começado a responder, quando percebeu que a luz que vinha da janela fora bloqueada por uma sombra. Ao olhar em direção ao local, viu um anbu, que trazia em seu rosto uma máscara de pássaro e estava de cócoras na janela olhando para ele.
Naruto sorriu contente.
- Bom dia, Uchiha Pardal. – debochou – Está tão necessitado de um poleiro que decidiu usar minha janela?
Sasuke tirou a máscara e fez uma cara nada satisfeita.
- Se eu decidisse transformar sua janela no meu poleiro, eu traria “Mil pássaros” para visitá-lo. – respondeu fazendo referência ao seu golpe Chidori.
Naruto caiu na risada.
- Depois que você entrou na anbu, perdeu o costume de usar a porta, Sasuke? – perguntou se encostando à cadeira e segurando um lápis na direção do colega.
- Tsc. – resmungou o outro pulando para dentro do apartamento do amigo. – Vim ver se era verdade os boatos.
- Que boatos? – quis saber Naruto interessado.
- Que você criou vergonha na cara e decidiu estudar.
- Hehe, você está um pouco atrasado. Já faz duas semanas que eu comecei.
O líder da anbu se aproxima da mesa onde o amigo permanece sentado analisando a quantidade de livros e pergaminhos, depois, pegou seu caderno e começou a folheá-lo displicentemente. Parecia querer conferir a veracidade do mesmo.
- Sua letra continua horrível. – censurou Sasuke.
- Me processe, então.
Devolvendo o caderno, passou andar vagarosamente pelo quarto, como se procurasse conhecer o terreno para uma eventual fuga.
- Se está procurando alpiste, não tenho. – gracejou Naruto.
Sasuke fez que não ouvira a gracinha e continuou andando pelo quarto até parar de frente para o calendário. Seus olhos se detiveram na data marcada em vermelha e ele comentou seriamente:
- Dia 19... Não está longe.
- Duas semanas exatamente. – lembrou Naruto jogando o lápis que segurava em cima da mesa - E eu ainda tenho tanto o que estudar...
O olhar de Sasuke se voltou então para o dia 27.
- Onde está Hinata? Achei que ela estava te ajudando. Inclusive fui à biblioteca e vocês não estavam lá.
- É, como hoje era só revisão, ela fez um exercício para que eu respondesse enquanto ela ia visitar Kurenai-san. Vou entregar mais tarde para que ela corrija.
Saindo da frente do calendário, Sasuke parou de frente para o genin que estava sentado e deu uma forte tapa em seu pescoço e começou a sorrir.
- Ai! Por que você fez isso?! – protestou Naruto massageando o lugar atingido.
- Estou te desejando boa sorte. – esclareceu o outro.
- Que forma estranha de desejar boa sorte...
Sasuke caminhou até a janela do quarto e olhou para baixo, onde as pessoas da vila andavam.
- Não quer dar um passeio lá fora? – convidou - O sol está bonito.
- Não posso – choramingou Naruto – Tenho ainda 43 questões para resolver. E eu que achava que Iruka-sensei era exigente. Hinata tem aquela carinha de anjo, mas passou 50 questões para que eu resolvesse em uma manhã. – e se debruçou sobre o caderno, desanimado.
- Vou me lembrar de comprar um presente para ela dia 27 para agradecê-la por estar te torturando – e se encaminhando para o armário, começou a remexer nele e tirou uma embalagem de cup nuddle. Naruto observou o ato sem entender o que Sasuke pretendia, até que ele foi até sua garrafa térmica e pôs água quente nele.
- EIIIIIII!!!! O QUE VOCÊ PENSA QUE TÁ FAZENDO?! – gritou Naruto horrorizado.
- Ué? Você não disse que não tinha alpiste? – respondeu Sasuke calmamente - Então estou comendo isso...
- Mas esse era meu ultimo ramen de camarão!!!!
Sasuke olhou para o desespero de Naruto, e sem um pingo de arrependimento, colocou os ohashi dentro da embalagem.
- Me processe. – disse com um sorriso sarcástico.
- Chato. – murmurou Naruto, e se levantando falou - Vamos dar esse passeio antes que você decida comer meus ramens de carne de porco...
- Opa, tinha de carne de porco?
- PODE IR TIRANDO ESSES OLHOS DE PASSARINHO DE MEUS RAMENS DE CARNE DE PORCO!!!!!
Sasuke limitou-se a rir e comeu o ramen de camarão diante do olhar desolado de Naruto. Terminada a rápida refeição, colocou a embalagem vazia no lixo e acompanhou Naruto para fora do apartamento. Depois, eles começaram a andar pela vila aparentemente sem rumo, e acabaram tomando o rumo do bosque na área de treinamento. Enquanto andavam e conversavam, diversas pessoas cumprimentavam dois.
- Você tem tido muito trabalho, né, Sasuke? – comentou Naruto depois que passaram por Tenten, que acabava de voltar de uma missão.
- Sim. As missões são cada vez mais difíceis. Se não fosse meu Sharingan, eu não poderia fazer metade delas. – falou suspirando.
Em frente a eles surgiu um local de treinamento composto por três troncos de árvores, que ficavam em frente a um memorial, onde estava gravado o nome dos mártires da vila. Param em frente ao memorial e ficaram calados durante algum tempo. Um ar de nostalgia pairava entre eles.
- Você lembra de quando nos tornamos genins? – falou Sasuke quebrando o silêncio.
- Claro que lembro. Vocês foram embora e me deixaram amarrado naquele tronco do meio. Se o Iruka-sensei não tivesse vindo me desamarrar de noite eu acho que estaria lá até hoje.
Eles riram um pouco.
- Bons tempos aqueles. Nossas missões se resumiam a pegar gatos de estimações e ajudar em colheitas de arroz. Mas tudo mudou depois daquele Exame chunin.
Naruto encarou o amigo, sem entender o motivo de entrarem naquele assunto já superado.
- Por que estamos lembrando disso, Sasuke? – perguntou desconfortável. Não gostava de lembrar daquela época.
- Eu quero ter uma conversa séria com você, Naruto. Uma conversa de homem pra homem. – sentenciou encarando-o.
- Nossa, deve ser sério mesmo. – comentou colocando as mãos na nuca.
- É sobre eu, você e a Sakura.
A expressão de Naruto mudou assustadoramente ao ouvir isso. Mas não disse nada, apenas conseguiu ficar parado olhando para o amigo.
- Não há o que discutir sobre nós, Sasuke. – falou finalmente depois de um tempo tirando as mãos da cabeça.
- Sim, há. – rebateu o outro - Eu sei que você sempre gostou da Sakura. Desde que nós éramos crianças.
- E o que isso importa agora? Vocês estão juntos. Eu sempre soube que era isso que ela desejava. – a constatação daquilo ainda doía dentro de Naruto, mas ele sabia que nada podia fazer a respeito, a não ser garantir que Sakura fosse feliz - Só quero te fazer uma pergunta Sasuke: e você, o que sente por ela?
Sasuke deu dois passos na direção de Naruto. Encarou-o sem medo e começou a falar o que pretendia desde o momento em que entrara pela sua janela naquela manhã:
- Eu sabia que você iria querer ouvir isso da minha boca. Durante essas duas semanas eu esperei você me procurar para questionar isso, desde que você viu nosso beijo. Sim eu te vi lá – acrescentou quando viu a expressão surpresa de Naruto - Mas a Sakura não. Então eu esperei, mas você não veio.
- Por que você não veio me procurar antes? – perguntou Naruto surpreso.
- Naquele dia era minha pretensão, mas achei melhor esperar você ficar mais calmo. Não queria brigar com você. – revelou ele – Então, quando finalmente fui te procurar, eu soube que você tinha recebido essa proposta para mudar de nível, e que estava tendo aulas com Hyuuga Hinata. Tanto que, quando a Hokage-sama decidiu convocar o Time três para catalogar os livros no intuito de fazer com que ela tivesse mais tempo com você, eu fiz questão de ir eu mesmo chama-la.
- Mas não me procurou nas duas ultimas semanas...
Sasuke fez um barulho irritado com a boca.
- Claro que não. Como poderia falar com você sobre esse assunto na frente da Hinata?
- Então esperou ela ir visitar a Kurenai-san para me encontrar sozinho. – concluiu Naruto.
- Exatamente.
- Por que, Sasuke? – quis saber perscrutando-o com os olhos, tentando entrar em sua alma e saber o que se passava em seu interior.
- Porque você é meu melhor amigo. Eu me vejo na necessidade de te explicar.
- Você não precisa me explicar nada, Sasuke. – falou desanimado, mas consciente - Eu quero que você e a Sakura sejam felizes. Mas se é pra te fazer se sentir melhor, estou ouvindo.
Sasuke suspirou aliviado.
- Obrigado por me ouvir... – e dando uma pausa, olhou para o céu, como se buscasse palavras que pudesse expressar o que sentia - Quando eu voltei para a Vila de Konoha, há três anos atrás nem todos me receberam de braços abertos como você, a Sakura ou o Kakashi-sensei. Para a maior parte da vila eu era um traidor que deveria ser executado. - começou ele para o espanto de Naruto - E eu não os culpo por pensar assim. Eu mesmo achava que minha punição deveria ser a morte, por tudo que eu havia feito vocês sofrerem.
- Sasuke, não devemos...
- Deixe-me continuar Naruto. – pediu ele – Como estava dizendo, eu sei que merecia a morte, mas a Hokage não pensava assim. Ela decidiu me dar uma chance que nenhum outro kage daria para um pária. Todavia, a justiça devia ser feita, seja para manter o status da Vila perante as demais, ou para dar exemplo às crianças, e serem evitados problemas futuros. Eu, então, fiquei preso durante um ano. Um longo e tenebroso ano.
Naruto ainda lembrava disso. Estava muito vívido na sua mente para ser apagado e pelo olhar de seu amigo, sabia que o mesmo valia para ele. Sasuke, igualmente a ele não poderia esquecer o tempo que passara algemado, numa cela fria, sendo submetido a todo tipo de interrogatórios e torturas. Jamais esqueceria das lágrimas derramadas pela Sakura sempre que iam visitá-lo na prisão. Ele mesmo se pegara chorando várias vezes pelo sofrimento do amigo.
- No fim daquele ano, eu fui solto. – Sasuke deu um passo para frente e tocou com as pontas dos dedos o monumento aos mártires da vila - Mas ainda oferecia risco. Foi colocado um grupo da anbu para me vigiar de perto, todos meus passos. Só me foram designadas missões pequenas, sempre na companhia de Kakashi-sensei, mas com ordens de que, ao menor sinal de traição, eu fosse executado.
A forma que Sasuke falava daquelas experiências soava não como algo doloroso, mas como uma lição que ele havia aprendido, mesmo que de forma difícil. Se Naruto sempre admirara o amigo, tinha certeza que agora o admirava mais que nunca.
– Então, houve aquele ataque ao Daymio... – lembrou Naruto.
- Exatamente. E eu fui designado para ir sem o Kakashi-sensei dessa vez. E completei minha missão com sucesso absoluto. - a voz de Sasuke ganhou um pouco mais de vida ao lembrar o tempo que ele deu a volta por cima da situação humilhante em que se encontrara - Comecei a retomar o respeito da Vila, e a Hokage-sama convenceu os conselheiros a me entregaram novamente os bens de minha família. Hoje sou o chefe da anbu. Toda vila me reconhece. Meus tempos de dor acabaram. Sabe por quê?
- Não. – admitiu o outro.
- Por que cada vez que o ódio tomava de conta de mim novamente, eu lembrava das lágrimas da Sakura derrubadas por minha causa. – Sasuke não sabia se a expressão que Naruto exibia agora era de dor por Sakura ou por ele - Quando saí daquela prisão dois anos atrás, jurei que nunca mais a faria chorar. Jurei também que jamais ia esconder uma coisa dela, ou de você. Que, a partir aquele momento, eu seria sincero com meus sentimentos e com meus amigos.
Se aproximando mais uma vez de Naruto, Sasuke o encarou sabendo que chegara a parte que devia ser mais sincero que nunca. Não podia enganar Naruto, nem queria fazer aquilo.
- Depois disso, Naruto, você deve lembrar que eu sempre estava perto dela, sempre sendo aquela pessoa que eu queria ser e que não me permitia antes. Foi quando eu descobri que a amava. Que sempre a havia amado. E amava como nunca tinha amado ninguém. – a ênfase e a veemência contida naquelas palavras e até um pouco de desespero, não deixava dúvidas de que ele falava a verdade. – Todas as coisas que passei nesses últimos três anos, boas ou ruins, foram por ela e para ela. Para poder provar para mim, e principalmente para ela, que eu era um homem digno do amor dela. Eu não estaria aqui hoje se naquele dia que você nos viu ela tivesse dito que não me amava mais. Porque foi a certeza do amor dela que me manteve vivo e são até agora. Eu só demorei esses três anos para conversar com ela, não por dúvidas dos meus próprios sentimentos, mas para mostrar a todos que eu era o homem certo para ela, apesar de tudo o que eu fiz. – e olhando dentro dos olhos de Naruto afirmou com paixão – Eu a amo de uma forma que nem eu mesmo não sei descrever.
Totalmente surpresa Naruto pensou “Por Deus, nem eu a amei tanto assim... Tão intensamente... Tão apaixonadamente.... Tão desesperadamente! Isso parece uma...”
- E quando eu disse a ela que a amava, ela me abraçou e disse que ainda me amava. E foi o momento de maior paz em minha vida. E foi quando você nos viu. Eu não quebrei minha palavra. Estou sendo sincero com você. Você tem todo direito de me odiar. Mas eu jamais odiarei você... Meu amigo.
Naruto não sabia se batia em Sasuke ou se o abraçava. Estava triste por ter perdido aquela batalha para o amigo, mas sabia que na verdade havia bem mais em jogo que uma paixão infantil. Ele abria mão não do amor de Sakura, mas abria a porta para a felicidade de seus maiores amigos. Por isso, diante de Sasuke preferiu uma terceira opção. Apertou a mão do amigo fortemente e olhou dentro dos olhos dele.
- Eu não poderia jamais odiar você. – falou com sinceridade.
Sasuke sorriu aliviado. Tinha finalmente tirado aquele peso que o atormentara durante duas semanas das costas.
- Só faço uma exigência. – revelou Naruto
- Exigência? – perguntou Sasuke surpreso.
- Eu quero ser o padrinho do casamento e do primeiro filho. – gracejou o outro.
- Isso são dois pedidos, burro! – reclamou o líder da anbu soltando a mão do amigo.
- Ah, não importa. Então? Aceita minhas condições?
Sasuke deu um sorriso de canto de boca e murmurou:
- Claro que sim. – e dando uma pausa, acrescentou - Mas quem seria a madrinha?
- Hum... Sei lá. – disse Naruto coçando a cabeça - Vocês poderiam chamar qualquer pessoa.
- A Hinata? – perguntou Sasuke maliciosamente.
- Pode ser. – respondeu o outro sem se tocar do real sentido da frase.
Vendo que ele ainda não havia percebido nada, Sasuke pergunta sem cerimônia:
- Naruto, você nunca reparou na forma que a Hinata te olha?
- Hã? Por quê? O que é que tem a forma que ela me olha? – perguntou meio obtuso.
- Você nunca percebeu que ela te olha de uma forma especial?
Naruto coçou o queixo pensativo.
- Na verdade, ela nunca me olhou nos olhos. Sempre que eu a encaro, ela desvia a vista. Eu gostaria saber por quê...
Sasuke não acreditava que ele ainda não tinha notado os sentimentos de Hinata por ele. E se aproximando do outro, deu um tapa em seu pescoço, mais forte que o que dera antes.
- Cara, tu é muito burro! – exclamou aborrecido.
- Ei, por que você ta dizendo isso comigo? – protestou Naruto.
- Ora, porque é verdade! Deve ser por isso que você é um genin ainda! Incompetente. – zombou.
- Venha aqui que eu te mostro o incompetente. – gritou ele e correu em direção a Sasuke.
Sasuke, rindo da cara de Naruto, dá as costas e começa a correr de volta à vila.
- Volta aqui covarde! – bradou Naruto.
- Me pegue se você é capaz! – provocou ele - Como você quer virar um jounin se não for capaz de me pegar?
Naruto agora vinha atrás dele, saltando e tentando pega-lo.
- Haha, errou. Errou de novo. – ele repetia cada vez que Naruto errava o golpe – Você não está perseguindo qualquer um. Sou o chefe da anbu. E você um mero genin.
- Quando eu for Hokage você não será nem gari em Konoha!
- Ah, então posso ficar tranqüilo, meu emprego ta garantindo. Você nunca será Hokage mesmo...
-ARGH! Maldito!!!
E assim foram os dois amigos, disputando, como sempre fora, mas sabendo que estavam unidos mais que nunca.
*************************
Hinata olhava as flores pensativas. Não sabia quantas deveria levar. Só sabia que precisava ser as mais bonitas possíveis, afinal sua sensei merecia. Mais a frente, Suzumi e Yumi escolhiam um cartão discutindo se deviam levar um que cantava ou um normal mesmo. Elas se divertiam abrindo os cartões e comentando as mensagens neles. Makoto estava parado na porta ansioso, sem participar de nada e com a cara mal-humorada.
- Não dá pra se resolver logo? – falou ele aborrecido - Vocês mulheres são muito indecisas!
- Eu diria que vocês homens são insensíveis, mas não sei se você se enquadra na categoria “Homens”. – Suzumi revidou.
Makoto ficou imediatamente irritado.
- Ora sua... – exclamou já pronto para rebater.
-Será que vocês podem dar uma trégua? – exigiu Yumi olhando para os dois – Vamos visitar nossa sensei, não é hora de briga.
- Será que posso ajudá-los? – perguntou uma voz vindo dos fundos da loja.
Ino entrou na floricultura com seu habitual avental florido. Também trazia um regador em uma das mãos e olhou para os fregueses com um grande sorriso.
- Oh, Ino-san. – exclamou Hinata sorrindo de volta - Estamos olhando flores para levar para Kurenai-sensei, mas não tem das que ela gosta...
- Margaridas, certo? – Ino sorriu – Tivemos que fazer pedido na cidade vizinha porque Asuma-sensei levava um buquê todo dia e acabou o nosso estoque. – e soltando uma gostosa gargalhada continuou - Vocês estão com sorte, a nova remessa acabou de chegar.
- Que coisa boa! – exclamou Yumi satisfeita – Vamos levar quantas Hinata-sensei?
-Leva só uma mesmo – opinou Makoto – A Ino não disse que ela já ganha um buquê todo dia?
- Quem te deu permissão de falar? – indagou Suzumi dando um chute na bunda do garoto.
- Ei, eu já mandei parar! – reclamou Yumi olhando para os dois.
- Ele começou! – disse Suzumi.
- E você me bateu! – gritou ele irritado.
Diante da cena inusitada que se desenrolava, Ino perguntou a Hinata sem conter o sorriso:
- Eles são sempre assim?
- Sempre. – ela suspirou rindo também – Têm tanta energia que às vezes não sei o que fazer com eles...
- Mas você deve está fazendo um ótimo trabalho, já que deve ser fácil ensinar esse aí se comparado a ensinar o Naruto, não é? – elogiou ela, mas com um ar malicioso.
Hinata corou com o comentário.
- C-Como v-você s-sabe?
- Ora, quem não sabe? – falou acenando com a mão displicentemente - Não precisa ficar envergonhada. Então, serão quantas flores?
- Ah... Duas dúzias, por favor. – pediu com o rosto ainda vermelho.
- Ok, duas dúzias de margaridas saindo!
Em pouco tempo as flores estava nos braços de Hinata. Era um lindo buquê feito com fitas prateadas e vermelhas e papel transparente. Ino havia caprichado. Quando os alunos viram aquele buquê tão bonito, ficaram muito impressionados.
- Tudo isso? - se surpreendeu Makoto – Deve ter sido muito caro!
- Deixa de ser mão-de-vaca! – reclamou Suzumi.
- Não se preocupem. – falou Hinata antes que aquilo gerasse uma briga – Eu pago as flores. Vocês escolhem um cartão.
Depois de uma pequena reunião entre Yumi e Suzumi, elas decidiram por um cartão que cantava. Hinata então pagou as flores enquanto coube ao time pagarem o cartão.
Quando estavam saindo da loja, Suzumi foi a primeira a sair intempestivamente e esbarrou acidentalmente em alguém que vinha entrando.
- Opa, desculpa. Sinto muito – disse ela.
- Não se preocupe ruivinha. – falou Sai docemente segurando a garota pelos ombros – Oh, Hinata-sama. Como vai o clã? Soube que você irá se tornar a líder em breve.
- Olá Sai-san. O clã vai bem. – seu estômago apertou um pouco.
- Querido! – exclamou Ino se jogando nos braços dele quando este entrou na loja, deixando os outros saírem – Você demorou hoje! Já estou quase pronta! Vou só chamar minha mãe para ela ficar aqui na loja.
Antes de saírem, Hinata ainda viu de relance o beijo dos dois. Ficou extremamente sem jeito. Todos em Konoha parecia estar namorando agora.
Não demorou muito para que chegassem à nova casa de Kurenai. Desde que ela se casara com Asuma, tinha ido morar na propriedade do clã Sarutobi. Era uma casa grande, em estilo tradicional, como todas as casas dos clãs mais importantes em Konoha. Um rapaz estava sentado na varanda da casa, aparentemente ajeitando suas armas ninjas.
- Opa, visitas! – exclamou Konohamaru contente quando os viu chegando. – Podem entrar. – convidou abrindo a porta.
- Obrigada, Konohamaru-kun. – agradeceu Hinata.
Konohamaru os acompanhou até onde Kurenai estava descansando. Sua barriga já era bem evidente por baixo do quimono. Ela, contudo, parecia bem feliz apesar dos quilinhos a mais, e sorriu largamente quando eles entraram na sala de chá.
- Que surpresa! Não esperava vocês tão cedo por aqui. Soube do trabalho na biblioteca... Vamos sentem – falou fazendo sinal para ele – Conte-me, como vai a missão?
- Aquele trabalho é horrível! – reclamou Makoto. – Passamos o dia todo cercados de livros empoeirados...
- Claro que você não gosta. Na hora de colocar os livros em ordem alfabética você me perguntou qual letra vinha depois do C... – debochou Suzumi.
- Mentirosa!
- Parem de brigar na frente da Kurenai-sensei! – reclamou Yumi.
Kurenai caiu na risada.
- Vocês não mudaram nadinha! Continuam do mesmo jeito e isso é bom! Como vai, Hinata? – perguntou ela se dirigindo a garota que apenas observava tudo.
- Bem sensei. – falou sorrindo – Olha o que trouxemos pra você!
- Ah, margaridas! – exclamou recebendo o buquê das mãos de Hinata. – Muito obrigada. Que cartão lindo!
- Nós escolhemos. – exclamaram as meninas juntas.
- E ele canta musiquinha – acrescentou Suzumi.
Kurenai abre o cartão e sorri ao ouvir os acordes da música de Rythem, Harumonia (2º encerramento de Naruto).
- Que lindo. Obrigada. – agradeceu abraçando ambas meninas - Deixe-me ler.
Estava escrito:
“Kurenai-sensei, sentimos sua falta apesar de adorarmos a Hinata-sensei. Esperamos ansiosamente que seu bebê nasça logo e seja uma menina! Com amor, Yumi, Suzumi e Makoto”.
As lágrimas nublaram os olhos de Kurenai. Estava muito feliz com a preocupação de seus alunos. Era muito bom ser querida, mesmo que o tempo que passara com eles ter sido pequeno. E isso a comovia mais que tudo.
- Amor – uma voz chamou fora da sala. – Vai querer doces?
Asuma entrou na sala fumando seu cigarro rotineiro. Mas tão logo chegou perto da esposa, apagou-o. Não queria fumar perto dela com medo de prejudicar o bebê.
- Olá. - ele cumprimentou todos – Nossa, meninas, que flores bonitas! Eu nunca consigo escolher as melhores – lamentou – Vou pedir pro Konohamaru colocar elas num vaso.
E tirando o buquê do braço de Kurenai, piscou para ela.
-Não precisa chorar querida. Você merece cada centavo que eles gastaram nesse buquê.
Todos caíram na risada, inclusive o próprio Asuma.
- Você está indo comprar doces? – perguntou Kurenai.
- Claro, nossas visitas merecem o melhor tratamento! E também aproveito e compro meu cigarro. Desde que você engravidou que to fumando duas vezes mais. Não há carteira que agüente... Esse negócio de ser pai me deixa nervoso...
Kurenai sorriu para ele.
- Leve os garotos com você para comprarem os doces também. – incentivou ela apontando para o Time três - Assim eles garantem que você traga bastante.
- Ok. Quem quer ir comigo? – perguntou ele sorrindo.
- EU!! – gritou Suzumi. – Doces, doces!
- Eu também vou. – falou Yumi sorrindo.
- Eu odeio doces... – comentou Makoto com a expressão aborrecida.
- E é exatamente por isso que você vai! – falou Suzumi levantando o menino puxando por sua orelha.
- Aiii!! – gritou ele.
- Ótimo! Vamos! – falou Asuma rindo da cena e saiu levando todo time e deixando Kurenai a sós com Hinata.
- E então, – começou Kurenai logo que todos saíram – Como vai o Time três?
- Eles sentem sua falta. – foi o que Hinata respondeu.
Kurenai a olhou por alguns instantes e depois perguntou:
- O Makoto reclama muito?
- O tempo todo. – falou Hinata suspirando.
- Então você está fazendo um ótimo trabalho. – concluiu ela - Essa é a forma que ele tem de elogiar.
- Então ele me elogia o tempo todo. – suspirou Hinata.
- Hinata, ouça: eu fiz parte do time da anbu com o pai do Makoto. – revelou Kurenai - Eu te garanto sem sombra de duvida que ele é idêntico ao pai. Ele critica as pessoas procurando atrair a atenção delas para si próprio. Questão de insegurança. Mas eles só fazem isso com pessoas que admiram. Quando Makoto foi designado para o meu time, sabe qual foi a primeira coisa que ele me disse?
- O quê? – quis saber ela.
- “Meu pai disse que você não era boa o suficiente para me ensinar”.
- Sério?! – perguntou Hinata surpresa.
- Sério. Mas eu sabia muito bem que era só uma forma de dizer “meu pai te admira” já que eu salvei a vida do pai dele várias vezes. – Kurenai sorriu satisfeita – Ele nunca me perdoou por isso.
Diante da disposição de sua antiga sensei e da forma energética que ela falava, Hinata a olhou carinhosamente e comentou sorrindo:
- É muito bom te ver tão bem Kurenai-sensei.
Após essa frase, Kurenai ficou subitamente séria. Havia algo que ela precisava falar com Hinata sem interrupções, por isso pedira para Asuma levar as crianças.
- Hinata, seu pai sabe? – começou ela repentinamente.
- Hã? – Hinata não entendeu bem a pergunta e respondeu - Sim, eu falei para ele que viria te visitar.
- Não é isso. – disse Kurenai abanando a mão - Quero saber se ele sabe que você tem ensinado o Naruto o dia todo.
Hinata ficou vermelha e desviou olhar para o chão..
- Bem, deve saber já que todos na vila parecem que só falam nisso... – respondeu Hinata sem convencê-la muito.
- Bem, você não pode culpá-los de achar tudo interessante. A herdeira do clã mais importante de Konoha saindo com o portador da Kyuubi. Realmente um belo assunto.
- N-Nós n-não e-e-e-estamos s-saindo. – gaguejou Hinata nervosa - Só e-e-estudando...
- Ele não tem te levado para casa nos últimos dias? – perguntou ela surpreendendo Hinata por saber desse detalhe.
- B-bem isso porque eu desmaiei há alguns dias e ele ficou preocupado. Só isso. – explicou-se ela.
- Então devo supor que você não se declarou? – concluiu Kurenai.
Ela balançou a cabeça negativamente.
- Como eu suspeitei. Você está perdendo tempo, Hinata. Talvez seja a última oportunidade que você tenha. Depois que você for a líder de seu clã talvez não tenha como fazê-lo.
- Não vamos falar nesse assunto de clã, sensei. Por favor. – pediu humildemente.
- Claro. Se você não quer falar eu entendo. Mas quero te dar um aviso: corra atrás de sua felicidade. Não espere que as coisas caiam do céu.
- Obrigada pelo conselho, sensei. – disse ela se curvando.
- De nada Hinata. Estou muito feliz por você. Está virando uma mulher, mesmo que continue tímida como uma menina. E não precisa mais me chamar de sensei. Somos amigas agora.
Hinata não agüentou. Não soube explicar por que, mas abraçou sua antiga professora, chorando como nunca havia chorado em sua presença. Kurenai alisou seus cabelos e deixou que ela se acalmasse. Depois de alguns minutos, a garota se separou da futura mamãe.
- É menina ou menino? – perguntou procurando desviar a atenção das lágrimas que ainda manchavam seu rosto.
- Menina. – respondeu calmamente – Mas o Asuma não sabe, então é segredo. Certo? – pediu piscando o olho.
- Certo.
Nesse momento ouviram o barulho de pessoas na porta.
- Ótimo, os doces chegaram. – ela exclamou feliz ouvindo a voz de Asuma. – Agora pode botar um sorriso nesse lindo rosto. Nada de tristeza!
Hinata sorriu limpando as lágrimas. Não importa o que acontecesse, ou quantos títulos ganhasse, para ela, Kurenai sempre seria sua sensei.
Capítulo VII – É só um mal entendido!
A sala estava abafada e quente. Naruto já havia quebrado mais de dez lápis em seu desespero, mas de nada adiantava. Ele simplesmente não estava conseguindo responder nenhuma questão e aquilo o atormentava. E todas aquelas pessoas ao seu redor observando, só faziam com que ele ficasse cada vez mais nervoso.
- Iruka-sensei, não dar para tirar essas pessoas todas daqui? – perguntou ansioso para seu professor que estava parado ao seu lado.
- Ordens são ordens Naruto. – disse Iruka em tom seco - Devemos garantir que você não cole.
Naruto olhou abismado para ele. Não acreditava que Iruka tivesse dito isso mesmo.
- Mas por que diabos eu colaria? – contestou ele - Eu estudei!
- Se você estudou, por que a prova está em branco? – perguntou Tsunade olhando para o papel em branco em cima da carteira dele.
- Eu estou nervoso. – reclamou puxando a prova para debaixo do braço - Vocês me deixam nervoso!
- Então eu acho que você não terá condições de passar. – sentenciou Kakashi sombriamente – Falta apenas dez minutos para tudo acabar.
- Mas faz pouco tempo que eu comecei! – falou Naruto desesperado.
- Faz três horas. – falou Sakura olhando para o relógio.
- Ele não tem condições de passar. É um incompetente. – debochou Sasuke cruzando os braços.
- Ei, você devia me ajudar! – protestou Naruto - Não é meu amigo?!
- Quem seria amigo de um idiota como você que ainda é um genin? – Konohamaru indagou rindo da expressão de Naruto.
- EI O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI? - perguntou já furioso.
- Eu serei obrigado a tomar sua prova se você continuar falando Naruto. – avisou Shikamaru se aproximando dele.
“Não vai dar tempo, não vai dar tempo!” ele pensava já em pânico.
Mesmo com toda aquela pressão de tantas pessoas ao seu redor que deviam esta ajudando-o e não o deixando desesperado, ele percebeu que, no canto da sala, alguém parecia está sofrendo tanto quanto ele. Timidamente ela se aproximou de onde ele estava com um semblante de aflição. Juntando as mãos como se fizesse uma prece, ela murmurou delicadamente:
- N-Naruto-kun! Eu sei que você consegue.
Naruto levantou a cabeça e olhou-a. Pela primeira vez Hinata o encarava sem desviar a visão. Ela aproximou-se e tocou o seu rosto com carinho. Sua face estava vermelha e à medida que ia aproximando o rosto do dele, Naruto percebeu que também deveria estar corado. Eles se beijaram longamente sem se importar com o teste ou com as outras pessoas da sala. Ele deslizou a mão pela cintura dela e depois a abraçou fortemente, ao que ela retribui aprofundando o beijo. No impulso de aconchegar-se nos seus braços, Naruto a puxou para cima dele ouvindo a respiração acelerada dela. Neste momento, a cadeira deslizou pelo piso e eles foram arremessados ao chão. A pancada na cabeça o lembrou do teste, e ele se levantou rapidamente procurando a folhinha.
Mas não encontrou. Na verdade não encontrou nada, nem prova, nem examinadores, nem seus amigos, nem Hinata. Estava sozinho no seu quarto escuro onde o relógio em forma se sapo marcava quatro da manhã. No chão, diversos livros haviam caído com ele e seu caderno se encontrava bem perto da janela.
“Então, foi tudo um sonho...” ele concluiu.
Mas Naruto ainda podia sentir toda aquela angustia que o rodeara em sonhos, como também tinha a sensação de que, se fechasse os olhos, poderia sentir os lábios de Hinata pressionados contra os seus, sua pele macia, seu cheiro...
- Droga, em que eu estou pensando? – bradou para a escuridão – Ela é só uma amiga e eu tendo esses pensamentos sujos com ela!
Mas seu corpo parecia não concordar com ele. Percebeu isso quando levantou do chão e passando a mão pela roupa, viu o estado que esse sonho o deixara.
- Ai... Achou que vou tomar um banho frio...
Mas o banho não só o acalmou como também o deixou sem sono. Decidiu então que ia ficar logo acordado. Primeiro pensou em continuar estudando, mas o sonho ainda o incomodava. Estava estudando demais, se preocupando demais, e se divertindo de menos. Precisava se desestressar um pouco se quisesse continuar com sua sanidade assegurada até o dia da prova. Como não tinha como se divertir às quatro da manhã, era melhor cumprir com algumas obrigações que estavam meio encalhadas nessas semanas. Primeiro arrumou seus livros de modo a deixar na mesa apenas aqueles que iria precisar no momento, guardando os demais na estante que providenciara naquela semana para guardar o material de estudo. Depois, pegou todas as suas roupas sujas e colocou em um cesto para mandar para a lavanderia. Elas estavam se acumulando. Limpou a geladeira tirando toda comida estragada que havia lá (ou seja, quase tudo), e passou o aspirador de pó em todo quarto. Quando acabou com aquela faxina, o sol já tinha nascido e ele estava precisando de outro banho. Estava totalmente imundo.
Debaixo do chuveiro, ele pensou novamente em seu sonho. O que Hinata diria se soubesse que ele andava tendo sonhos eróticos com ela? Provavelmente suspenderia as aulas e nunca mais olharia na cara dele. Não que ela já olhasse, mas aí é que não olharia mesmo.
Nessa hora em que seus pensamentos estavam em ebulição, as palavras que Sasuke havia dito alguns dias atrás voltaram a sua mente:
“Você nunca percebeu que ela te olha de uma forma especial?” havia dito o amigo.
- Humm... Mas o que será que ele quis dizer com isso? – perguntou Naruto em voz alta – Acho que devo procurá-lo e exigir que ele me diga.
Enquanto vestia a roupa para sair e comer um ramen no Ichiraku antes do estudo da manhã, uma coisa passou por sua cabeça.
“Eu nunca vi Hinata com ninguém... Será que ela tem namorado?” Nunca havia atentado para essa possibilidade. É claro que uma menina como Hinata deveria ter algum namorado, e isso o preocupou.
“Se tiver acho que ele não deve ta gostando de vê-la passar tanto tempo me ensinando... Bem, se ela se ofereceu para me ensinar deve ser por que ele não se importa. Então problema não é meu...”.
Ele terminou de se vestir, pegou a mochila com o material e colocou Gama-chan dentro. Quando ia se encaminhando para a porta, passou em frente ao calendário. Olhou para o dia 19. Só faltavam dez dias. Fechou a porta, porém aquele assunto não deixava de incomodar.
“Acho que vou perguntar se ela tem algum namorado...” concluiu ele apreensivo “Não custa nada se prevenir.”
E seguiu seu tradicional caminho em direção à barraquinha do ramen.
***********
“Eu vou me atrasar, eu sei que vou!” pensou Hinata observando a indecisão de sua irmã para escolher uma simples borracha. Seu pai tivera a brilhante idéia de colocar Hanabi para estudar com o Neji para o Exame chunin e a encarregou de acompanhar os dois na compra do material.
- É só uma borracha Hanabi. Não precisa de tanta escolha. – falou já com uma pontada de ansiedade transparecendo em sua voz.
- Eu quero uma borracha que dure. – rebateu a garota – Não quero ter que sair de casa para comprar outra daqui a dois dias.
“Ainda bem que eles vão estudar em casa” lembrou aliviada. Sabia que se tivesse que se encontrar com a irmã e o primo todos os dias na biblioteca, ela ia acabar ficando nervosa e isso estragaria o estudo com Naruto.
Neji vinha bem atrás de Hanabi e percebeu claramente a impaciência de Hinata. A garota estava angustiada e olhava constantemente para o relógio.
- Algum problema, Hinata-sama? – perguntou ele se aproximando dela - Está apressada?
- Bem... - respondeu olhando novamente o relógio na parede da livraria – Eu tenho que encontrar meu time na biblioteca...
Neji a olhou de um modo tão enigmático que a fez ficar apreensiva por alguns momentos. E quando falou, sua voz soou com o tom de quem conhece a situação:
- Pensei que eles estavam fazendo um trabalho que não precisasse de sua presença.
Hinata corou drasticamente ao ouvir isso.
- E-Eu tenho o-outros compromissos... – gaguejou sem jeito.
Antes que Neji pudesse revidar, perguntando que compromissos seriam aqueles, Hanabi chegou com uma cesta de material.
- Pronto. Acabei. Tá aqui o material.
Hanabi entregou o material para a irmã que tomou o rumo da caixa. Neji vinha um pouco atrás ainda desconfiado desses “compromissos” que ela havia falado. Afinal, o pai de Hinata o havia posto como protetor dela e estar sempre a par de seus passos eram uma de suas obrigações. Nos últimos dias tudo que sabia era que o Time três estava encarregado de cuidar de catalogar os livros da biblioteca e que ela aparentemente estava livre. Mas todos os dias Hinata saia muito cedo de casa e só retornava depois que anoitecia. Ele estava para indagar todas aquelas coisas a Hinata, todavia existia alguém que não permitia uma aproximação naquele momento. A caçula da Souke não parecia prestar atenção ao que estava acontecendo nem deixava Neji a vontade para perguntar a Hinata. Sua expressão era de quem estava adorando sair um pouco dos limites do clã, principalmente na companhia dele.
- Neji! – exclamou feliz - Me leva pra tomar sorvete? – pediu se agarrando no braço dele.
- As ordens de seu pai foi te levar direto pra casa logo após comprar o material. – disse ele secamente.
- Ahhhhhhh, mas é tão chato ficar em casa o dia todo... - protestou Hanabi - Depois que o Lee-sensei foi hospitalizado, eu e os meninos ficamos sem missão e eu nunca mais sai de casa para nada... Por favor!
- Leve ela Neji. - pediu Hinata enquanto esperava ser atendida no balcão - Assim Hanabi pode se distrair um pouco. E você também.
Ainda não havia ninguém no caixa para atendê-los. E demorou um pouco para que o dono da loja viesse.
- Opa, desculpa a demora. – pediu se inclinando um pouco - Estava atendendo uma ligação.
- Tudo bem. – falou Hinata sorrindo e passando o material para ele contabilizar.
Foi só depois que ela falou que o homem a olhou diretamente e sorriu.
- Ora, que honra! – exclamou satisfeito - Três Hyuuga na minha humilde loja. É um prazer atende-la, bela senhorita. – e olhando-a bem, perguntou - Hinata, certo?
Envergonhada com o “bela”, Hinata afirmou com a cabeça.
- Oh, material de estudo? – exclamou ele rindo – Para você?
- Não, para minha irmã. – respondeu apontando para Hanabi.
- Entendo. - depois de dizer o preço, ele recebeu o dinheiro das mãos de Hinata e depois deu a diferença para ela - Pronto, aqui está o troco.
- Obrigada. – agradeceu aliviada de poder finalmente sair dali.
Entregando a sacola para Hanabi, que logo a entregou para Neji, Hinata já se dirigia para a porta quando o senhor a chamou novamente:
- Hinata-chan?
- Pois não? – perguntou parando de andar.
- Mande lembranças minhas para seu namorado, Naruto. E por favor, diga a ele que a encomenda que ele pediu finalmente chegou.
O mundo parecia ter parado ao ouvir essa frase. Neji e Hanabi olharam instintivamente para Hinata que parecia prestes a ter um infarte. Seu rosto estava extremamente pálido e os lábios ficaram entreabertos. Ela nem teve como revidar, pois sua voz não saia. Só saiu da loja por que Hanabi, largando o braço de Neji, arrastou-a para fora da loja. Parecia furiosa. Ela encostou a pobre da irmã na parede e, sem soltar seu braço, falou asperamente:
- Que história é essa que você está namorando o garoto-raposa?
-E-E-E-E-E-u n-n-n-n-n-nã... – Hinata não parecia capaz de articular uma única palavra.
- Vamos! – exigiu Hanabi - Estou esperando uma resposta!
- Tenha calma, Hanabi-sama. – pediu Neji calmamente – Não consegue ver que a Hinata-sama parece tão surpresa quanto nós?
Hanabi olhou bem para o rosto da irmã e depois encarou Neji.
- Quer dizer que ela está surpresa por nós termos descoberto o namoro dela? – perguntou ao primo.
- Não. Estou dizendo que creio que tudo não passa de um enorme mal-entendido e ela esteja envergonhada demais para se explicar. – deduziu olhando para a expressão de Hinata - Estou certo, Hinata-sama?
Hinata afirmou com a cabeça. Estava grata por Neji estar conseguindo raciocinar em seu favor, coisa que Hanabi não parecia disposta a fazer. A menina olhou mais uma vez para seu primo e depois para a irmã que parecia que desmaiaria a qualquer momento. Hinata sentiu um gosto amargo na boca e sabia que, se sua irmã não a soltasse logo, iria acabar vomitando na presença dela e de Neji. Seu estômago já doía o bastante para fazê-la se encolher mais na parede.
- Então, você não está namorando o garoto-raposa? – perguntou Hanabi ainda duvidando da irmã.
- O nome dele é Naruto. – corrigiu Neji.
- Que seja. – falou displicentemente e encarando a irmã perguntou mais uma vez - Você não está namorando o tal de Naruto?
- N-Não... – balbuciou Hinata nervosa.
- Ah, que bom. – e soltando o braço de Hinata, completou – Nosso pai seria totalmente contra isso. Bem ou mal, você é a herdeira do clã. Deve ter certa postura e não andar com qualquer um. Mas por que aquele homem pensou que vocês fossem namorados?
- Creio que isso deve ter uma boa explicação, Hanabi-sama, mas estamos atrasados. – falou Neji impedindo a garota de continuar, colocando a mão no ombro dela - Se você ainda quer tomar aquele sorvete, é hora de irmos.
Hanabi considerou por um momento e depois falou sorrindo:
- Você está certo, Neji. – e agarrando o braço dele mais uma vez, falou animada - Vamos.
Hinata sentiu que Neji a tinha livrado de uma situação muito embaraçosa com Hanabi. Se ele não houvesse ido a seu socorro tão rapidamente, ela certamente começaria a vomitar em pouco tempo, e acabariam percebendo que havia algo de errado nela. Mas não queria preocupar ninguém. Muito menos a sua família. Estava muito grata a Neji, todavia, teria que pedir mais uma coisa a ele. Seu pai não poderia saber do que acontecera ali. Não sabia por que Tanaka havia dito que ela e Naruto eram namorados, provavelmente por que estava estudando juntos, mas por enquanto a ultima coisa que queria era que esse assunto chegasse ao clã Hyuuga.
- E- Esperem! – murmurou fracamente - Eu queria pedir...
- Não é necessário, Hinata-sama. – cortou Neji - Não atormentaremos seu pai com boatos tão insignificantes.
- Obrigada... – murmurou Hinata aliviada.
- Vamos logo, Neji! – chamou Hanabi impaciente, arrastando o rapaz dali, como se o assunto não a interessasse mais.
Antes de seguir para a biblioteca, Hinata ficou olhando para Neji e Hanabi que se afastavam. Quando chegasse em casa, contaria para Neji que o motivo do homem pensar num provável relacionamento entre Naruto e ela era o fato de estarem estudando juntos. Afinal, se seu pai descobrisse sobre as aulas, caso ainda não soubesse lógico, era importante contar com o apoio dele. Hiashi dava muito mais valor à palavra do sobrinho que a palavra da própria filha.
*********
- Você me parece bem animado hoje. – comentou Shino.
Kiba deu uma gargalhada e falou:
- Eu estou muito animado hoje!
Os dois amigos vinham caminhando calmamente pelas ruas de Konoha naquela manhã, o que era uma cena bem rara nos últimos meses. Shino estava agora na anbu sob o comando de Sasuke e era um dos mais requisitados para missões, principalmente missões que envolvessem rastreamento. Então, quando não estava no clã procurando desenvolver novas táticas de combate, o rapaz Aburame estava envolvido em missões para a vila. Naquele dia em especial ele não estava compromissado e nem ao menos envergava a roupa da organização.
- Já foi visitar Kurenai-sensei? – perguntou Shino observando Akamaru correr atrás de borboletas.
- Ainda não. – confessou Kiba encabulado – A minha irmã agora não me deixa em paz com as aulas para que eu possa ser veterinário. O único dia livre que eu consegui foi hoje e por que ela e a mamãe foram visitar uns parentes na fronteira do país.
Havia um ramo da família Inuzuka que trabalhava na fronteira do País do Fogo, cuidando para que nenhum ninja inimigo penetrasse sem que Konoha soubesse. Era uma parcela significativa de Inuzuka que faziam esse trabalho.
- Algum problema? – quis saber Shino.
- Não exatamente. A Hokage as mandou lá para verem os cachorros. Você sabe, minha irmã é a melhor nisso. Mas creio que elas não demorem, por isso vou aproveitar! – disse Kiba animado.
- Aproveitar para ver Kurenai-sensei?
- Também... Na verdade... Eu quero ver a Hinata... – confessou encabulado.
Shino arqueou um pouco as sobrancelhas olhando para o amigo. Ele parecia feliz com a expectativa de encontrar novamente com a colega de time que eles não viam há algum tempo.
- Eu soube – comentou o anbu – que em breve ela será líder do clã.
- Pois é, também ouvi falar nisso... Quem diria não? Logo a Hinata, que é tão insegura...
- As pessoas podem mudar... Gostaria de saber como ela está... Soube que o time dela é bem problemático... Tem até um garoto Otori... Deve estar sendo difícil...
- Um Otori? – se surpreendeu Kiba – Eu não sabia que tinha um desses no time da Hinata!
- É... – falou Shino colocando a mão no queixo – Muito peculiar...
- Espero que ela esteja bem... – e acenando para seu cachorro, gritou – Ei, Akamaru!
Akamaru parou de correr atrás da borboleta e se aproximou alegre de seu dono. Kiba afagou a cabeça do grande cachorro, e falou carinhosamente:
- O que acha de irmos visitar a Hinata lá no clã Hyuuga?
Akamaru latiu como se concordasse e ficou imediatamente animado.
- Vamos também Shino? – convidou.
- Bem, tenho que passar na livraria para encomendar um livro que estou precisando – disse se desculpando – Mas sugiro que não vá para o clã Hyuuga.
- Por quê? – perguntou o outro confuso.
- Porque Hinata não estará lá. O time dela está em uma missão na biblioteca. – explicou.
- Na biblioteca? – estranhou Kiba.
- Eles estão catalogando todos os livros novos...
- Que missão estranha... - e montando no seu cachorro acenou para o outro em despedida – Bem, vou lá! Até mais Shino!
Antes de ele sair, todavia, Shino se aproximou e falou seriamente:
- Cuidado Kiba.
- Cuidado com o quê? Os livros vão me atacar? – gracejou ele.
- Não... Cuidado para não ferir seus sentimentos. – avisou Shino sombrio.
Kiba apenas o olhou como se não entendesse e depois deu de ombros.
- Você fala coisas estranhas... Vamos Akamaru!
E foi embora montado no seu cachorro. Shino ainda ficou olhando para a direção que seu amigo tomara, se perguntando ate quando demoraria para Kiba perceber os verdadeiros sentimentos de Hinata. Percebendo que não havia nada que ele pudesse fazer a não ser assistir o desenrolar dos fatos, tomou a direção da livraria.
*********
O movimento na biblioteca não estava anormal naquela manhã. Era o mesmo de sempre. Keigo limpava prateleiras com um grande espanador de pena que não combinava com sua cara séria, mas sorriu quando ela entrou.
- Bom dia, Hinata-san. – cumprimentou animadamente.
- Bom dia, Keigo-san. – respondeu ela sorrindo - O Naruto-kun já chegou?
- Ainda não. Mas seu time sim.
- Já? – espantou-se ela olhando para o relógio. Eles não deveriam chegar antes das nove, havia pedido. Já bastava passar quase todo dia ali, e ela pensara se não era melhor dar a eles uma hora a mais para chegar.
- Eles estão loucos para terminar logo a catalogação, porém, - ele soltou uma risadinha – chegou mais duas caixas de livros ontem... Acho que demorarão mais uns dez dias...
- Tadinhos... – disse Hinata, mas estava sorrindo também. – Bem, vou me sentar e começar a me organizar pra aula de hoje.
- Boa aula Hinata-san! – desejou ele acenando para ela.
Restavam apenas dez dias, lembrou Hinata. Apesar de toda dificuldade, até que o Naruto estava progredindo bastante e ela sentia sinceramente que ele podia passar. Talvez não houvesse pessoa que mais queria a promoção dele que ela, até mais que o próprio Naruto. Estava disposta a fazer com que ele fosse aprovado com a nota máxima se possível, não importando o quanto teria que sacrificar em prol dessa meta. E para provar isso a ele e a ela mesma, Hinata colocou os livros que trouxera diretamente da biblioteca de seu clã em cima da mesa e começou a organizá-los. Eles iam estudar estilos de luta corporal e não era segredo para ninguém em Konoha que o melhor estilo de luta corporal era o Hyuuga.
Sorriu alegremente pensando nisso. Sabia que aquele dia seria muito proveitoso.
- Hinata! Ei, Hinata!
Ela ouviu chamarem seu nome tão logo estava organizando seus livros. Kiba e o seu cachorro Akamaru, vinham em sua direção correndo animados. Hinata ficou muito contente em vê-los depois de tanto tempo afastados. E acenou quando se aproximavam.
- AUTO LÁ! AONDE VOCÊ PENSA QUE VAI COM ESSE CACHORRO EM MINHA BIBLIOTECA?!
Era Keigo. Ele se aproximou de Kiba com o espanador de penas em frente ao corpo como se fosse uma espada. Parecia muito mais nervoso que o normal. Todos que estavam na biblioteca pararam para ver a cena. O garoto e seu cachorro pararam também no meio do caminho, espantados.
- Qual o problema? – perguntou Kiba com a certeza que não tinha feito nada de errado.
- Qual o problema?! – perguntou Keigo parecendo horrorizado - Você entra com esse cachorro gigantesco na minha biblioteca e acha que não ta fazendo nada demais?!
- Mas é só o Akamaru. – justificou Kiba confuso - Ele é quase gente...
E como para dar ênfase ao que o dono tinha dito, Akamaru latiu.
- Mas está babando no meu chão. – disse o bibliotecário irritado - Ele espera lá fora. Ou sai ou dois agora! – sentenciou.
- Ok... – concordou Kiba chateado - Akamaru desculpa amigo. Eu vou falar aqui rapidinho com a Hinata tá? Espere-me lá fora... Não vou demorar...
Akamaru deu um grunhido de tristeza e se retirou abatido do local. Kiba olhou tristemente para o amigo, mas tão logo ele saiu, retomou o rumo em direção à mesa onde estava Hinata, sorridente.
- Bom dia, Kiba-kun. – cumprimentou - Que pena que o Akamaru não possa ficar...
- É, uma pena mesmo... Principalmente porque ele tava morrendo de saudades de você. Ele e eu, pra falar a verdade...
-Ahh! - Hinata corou.
Sabia dos sentimentos de Kiba com relação a ela, mas simplesmente não podia retribuí-los, mas também não conseguia dizer isso para ele. Se tivesse que admitir que gostava de outra pessoa, provavelmente Kiba iria perguntar quem era. E Hinata ainda não estava pronta para confessar seu amor por Naruto para ninguém ainda.
- Você tem visto o Shino-kun? – perguntou tentando desviar o rumo da conversa.
- Acabei de falar com ele. – respondeu animado – Convidei-o para vir aqui falar com você, mas parece que ele tinha que ir à livraria.
- Ele tem falado do trabalho na anbu?
- Não... Mas você sabe como são esses anbu... Escondem tudo dos outros...
- É mesmo...
Kiba olhava fixamente para ela e sorria. Hinata estava já ficando sem jeito. Não queria ser grossa com o amigo, mas também não queria dar-lhe falsas esperanças. Por isso, tentou levar a conversa por um lado neutro e que não tocasse em sentimentos.
- Como vai sua irmã e sua mãe? – falou mudando de assunto.
- Estão bem. No momento se encontram viajando a serviço do clã, foram até as fronteiras do país do fogo... Mas elas perguntam muito por você, já que faz algum tempo que não te vêm lá por casa. – sua voz tinha um leve tom de repreensão e aborrecimento.
- Agora que estou responsável por um time, é difícil ter tempo para qualquer coisa. – desculpou-se Hinata – E também tenho minhas responsabilidades dentro do clã...
- Entendo... – falou Kiba, mas com a expressão de quem não aceitava aquilo - Mas você foi visitar a Kurenai-sensei, não foi? – perguntou um pouco acusador.
- Sim, fui. Com meu time. – justificou ela.
- E onde ele está? – quis saber olhando para os lados – Soube que eles estão em uma missão aqui não é?
- Ali nos fundos. Catalogando livros. Essa é a missão deles.
- Sei, sei... – e olhando para a mesa se espantou com o que viu nela – Ei, esses são livros do clã Hyuuga! Pensei que fosse proibido tira-los dos limites do clã.
- Kiba-kun, fale baixo, por favor. – suplicou Hinata olhando para os lados e se inclinado para proteger os livros com o corpo – Ninguém pode saber que eu trouxe esses livros pra cá...
- Ué, então por que você trouxe eles, se podia estudar em casa? – perguntou ele desconfiado.
- É uma longa história... – disse fracamente – Mas é muito comprida... Te conto qualquer dia desses quando a gente puder conversar com calma.
- Ah, tudo bem que você não queira me contar... – ele parecia muito chateado com a recusa dela em falar – Mas me deixa dar uma olhada melhor neles?
E dando a volta na mesa, passou a espiar os livros em pé, inclinado por trás de Hinata, mantendo o rosto bem perto do dela.
- Kiba-kun... – ela tentou, mas não consegui afastar-se dele sem que o movimento parecesse rude – Podia se sentar, por favor?
- Espere só um pouco, é uma olhada rápida. – disse ele se inclinado mais e dessa vez colocando as mãos nos ombros dela.
Lá fora, Akamaru estava desolado. Fora expulso da biblioteca e seu dono, ao invés de acompanhá-lo, ficara lá dentro falando com a Hinata. Era deprimente.
Naruto, depois de comer três tigelas de ramen, finalmente chegara à biblioteca. Acabara se atrasando por ter encontrado Shikamaru e Sai andando por lá e fora pedir umas dicas ao jounin sobre a prova. É claro que Shikamaru não havia dito nada e pra piorar, Sai ficara fazendo gracinhas com ele.
- Eita, espero que a Hinata não esteja brava... – e reparando no cachorro acabrunhado na porta, exclamou – Akamaru! Como vai? – E passou a mão na cabeça do animal.
Akamaru deu um grunhido triste e voltou a baixar a cabeça. Naruto achou aquilo um pouco estranho, já que o cachorro normalmente era sempre muito alegre.
- Então o Kiba deve estar lá dentro... – murmurou para si mesmo - Que bom faz tempo que não o vejo. Vou falar da minha prova... Hehe... Ele vai se espantar como eu estou estudando... Talvez já saiba mais que ele!
E entrou animado na biblioteca. Realmente o garoto estava lá como previra. A primeira coisa que Naruto viu quando se aproximou da mesa foi Kiba com o rosto quase colado no de Hinata. Ele estancou no meio do caminho e seu estomago contraiu-se dolorosamente. Sem saber exatamente o porquê, toda vontade de estudar foi embora como num passe de mágica.
“Então Kiba é o namorado dela...” pensou sentindo uma intensa raiva brotar dentro dele e que não sabia de onde tinha vindo.
- Ah, Naruto-kun! – Hinata exclamou quando o viu.
Aproveitando a sua chegada, Hinata levantou-se para escapar da cadeira e de do rosto de Kiba.
- Oi. – cumprimentou friamente Naruto. – E aí Kiba? Vi Akamaru lá fora e ele tava bem triste. Acho que ele está doente.
- Hã, você acha? – respondeu Kiba que parecia tão descontente quando Naruto. – Vou dar uma checada nele.
- Você vai estudar também? – perguntou Naruto um pouco rispidamente.
- “Também”? – perguntou confuso olhando para Hinata.
Hinata olhou para o amigo, envergonhada e encostando as pontas dos dedos.
- Eu to ajudando o Naruto a estudar para a prova Jounin... Por isso estou aqui.
Kiba olhou para o chateado Naruto, que agora tirava os livros da mochila e os batia com um pouco de força na mesa, depois para a encabulada Hinata e por último para os livros do clã Hyuuga espalhados pelo local.
- Oh, entendo. – falou finalmente percebendo o que a menina não quisera falar antes - Então, a gente se ver por ai Hinata. E procure aparecer lá em casa qualquer dia desses.
- C-Certo... – gaguejou Hinata.
Kiba e Naruto se olharam friamente enquanto o primeiro se retirara. Pareciam estar medindo forças. Hinata não entendia por que tanta hostilidade no ar e se sentou em frente a Naruto novamente. Depois que Kiba foi embora, Naruto olhou sério para Hinata, e falou friamente:
- Vamos começar?
Hinata também não entendia a reação ríspida dele. E se sentiu extremamente mal com isso. Seu estômago rapidamente se contraiu diante do olhar que ele lhe lançava. Parecia estar julgando-a por algum crime.
- Algum problema Naruto-kun? – perguntou ela preocupada.
- Nada não. – murmurou voltando os olhos para seu caderno - Eu só não queria interromper você e o Kiba.
- Interromper? – ela estava mais confusa.
- Sim. – e olhando-a com uma mistura de sentimentos que ela não pode compreender, perguntou em um fio de voz - Ele não é seu namorado?
Hinata olhou para ele sem acreditar no que ouvia. Em menos de uma hora era o segundo namorado que atribuíam a ela. Que tipo de garota as pessoas na vila achavam que ela era?
- Claro que não! – negou veementemente com o rosto em brasa – Kiba-kun é só meu amigo de time! Nada mais. É como você, o Uchiha-san, ou a Sakura-san!
- Sério? – perguntou ele ansioso, e sem deixar a oportunidade passar, indagou – E quem é seu namorado então?
- Bem... – começou ela desviando o rosto – Eu não tenho namorado...
- TÁ BRINCANDO! - Naruto gritou tão alto que até os meninos colocaram a cabeça pra fora do depósito e olharam curiosos.
O bibliotecário também ouviu e veio até onde eles estavam.
– Desculpe Keigo – pediu Naruto quando o chunin olhou feio pra ele.
Hinata parecia querer sair correndo dali o mais rápido possível. Era constrangedor admitir que alguém na idade dela não tinha namorado. Na verdade, ela nunca tivera nenhum e sequer já havia beijado. Esperava de todo coração que Naruto não indagasse aquilo.
- Errrr... Desculpe Hinata. – pediu Naruto percebendo a vergonha dela - É que me surpreendi um pouco. Você realmente não tem namorado?
Ela fez que não com a cabeça.
- Puxa, eu achei que tivesse. Afinal você é... Assim... Você sabe... – comentou tentando procurar uma resposta.
- O que, Naruto-kun? – perguntou esperançosa.
- Ahh!!!! – ele coçou a cabeça sem jeito – Bonita, inteligente... É um desperdício não ter namorado.
Ela simplesmente não acreditava no que ouvia. Era como se estivesse ouvindo o maio dos absurdos. Ou o melhor dos elogios.
- Err... Vamos começar? – Naruto parecia mais envergonhado que ela, mas estava feliz.
Sua vontade de estudar voltara com força total. Ele desconhecia o motivo, mas o fato de Hinata não ter namorado o deixava feliz.
E aquele foi o melhor dia que os dois tiveram desde que começaram a estudarem juntos. Naruto ainda não sabia, mas pouco a pouco Sakura começava a desaparecer do seu coração.
Capítulo VIII – Como se fosse ontem
Já eram seis horas da tarde, mas em Konoha ainda havia bastante sol. No verão, o dia sempre começa mais cedo e termina mais tarde. Dias mais longos, noites mais curtas. Perfeito para os namorados – assim imaginou Sakura.
A janela do quarto dela, semi-aberta, deixava entrever um pouco do céu alaranjado enquanto vestia seu novo vestido branco que a mãe costurara dias atrás. Penteou os cabelos se olhando no espelho e percebeu que havia algo de muito diferente em si mesma. O olhar. Seus olhos denunciavam toda a alegria que a inundava. Desde que tinha se entendido com Sasuke notava que uma beleza diferente se apossava dela. Felicidade. E era tanta que, quando estava com Sasuke, às vezes tinha o medo de sufocar com tamanha felicidade.
“É tão bom amar e ser amada!” pensou sorrindo se encaminhando para a cozinha, onde sua mãe estava.
- Vai sair? – perguntou a Senhora Haruno.
- Sim. – respondeu ela sorrindo - Vou dar um pulinho lá no hospital e depois talvez faça uma visita ao escritório da Tsunade-sama.
- Você tem plantão hoje? – quis saber ela enquanto colocava bolinhos de arroz em uma caixinha de lanche que já estava quase transbordando de comida.
- Não, é minha folga.
A senhora Haruno parou o que estava fazendo e olhou preocupada para a filha.
- Sempre que você está de folga e decide “dar um pulinho” no hospital, acabam te fazendo passar a noite toda lá. – reclamou colocando as mãos na cintura - Ao invés de ir procurar mais trabalho além do que já tem, deveria passar o tempo livre com seu namorado.
Sakura corou. Sua mãe dizia aquilo constantemente.
- Ele saiu hoje de manhã para uma missão e não sei se já voltou... – justificou, mas sabendo que não adiantaria muito.
- Então vá fazer uma visita e veja se ele já está de volta. – mandou ela sem se dar por vencida - Assim se ele te levar no hospital, não vai deixar que te prendam por lá. E leve isso. – disse entregando a caixinha de lanche daquelas japonesas, bem fechada – Eu sei que ele tem estado muito ocupado, e como não tem quem cozinhe para ele, acho que deve estar comendo muita besteira por aí.
Sakura sentiu o aroma da comida de sua mãe. O cheiro estava delicioso. Se antes sua mãe já nutria um sentimento muito forte por Sasuke devido sua história trágica, agora que eles estavam oficialmente juntos, procurava trata-lo igual a uma mãe trata um filho mais novo, cobrindo-o de mimos e atenção. E já encontrara o meio ideal de agradá-lo.
- Ele vai ficar muito feliz, mãe! – exclamou contente - O Sasuke adora sua comida!
- Aproveite e convide-o para jantar conosco amanhã. – sugeriu a senhora Haruno sorrindo - Se quiser, pode chamar o Kakashi-sensei e o Naruto-kun. Ah! E a namorada dele também! Quero muito conhecê-la!
- Namorada? – estranhou Sakura - De quem? Kakashi-sensei? Mas você já a conhece mamãe! A namorada do Kakashi-sensei é a Shizune-senpai.
- Não! – esclareceu ela rindo e abanando displicentemente a mão – A namorada do Naruto-kun mesmo. Mas se o Kakashi-sensei quiser trazer a Shizune para jantar pode trazer também!
- Mas... O Naruto não tem namorada. – disse Sakura estranhando o comentário da mãe.
- Tem sim! – afirmou convicta - Ora, você é amiga e não sabe? Você está trabalhando demais... – sua voz tinha uma nítida nota de desaprovação.
Agora ela estava mais confusa ainda. Do que sua mãe falava? O Naruto não tinha namorada e ela tinha certeza disso. Se ele tivesse uma com certeza ela ou Sasuke saberiam.
- Mãe, me explicar essa história direito. – pediu – O Naruto não tem namorada! Eu tenho certeza disso!
- Bem eu estava comprando um novo livro de receitas lá na livraria quando ouvi o Tanaka, o dono, comentar que o Naruto-kun estava namorando com a menina dos Hyuuga. E que eu sabia, ele não tem motivos para mentir.
- A menina dos Hyuuga? – ela não acreditava que podia ser...
- Sim, a herdeira. Hinata é o nome dela se não me engano. – falou sua mãe rindo maliciosamente diante da expressão de sua filha.
Quase que a Sakura deixava cair o jantar de Sasuke pelo chão.
- Viu, não disse que você estava trabalhando demais? – comentou a senhora Haruno olhando o espanto estampado na face da filha - Não sabe nem do que se passa com os amigos. Agora ande logo antes que a comida esfrie! E não esqueça de convidar o Sasuke-kun para jantar amanhã!
- T-Tá. – respondeu ainda um pouco perplexa e saiu de casa.
“Será que é verdade?” Sakura começou a questionar depois que saiu de casa.
Realmente fazia algum tempo que não via Naruto, para ser mais exata desde que ele começou a estudar para o teste, e não havia intimidade suficiente entre ela e Hinata para perguntar sobre o possível relacionamento.
Mas realmente seria possível? Será que sua mãe não tinha se enganado? Afinal o Naruto era tão burro e a Hinata tão tímida... Poderia ser só um mal entendido...
“Bem, eles estavam estudando juntos...” lembrou ela “Pode ter acontecido alguma coisa... E é incontestável que Hinata gosta dele...”
Todavia, achou melhor deixar esse assunto pra depois. Namorados ou não, iria fazer o que sua mãe pedira e convidar os dois para jantar em sua casa. Talvez devesse aproveitar e convidar a Ino e o Sai, fazia algum tempo que não conversava com os amigos, e precisava perguntar algumas coisas a Ino sobre rosas usadas em remédios, estava na hora de tentar algumas experiências. E Kakashi juntamente com Shizune. também. Precisava se divertir um pouco e nada melhor do que um jantar com os amigos mais chegados.
“Posso chamar a Tsunade-sensei também!” pensou já bastante animada com o jantar. “Ela anda tão deprimida...”.
Contente com a idéia que sua mãe teve, apressou o passo em direção à casa de seu namorado. Não demorou muito tempo e já estava na entrada do antigo bairro do clã Uchiha. Agora ele se chamava Kokoro no Haien (Paz de espírito), nome escolhido pelo próprio Sasuke. Muitas famílias procuravam o novo bairro para morar depois que ele foi reconstruído e colocado a disposição para o aluguel de casas. As procuras vinham principalmente de novas famílias, ou seja, de pessoas que haviam se casado há pouco tempo. Por isso era muito comum ver crianças pequenas e mulheres grávidas pelas ruas. Muitas acenavam para ela enquanto se encaminhava para a última casa da rua, onde morava Sasuke. É claro que ainda havia prédios que continuavam fechados, como era o caso do antigo prédio da delegacia Uchiha. Tsunade andava procurando uma utilidade pública para ele, mas como ainda não tinha entrado em acordo com Sasuke, por hora o prédio continuava adormecido esperando o destino que seu dono lhe daria.
Chegando em frente a única casa que ainda exibia o Leque de fogo, símbolo dos Uchiha, em sua fachada, Sakura lembrou do dia que Sasuke decidira voltar a morar na sua antiga casa, onde outrora dividia com a família. Ela estava praticamente arruinada, porém todos seus amigos ajudaram na reforma, até o Sai. Depois de dias de trabalho duro, conseguiram fazer com que sua antiga beleza fosse recuperada.
Como sempre, o portão estava aberto. Naquele lugar tranqüilo não havia motivos para trancas nos portões. Nas portas, no entanto, Sasuke fazia questão de tê-las, mais para preservar sua privacidade que por motivos de segurança, todavia Sakura não se importou já que tanto ela quanto Naruto tinham as chaves da casa. Como o morador estava sempre envolvido com missões nos últimos tempos, precisava de alguém para limpar a casa quando se ausentava por muitos dias. Ela também possuía as chaves da casa de Naruto, que também quase não estava na vila nos últimos meses.
“Pensando bem... Nós três temos nos visto muito pouco... Mas melhor assim que a incerteza de que talvez eu não pudesse mais vê-los...” concluiu ela.
Quando Sakura colocou a chave na fechadura, porém, constatou que esta se encontrava destrancada e se abriu tão logo ela a tocou. Todavia, não parecia haver movimento nenhum na casa. Como todo ninja, desconfiou do silêncio por isso tirou sua kunai que trazia na cintura e adentrou devagar na sala.
O medo tomou conta dela. Mesmo passado tanto tempo, ela ainda temia que Sasuke fosse embora de novo, ou que alguém ainda tentasse lhe fazer mal. E naqueles tempos em que os dois estavam tão bem, esses temores eram maiores ainda. Não queria, nem podia perder Sasuke de novo. Não agüentaria.
O relógio tiquetaqueava marcando quase seis e meia e os raios do sol já estavam desaparecendo, mergulhando o ambiente na escuridão. Contudo, não havia uma única lâmpada acesa, apenas uma luz tímida parecia brilhar sonolenta na cozinha, para onde a garota se dirigiu então. Aproximando-se, Sakura constatou que alguém devia ter colocado água para ferver e a esquecera lá. Ou não pudera desligar, já que a água se evaporara completamente e o fogo “cozinhava” apenas a chaleira. Com o coração apertado, vagueou pela cozinha procurando qualquer indicio de luta, e olhou atentamente o fogão. Foi quando ouviu passos às suas costas.
Rapidamente atacou o vulto, lançando sua kunai e ficando em posição de ataque. Porém Sasuke conseguiu segurar a arma antes que esta atingisse seu rosto e sorriu.
- Que forma violenta de me cumprimentar – reclamou acedendo à luz da cozinha.
- Ahhh! – exclamou Sakura quase desfalecendo de alívio – Era você!
- Sim, sou. – Sasuke bocejou – Acho que adormeci depois de colocar água no fogo. Será que faz muito tempo que ela secou? – perguntou preocupado tirando a chaleira de cima do fogão e apagando o fogo.
- Acho que você vai precisar de uma chaleira nova. – riu a garota apontando para o objeto semi-derretido.
- Droga! Onde vou ferver minha água agora? – ele parecia chateado - Como vou fazer meu almoço?
- Hã... Não seria janta? – perguntou apontando para o pôr-do-sol que entrava pela janela.
Sasuke olhou surpreso para ela.
- É tão tarde assim?
- Que horas você chegou? – quis saber Sakura imaginando o porquê daquela expressão estarrecida dele.
- Umas duas, não lembro direito... – comentou bocejando novamente - Cheguei, coloquei a água no fogo e subi pra tomar um banho e... Adormeci na cama. – concluiu suspirando e olhando novamente para a chaleira como se tivesse finalmente achado a resposta para o estado dela.
- Essa chaleira ficou quatro horas no fogão?! – exclamou Sakura irritada - Tem sorte de não ter tido um incêndio aqui!
- Ai, que fome... – ele ignorou a reclamação dela abrindo a porta do armário – O que tem fácil pra comer por aqui que não precise de água fervida? – e começou a remexer dentro do móvel.
- Não se preocupe com a janta. – disse ela ainda chateada com a historia da chaleira, mas entregando a comida que sua mãe mandara.
Os olhos se Sasuke se arregalaram um pouco surpresos, mas depois ele deu um pequeno sorriso muito satisfeito.
- Acho que sua mãe salvou minha vida! Ah, que cheiro bom! – exclamou ao abrir a caixinha.
- Vou te preparar um chá. – disse Sakura suavizando a expressão. Vê-lo sorrir era tão bom!
- Não vai comer comigo? – perguntou ele sem tirar os olhos da comida. Estava realmente com muita fome.
- Já comi em casa. – e sorrindo acrescentou - E depois não tiraria comida da boca de uma criança faminta.
- Muito faminta. – concordou ele - Opa, sua mãe colocou até o ohashi aqui. Itadakimasu.
E começou a comer vorazmente. Sakura preparou um chá pra ele e depois se acomodou em uma cadeira à sua frente. Ficou observando-o comer, carinhosamente reparando cada gesto, cada movimento. Ainda não acreditava que tinha passado tanto tempo longe dele e que só agora tinham a oportunidade de ficarem mais perto.
- Tem certeza que não quer? – perguntou ele mais uma vez ao perceber o olhar dela - Tá uma delicia.
- Fique a vontade e coma tudo. – respondeu sorrindo.
Depois que ele terminou, colocou a vasilha na pia e começou a lavá-la.
- Deixa que eu faço isso. – pediu Sakura, tirando ele de lá – Faço isso e depois você pode ir comigo no hospital ver como estão as coisas.
Sasuke a olhou, surpreso.
- Mas hoje não é sua folga? – perguntou olhando no calendário da cozinha.
- É, mas eu quero ver se ta tudo em ordens. – explicou ela agora enxugando a vasilha.
- Em outras palavras você quer ir procurar fazer o trabalho dos outros. – reclamou cruzando os braços - Não acha que já faz o seu bem demais?
Sakura soltou uma risada.
- Agora você falou igual a minha mãe. Ela não queria que eu fosse lá hoje.
- E ela está certa. É sua folga. Além do mais – ele baixou o tom da voz – achei que você tinha vindo ficar comigo aqui...
O tom magoado com que ele falara cortou seu coração. Devia ser doloroso ficar sozinho naquela casa cheia de lembranças por todos os cantos.
“Se eu passar um dia sem ir lá eles vão sobreviver” decidiu ela. E chegando bem perto dele, o abraçou.
- Tudo bem. – murmurou bem perto do ouvido dele - Vocês venceram. Não irei naquele hospital hoje. Ficarei aqui com você por um tempo.
- Ótimo! Aproveita e me ajuda com umas caixas aqui no meu quarto. - e começou a se dirigir para o quarto dele - Tem um monte de coisa velha que vou doar pro orfanato e queria separar tudo hoje.
- Então era pra isso que você me queria aqui, seu aproveitador! – disse ela se fingindo de ofendida – Volte aqui, vou tirar dissecar você para levar seus órgãos para estudar!
Eles foram até o quarto dele rindo, e quando chegaram lá começaram imediatamente a arrumação. Havia muitas caixas mesmo espalhadas em todos os cantos, desde a cama até mesmo o guarda-roupa. Eles separavam as coisas em duas caixas, uma com nome “Doação”, e outra com o nome “Lixo”. O que Sasuke tinha interesse em manter ficava nas caixas de origem. Enquanto arrumavam tudo, Sasuke pegou uma sacola que estava em cima da cama e se dirigiu até sua namorada.
- Ah, Sakura – disse ele tentado parecer displicente – Comprei pra você na capital.
Sakura olhou espantada para ele. Sasuke nunca havia lhe dado nada. Pegou a sacola que ele lhe entregou e ficou surpresa com o conteúdo.
- Não acredito! – exclamou chocada - Você comprou o novo cd do Asian Kung Fu Generation pra mim!
Sasuke evitou olhar para ela.
- Eu lembrei que você gostava. E não foi difícil conseguir por que tem muitos e parece que eles estarão fazendo um show único aqui no País do Fogo, lá na capital... E achei que você talvez quisesse ir... E...
- Claro que vou querer! – e acrescentou rapidamente - Se você for é claro... Que dia será?
- Dia 25.
-Hum, ótimo! – e dando um apertado abraço nele sussurrou – Obrigada...
- Ta vamos continuar com isso – ele falou parecendo estar muito envergonhado.
A arrumação demorou algum tempo. Eram diversas caixas, cada uma com um conteúdo diferente, mas a grande maioria constituía-se de coisas do clã Uchiha. Objetos de arte, tapeçarias, jóias... Tudo que pudesse ter valor comercial estava indo pra caixa “Doação”.
- Tem certeza que quer doar tudo isso? - perguntou Sakura analisando um belo porta-retrato de porcelana.
- Sim. – afirmou ele sem pestanejar - A Hokage-sama pode leiloar a maioria das peças. Muitos daymios pagarão alto para ter as ultimas relíquias dos Uchiha.
- Não vai ficar nada aqui?
- Só o que pertencia a minha família ou que tenha qualquer utilidade de combate.
Realmente Sasuke estava mudado. Falava agora do seu clã sem aquele rancor de antes, com total desprendimento. Ela estava orgulhosa dele.
- Oh! – exclamou Sakura depois de um tempo – Veja o que eu encontrei!
Era a foto antiga do Time sete com Kakashi-sensei, logo que eles se tornaram genins. O porta-retrato já estava cheio de cupim e a foto estava amarelada e roída nas pontas.
- Acho que ainda dá pra salvar! – disse ela tirando a foto do porta-retrato e colocando este na caixa “Lixo”. E procurando na caixa “Doação”, encontrou o porta-retrato de porcelana que acabara de botar lá, e colocou a foto nele – Pronto! Isso você não vai doar mais! Veja, ficou perfeito!
Ela passou os dedos pela foto enquanto a olhava com carinho, relembrando de todas as coisas boas que viveram juntos. Era difícil de acreditar que já havia passado seis anos desde o dia daquela foto.
- Nossa, eu me lembro como se fosse ontem... Meu cabelo era tão grande! – e levando a mão aos cabelos suspirou – Nunca mais tive paciência de deixá-lo desse tamanho. Quando ele passa dos ombros, já corto.
Sakura se surpreendeu quando, de repente, Sasuke a abraçou por trás.
- Eu adoro seu cabelo assim mesmo. – falou passando a mão na nuca da garota.
- Ah... Obrigada. – agradeceu encabulada.
- Eu também achei algo. Vai ficar ótimo em você.
E dizendo isso, colocou no pescoço dela uma fina gargantilha de ouro, onde pendia um singelo medalhão.
Sakura levantou-se rapidamente, procurando o espelho.
- Era de minha mãe. – disse Sasuke chegando por trás e tocando o medalhão, onde estava gravado o símbolo do clã – Abra. – pediu.
Sakura obedeceu. Dentro do medalhão um Sasuke criança sorria para ela. Do outro lado não havia foto nenhuma.
- Quem estav..
- Itachi. – cortou ele - Mas eu já joguei a foto dele fora
Vendo sua imagem refletida no espelho, os olhos da garota começaram a marejar em lágrimas. Virando-se para ele, ela começou:
- Eu não posso aceitar isso... – balbuciou emocionada.
- Pode. E vai aceitar. – concluiu ele.
- Mas era da sua mãe...
- E agora é seu.
As lágrimas que antes ameaçavam cair, agora banhavam o rosto de Sakura. Não eram lágrimas de tristeza, mas de emoção e alívio. Sim. Aquele era o Sasuke que ela sempre amara. Não imaginava mais sua vida sem ele e pela primeira vez, ele parecia sinceramente corresponder seus sentimentos.
Vendo-a naquele vestido, mesmo em prantos, ela parecia um anjo. Um anjo cuja única missão parecia ser acalmar o seu coração. Sasuke enlaçou seus braços em torno da cintura dela e a beijou. Um beijo apaixonado, necessitado, como se fosse morrer se não pudesse estar com sua boca colada naqueles lábios úmidos de lágrimas. Sakura retribuiu o beijo na mesma intensidade, sentindo seu interior queimar de paixão e desejo. O silêncio prevalecia na casa e só era quebrado pelos suspiros e murmúrios que entrecortavam as caricias. As mãos dele percorriam o suave corpo que, trêmulo, vibrava a cada toque.
- Sakura... – ele sussurrou em seu ouvido – Eu a quero...
Ele não precisou repetir o pedido. Não havia por que pedir, nem pelo que esperar. Sofrera por ele durante seis anos, e não ia esperar por mais tempo nenhum. Ela o queria agora. E ele a queria a todo o momento, desde sempre. Suas mãos trêmulas encontraram a barra do vestido dela e o tirou sem nenhum esforço, puxando para cima. Ela, em sua ânsia de encontrar a pele por baixo da camisa, rasgou-a com suas unhas. Eles se debruçaram no chão, o único lugar onde não tinha nenhuma caixa ou objeto e aprofundaram ainda mais as caricias.
As mãos de Sasuke percorreram o corpo dela, primeiro lentamente, explorando todos os lugares que lhe eram desconhecidos, depois rapidamente, apertando a pele macia entre seus dedos. Sakura gemeu quando ele tomou seus seios com as mãos e passou acariciá-los enquanto percorria o pescoço dela com a boca.
Ela então enterrou as mãos nos cabelos dele, sentindo o cheiro de xampu que a inebriava. Arqueou o corpo de encontro ao dele, sentindo o toque quente de sua pele e o coração acelerado que pulsava em seu peito. Sasuke levantou a cabeça e cobriu a boca de Sakura em um novo beijo, no momento em que as mãos dela se encontraram com o botão de sua calça.
Ele se levantou um pouco e permitiu que ela o despisse. E quando seus olhos se encontraram ela percebeu um brilho diferente vindo dele, algo que fez seu estomago se contrair em ânsia. Era desejo. Um desejo louco e selvagem que fez com que as mãos dele lhe arrancassem as roupas de baixo e que se jogasse por sobre ela como se estivesse faminto do amor que ela tinha para lhe oferecer. E ele mais uma vez tomou sua boca, mas dessa vez permitiu-se descer para o colo dela, onde os provou de seus seios longamente, fazendo com que Sakura se contorcesse embaixo dele, querendo mais e mais. E ela sentiu-se quase flutuar, quando as mãos dele acariciaram sua carne entre as pernas.
Não podia mais agüentar. Queria ele naquele momento.
- Sasuke... – murmurou Sakura.
Ele entendeu o pedido dela. Era o mesmo desejo de seu corpo. E quando ele a abraçou, se esgueirando por entre suas pernas e a possuindo como há muito desejava fazer, Sakura mordeu os lábios para segurar o grito de triunfo que estava preso em sua garganta. Lentamente ele a preencheu, ouvindo um curto gemido no momento em que a penetrou.
Em pouco tempo, já suspiravam de prazer e seus gemidos se confundiam com o tiquetaquear do relógio na sala ao lado. Sasuke queria possuí-la por completo, tocar o mais fundo de seu ser, tomá-la para dentro dele se necessário. Seu corpo latejava pedindo por ela, com uma mistura de sensações que ele nunca havia sentindo antes.
Sakura sentia-se arrebatada pelas ondas de prazer que tomou seu corpo enquanto Sasuke beijava sua boca e possuía seu corpo. Ela arqueava diante do toque dele, acariciando seus cabelos e suspirando pesadamente.
- Sakura... – murmurou – Eu t-te quero...
Foi mais uma súplica que um pedido. Ele queria sentir não só prazer dela queria sentir todos os seus desejos, queria dominar seus pensamentos e traze-la para si, somente para si. Enquanto se amavam no chão do seu quarto, ele jurou intimamente que nunca ninguém iria tirar Sakura de seus braços. Eles se pertenciam, e a ninguém mais.
Quando Sasuke decidiu aprofundar mais seus toques e sentou para suspendê-la em seus braços, procurando conforta-la junto a seu corpo e deixá-la sobre si, seus olhos se detiveram na foto antiga que parecia os observar no seu novo porta-retrato. Ele parou por um instante.
- Qual o problema? – perguntou Sakura num murmúrio.
Com a ponta dos dedos, Sasuke virou a foto para baixo. Não queria nenhuma espécie de testemunha naquele momento.
- Nada mais... – ele sussurrou antes de mergulhar no mar dos braços dela novamente.
A noção de tempo foi perdida naquela noite. Depois de se amarem, ficaram os dois ofegantes no chão, cobertos de poeira e suor e abraçados possessivamente. A mente se Sasuke pareceu recuperar a noção que fora perdida no momento em que a beijou e deu um pequeno sorriso de canto de boca.
- O que foi? – perguntou Sakura ao ver a expressão dele.
- Acho que aqui não é o melhor lugar para dormimos... – sussurrou ele.
Sakura se surpreendeu um pouco. Não pensava em dormir ali. Tinha que voltar para casa.
- Sasuke... – começou ela sem saber como dizer – Eu acho que...
- Eu também acho. – disse ele para a surpresa dela.
Mas o que ele estava pensando era totalmente diferente do que ela pensara. E qual não foi a surpresa de Sakura, no momento em que Sasuke a suspendeu nos braços, e foram os dois, totalmente nus em direção a outro quarto.
- Sasuke! – chamou ela corando loucamente – Onde...
Mais uma vez ele não deixou que ela terminasse a frase. Deitou-a em um futon branco que estava estendido em um quarto vizinho ao dele e que tinha espaço para duas pessoas. Novamente ele fez algo que a deixou surpresa.
Sasuke a levara para o quarto dos pais dele.
- Pronto. – disse ele com um sorriso – Agora poderemos dormir aqui.
Sakura sorriu. Deixou para trás sua preocupação e permitiu-se se lançar novamente nos braços dele.
Com a mãe, ela se entenderia depois.
******************************
Naruto coçava a cabeça e se remexia na cadeira. Depois, começou a comer a ponta do lápis. Levantou o caderno e leu. Baixou o caderno e recomeçou a rabiscar. Depois coçou a cabeça novamente. Por esses movimentos, Hinata já sabia que ele estava tendo dificuldades em responder a questão. E já eram quase seis da tarde.
- Naruto-kun... – chamou ela baixinho - Quer que eu te explique de novo?
- Não, não. Já to quase acabando.
Mas não estava. Ele se remexia constantemente na cadeira e olhava nervosamente para o relógio.
- Hã, Hinata? – chamou ele quando Keigo começou a colocar todos para fora da biblioteca – Me explica isso de novo rapidinho...
Ela pacientemente explicou de novo o assunto.
- Ok, agora eu resolvo. – disso determinado.
- Agora não por que eu to fechando a biblioteca. – anunciou Keigo por trás deles - Vai ficar pra depois.
- Ahhhhhhhh, Keigo! Só mais cinco minutinhos! – pediu ele juntando as mãos como se fizesse uma prece.
- Nem meio, quanto mais cinco! Saindo os dois! – ordenou ele apontando para a porta.
- Droga... – resmungou Naruto juntando suas coisas e saindo rapidamente.
- Pode levar pra casa e resolver Naruto-kun. – disse Hinata tentando consola-lo - Você me mostra amanhã.
- Certo. – resmungou ele.
O ritmo de estudo deles agora chegava há quase dez horas por dia. Chegavam por volta das oito, paravam em media uma hora para o almoço, e saiam quando a biblioteca fechava. Era extremamente cansativo para ambos, mas no final, o retorno já aparecia, pois os conteúdos estavam sendo abrangidos da forma como Hinata desejava.
Faltando uma semana para prova, porém, ambos estavam muito nervosos. Naruto, preocupado com sua prova, tinha sonhos estranhos envolvendo o teste, Hinata, potes de ramen e sapos alienígenas. Hinata, preocupada com a prova de Naruto, sua posse no clã, o desempenho de seus alunos e a eminência de um exame chunin para dali a dois meses onde todo time deixou claro que queria participar, estava cada dia mais pálida, com um semblante cansado e com um agravante: suas crises se intensificaram ainda mais. Até comer doía depois de uma noite vomitando. Sentia que, de algum modo aquilo estava ligado com o estresse a que se submetera nas ultima três semanas, mas não podia faltar com seu compromisso com ninguém.
E como se tudo isso não fosse o bastante, o boato de que ela e Naruto namoravam chegara ao clã Hyuuga.
- É tudo um mal entendido. – dissera Neji para seu pai logo que ele soube – Hinata-sama apenas está cumprindo ordens da Tsunade-sama e ensinado Naruto-san para a prova de jounin.
- Você não está acompanhando esse estudo? – quis saber Hiashi.
- Ordens da Hokage. É uma missão da Hinata-sama.
Seu pai não falara mais nada. Mas ela sabia que ele devia estar pensando alguma coisa para interromper essas aulas, já que não estava convencido que era apenas o cumprimento de uma ordem. Muitas pessoas tinham descoberto seus sentimentos por Naruto antes mesmo das aulas, e essas só serviram para consolidá-lo. Por isso, era cada vez mais difícil para ela lidar com toda aquela situação.
E não era apenas aquele problema.
- E aí, Hinata! - chamou Kiba logo que viu a garota deixar a biblioteca em companhia de Naruto – Você não quer dar um pulinho lá em casa? Minha mãe fez torta!
Aquilo também estava acontecendo. Depois que Kiba soubera que ela estava dando aulas a Naruto, sempre aparecia com um convite daqueles no final da aula. Parecia estar querendo disputar a atenção da garota com Naruto e aquilo a deixava mais nervosa que tudo o que acontecia. Sabia que de algum modo Kiba já percebera seus sentimentos por Naruto e tentava desesperadamente forçá-la a tomar uma decisão entre os dois. Naruto possivelmente não entendia que Kiba nada tinha contra ele a não ser ciúme, mas já o tratava com um certo desprezo. E ela não podia tomar nenhuma atitude mais séria sem chamar a atenção de Naruto para seus sentimentos, então procurava escapar dos convites de Kiba sempre dizendo que estava cansada, atrasada, mas ficava com pena do amigo. Não queria machucá-lo, mas ele sempre fazia uma cara tão triste quando ela recusava que lhe partia o coração.
Naquele dia ele parecia mais animado que nunca e Hinata não sabia o que dizer. Daquela vez ela não tinha nenhum compromisso, mas a ultima coisa que queria era dar esperanças falsas para Kiba.
- É, bem... – murmurou evitando olhar para ele - Kiba-kun, eu... – começou ela mas sem conseguir terminar.
Naruto já estava ficando cheio daquela perseguição que Kiba impunha a Hinata nos últimos dias. Não sabia o motivo de Hinata estar tão esquiva, mas se até ele percebia que ela não queria sair com Kiba, por que ele não se mancava e a deixava em paz? Detestava o jeito com que Kiba a olhava, como se a qualquer momento pudesse tirá-la dali ou tomá-la nos braços. E não lhe agradava aquele pensamento. Por isso, mesmo gostando bastante de Kiba, agora o olhava irritado. Deu dois passos para frente, protegendo Hinata com seu corpo.
- Ela não pode. – respondera Naruto impaciente poupando Hinata de qualquer reação.
- Seu nome é “Hinata” agora, Naruto? – indagou Kiba irritado - Eu estava falando com ela e não com você.
- Será que você não percebe que está sendo inconveniente? Quando Hinata puder ir à sua casa, ela irá! – devolveu o genin no mesmo tom aborrecido do outro.
Hinata olhou para Naruto e depois para Kiba e se sentiu extremamente mal diante da situação. Não queria que eles brigassem por causa dela, e que tivessem sua amizade abalada.
- Naruto-kun... Kiba-kun... Por favor, não discutam... – pediu Hinata timidamente.
- Bem, eu acho que “Hinata” é um nome bonito demais pra ele. – disse uma voz atrás de Kiba, fazendo com que a atenção de todos fosse desviada.
Sasuke se aproximou rindo da situação. De longe podia perceber uma inusitada cena de ciúmes envolvendo Hinata. Era obvio que Kiba gostava da garota. O que o surpreendeu foi a expressão irritada de Naruto diante do rapaz. Claro que podia ser apenas uma forma de ajudar a amiga que claramente estava incomodada com a situação. Todavia, Sasuke via bem mais que isso.
Sasuke via ciúme de ambas as partes e se perguntava se Naruto já havia percebido aquilo.
“Possivelmente não...” pensou enquanto todos o olhavam “Mas... Se eles pudessem ver a cara de idiotas que estão fazendo...” pensou o rapaz rindo.
- Olá, Sasuke-san. – cumprimentou Hinata aliviada com a chegada de mais uma pessoa.
- Olá, Hinata. – cumprimentou ele e como se não tivesse percebido nada, perguntou - O que está acontecendo aqui?
Hinata ficou sem jeito. Não sabia como explicar a situação. Começou a encostar um dedo no outro e falou timidamente:
- B-Bem... O Kiba-kun me chamou pra ir a casa dele e... E...
- Você está triste por ter que dizer a ele que tem outro compromisso. – interrompeu Sasuke imediatamente - Entendo...
“Compromisso?” pensou Hinata sem entender. Kiba parecia partilhar do mesmo pensamento que ela.
- Outro compromisso? – perguntou ele desconfiado.
- É. – afirmou o chefe da anbu calmamente - A Sakura chamou Hinata e Naruto para jantar lá na casa dela hoje... Uma comemoração especial sabe... É uma pena Kiba que eu não possa te convidar... Mas só vão casais... – Sasuke frizou essa última parte.
Kiba ficou vermelho e pareceu desolado. Até Akamaru ficou chateado. Olhou para Naruto e depois para Hinata, que logo desviou a vista.
“Então os boatos eram verdade...” pensou sentindo uma grande tristeza dentro de si.
- Ok, vou indo. – falou dando as costas - Percebo quando não sou bem vindo.
Hinata olhou triste para o amigo que seguiu cabisbaixo em direção a sua casa e não pode deixar de sentir pena dele. Não queria ter magoado-o. Ficava grata a Sasuke por te-la salvo, mas mesmo assim não pode conter as palavras que chegaram em sua boca.
- Não precisava exagerar Sasuke-san. Realmente o Kiba-kun estava um pouco nervoso e...
- Mas eu não exagerei. – falou Sasuke dando de ombros - Realmente Sakura me mandou chamar vocês dois para jantar lá hoje. Como não quis atrapalhar o estudo, esperei vocês saírem. Agora a parte do casal era mentira. – acrescentou rindo - Tsunade-sama vai estar lá. Se não me engano, Ino, Shizune, Kakashi-sensei e Sai também vão.
Foi então que Naruto percebeu que o amigo não vestia o seu costumeiro uniforme da anbu, mas em uma roupa informal e trazia algumas sacolas na mão.
- Ah, por isso você não está fantasiado de pardal hoje! Que pena! – debochou Naruto.
- É uma pena mesmo. – concordou Sasuke com um sorriso irônico - Não poderei combinar com sua sempre-cara-de-jumento de todos os dias.
- Ora seu! – exclamou o outro irritado.
Ignorando Naruto, Sasuke se voltou para Hinata.
- E então Hinata, você vai? – indagou.
- Bem eu só preciso passar em casa para avisar meu pai... – disse um pouco insegura.
- Então estaremos te esperamos. – falou animado Naruto.
Ela corou drasticamente.
“Um jantar com o Naruto... mesmo tendo outras pessoas...” pensou feliz.
- Bem, vamos Naruto. – chamou Sasuke rindo - Ainda tenho que comprar seu feno...
- VENHA AQUI QUE EU TE MOSTRO ONDE VOCÊ COLOCAR ESSE FENO!!!!!
“Vai ser divertido também...” lembrou animada.
Capítulo IX – Entre amigos
Hiashi olhou fixamente para a sua filha mais velha, analisando seu rosto.
- Então, a Hokage-sama estará lá? – perguntou desconfiado.
- S-Sim. – respondeu Hinata nervosa - É s-só um jantar...
Ele pensou por um momento e por fim falou:
- Tudo bem. Pode ir.
Hinata suspirou aliviada. Por um momento pensara que seu pai não permitiria sua ida ao jantar na casa de Sakura. Afinal, ele queria vê-la treinando constantemente e uma noite fora, significava uma noite sem treino. Mas ele parecia estar mais tranqüilo naquele dia e não se opôs à sua saída. Todavia, comentou quando ela fazia menção de se levantar do tatame:
- Mas eu ficarei mais tranqüilo se o Neji te acompanhar.
- P-Pai... – falou ela um pouco insegura - Eu n-não s-sei, foi a Sakura que me convidou e...
- Ele não precisa ficar lá. – cortou Hiashi - Só vai te deixar e buscar.
- Certo...
Neji realmente só fizera isso mesmo. Por um momento ela pensou que o primo ficara chateado com ela por que ela havia dito que não sabia se ele podia ir, mas Neji não parecia se importar nenhum pouco com isso. Tal como seu pai pedira, acompanhou-a até a porta da casa de Sakura e avisou:
- Virei buscá-la quando seu pai achar conveniente.
- Neji... – ela começou antes que ele fosse embora – Obrigada pela sua ajuda daquela vez... Eu realmente não sei como esses boatos começaram e... Obrigada por me ajudar...
Ele a encarou enigmático por um momento.
- Não precisa agradecer Hinata-sama. – disse por fim - Divirta-se.
Sakura arrumava a mesa da sala de jantar que sua mãe preparara especialmente para a ocasião, e ouvira a voz de Hinata, indo abrir a porta logo em seguida. Abriu um sorriso surpreso ao ver Neji acompanhando a menina e convidou contente:
- Ah... Olha o Neji! Não quer entrar e participar?
- Fica para uma outra oportunidade, Sakura-san. – respondeu ele já virando as costas - Tenho outros afazeres no momento.
- Ah, que pena. Fica pra próxima então... Bem vamos entrar Hinata?
- S-Sim...
As únicas pessoas que estavam na sala era Shizune e a mãe de Sakura. Ao que parecia, Sasuke e Naruto ainda não tinham chegado, nem Tsunade, Sai, Ino ou Kakashi. A mãe de Sakura arrumava alegremente a sala e parecia mais feliz que a própria filha por estar recebendo visitas.
- Hinata-chan! Como vai? – cumprimentou ela contente.
- Bem, Haruno-san. – respondeu sorrindo - E a senhora?
- Muito satisfeita. Minha filha anda trabalhando demais e eu estou gostando de vê-la em casa hoje, se divertindo!
- Ah, mãe. Não comece essa história de novo. É você me reclamando de um lado, Sasuke de outro... Assim eu terei uma estafa mental!
- Por isso eu amo meu genrinho! Ele concorda comigo...
- Mãe... Não chame o Sasuke de genrinho... É constrangedor demais.
Todas na sala começam a rir. Sakura realmente parecia constrangida, mas a mãe dela não se importava nem um pouco. Hinata pensou por um instante em sua mãe. Se ela estivesse viva, iria gostar do Naruto tanto quanto a mãe da Sakura gostava do Sasuke? Provavelmente. Diferente de seu pai, sua mãe era uma mulher alegre e viva. Nunca sua casa teve o mesmo calor, a mesma sensação de aconchego depois que ela morrera ao dar a luz a Hanabi. Talvez, se ela estive viva, não fosse tão doloroso tudo o que estava passando. Poderia contar com ela, tinha certeza disso. Mas nunca teria essa chance...
- Hinata? Você está bem?
Ela provavelmente deveria ter ficado devaneando e não ouvira a pergunta que lhe fora feita. Enrubesceu e perguntou sem jeito:
- Desculpe, eu estava pensando...
- Deu pra perceber! – brincou Shizune.
- Bem eu estava dizendo que Tsunade-sama talvez demore um pouco por que ficou resolvendo uns últimos detalhes. Kakashi-sensei sempre chega atrasado, então não conta. E os rapazes foram comprar umas bebidas. – acrescentou revirando os olhos – Idéia da mamãe...
- Claro, vocês são jovens! Devem se divertir!
- Mas... Bebida mãe? A Hinata nem é de maior ainda!
- Oh, não se preocupem comigo. Eu não bebo...
- Faz bem... – elogiou Shizune – Bebida apenas atrapalha as pessoas trabalhadoras!
- Nossa que palavras bonitas! – elogiou Sakura.
- Por isso – continuou Shizune – que não trabalho hoje e posso beber!
Enquanto Sakura revirava os olhos, contrariada, Shizune e a mãe da moça começavam a rir. Hinata sabia que aquela prometia ser uma ótima noite.
*********
Ino ajeitou os longos cabelos loiros e se olhou no espelho. Fazia essa mesma ação à pelo menos uma hora e ainda não estava satisfeita. Queria estar muito bonita naquela noite e estava se esforçando para ficar bem melhor que seu normal.
- Ino! – gritou sua mãe do lado de fora do banheiro – Morreu aí dentro? Seu pai quer usar o banheiro!
- Certo! – gritou ela de volta e dando uma ultima olhada, pegou seu estojo de maquiagem e saiu.
- Você não poderia fazer isso em outro lugar? – reclamou Yamanaka Inoshi olhando para a filha.
- A luz do meu quarto não é tão boa para fazer maquiagem quanto o banheiro... – reclamou ela.
- Para quê tanta arrumação? – perguntou ele confuso – Você é linda... Não precisa disso!
A ninja sorriu para o pai e o abraçou. Apesar dos constantes desentendimentos, ela o amava incondicionalmente.
- Obrigada papai! Mas hoje especialmente eu quero estar muito mais bonita que a Sakura! – e dando um pequeno beijo na bochecha dele, caminhou para o quarto, onde deixou seu estojo.
Tão logo se dirigia para a porta, ouviu a campanhia. Abriu animada e ficou extremamente satisfeita em ver Sai parado esperando-a. Ele a abraçou fortemente e deu um longo beijo que a deixou sem fôlego.
- É impressão minha... – falou ele em seu ouvido – Ou você conseguiu a incrível proeza de ficar mais bonita que o normal?
Ino sorriu e falou sedutora:
- Pra você...
Foi a vez de Sai rir, um sorriso sincero dessa vez e pegou delicadamente a mão da namorada.
- Bem, é melhor irmos logo... – falou ele – Quero mostrar para o Sasuke como a minha namorada é mais bonita que a dele!
Eles riram e começaram a seguir o caminho da casa de Sakura. Todavia, antes que chegassem lá, encontraram inusitadamente com Sasuke e Naruto que pareciam discutir alguma coisa em frente a uma vitrine que exibia doces.
- Eu não gosto desses. – reclamava o líder da anbu.
- Deixa de ser chato Sasuke. – revidou Naruto – Precisamos levar a sobremesa, afinal temos que mostrar que estamos agradecidos.
- Não me importo de levar doces. – retrucou – Eu só não quero levar esses doces.
- Parece até uma briga de casal! – gracejou Sai chegando perto dos rapazes.
- Só podia ser você! – reclamou Naruto virando para falar com Sai – Estamos apenas tentando chegar a um acordo aqui!
- Não há acordo. Você não vai levar esse doce. – sentenciou Sasuke – Qualquer um menos esse aí.
- Mas é meu preferido! – disse Naruto inconformado.
Sai e Ino se entreolharam diante do impasse e ele deu de ombros.
- Querida, não é melhor você ir na frente? – perguntou ele docemente – Eu vou cuidar de levar esses dois, certo?
A garota não pareceu muito satisfeita, mas mesmo assim concordou. Pela forma com que Sasuke e Naruto discutiam, se alguém não interferisse, provavelmente ficariam a noite toda tentando um convencer o outro e perderiam o jantar.
- Não demore hein? – avisou ela piscando o olho. E dando um beijo rápido em seu namorado, se afastou rapidamente.
Enquanto Sasuke e Naruto ainda discutiam sobre o tipo de doce que deveriam levar para a sobremesa, Sai discretamente entrou na doceria. Quando os outros dois perceberam, ele já pedia algo alegremente à atendente que, solicita, o atendeu. Sem perda de tempo, eles entraram na loja também.
- O que está fazendo Sai? – perguntou Naruto.
- Se vocês dois continuarem nessa briguinha de menina, vamos acabar nos atrasando para o jantar. Por isso eu pedi logo algo para levarmos!
- E o que você pediu? – perguntou Sasuke com a expressão de quem não gostou da atitude de Sai.
- Torta de Chocolate! – exclamou ele animadamente – Todos gostam de chocolate! Isso é unânime!
Sasuke e Naruto se olharam meio bestificados. Sai tinha razão. Como eles não podiam ter pensado naquilo antes?
- O que seria de vocês sem mim? – gracejou ele rindo da cara dos dois.
*********
Ino não demorou a chegar à casa de Sakura. Quando indagada pelo namorado, respondeu simplesmente:
- Evitando que Naruto e Sasuke se matem por causa de alguns doces.
E contou alegremente a história dos doces fazendo com que a mãe de Sakura risse alegremente junto com Shizune enquanto Hinata e Sakura ficaram apreensivas.
- Tomara que eles não se atrasem por causa disso... – desejou a médica.
- Não se preocupem. – tranqüilizou Ino – Sai estará trazendo eles em breve.
Um barulho na porta chamou a atenção delas. Pouco depois, Sai, Sasuke e Naruto adentram a casa carregando algumas sacolas e, por incrível que pareça acompanhados de Kakashi, que parecia muito animado.
- Yo! – cumprimentou ele.
- Por que vocês me deram as sacolas mais pesadas pra carregar? – reclamou Naruto.
- Porque você é um quase jounin e precisa adquirir responsabilidades. – respondeu Sasuke.
- É impressão minha ou você tem usado essa desculpa de jounin para me atormentar?
- Meus parabéns Hinata. – disse o outro rindo zombeteiro - Parece que você conseguiu fazer a cabeça dele funcionar! Ele já até percebe as coisas! Que tática você usou? Transfusão de cérebro?
Todos riram da piada, exceto Naruto que encarou seu amigo com raiva e Hinata que estava extremamente vermelha com o comentário.
- Se for isso. - Sai disse entrando na conversa – Eu quero o cérebro do Kakashi-sensei.
- Eu não dou. – sentenciou Kakashi.
As sacolas passaram para as mãos da mãe da Sakura que pediu que todos se acomodassem.
- Obrigada por trazerem as sobremesas e as bebidas rapazes! Sentem-se, será rápido. Só irei terminar de pôr a comida nas travessas.
- Quer ajuda Haruno-san? – se ofereceu Shizune já se levantando.
- De forma alguma! – protestou a senhora - Você é visita! Sente-se na sala com os outros!
Todos se acomodaram confortavelmente. Antes, contudo, Sakura chamou Ino discretamente e sussurrou algo em seu ouvido, que fez a outra rir. Então, misteriosamente, ou nem tanto assim, Hinata acabou sentada ao lado de Naruto. Não demorou muito e a comida já estava na mesa. A senhora Haruno passou a servir a todos pacientemente enquanto sorria e conversava.
- Que estranho, Tsunade-sama está mais atrasada que o costume. Até o Kakashi-sensei chegou antes dela... – comentou Sakura recebendo uma tigela de arroz da mão da sua mãe.
- Hã... Será que eu entendi direito? Isso foi uma indireta pra mim? – perguntou Kakashi.
- Na verdade, eu acho que foi bem direto sensei. – falou Sai sorrindo.
- Mas direto que isso, só um gancho de direita. – concordou Naruto.
- Podem comer a vontade – convidou a senhora Haruno – Tem bastante.
Tsunade só chegou depois que o jantar estava na metade. Todos notaram imediatamente que havia alguma coisa errada. A Hokage parecia preocupada e cansada. Sentou-se em silêncio na mesa depois de cumprimentar todos com a voz um pouco rouca e recebeu uma tigela das mãos da dona da casa.
- Algum problema Tsunade-sama? – perguntou Shizune preocupada.
- Muitos. – respondeu misteriosa - Mas não quero falar nisso, não é nada grave. O aroma está delicioso, Haruno-san. Como sempre sua comida é ótima.
- Obrigada, Tsunade-sama. – agradeceu ela - Experimente esses bolinhos de polvo. Receita nova.
- Está com uma cara ótima. Obrigada. – respondeu sorrindo, mas com uma aparência nitidamente cansada.
- Esqueça esses problemas Vovó Tsunade! – falou Naruto tentando anima-la. – Divirta-se conosco!
Apesar de todo cansaço e preocupação, ela não pode deixar de sorrir diante do comentário.
- Tem razão Naruto. – concordou - Mas não poderei demorar muito.
Apesar da afirmação que não era não havia nada de grave acontecendo, o clima ficou tenso depois da chegada da Hokage. Hinata percebeu que ela parecia distante e alheia às conversas que se desenrolavam ao seu redor, mesmo após a afirmação que iria se divertir. A jounin se perguntava que tipos de problemas eram aqueles que faziam alguém como Tsunade simplesmente se abster de uma noite tão divertida como aquela. E na tentativa de mudar um pouco os ares da conversa. Ino começou a relatar um episodio que havia acontecido com ela e seu time há alguns dias na capital do país.
- Eu juro que foi assim! – dizia Ino ainda chateada – Nós tivemos que sair correndo de lá.
- Isso é mais normal do que agente pensa. – falou Shizune sombriamente – Muitas pessoas acham que todo ninja é um assassino ou perigoso. É claro que muitas missões incluem homicídios, mas não saímos matando por esporte. Pelo menos não os ninjas de Konoha.
- Ser ninja é uma profissão que exige muito de nós mesmos – concluiu Sai – Exige que nós pensemos muito nos outros e pouco em nós mesmo. – e dando uma que pequena pausa, confessou olhando para sua namorada - Quantas vezes eu já não pensei “E se eu fosse outra coisa e não um ninja, eu seria mais feliz?”.
- E você já chegou a essa resposta Sai? – questionou Kakashi.
- Ainda não. – e dando um sorrisinho acrescentou – Viver de especulações não faz bem pra saúde.
- Eu estou achando essa conversa muito louca. – opinou Sakura depois desse comentário.
- E tem gente que nem assim está participando. – falou Ino apontando pra Hinata – Acho que ela não está gostando.
Nem de longe aquela era a verdade. Hinata não lembrava quando fora a vez que se divertira tanto. Mas a proximidade entre ela e Naruto era perturbadora. Parando para analisar bem, ela percebera que, excluído Haruno-san e Tsunade, a mesa era composta só por casais. Não sabia se havia algo entre Kakashi e Shizune, mas eles estavam sentados bem próximos e por vezes baixavam o tom de voz para que ninguém pudesse ouvi-los. Sakura cobria Sasuke de atenção e cuidados e trocavam alguns carinhos leves. Porém, Ino e Sai eram bem mais expansíveis e já tinham trocado diversos beijos ardentes. Nesses momentos ela simplesmente ficava sem ação, pois não sabia o que era pior: se sentir deslocada ou imaginar que Naruto poderia fazer o mesmo com ela já que inusitadamente as circunstâncias se encarregaram de colocar-los um ao lado do outro e ninguém parecia se importar com seu constrangimento até aquele momento.
Depois do comentário de Ino, percebeu todos os olhares recaírem sobre ela, principalmente o de Naruto que a olhava de bem perto, e sentiu o rosto ficar mais quente.
- Você não está gostando Hinata? – perguntou Naruto apertando os olhos.
- N-Não é nada disso. – apressou-se em dizer - Eu só não quero atrapalhar a conversa, só isso.
- Mas você não atrapalha Hinata. – disse ele sorrindo – Mas devia se mostrar um pouco mais alegre. É tão difícil ver você sorrindo abertamente. Ou falando alguma coisa...
- Ela deve ter esgotado todas as palavras dela tentando te ensinar. – disse Sasuke sorrindo maldosamente - Afinal, deve ser um trabalho meio difícil colocar as coisas em termos que você entenda.
- Você ta duvidando da minha capacidade, Sasuke? – perguntou Naruto irritado.
- Estou!
A resposta fez com que Naruto ficasse ainda mais irritado.
- Pois eu posso provar o que você quiser! – desafiou ele
- Oba, disputa! Disputa! – comemorou Ino.
- Ino, não ponha lenha na fogueira... – pediu Sakura preocupada.
- Ah, Sakura, deixa de ser chata. – questionou a outra animada - Vamos começar uma disputa aqui!
- Disputa de quê? – perguntou Sai.
- Sakê. – falou inesperadamente Tsunade fazendo com que todos a olhassem, surpresos.
Sakura fez cara de quem não concordava. Imaginava que aquilo não acabaria bem.
- Gente, por favor... – pediu ela - O que minha mãe vai pensar?
- Vou pensar que já estava na hora! – disse a senhora Haruno retirando-se para a cozinha e voltando para sala com diversas garrafas na mão sob o olhar surpresos dos presentes.
- Oh, mãe... Por favor...
A senhora colocou alegremente as garrafas na mesa, enquanto cantarolava.
- Bem, eu adoraria participar, mas tenho que dormir cedo, afinal sou uma senhora de idade. – brincou Tsunade se levantando – Além do mais, Haruno-san, acho que estamos sobrando aqui... – concluiu maliciosamente.
A mãe da Sakura caiu na risada.
- Tem razão, Tsunade-sama, está na hora das velhinhas irem dormir. Eu te acompanho até a porta.
Elas se retiraram da sala enquanto Ino abria alegremente a primeira garrafa de sakê. Hinata estava no momento sem ação com a insinuação de Tsunade. Será que ela também sabia de seus sentimentos por Naruto? E agradeceu imensamente por ele não ter percebido nada, pois estava muito ocupado olhando feio para Sasuke.
- Ino, seu pai sabe que você bebe? – questionou Kakashi vendo a garota encher os copos.
- Eu não bebo. – respondeu ela – Mas hoje é uma ocasião especial.
- É? – surpreendeu-se a Sakura.
- Claro que é! Veja como a vila de Konoha progrediu! Você finalmente agarra o Sasuke, a Tsunade-sama assume a idade, Kakashi-sensei chega cedo e o Naruto está estudando!
Todos caíram na risada.
- Então vamos comemorar! – exclamou Kakashi pegando o primeiro copo.
Apesar de ficar apenas no chá, Hinata sentiu-se contagiada pela animação que a bebida começou a provocar nos presentes. No começo, era apenas Kakashi bebericando um copo calmamente enquanto Naruto e Sasuke disputavam que tomava mais copos rapidamente. Mas o que Naruto não percebeu foi que Sasuke tomava menos que ele propositadamente. Logo o único genin presente estava tonto e o outro parecia muito sóbrio. Não demorou muito e todos exceto Hinata começaram a beber também. Shizune e Kakashi já compartilhavam o mesmo copo e pouco depois começaram a compartilhar a mesma poltrona. Ino achou que poderia evitar a embriaguêz bebendo rápido e acabou passando mal. Para seu azar, as médicas presentes pareciam ter outras prioridades. Beijar por exemplo.
- Tá ficando quente por aqui... – comentou Hinata timidamente para Naruto quando os três casais continuaram com suas intimidades.
- Tem razão. – falou ele - Vamos lá para a cozinha. Acho que estamos sobrando por aqui...
Para se sentir um pouco útil, Hinata recolheu os pratos e levou para a cozinha. O jantar estava ótimo. Realmente a mãe de Sakura cozinhava bem e a torta que os meninos haviam comprado era deliciosa.
Ao chegarem à cozinha perceberam que não havia ninguém por lá. A senhora Haruno aparentemente decidira que deixaria todos muito a vontade, pois não voltara para a sala depois de acompanhar Tsunade a porta.
- É melhor colocar os pratos aqui – falou ela depositando a louça na pia – Já ajudamos a Haruno-san...
Naruto não respondeu. Parecia não estar se sentindo muito bem.
- Hã... Naruto-kun... – chamou Hinata timidamente - Você está bem?
O rapaz levou a mão à cabeça quando chegou à cozinha e se encostou na geladeira. Parecia tonto.
- Está bem Naruto-kun? – perguntou ela novamente preocupada.
- Sasuke maldito! – falou ele com a voz meio embargada - Ele quem me obrigou a virar aqueles copos! – completou irritado.
- Hã... Acho que você virou espontaneamente Naruto-kun. – disse ela se sentindo um pouco constrangida em disser aquilo.
Naruto levantou a cabeça e olhou-a bem nos olhos. Parecia que lembrara de procurar alguma coisa diferente. Sentindo-se quase ameaçada por aquele olhar, ela desviou rapidamente a vista. Mesmo com seus sentidos um pouco lentos, Naruto pareceu naquele momento adquirir uma consciência que normalmente não tinha. Desencostou-se da geladeira e passou a caminhar na direção de Hinata.
- Por que você nunca me olha nos olhos Hinata? – indagou ele se aproximando lentamente.
- O-O q-quê Naruto-kun? N-Não e-entendi sua p-pergunta. – despistou.
- Acho que entendeu e não quer me responder. – falou ele agora bem próximo a ela.
Hinata começou a ficar muito nervosa. Deu dois passos para trás e se encostou na pia. Não tinha para onde escapar. Estava presa ali. Mas não podia falar nada. Não naquele lugar. Não daquele jeito. Mas também não sabia o que fazer. Naruto estava cada vez mais próximo. Tinha medo que se ele chegasse mais perto, poderia ouvir as batidas de seu coração que estava anormalmente acelerado.
- N-Naruto-kun.. eu... – gaguejou, mas sem encontrar o que falar.
Ele já estava perto. Perto demais. Hinata sabia que não agüentaria mais ficar olhando para o lado se ele se aproximasse mais. Já quase podia sentir o calor de seu corpo. Todavia, ela foi salva de dizer qualquer coisa ou enfrentar o contado com ele pela entrada de Ino, sendo arrastada por Sakura e Shizune e acompanhadas por Sai que vinha sorridente atrás, como se a bebida não estivesse afetando-o.
- Acho que foi bebida demais. – disse ele displicente como se tivesse achando aquilo tudo muito divertido.
- Você acha? Eu tenho certeza. – disse Sakura mal-humorada.
- Eu num to bêbada, num to não... – falava Ino com a voz pastosa, tentado se manter em pé – Estou ligeiramente alterada.
- Imagine quando estiver totalmente alterada. – disse Shizune.
Hinata aproveitou a interferência para se colocar bem longe de Naruto. Sai percebeu que eles haviam atrapalhado algo que estava para acontecer, mas nada falou.
- Precisa de ajuda, Sakura? – perguntou Hinata se aproximando da garota.
- Sim, preciso. – disse ela tão irritada que passou despercebido que antes de entrar Hinata e Naruto estavam bem próximos um do outro - Vamos molhar a cabeça dessa alcoólatra e vê se ela melhora pro Sai levar ela pra casa.
- E nós? – perguntou Sai se referindo a ele e Naruto que agora estava nitidamente mal-humorado com a interrupção..
- Saiam da minha vista, pois eu estou realmente alterada e nada satisfeita por você incentivar a Ino a beber. – ameaçou Sakura.
- Mas eu não incentivei... – se defendeu Sai.
- Ah, não imagina. – falou irônica enquanto a pia enchia de água - Gritar “vira, vira” quando ela tava com a garrafa na boca não é incentivo nenhum...
- Ok, estou saindo. – disse levantando as mãos, se dando por vencido - Vamos Naruto.
Naruto relutou um pouco a ir, como se estivesse esperando algo. Por esse motivo, Hinata nem se atreveu a olhá-lo. Sabia o que ele queria. Mas a resposta daquela pergunta não estava disponível ainda.
Depois da saída dos rapazes e com a pia transbordando de água, Sakura começou a mergulhar a cabeça de Ino seqüencialmente, demorando grandes intervalos com ela submersos, mesmo sob os olhares assustado de Hinata e Shizune.
- Vamos pinguça, quis beber agora agüente. – dizia sem piedade.
- Hã... Sakura, não é melhor tirar a cabeça dela de dentro da água um pouco? – disse Shizune preocupada - Ela vai sufocar assim...
- Que sufoque! Não mandei ela beber!
Ino, no momento em que recuperou parte das forças, conseguiu tirar a cabeça de dentro d’água e respirou fundo olhando para Sakura.
- Você tá louca? Quer me matar sua megera recatada? – gritou Ino nervosa.
Sakura a soltou rapidamente, fazendo com que a amiga quase caísse no chão. E diante das palavras dela, respondeu colocando as mãos na cintura.
- Recatada? Eu? Não sei de onde você tirou essa idéia...
Todas olharam para Sakura como se não entendessem muito bem o que ela acabara de falar.
- O que foi? O que vocês tão olhando? – perguntou com um sorriso malicioso na face.
- Sakura... – começou Ino ficando subitamente sóbria – Não me diga que você e o Sasuke já...
Hinata ficou extremamente corada diante da suposição de Ino, mas Sakura não apareceu se importar muito.
- Bem... - começou corando um pouco – Não que seja da sua conta, mas e se eu disser que sim?
Hinata quase perdeu o fôlego. Era a primeira vez que via alguém falar tão abertamente que poderia ter tido “algo mais” entre namorados.
- Ah, essa eu não sabia! – exclamou Shizune desapontada – Conta como foi, conta!
- Ah, isso não é assunto para se falar assim né? É intimo demais...
- Deixa de frescura e conta logo! – reclamou Ino - Como foi? Doeu? Ele foi gentil?
Quando Sakura parecia ter decidido contar sua aventura amorosa, e Hinata decidiu que ia querer ouvir tudo, mesmo que só de pensar já fizesse ela sentir uma fraqueza nas pernas, Naruto adentra a porta mal-humorado.
- Hinata, o Neji veio te pegar. – resmungou.
- Que pena! – exclamou Sakura. – Hinata tem que ir agora...
E piscando o olho para ela disse maliciosamente:
- Até mais. Outro dia nós dividimos nossas experiências amorosas.
E a garota saiu pedindo que esse dia nunca chegasse. Afinal, não teria experiências para dividir com ninguém. Nunca havia nem sequer beijado e provavelmente admitir isso para qualquer uma delas seria constrangedor demais.
O tempo havia fechado subitamente. Como estava dentro da casa da Sakura durante todo o jantar, Hinata não havia percebido que o clima esfriara e se arrependeu por ter vindo com sua roupa de jounin e não tivesse um casaco ali.
- Espero que tenha se divertido Hinata-sama. – falou seu primo quando a viu sair da casa.
Neji, como o combinado, tinha ido buscá-la a mando do seu pai, e esperava na porta. Parecia ter se recusado a entrar.
- Foi divertido. – ela respondeu depois que fechou a porta e começou a andar ao lado dele.
Só uma coisa lhe entristecia. Naruto não fora se despedir dela. Limitou-se a dar o recado de Neji e desaparecera por completo. Talvez tivesse voltado a beber com Sasuke, ou ido para casa, ela não sabia dizer.
- Me parece que tudo estava bem animado mesmo. – falou Neji depois de se afastarem um pouco do local – Eu vi Kakashi-san bem animado na sala, competindo com Sasuke quem tomava mais sakê...
- Idéia da Tsunade-sama... – explicou ela – Mas eu não bebi. – acrescentou rapidamente.
Os pingos da chuva começaram a cair lentamente. Hinata passou os braços ao redor do corpo tentando reter o calor do seu corpo que ia embora lentamente enquanto a garoa fina começara a cair. Para sua surpresa, Neji abriu um guarda-chuva quando a chuva começa a engrossar, protegendo os dois.
- Obrigado, Neji-nii-san.
- Acho que você deve estar com frio. Trouxe um casaco no caso de ter esquecido o seu. – e entregou um casaco dela.
- Você veio prevenido. – sorrindo, ela começou a vestir o casaco por cima da roupa.
- Olhei para o céu antes de vir pegá-la. Só isso.
Eles continuaram a caminhar lentamente em direção ao bairro do clã Hyuuga, observando as ruas vazias de Konoha.
- Isso me lembra quando éramos crianças... – falou Hinata com doçura – Nós adorávamos a chuva, lembra? Corríamos felizes logo que ela começava a cair, e brincávamos de pega-pega no meio da lama.
- Lembro. – disse ele com um leve sorrindo – Hiashi-sama sempre ficava irritado. Não queria que você tomasse banho de chuva com medo de que pudesse adoecer. Mas nós sempre dávamos um jeito de escapar.
- E eu me sentia culpada por isso. Afinal ele ficava tão preocupado comigo... Na época eu achava que era porque ele me amava tanto que não queria me perder. – uma sombra passou pelo rosto dela e o sorriso foi morrendo aos poucos - Mas hoje compreendo que ele tinha preocupação com o clã.
- Não julgue seu pai apenas pelas ações dele, Hinata-sama. – disse seu primo seriamente - Ele realmente a ama muito. Apenas demonstra seu amor tentando fazer com que você siga o caminho que ele acha certo.
Hinata parou de caminhar e olhou para o céu. Iluminada pela luz do poste, ela ficou observando os pingos caírem, sentindo o vento frio em seu rosto. Neji também parou e cobriu-a novamente com o guarda-chuva.
- Não é bom ficar na chuva com esse frio Hinata-sama.
Ela olhou papa o primo.
- E você Neji-niisan? Apenas me protege também por eu ser a futura líder do clã?
Neji a encarou por um momento. Depois, suspirou como se estivesse analisando o que iria falar.
- Durante muito tempo eu odiei a Souke. Até descobrir que meu pai não havia sido morto por ela e sim por sua própria vontade de salvar sua família. Percebi então, que se quisesse ser um homem tão valoroso quanto meu pai, eu também devia amar minha família a ponto de morrer por ela. Você é minha família, Hinata-sama. Sua irmã e Hiashi-sama também. Mas você é... – ele parecia estar escolhendo as palavras – A irmã que não tive. Por isso eu me preocupo com você.
Hinata sorriu. Era bom ouvir aquilo.
- Eu também sempre te considerei um irmão. Por isso, sempre achei que você fosse mais digno de ser o herdeiro do clã que eu...
- Não vamos mais falar isso. – cortou Neji - Seu pai está no esperando.
E voltaram a caminhar lentamente, tomando o rumo de casa.
Capítulo X – Borboleta abatida
Naruto olhava pela janela da biblioteca para o campinho abaixo. Já era tardinha, por isso não havia mais aula na academia. Dezenas de crianças aproveitavam o fim das aulas para brincar pelas ruas tranqüilas de Konoha. Vendo aqueles meninos e meninas se divertindo tão despreocupadamente quanto ao futuro ou com guerras e missões, uma pontada de inveja surgiu em seu coração. Lembrava de sua infância sofrida. Quantas vezes não se sentara, sozinho, debaixo daquela árvore que habitava os terrenos da academia e chorara de solidão, triste por não poder brincar com os outros, sendo esquecido pelos cantos como um vaso feio que não deveria ser exposto, tratado como uma doença contagiosa e incurável?
“Quando eu for Hokage” pensou consigo mesmo “Não permitirei que discriminem nenhuma criança dessa vila, por mais sem talento ou habilidade ela seja”.
Por isso tanto empenho naquela promoção. Por isso seu desespero para agarrar aquela oportunidade. Não ligava para status. O único interesse que ele tinha em virar jounin era a certeza que estaria mais perto de consolidar seu sonho.
Afastando-se da janela e desses pensamentos, Naruto voltou sua atenção para a mesa onde, concentrada, Hinata corrigia sua prova. Como faltavam apenas quatro dias para a realização do teste escrito, ela tivera a idéia de fazer uma espécie de “simulado” com ele.
- É muito simples – explicara – eu apenas vou fazer uma prova no mesmo nível do exame jounin, e você vai responder como se estivesse fazendo o próprio teste, sem direito a consultar nenhum livro. Assim veremos o que precisamos revisar esses dias.
Ele concordara. Demorou em torno de quatro horas para responder a prova e tinha a agradável sensação de ter acertado mais da metade das questões. Não que estivesse fácil, pelo contrario, mas tinha que admitir que se esforçara bastante e isso lhe dava uma sensação de triunfo enorme.
Muita coisa mudara nele durante essas três semanas e meia. Havia sido colocado numa situação onde fora necessário um esforço tremendo de vontade e onde fora submetido também a uma pressão psicológica diferente de qualquer outra que tivesse enfrentando. Não havia nenhum inimigo a ser vencido a não ser as barreiras de sua própria mente. Isso fez com que procurasse superar os limites que ele próprio havia se imposto durante toda sua vida.
Ainda existia a possibilidade de ser reprovado, Naruto tinha consciência disso. Sabia que a falha era um fantasma que o rodeava bem perto, e que apavorava seus sonhos. Todavia somente os frutos que lhe rendera aquele período, já valiam à pena ter tido todo esse esforço.
Um desses frutos e o mais importante foi sua proximidade recém-adquirida com Hinata.
Apesar de tantos anos como amigos, nunca tiveram a oportunidade de conviver um com o outro como agora. Até então ela era apenas mais uma companheira esforçada, mas muito tímida e que sempre procurava ficar de fora de qualquer foco de atenção. Porém, uma nova Hinata se mostrara para ele. Uma Hinata atenciosa, preocupada, inteligente e prestativa, que não media esforços para auxiliá-lo. E mais uma coisa também começava a perturbar Naruto, ainda que inconscientemente. A suavidade de seus gestos, o jeito doce de falar, o belo sorriso em seu rosto, eram impossíveis de não serem notados. Ele ainda não estava ciente, mas a presença dela despertava uma sensação diferente nele. Uma sensação misteriosa e prazerosa. Agora, suas noites eram povoadas por sonhos envolvendo a doce menina, em que ele podia sentir o calor de seus braços para depois acordar em sua cama fria e com um sentimento de frustração pulsando dentro de si, que o deixava confuso e constrangido. Algumas vezes se pegava devaneando durante as aulas olhando para aqueles pequenos lábios se movendo pausadamente, e relembrando que em seus desejos ocultos pela sombra da noite, eles estavam sempre presentes, colados aos seus.
Diante dessas novas sensações, sentia-se idiota e sujo por estar desejando tanto alguém que, em sua opinião, estava totalmente fora de seu alcance e que tudo que fizera foi ser gentil com ele. Em sua cabeça ainda amava Sakura, apesar de não sentir mais nenhuma palpitação dentro dele quando a via e nenhum ciúme quando Sasuke a tocava. Em contrapartida, adquirira uma insegurança em relação à sua “professora”, onde qualquer pessoa que pudesse desviar a atenção dela em outra direção que não fosse ele, o fazia fervilhar de ciúmes, mesmo que não reconhecesse ainda aquele sentimento.
Esses devaneios povoavam sua mente enquanto observava Hinata ainda concentrada em corrigir a prova. E sentiu uma pessoa se aproximar dele naquele momento.
- Uma bela visão, não é mesmo? – murmurou Keigo ao seu lado apontando para Hinata – Uma pena que seja de família nobre sabe, senão eu arriscava um investimento...
Um aperto no estômago foi a reação de Naruto àquelas palavras.
- Hinata não é nenhuma bolsa de valores pra você arriscar um investimento. – falou rispidamente ele, parecendo irritado.
- Wow, calma rapaz! Desculpe minhas palavras. – falou Keigo levantando as mãos em sinal de defesa - Foi só um comentário. Mas que ela é bem bonita não se pode negar.
- Sim, ela é... Mas não precisa falar dela assim... É vulgar.
- Sabe, eu acho que vocês formam um belo par. – comentou o bibliotecário malicioso - Vocês se completam perfeitamente. Ela é bonita e inteligente e você é feio e burro. Um casal feito sob medidas.
- Haha... Você é tão engraçadinho... – disse irônico.
- Mas, falando sério Naruto. Nunca rolou nada entre vocês? Eu andei ouvindo os boatos...
Os malditos boatos. Ele queria realmente saber quem andava falando aquelas coisas. Já estava com a boca cansada de negar seu envolvimento com Hinata. Todavia ele não se sentia mal com aquilo. E ficou se perguntando por que seria.
E então Naruto pensou um pouco lembrando das noites mal-dormidas em que rolava na cama tentando dormir depois de acordar pensando nela. Seu corpo reagia à presença de Hinata de uma forma que ele não entendia e aquilo o incomodava.
- Só em meus sonhos... – murmurou em resposta.
Felizmente Keigo não foi capaz de ouvir essa confissão sussurrada, pois um grupo barulhento de genins entrou na biblioteca, perturbando todos que estavam estudando.
- VOCÊS ACHAM QUE ESTÃO ONDE, HEIN?! NA CASA DA MÃE JOANA?! – berrou a plenos pulmões o bibliotecário.
A risada foi inevitável. Keigo era um cara e tanto.
Os genins correram assustados e Keigo desapareceu de sua vista. Quando olhou novamente para Hinata, ela o encarava.
- Pronto Naruto-kun. – anunciou - Terminei a correção.
O coração de Naruto deu um pulo. Não dava pra dizer pela expressão de Hinata qual fora o resultado. Ela parecia impassível olhando para ele e segurando a prova virada para si mesma.
- E então? Como eu fui? – perguntou ansioso.
Ela virou a prova para que ele pudesse ver a nota que atingira. No canto superior da prova, escrito de azul um 8,1 fora circulado de vermelho para se destacar na folha branca.
Naruto quase não podia acreditar no que via, e se não confiasse tanto em Hinata, diria que era apenas uma brincadeira sem graça. Mas ela agora sorria para ele. Um sorriso satisfeito. O sorriso mais bonito que ele já vira em sua vida.
Ainda sem acreditar no que via, ele correu em direção a ela e, com as mãos trêmulas, pegou a prova das suas mãos.
- Parabéns! – ela disse animada.
Uma alegria inesperada começou a correr nas veias dele, e quase já não podia suportar.
- YES!YES!YES!YES!YES!YES! – Naruto começou a gritar correndo pela biblioteca.
Mesmo estando muito feliz com a reação dele, Hinata o olhou preocupada. Havia outras coisas para se preocupar naquele momento.
- Naruto-kun… Menos… Senão o Keigo vai aparecer e…
Tarde demais. O bibliotecário veio rapidamente na direção deles, aparentemente furioso.
- EI SEU PROTÓTIPO DE BARBIE HERMAFRODITA, VOCÊ PENSA QUE AQUI É FILME PORNÔ PARA VOCÊ TÁ GRITANDO “YES, YES”?! CAI FORA!!!
Eles foram expulsos violentamente da biblioteca, mas isso não importava. Naruto estava feliz, tinha conseguido responder 80% da prova corretamente. Era bom demais para ser verdade. Ainda andando com a prova na mão, ele não parecia acreditar ainda que sua cabeça permitira que tirasse aquela nota.
- Hinata, você tem certeza que você não pegou leve comigo? – perguntou preocupado enquanto se encaminhavam para saída do prédio.
- Eu jamais te ofenderia fazendo isso, Naruto-kun. – falou ela convicta.
Ele colocou as mãos atrás da cabeça e sorriu.
- Hehe, quem diria... Um 8,1... – murmurou satisfeito.
Hinata também sorriu, e olhando para as mãos começou a enumerar o que tinha planejado fazer para o estudo dos próximos dias.
- Bem, agora eu fazer uma revisão abrangendo somente os pontos que você errou. – disse ela - Assim, vamos nos focar só onde você ainda apresenta dificuldades.
- Beleza! – concordou ele animado.
Chegaram à rua em frente ao prédio, onde o movimento do fim de tarde trocara as crianças por adultos apressados. Estava na hora de cada um seguir seu caminho, pois ainda havia obrigações a serem realizados naquele dia. Mas Naruto não queria se separar dela.
Não ainda.
- E-Er... Hinata... – chamou ele baixinho - Você não quer comer um ramen comigo?
Hinata corou sensivelmente ao ouvir o convite.
- E-Eu adoraria Naruto-kun, mas...
- Tem muitas obrigações no clã – completou ele – Sei, sei...
Não era a primeira vez que ele a convidava, mesmo sabendo que ela não poderia acompanhá-lo. Quem sabe depois de terminar a correria para a prova ela não pudesse ao menos almoçar com ele. E já pensava o que faria para compensá-la por tudo que fizera por ele.
- Você vai ficar chateado comigo? – perguntou ansiosa vendo sua expressão pensativa.
- De forma alguma. – negou ele sorrindo - A gente se ver amanhã então, certo?
- S-Sim.
- Então... Até amanhã. – e acenou para ela.
Naruto saiu correndo em direção a barraca de ramen, enquanto Hinata pegou o caminho de seu clã. Uma coisa de repente passou em sua cabeça. Dali a quatro dias ele faria a prova e todas as idas à biblioteca iriam acabar. Um aperto no seu coração fez com que ela afastasse esses pensamentos. Não era bom ficar imaginado o que poderia acontecer ou não. O importante era garantir que Naruto virasse um jounin. Aquela era sua meta desde o princípio. O resto... Era melhor deixar pra depois.
*******
- Acabou! Finalmente acabou! – comemorava Makoto.
- Dessa vez concordo... – falou Suzumi com um lenço no rosto.
- Como tá o nariz Suzumi? – perguntou Yumi preocupada.
- Na mesma... Parece um chafariz... Acho que sou alérgica o mofo...
O Time Três caminhava feliz depois do termino da missão apelidada por Makoto carinhosamente por “Rank L”. Quando indagado o motivo do L, se seria “livros” ele respondera:
- Não... L de “lixo”...
E era verdade que aquela missão havia sido bem incômoda, além de nenhum pouco empolgante. A única que sabia mexer um pouco no computador era Yumi, e ela quem ficara com todo trabalho de colocar os livros em dados. Para os outros dois, o trabalho tinha sido bem pior. Abri caixas, separar livros, ter que lidar com bichinhos nem um pouco agradáveis como aranhas, percevejos e baratas. E é claro, havia o mofo e a poeira. E Suzumi tinha tido a dolorosa surpresa de ser alérgica a mofo.
Agora, com tudo terminado, eles se dirigiam ao gabinete da Hokage, com o relatório feito por Yumi e assinado por Hinata e Keigo.
- Tomara que ela nos pague bem por isso... – reclamou Makoto pela milésima vez – Foi a missão mais chata que eu já vi na minha vida...
- E a mais incômoda... – murmurou Suzumi com o lenço no nariz.
- Pelo menos nós ganhamos os livros excedentes! – comemorou Yumi com uma sacola na mão.
Keigo havia deixado que eles escolhessem alguns livros que tinham muitos exemplares. Quem mais gostou dessa atitude foi Yumi, que pegara o máximo de livros que pode. Suzumi escolhera três e Makoto apenas um.
Quando estavam se aproximando do escritório da Hokage, o único menino do grupo levou a mão ao ouvido dolorosamente, deixando cair o livro que segurara.
- O que foi Makoto? – perguntou Yumi preocupada.
Todavia, as palavras ditas tão amigavelmente ressoaram em seus ouvidos como trovoadas ensurdecedoras. Acontecia de novo. Perdia o controle de sua linhagem e agora não distinguia nada do que ouvia. Percebendo isso, elas imediatamente calaram e Suzumi tirou sua jaqueta e colocou sobre a cabeça do menino, na tentativa de abafar os sons.
Makoto tinha uma linhagem sanguínea auditiva muito poderosa, todavia não tinha nenhum controle sobre ela. Isso o inutilizava em muitas ocasiões. Aqueles surtos estavam cada vez mais comuns nos últimos tempos. Talvez fosse sinal que ela aumentava seu potencial.
Todavia no momento ele só podia se contorcer de dor e esperar que aqueles barulhos ensurdecedores passassem.
Enquanto Suzumi apertava a jaqueta na cabeça do colega com uma expressão muito preocupada, o corpo dele foi relaxando. E tão rápido quanto veio, a dor de Makoto se foi, trazendo o efeito colateral daquelas crises.
Agora ele não ouvia nada.
- Algum problema? – perguntou Shizune ao ver Yumi e Suzumi agachadas perto de Makoto, e a jaqueta que ele ainda trazia na cabeça.
- Nada. – se apressou em dizer Yumi – Só queremos ver a Hokage e entregar o relatório.
Shizune olhou um pouco desconfiada para eles, mas apenas acenou para que eles a acompanhassem. Makoto se levantou e devolveu a jaqueta a Suzumi. Parecia constrangido. As garotas se entreolharam. Havia prometido a Hinata que jamais falariam nada sobre aquilo a ninguém e tentavam não perturbar Makoto quanto à situação.
Depois de reportarem a missão para a Hokage, que parecia muito satisfeita, tiveram a boa noticia que teriam três dias de folga.
- Vocês merecem! – disse ela rindo – E precisam se recuperar... Passe no hospital Suzumi e veja a Sakura para ela te examinar quanto a essa alergia.
- Hospital? Nunca! – disse a menina horrorizada.
Tsunade suspirou.
- Então venha até aqui...
Depois de resolvido o problema do nariz de Suzumi, Tsunade ficou observando a porta por onde os meninos haviam acabado de sair. Eles eram um time problemático, mas muito promissor. Ressentia-se por ter dado aquela missão tão insignificante para eles e de agora os dispensar por três dias. Mas Naruto precisava de Hinata no momento. E apenas poucos dias não ia atrapalhar tanto assim. Pelo menos ela assim esperava.
E dando de ombros com a certeza que fizera a coisa certa, voltou a trabalhar.
*********
Quando se aproximou da entrada de seu clã naquela tarde, Hinata teve uma imensa surpresa. Parado à porta, seu pai a esperava.
Desde pequena, ela aprendera a decifrar cada expressão facial dele, e assim tinha como se preparar para qualquer coisa. Mas naquela hora, por algum motivo, Hinata não soube exatamente o que pensar. Não havia nada que pudesse ser lido na face de Hyuuga Hiashi.
- Que bom que você chegou mais cedo hoje. – disse ele - Precisamos conversar. Entre.
Hinata obedeceu sem contestar. Pairava um ar de tensão quando ela entrou em casa, pois tão logo eles adentraram a sala de chá, Neji e Hanabi que estavam ali se levantaram e saíram do ambiente.
- O que o senhor quer falar comigo pai? - perguntou depois de depositar sua mochila no canto da sala e se acomodar em frente ao líder do clã Hyuuga.
- É sobre você e Uzumaki Naruto. – falou Hiashi sem rodeios.
O estômago de Hinata se contraiu dolorosamente diante daquelas palavras.
- C-Como a-assim p-pai? E-Eu n-n-não estou entendendo...
- Então irei dizer em poucas palavras de modo bem simples para que possa entender: eu não quero que você volte a ensinar a Uzumaki Naruto. De preferência, que não o veja mais.
Não havia como ela dizer que não entendera. Seu pai fora muito claro. Estava simplesmente proibindo-a de ver Naruto.
Todavia, diante disso não poderia ficar calada.
- Mas por quê? – indagou surpresa - Só faltam três dias para a prova dele, eu não posso deixá-lo agora! Ele está contando comigo.
- Exatamente por faltarem três dias. Ele pode se virar sem você.
- Q-Qual a razão disso agora pai?
- Você já deveria saber. Eu não sou idiota. Eu sei o que você sente por ele.
Hinata enrubesceu drasticamente. Hiashi a encarou firmemente para não deixar dúvidas de que sabia exatamente do que estava falando.
- S-Se o senhor e-está se referindo aos boatos pai, eles...
- São falsos, eu sei. Vocês não tiveram nenhuma espécie de relacionamento além de amizade. Você me subestima ao achar que não sei seus passos, Hinata.
- Então por quê...?
- Muitos membros do clã me questionaram a veracidade dessa informação. Mostraram-se indignados e com razão. Como futura líder, tem que mostrar uma postura que vem faltando em você nas últimas semanas. – e elevando um pouco a voz, Hiashi continuou - Francamente, pegando os livros do clã e tirando eles dos nossos domínios! Se rebaixando a uma reles professora e deixando suas obrigações com sua família em segundo plano! – e sem se compadecer com a expressão de sofrimento dela, concluiu com desprezo - Hinata, eu nunca esperei muito de você, mas assim já é passar dos limites em incompetência!
As lágrimas nublavam os olhos da garota. Não sabia o que dizer ou o que revidar. Apenas ouvia as reclamações de seu pai de cabeça baixa, submissa. Do outro lado da porta Neji ouvia tudo com dor no coração. Era muita maldade colocar alguém como Hinata no canto da parede. Era uma luta de forças desiguais. Mas ele não podia fazer nada. Apenas observar. Mesmo que sua obrigação fosse proteger Hinata, no momento, diante de Hiashi, ele estava com as mãos atadas.
Sem se abalar com as lágrimas derramadas por sua filha, Hiashi falou em tom decidido alguns momentos depois.
- Você irá hoje mesmo dizer a ele que não poderá mais continuar com essas aulas. – comunicou resoluto - Como você mesma falou, faltam apenas três dias para a prova, ele não irá se importar.
- Mas pai... – falou em tom de súplica - Ele conta comigo...
Hiashi a observou com uma mistura de indignação e pena.
- Hinata, você realmente mantêm a ilusão que poderá ficar com ele? Em algum momento ele ao menos demonstrou retribuir seus sentimentos?
Hesitante, ela negou com a cabeça. Não tinha forças para falar.
- Viu? Estou apenas pensando em seu bem. – constatou ele - Se continuar com isso, vai apenas fazer com que crie ilusões a respeito desse rapaz. Quando você se afastar dele, vai perceber que era tudo uma paixão insignificante. E se quiser, casará com alguém da Souke, como deve ser. Agora, procure Uzumaki Naruto e diga a ele o que eu te mandei.
- E-E-Eu n-n-não vou c-conseguir... – balbuciou Hinata já em prantos.
- Então eu irei com você. Garantirei que diga tudo que deve. Agora, enxugue esse pranto vergonhoso. Assuma a postura como herdeira que você é!
************************
Depois da terceira tigela, Naruto olhou para Ichiraku com um grande sorriso.
- Puxa tio, o senhor caprichou hoje. O ramen ta melhor que os outros dias!
- Haha, eu acreditaria se não ouvisse você dizer isso todos os dias desde que aprendeu a falar! – gracejou ele.
Todos os presentes começaram a rir. No caminho para o Ichiraku ramen depois que deixara Hinata, ele encontrara coincidentemente Lee, Shikamaru e Chouji. Agora, para comemorar a saída do primeiro do hospital, eles estavam comendo ramen e colocando as conversas em dias.
- Se sente melhor Lee? – perguntara Naruto.
- Claro! Ninguém trata melhor minhas feridas que a Sakura-san! – confirmou ele sorrindo.
- E seu time? – quis saber Chouji.
- Ah, eles ficaram com a parte mais fácil. Hanabi e Kasuma nem tiveram problemas... Mas o Tasuki vai tirar o gesso do braço amanhã!
- Cuidar de um time deve ser um saco... – falou Shikamaru fechando os olhos.
Naruto sorriu lembrando do time de Hinata. Achava que trabalhar com eles era, no mínimo, estimulante. Eles estavam sempre muito ativos. Invariavelmente a conversa enveredou pelo teste de Naruto, e ele acabou admitindo que se sentia confiante em relação à prova escrita.
- Então o Naruto-san acha que vai passar na prova? – indagou Lee diante disso – Fico muito contente! Em breve você terá seus próprios alunos e eles te admirarão e lhe pagarão ramen todos os dias – exclamou fazendo a pose de nice guy.
- Bem – começou Shikamaru – Fazer prova é um saco. Mas se é isso que você quer... Fique a vontade. Mas vou avisando, ser jounin é muito cansativo...
- Obrigado pelo aviso, Shikamaru, mas eu não tenho medo de me cansar! Eu vou com certeza passar na prova! – e abaixando um pouco a voz acrescentou – Nem que seja para recompensar o esforço que Hinata fez por mim...
Lee pegou a segunda tigela de ramen e perguntou animado para Naruto:
- Ah, é mesmo! A Hinata-chan estava te ensinado, certo? A Sakura-san me falou enquanto eu estava internado.
- É. – confirmou sorrindo - Ela é uma ótima professora.
- É verdade que vocês estão namorando? – perguntou Chouji sem cerimônias.
Naruto suspirou.
- Todo mundo me pergunta isso... E eu sempre respondo a mesma coisa. Não. Eu e Hinata não estamos namorando, ficando nem nada que envolva contato corporal. Nós apenas estudamos juntos. Só isso.
- Que sem graça... – disse Chouji enchendo a boca – Eu preferia que você ficasse com ela que o Kiba.
Os ohashi de Naruto pararam a meio caminho de sua boca.
- Como assim, o Kiba? – perguntou Naruto surpreso.
- Ué? Você não sabe? - se surpreendeu Chouji colocando mais ramen na boca - O Kiba é apaixonado pela Hinata há anos...
Agora fazia sentido todas às perseguições de Kiba a Hinata nos últimos dias. Uma raiva diferente se apossou de Naruto.
- Só que há um “porém”. – disse Shikamaru - Hinata não o corresponde... Acho que ele é o único que não percebeu ainda.
- Claro que não corresponde. Hinata gosta de outra pessoa. – falou Lee olhando significativamente para Naruto.
Naruto quase engasgou com o ramen que estava em sua boca. Tossindo ele tentou desesperadamente falar sem ter muito sucesso.
- O que cof cof cof cof!!!
- Naruto, engula primeiro e fale depois. – disse Shikamaru dando umas tapinhas nas costas dele
Depois de se recuperar do engasgo, Naruto conseguiu falar.
- O que você disse? A Hinata gosta de alguém? Quem? – isso por algum motivo lhe interessava.
Lee olhou para ele surpreso.
- Você nunca percebeu nada, Naruto-san? – perguntou enquanto Chouji e Shikamaru riam da cara do amigo
- Percebeu o que sobrancelhudo? – quis saber angustiado. De quem Hinata gostava?
- Bem é que...
- Hã... Com licença...
Para a surpresa de todos, principalmente de Naruto, a voz que interrompera a conversa pertencia a Hinata que apareceu no local acompanhada de ninguém menos que seu pai. Um constrangimento se apossou de todos ali, que naquele momento falavam sobre a menina.
- Hã.... Naruto-kun... – falou ela insegura e encostando os dedos indicadores um no outro - Eu gostaria de falar com você... É rápido... Se possível...
Havia algo estranho, Naruto concluiu. Era verdade que Hinata nunca dissera nada olhando nos seus olhos, mas também nunca manteve a cabeça tão baixa quanto aquele momento. A presença de seu pai também era excepcional. A única vez que Naruto o vira fora no dia do Exame chunin há pelo menos seis anos atrás.
- Ok, vou só pagar aqui... – disse ele.
Sob o olhar curioso dos amigos, Naruto acompanhou Hinata e seu pai até um lugar mais sossegado e esperou o pronunciamento da menina.
- O que você quer falar comigo, Hinata? - perguntou preocupado com a palidez que se apossava do rosto dela.
O momento era aquele. Sua ultima oportunidade de se declarar a Naruto havia se perdido há muito tempo. Como Kurenai tinha alertado há tantos dias atrás, ela não podia esperar demais. E, covarde, não seguira o conselho. Agora estava prestes a romper o único fio que um dia a ligara a seu grande amor e que tinha sido tecido com todo carinho. Iria rompê-lo para fortalecer as amarras que haviam sido atadas a ela no momento em que nascera na Souke, no momento que viera ao mundo como primogênita. Iria destruir seu sonho infantil de ser amada por aquele garotinho que, como ela, era rejeitado por todos.
Tentou falar, mas sua voz simplesmente não saia. De cabeça baixa, as contrações do seu estômago vieram para aumenta ainda mais seu pânico. Começou a respirar com dificuldade enquanto tentava pronunciar qualquer palavra. Todavia, sabia que se abrisse a boca, começaria a vomitar novamente.
Hiashi e Naruto esperavam o pronunciamento de Hinata. Naruto, sem entender o que se passava, preocupava-se com a tonalidade que adquiria o rosto da garota e a expressão de sofrimento em seu rosto. Ele já começava a se desesperar também. Hiashi, por outro lado, via tudo com indiferença e até aborrecido por não está sendo prontamente atendido. E quando via que Hinata nada falaria, decidiu ele mesmo por um fim naquele teatro.
- Bem, já que ela não parece estar disposta a dizer, eu mesmo o farei. – sentenciou Hiashi dirigindo o olhar para o confuso Naruto.
“Não!” gritou dolorosamente o interior de Hinata.
Mas quando abriu a boca para protestar, sentiu um gosto vivo de sangue. Levou a mão à boca, e com a outra apoiando no estômago em um ato desesperado de conter as contrações, viu que não podia continuar ali. E fez a coisa mais louca que veio em sua cabeça.
Fugiu.
Começou a correr com todas as suas forças para o mais longe possível de seu carrasco.
- O quem deu nela?! – surpreendeu-se Naruto. E sem esperar por uma resposta, começou a correr atrás da garota gritando seu nome – HINATA!HINATA!
Hiashi nada fez para impedi-lo. Tinha agora que recorrer a outro método para separá-los.
Hinata correu com todas as suas forças, até não agüentar mais. Parou se curvando de dor em um local afastado da vila. Não podia mais segurar. Caindo de joelhos, apoiou as mãos no chão e deixou o sangue aflorar por sua boca, misturado com o conteúdo do seu estomago e as lágrimas. Sentia-se patética. Impotente. Fracassada. Inútil. Triste. E principalmente sozinha. Muito sozinha.
Naruto não demorou a achá-la. Hinata estava vomitando sofregamente e uma grande mancha de sangue coloria a terra em um tom macabro. Ele se aproximou devagar se sentindo mal pelo estado em que ela se encontrava naquele momento.
- Hinata...- chamou timidamente.
- VÁ EMBORA! – gritou desesperada.
Mais um espasmo atingiu seu corpo e ela dessa vez regurgitou apenas sangue vivo pelo chão. Já era humilhante demais aquela situação sem testemunhas. A presença dele ali só parecia piorar tudo.
- Hinata, eu vou te levar para o hospital... – disse ele com a preocupação aumentando cada vez mais - A Vovó Tsunade vai cuidar de você.
- EU JÁ MANDEI VOCÊ IR EMBORA! – gritou ela com as lágrimas lavando seu rosto - NÃO VOU A LUGAR NENHUM!
Essas palavras doeram profundamente em Naruto. Mas ele não foi embora. Nunca vira Hinata tão desesperada e abatida como naquela hora. Nem no Exame chunin, quando quase fora morta por Neji ela perdera totalmente o controle sobre suas emoções.
Hinata agora tremia compulsivamente. Estava sofrendo muito e seu corpo parecia que não ia agüentar mais aquilo. Com as pernas tremendo, ela tentou se levantar, em vão e caindo novamente.
Que se danasse as razões de tamanho desespero! Foi o que Naruto pensou se encaminhando até onde ela estava. Ele a levantou sem dificuldade e a segurou forte nos braços. Olhando para a poça de sangue que se formara sob o corpo dela, ele murmurou:
- Agora entendo sua anemia... Seu problema não era falta de alimentação, mas colocar ela pra fora. Tanto que deve ter ferido sua garganta... Ou o estômago.... – e olhando firmemente para ela falou decidido - Vou levá-la para a Vovó Tsunade agora! Ela dará um jeito nisso.
- Não! – protestou Hinata tentando se livrar dos braços que a seguravam – Jyuuken! – ela exclamou tentando ataca-lo sem sucesso.
- Ai ai... – murmurou segurando a mão dela - Você sabe o quanto dói ter os tenketsu pressionados? Acho que vou ter que levá-la a força mesmo. E não faça essa cara - acrescentou quando ela o olhou, abismada - Eu vou te levar sim! E amarrada!
Naruto segurou as mãos de Hinata para trás e, tirando sua bandana usou-a para amarrar as mãos da garota. Ela tentou resistir, impulsionando o corpo para frente. Mas não tinha forças para competir com ele naquele momento.
- Pronto, agora você vai quietinha... – disse quase que carinhosamente.
- Naruto-kun... Por favor... Não... – pediu ela evitando olhá-lo.
Naruto também perdera a paciência.
- Não faço a mínima idéia do que esta acontecendo, mas se você pensa que eu vou deixar você aqui nesse estado só por que parece que está em uma crise aguda de TPM, tá muito enganada! – e acrescentou decidido - Depois você vai me contar que coisa louca foi essa, mas por hora me contento em te levar pro hospital!
E colocando ela em seu ombro, começou a se dirigir para onde estava Tsunade.
Capítulo XI – Assumindo erros
Naruto correu o mais rápido que suas pernas permitiam, mas parecia que o escritório de Tsunade tinha se afastado propositadamente para impedi-lo de alcançar-lo. Hinata se remexia em seu ombro, e parecia estar mais preocupada com a multidão, de olhos que os observavam que com a dor que tomava conta de seu corpo.
- Naruto-kun... – falou ela com a voz falhando - Ponha-me no chão... A vila toda está olhando...
Mas ele não deu ouvidos aos apelos dela. Que olhassem! Não ia de modo algum permitir que Hinata tocasse com os pés no chão antes de estar frente à Hokage. Ela dera mostras de não estar preocupada com a saúde, e ele não iria permitir que isso continuasse.
Então, com ela sobre seu ombro, continuou transpondo toda Konoha sem se importar com os comentários que deixava para trás.
- Viu? – falou Tanaka, o dono da livraria quando viu Naruto passando com Hinata no ombro em frente à sua livraria – Eu disse que eles eram namorados e você não acreditou em mim...
Quando estavam de frente ao prédio onde ficava o escritório da líder da vila, uma sombra surgiu em frente a ele, obstruindo o caminho. Por um momento, Hinata pensou que fosse seu pai que viera tirá-la dos braços de Naruto, até que este exclamou:
- Sasuke, sai da frente!
- Não sem antes você me explicar o que significa isso. Por que você está com a Hinata nos ombros como se fosse um saco de batatas e ainda por cima amarrou as mãos dela? Você não tem senso não? Hiashi-sama me mandou pega-la de volta e leva-la até o clã.
- Saia da frente Sasuke – pediu ele desesperado – A coisa é seria! Hinata não está se sentindo bem. Preciso levá-la até a Vovó Tsunade para que ela examine-a.
- Então por que você a amarrou? Se ela não está bem, deve querer ver a Hokage-sama tanto quanto você...
Hinata começou a tossir fortemente nos ombros de Naruto. Estava lutando contra a vontade de vomitar e parecia estar se sufocando com o sangue que ainda escorria de sua boca. Sua pele estava muito pálida e o coração batia acelerado.
- SASUKE, EU TÔ FALANDO SÉRIO, PORRA! SE VOCÊ NÃO SAIR DO MEU CAMINHO VAI SER PIOR PRA VOCÊ!
- E o que você pretende fazer só com uma das mãos? – indagou pegando sua espada Kusanagi.
Gostava de Naruto e ele era seu melhor amigo. Mas não podia permitir que ele arranjasse briga com o maior clã de Konoha. Tinha que levar Hinata de volta para sua família.
- Eu só preciso de uma mão pra acabar com você! – bradou Naruto e começou a formar o rasengan na mão livre – Já fiz uma vez antes, farei de novo!
As tosses de Hinata pioraram e seu corpo foi sacudido violentamente por elas. O rasengan de Naruto vacilou por um momento. Não podia demorar mais. Deixando o chakra da mão se evaporar, ele fez o que o amigo menos esperava.
- KAGE BUSHIN NO JUSTU!
E se transformou em dezenas de Narutos com Hinatas nos ombros. Antes que Sasuke pudesse ativar o sharingan para descobrir o verdadeiro, Naruto fugiu das vistas perigosas do amigo.
Tsunade, naquele exato momento, estava assinando uma pilha de documentos. Ao lado dela, Shizune com Tonton nos braços supervisionava o trabalho.
- Tsunade-sama, ainda falta muito, se apresse. – dizia a secretária andando de um lado para o outro da sala - Temos que mandar essas ordens ainda hoje...
- Não tente me ensinar meu trabalho Shizune! – falou chateada – Caso você tenha esquecido eu sou a...
- VOVÓ TSUNADE!!!!
Abrindo a porta violentamente, Naruto correu até em frente à mesa da Hokage, pondo Hinata no chão. A garota tinha piorado, pois não sustentava o próprio peso do corpo. Quando foi colocada no chão, simplesmente deslizara até o piso, onde ficou sentada sobre as pernas. Seu estado estava lastimável. Toda parte da frente de sua roupa estava manchada de sangue e ela respirava com dificuldade.
- O que significa isso Naruto? – perguntou olhando assombrada para o estado em que Hinata se encontrava.
- Ela não está bem, Vovó Tsunade! – falou ele apavorado.
- Isso deu pra reparar sua besta, eu estou falando o que provocou isso!
- Se eu soubesse não tinha vindo até aqui né?
Tsunade se levantou rapidamente de sua mesa e foi até onde estava a garota. Colocou a mão em sua testa como Sakura tinha feito na outra vez, e uma expressão preocupada surgiu no seu rosto.
- E então? – perguntou o garoto ansioso.
Ela pensou por um momento e sua expressão estava tensa.
- Me ajude a levá-la até aquele sofá. Preciso que ela esteja deitada para poder examiná-la melhor.
Pegando cuidadosamente a garota nos braços, Naruto a levou até o lugar designado por Tsunade. Chegando lá, a Hokage rapidamente despiu a parte de cima da roupa de Hinata, fazendo com que seus seios ficassem a mostra. Naruto enrubesceu drasticamente antes que Shizune colocasse as mãos por cima de seus olhos.
- Seja um cavalheiro e vá esperar lá fora. – pediu ela.
Ele saiu relutantemente da sala, mas ficou sentado em frente à porta, no chão, sem querer ir embora antes de saber o que acontecia lá dentro. E depois que Hinata se recuperasse, iria perturbá-la até que ela contasse exatamente o que estava acontecendo. Não podia ignorar toda situação. O que ela queria lhe dizer? Por que seu pai fora junto? Por que quando ela parecia não querer falar, ele tomou a frente? Tudo aquilo estava dando voltas em sua cabeça, deixando-o confuso e irritado. Tinha certeza que, se não fosse à vontade de saber do estado da amiga, já teria ido até o clã Hyuuga para tomar satisfação com aquele senhor.
“Mas ele vai me falar tudo o que acontecendo! Ele pode ser líder e tal, mas não deve tratar Hinata daquele jeito!”
Pouco tempo se passara que estava ali quando Sasuke apareceu novamente. Parecia um pouco aborrecido com o acontecido entre os dois, mas não falou nada imediatamente. Colocou-se em frente ao amigo que estava sentado no chão e esperou.
- O que você quer passarinho? – perguntou Naruto irritado.
- Saber o que exatamente está acontecendo. – respondeu.
- Então somos dois.
Nenhuma palavra fora dita depois disso. Sasuke sentara no chão junto a ele num silencioso companheirismo. Não pediu desculpas, não encorajou, não fez nada. Exceto dar sua companhia. Mas era tudo aquilo que Naruto precisava naquele momento em que suas emoções estavam desordenadas e à flor da pele.
Meia hora já tinha transcorrido quando Tsunade saiu. No mesmo instante, uma maca chegava onde Shizune, junto com outros dois ninjas médicos colocaram Hinata, agora inconsciente e a tiravam dali. Naruto fez menção que iria acompanhar, mas foi detido pela Hokage.
- Eu preciso falar com você. – e olhando para Sasuke disse – E você, vá buscar Sakura urgentemente. Diga a ela que preciso dela sem falta para ontem.
- Sim, Tsunade-sama. – e o anbu desapareceu em seguida.
Naruto acompanhou Tsunade de volta a seu escritório. Ele reparou que no lugar onde Hinata estivera deitada havia muito sangue. Mas nada perguntou. Esperou o pronunciamento da Hokage.
- Naruto – começou ela – Você sabe o que provocou essa reação na Hinata?
- Bem, eu estava comendo ramen com o Lee, o Chouji e...
- Me poupe desses pequenos detalhes – interrompeu – eu quero saber sobre o que houve com a Hinata.
Naruto suspirou tentando controlar seus nervos, mas sentiu que suas mãos ainda tremiam.
- Eu tava comendo quando ela chegou com o pai e...
- Hiashi? – interrompeu ela novamente.
- Que eu saiba ela só tem um pai – respondeu irritado com as interrupções.
-Apenas prossiga.
- Então não me interrompa mais! Como eu estava dizendo, a Hinata chegou pedindo para falar comigo. Só que parece que ela não conseguia falar. Aí o pai dela se intrometeu dizendo que se ela não falasse falava ele. – nesse momento a voz de Naruto ficou mais aguda enquanto ele falava gesticulando com as mãos - Aí ela surtou! Começou a correr que nem uma louca! Até que começou a vomitar tudo. – e levando a mão à cabeça continuou - Acho que ela deve ter ficado nervosa por algum motivo e começado a passar mal. Eu não faço a mínima idéia do que seja... – concluiu deixando os braços penderem ao lado do corpo, em uma atitude derrotada.
“Mas eu sim” pensou Tsunade “Hiashi... você quer fazer com sua filha exatamente o que fizeram com você...”.
Afastando esses pensamentos, ela perguntou:
- Ela vomitou sangue?
- Muito.
Tsunade bateu com a caneta na mesa. A situação estava pior do que ela esperava.
- Naruto, você já ouviu falar em gastrite nervosa?
- Não. – respondeu ele apressadamente - O que é?
- É um problema estomacal que aparece quando somos submetidos a uma pressão psicológica muito forte. Os sintomas variam de pessoa para pessoa. Normalmente é só uma dor de estomago, mais incômoda que perigosa, mas pode evoluir para casos mais graves.
- Esse é problema de Hinata?
- Quem dera que fosse. Como eu disse, a gastrite nervosa pode evoluir para coisas mais perigosas. Como a úlcera, por exemplo. A úlcera é uma ferida no estomago decorrente da gastrite nervosa. Quando está num estágio avançado, ela sangra, e o doente vomita sangue. Se ele não fizer isso, poderá morrer com o sangue coagulado dentro do corpo.
Naruto rapidamente vira-se para o sofá banhado de sangue.
- Então...
- Exatamente. Hinata está com uma úlcera. - e suspirando, cruzou as mãos na frente do rosto - Mas não é só isso. Suponho que ela tenha vomitado muito nos últimos tempos, porque seu esôfago está comprometido também. Ele está se desmanchando. Preciso fazer uma cirurgia urgentemente nela para reparar todo seu tubo digestivo.
- ENTÃO POR QUE VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI?! – gritou o rapaz desesperado - VAI CUIDAR DA HINATA, VAI!!!!
- Acalme-se! Por que você acha que eu mandei chamar a Sakura? Só confio nela e em Shizune para fazer essa cirurgia.
Naruto sentiu um aperto no coração. Se Tsunade mandara chamar Sakura e Shizune para operar Hinata era por que o caso era sério.
- Ela é complicada? Essa cirurgia...
- Toda cirurgia é. Mas preciso somente pressionar meu chakra para dentro do corpo dela e assim estimular as células delas a se regenerarem. Como você deve ter estudado nesses dias sobre jutsus médicos, suponho que saiba do que eu estou falando.
Ele afirmou com a cabeça.
- Que bom. Agora vá pra casa. – mandou se levantando – Já é noite e só faltam quatro dias para prova. Você com certeza não quer se estressar e...
- De forma alguma eu saio daqui! – avisou Naruto.
Tsunade olhou surpresa para ele.
- Como?
- De forma alguma eu deixo esse hospital sem antes saber que a Hinata está bem e fora de perigo!
- Sua presença aqui não será útil Naruto. – falou aborrecida – Já fez a sua parte. Vá para casa.
- Não vou!
A Hokage suspirou.
“Que menino difícil...” pensou ela.
- Tá bom, mas não fique no meu caminho. – e como se só lembrasse daquilo agora, ela pediu – Aproveite, procure os alunos de Hinata e peça pra algum deles avisar ao clã Hyuuga o que está acontecendo.
- Sim, Vovó Tsunade.
- Agora desapareça da minha vista!
Não foi difícil achar o Time três. Na verdade, nem precisou procurá-los. Pouco depois que saíra do escritório da Hokage, encontrou com eles, ou pelo menos com dois deles que vinham correndo em sua direção.
“Ótimo!” pensou satisfeito “Não precisarei demorar muito pra ir até o hospital...”
Todavia, logo que viu Naruto, Makoto partiu pra cima dele, tomado de raiva. O rapaz estranhou o comportamento do menino que começou a gritar:
- SEU FILHO DE UMA MÃE! O QUE VOCÊ FEZ COM A HINATA-SENSEI?! – e atacou Naruto com uma voadora.
Naruto segurou facilmente o pé do garoto e o jogou em cima de Suzumi que vindo atrás do garoto, já fazia selos no intuito de também ataca-lo. Atingida pelo companheiro, a garota não conseguiu completar o ataque.
- O que vocês pensam que estão fazendo? – perguntou Naruto irritado.
Makoto já se levantara e olhava pra ele com um ódio muito grande para seu pequeno corpo. Ele parecia realmente acreditar que podia lutar com Naruto.
- Venha e lute contra mim, em vez de ficar surrando a sensei dos outros! – bradou o menino sacudindo os punhos para ele.
Aquilo só podia ser brincadeira, pensou Naruto. Ele, atacar Hinata? De onde aquele moleque tinha tirado essa idéia estúpida?
- Do que você está falando, pirralho?
- Não se faça de desentendido, seu falso! – agora quem gritara fora Suzumi - Eu achei que você gostasse da Hinata-sensei, mas você tava maltratando ela hoje que eu vi!
Foi então que Naruto compreendeu. Os garotos tinham visto ele trazendo Hinata no ombro e pensavam que fora ele que a ferira.
- Não é nada disso que vocês estão pensando. – falou rapidamente - Eu não fiz nada contra Hinata!
- Mentiroso! – exclamou a ruivinha – E eu achei que podia admirar você. – completou com a voz magoada.
Naruto realmente não sabia o que fazer.
- Olhe é realmente um mal entendido... – tentou explicar.
Mas os dois adolescentes não esperaram que ele completasse a frase. Ambos passaram a atacá-lo usando kunais e golpes de taijutsu. Aquilo já estava irritando Naruto. Os ataques dele estavam desengonçados e sem força. Com certeza a raiva era tanto que eles não conseguiam raciocinar direito durante a luta. Ele não levava a sério, obvio já que temia machucar seriamente os dois.
Quando pensou que precisaria ser um pouco mais ríspido para poder parar os dois genins, foi poupado do trabalho pela chegada de Yumi. Quando seus colegas já iam atacar novamente, ela fez uma junção de selos e colocou as duas mãos no chão, de onde saíram dois pequenos redemoinhos de água, que apesar de não ferir os colegas fez com que eles parassem, e ficassem totalmente encharcados.
- Será que dá pra parar a palhaçada? – falou a menina seriamente impressionando Naruto afinal ela era sempre tão calada - Vocês não estão vendo que o Naruto-san ta tentando dizer alguma coisa?
- Mas, Yumi, ele atacou a nossa sensei! – revidou Suzumi.
- Acorda Suzumi, a Hinata-sensei não foi atacada! Ela apenas passou mal e o Naruto-san a trouxe pro hospital!
Um silêncio se abateu sobre os dois genins. Suzumi olhou para Makoto e depois para Yumi e abaixou os punhos. Mas o único menino do time parecia não concordar.
- Mas ela vinha amarrada que eu vi! – argumentou Makoto.
- Ela vinha amarrada por que não queria vir para o hospital. – falou Naruto aproveitando que a intervenção de Yumi parara um pouco seus colegas.
Os três o fitaram surpresos.
- Essa parte eu não sabia... – confessou Yumi.
- Por que Hinata-sensei não quis ser atendida, se ela tava passando mal? – quis saber Suzumi.
- E eu vou lá saber! – falou ele já nervoso com a falta de respostas – Eu to tentando descobrir também. Ela não me explicou...
Makoto e Suzumi baixaram as cabeças, envergonhados.
- Muito bem. – falou Yumi com as mãos na cintura assumindo a postura de líder – Agora peçam desculpas a Naruto-san!
- Desculpa Naruto-san. – falaram juntos.
- Não tem problema. No lugar de vocês eu faria o mesmo – respondeu rindo.
Eles riram junto com Naruto. Era realmente uma situação muito constrangedora.
- Oh, agora lembrei. A Vovó Tsunade tinha me pedido pra dizer a vocês que fossem lá no clã Hyuuga avisar a eles que Hinata está internada e vai ter que passa por uma cirurgia.
- É tão grave assim? – se surpreendeu Makoto.
- Sim. – quem falou foi Yumi – Eu passei no hospital quando me separei de vocês e falei com Shizune-san.
Naruto ficou mais uma vez surpreso. Enquanto Suzumi e Makoto logo o culparam por tudo, Yumi preferiu pesquisar um pouco e descobrira a verdade. Com certeza ela seria uma perfeita ninja.
- Ah, mas nós temos que ir mesmo lá ao clã? – perguntou o garoto fazendo uma careta - Eu não gosto da cara do pai da Hinata-sensei...
- Makoto! Olha o respeito!
- Procurem o Neji, então. – aconselhou Naruto - Ele será mais receptivo com vocês tenho certeza.
- Obrigada, Naruto-san! – agradeceu Yumi se curvando - Até mais!
Tão logo ficou sozinho, Naruto pegou a direção do hospital. Precisava de noticias de Hinata para se sentir mais calmo. A interferência do Time três só servira para deixá-lo mais irritadiço e agoniado.
“Será que Sakura já chegou lá? Será que a Vovó Tsunade já começou a cirurgia? Tomara que tudo ocorra bem...” pensou enquanto se encaminhava para lá.
Quando chegou ao Hospital de Konoha, Sasuke já estava lá e o esperava na entrada. Tinha os braços cruzados e o olhou irritado.
- Você demorou. Pensei que estivesse preocupado com a saúde de Hinata.
- E estou. – respondeu Naruto fechando a cara - Apenas tive um pequeno contratempo no meio do caminho.
- Que espécie de contratempo?
- O Time três. Eles me atacaram pensando que eu tinha feito aquilo com Hinata.
Sasuke riu irônico.
- Você se atrasou porque três genins te atacaram?!- debochou - Seu estudo parece que pode até ter ajudado seu cérebro, mas parece que danificou outras partes de seu corpo.
- Vai perturbar outro Sasuke. Agora não estou para brincadeiras. – falou sério.
Sasuke se calou diante da expressão de Naruto. Ele realmente estava sério e parecia estar sofrendo muito. Com um aceno, chamou Naruto para entrar no hospital e se dirigiu para a recepcionista.
- Em qual sala de cirurgia está Hyuuga Hinata? – perguntou.
- Sala três - revelou ela – Me acompanhem.
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O Time três se entreolhou diante da casa principal dos Hyuuga. Como era o Time de Hinata, não tinha empecilhos para irem lá sempre que precisavam. Mas naquela hora era diferente. Ela não estaria lá para recebê-los. E a moça de cabelos longos que falava com eles parecia analisá-los profundamente.
- Então... - falou Umi - Vocês querem ver o Neji-sama...
- Isso mesmo. – falou Yumi que parecia ser a única que conseguia pronunciar alguma palavra ali.
- Vou ver se ele pode atender vocês...
- Posso sim. – disse Neji chegando naquele exato momento.
Mesmo que eles já tivesse se visto outras vezes, os meninos se encolheram imediatamente quando o viram. Ele era imponente e transmitia um poder que eles não sabiam explicar. Umi também parecer sentir isso, pois imediatamente se curvou e saiu do local.
- Se vocês estão procurando pela Hinata-sama – começou Neji – Ela não es..
- Sabemos que ela não está. – interrompeu Makoto apressado – Por que ela está no hospital.
Os olhos de Neji se arregalaram diante da revelação.
- Como? – murmurou incrédulo.
E Yumi pôs a contar tudo que havia acontecido naquele inicio de noite. Depois de terminado o monólogo, os três ficaram calados esperando qual seria a reação de Neji.
- Esperem um minuto. – falou ele entrando rapidamente na casa.
Em poucos minutos Neji retornou trazendo uma pequena maleta lilás.
- Quem está realizando a cirurgia da Hinata-sama é a Hokage certo? – perguntou.
- Sim. – responderam os três em uníssono.
- Então irei com vocês até lá para ficar com a Hinata-sama.
Quando eles estavam se preparando para deixar os domínios do clã, um vulto surgiu na frente deles caminhando lentamente.
- Para onde você vai, Neji?
Era Hiashi.
- Vou para o hospital de Konoha – esclareceu ele – Para cuidar de Hinata-sama.
Hiashi apertou os olhos, contrariado.
- Não. Você não vai. – foram as palavras dele.
Se em algum momento o coração de Neji disparou ou ele se sentiu irritado ou incomodado com a ordem, não deu mostras disso. A única coisa que denunciou seu estado de espírito foi a repila seguinte:
- Hinata-sama está doente e passando por uma cirurgia nesse momento, Hiashi-sama. Ela precisa de alguém que cuide dela.
- Ninguém no clã tem tempo para ser babá da minha filha. – falou ele irritado – Amanhã quando eu tiver tempo, se eu tiver tempo – salientou – Irei eu mesmo lá. – e olhando bem para Neji acrescentou – E isso é uma ordem.
O rapaz crispou levemente as mãos, mas nada disse. Viu Hiashi se afastar lentamente e depois entregou a maleta para Yumi. Certificou-se que estavam sozinhos e falou para eles:
- Transmitam o que vocês ouviram a Uzumaki Naruto. Ele é o único que pode fazer algo pela sensei de vocês.
********************
Uma enfermeira acomodou Naruto e Sasuke na sala de espera enquanto aguardavam o resultado da cirurgia. Na verdade não esperavam noticias tão cedo já que aparentemente a mesma não havia se iniciado.
- Faz tempo que a Sakura chegou? – perguntou Naruto ao Sasuke.
Ele balançou a cabeça em negativa.
-Faz pouco tempo. Eu quase não a achava. Ela tinha ido atender uma chamada de alguém de um vilarejo vizinho. Acho que não faz nem cinco minutos que entrou aí na cirurgia.
Um momento de silêncio.
- Será que vai demorar? – perguntou o genin.
- Provavelmente. – respondeu o outro - Ouvi Tsunade-sama comentar que seria uma cirurgia delicada.
- Droga.
Naruto olhou para o relógio. Já passava das oito da noite.
- Será uma longa noite...
E ela mal havia começado. Tinha se passado uma hora que Hinata entrara na sala de cirurgia quando o time três apareceu onde Sasuke e Naruto esperavam noticias. Para a surpresa de Naruto, Neji não os acompanhava. Yumi trazia uma pequena maleta lilás, e todos pareciam muito tristes e chateados.
- Então, avisaram o Neji? – perguntou ele - Onde ele está? Por que não veio com vocês?
- Ele não virá. – falou Yumi sombriamente - Nem ninguém do clã.
- Como assim? – perguntou Naruto.
- Quando a gente chegou fomos falar com o Neji-san, assim como você disse Naruto-san. – começou Yumi – Ele nos atendeu super bem e até fez uma maleta com as coisinhas da sensei. Ele ia nos acompanhar até que...
- Apareceu aquele velho chato! – exclamou Makoto.
- Velho chato? – quis saber Sasuke.
- O pai da Hinata – esclareceu Naruto – Mas continue Makoto. O que o velho chato fez?
- Ele disse que ninguém do clã tinha tempo de servir de babá para a sensei. – continuou Suzumi – E que quando tivesse um tempo, SE tivesse – ela frizou – viria ver a sensei.
- Começo a odiar esse velho... – disse Naruto.
- Você começa? Eu odeio faz tempo! – disse Makoto.
- Não falem assim. – pediu Yumi – Hinata-sensei não iria gostar de ouvir vocês falarem assim do pai dela. Mesmo que seja verdade...
- Exatamente. Bem ou mal é o pai dela. – falou Sasuke – Se ela tem paciência de agüentar vocês dois – apontou para Naruto e Makoto – agüenta qualquer coisa.
- Ora seu!!!! – exclamou os dois.
- Mas o Neji-san mandou um recado. – avisou Suzumi.
- Que recado? – perguntaram Naruto e Sasuke ao mesmo tempo.
- Não foi exatamente um recado. Ele disse que a gente contasse tudo ao Naruto-san e ele era o único que podia fazer algo pela sensei.
Naruto se sentiu confiante. Neji confiara a segurança de Hinata a ele. Então não podia em momento nenhum desmerecê-la.
O tempo continuou a passar, mas não havia nenhuma notícia, boa ou má. Naruto já estava entrando em parafuso. Não agüentava mais aquele suspense e tensão no ar. Quando o relógio bateu meia noite, Sasuke, percebendo o cansaço e a tensão na sala, se ofereceu para levar as crianças para casa.
- Eu num quero ir - protestou Makoto sonolento – Eu quero ver Hinata-sensei...
- Você a verá amanhã. – disse ele pegando o garoto pelo braço e o ajudando a se levantar - Agora vamos.
Os três o acompanharam, aparentando um grande cansaço e sonolência.
- Não precisa voltar Sasuke. – disse Naruto antes que o amigo se retirasse - Eu sei que você tem suas obrigações...
- Mas e você?
- Ficarei bem, não se preocupe.
Tsunade apareceu por volta das duas da manhã. Parecia cansada, mas satisfeita. Logo atrás dela, Sakura empurrava a maca onde Hinata dormia profundamente, enquanto Shizune limpava a sala de cirurgia.
- Como ela está? – perguntou ansioso.
- Fora de perigo – disse sorrindo a Hokage – Mas precisará ficar uns dias aqui, descansando. Por hora, deve dormir até amanha de manhã. Mas possa ser que os anestésicos passem logo e ela acorde antes. Vou ter que deixar alguém aqui olhando ela. Alguém da família mesmo, não estamos com enfermeiras de plantão hoje.
- Não virá ninguém. – disse Naruto chateado segurando a maleta dela nas mãos.
Ainda não engolira a posição de Hiashi com relação à filha.
- Como assim não virá? – se surpreendeu Sakura – Onde está a família Hyuuga?
Ele explicou o episódio com Hyuuga Hiashi. Apesar da indignação de Sakura e Shizune, Tsunade não parecia surpresa. Era como se já esperasse uma atitude assim.
- Então você terá de ficar Sakura. – e suspirando acrescentou – Eu sei que amanhã era sua folga, mas não posso contar com mais ninguém. Eu infelizmente tenho muito trabalho para terminar...
- Pode deixar que eu fico! – se ofereceu prontamente Naruto.
A Hokage o encarou.
- Você não tem essa obrigação Naruto. E ainda deve estudar para a prova.
- Eu tenho essa obrigação sim! – protestou ele - Ela me ajudou durante todo esse tempo, de livre e espontânea vontade. Que tipo de homem eu seria se não a ajudasse agora?
Tsunade olhou para ele e depois para Sakura e Shizune, que concordaram com a cabeça.
- Tudo bem então. Você pode ficar. Mas preste a atenção. Caso ela acorde durante a noite, mesmo que reclame de fome, você deve dar apenas água. Não a irrite, nem deixe que irritem ela, pois isso poderia abrir a ferida do estômago. E, principalmente, não durma! E sempre verifique a temperatura dela. É muito simples. Basta colocar a mão na cabeça dela e ver se a temperatura é igual a sua.
- Pode contar comigo Vovó Tsunade.
- Eu sei que posso. – disse ela sorrindo satisfeita.
Capítulo XII – Sonhos possíveis
Shizune acomodou Hinata em um quarto vago no segundo andar. Sob a luz pálida das lâmpadas, o rosto da garota adquiria uma feição fantasmagórica, vampiresca. Sua pele estava sem cor e havia profundas olheiras sob seus olhos. Naruto achava que sua aparência estava tão abatida que teve medo que ela pudesse se quebrar caso alguém a tocasse.
- Ela está tão pálida... – comentou Naruto preocupado – Isso é normal, Sakura-chan?
- Sim. – falou a médica ajeitando o tubo de soro no braço da paciente - A quantidade de sangue que ela perdeu foi muito grande.
- Tadinha, eu tenho pena dela. – comentou Shizune arrumando os lençóis sobre a menina – Deve ter sido muito doloroso enfrentar esse problema sozinha. Por que será que não procurou ajuda?
- Ela não queria preocupar ninguém. – respondeu ele – Ela sempre pensa primeiro nos outros, pra depois pensar em si mesma.
- Eu devia ter reparado! – vociferou Sakura – Naquele dia que ela desmaiou, eu deveria ter procurado os motivos da anemia, não só os do desmaio. Que espécie de ninja médica eu sou?
- Calma Sakura. Todos nós deixamos alguma coisa escapar um dia ou outro. – falou Tsunade – Não se responsabilize pelo que aconteceu com ela.
Sakura baixou a cabeça tristemente olhando para a pele pálida de Hinata.
- A vovó tem razão, Sakura. – consolou Naruto colocando a mão no ombro da amiga - Você não pode se culpar. Na verdade, não há culpados nessa história. Foi uma fatalidade, só isso.
A garota sorriu, concordando com a cabeça. A Hokage bateu as mãos levemente, atraindo a atenção de todos os presentes.
- Bem, acho que está na hora de nos retirarmos. Estamos todas três muito cansadas. Naruto, qualquer coisa de diferente que acontecer aqui, aperte aquele botão – disse Tsunade apontando para um botãozinho ao lado da cama – Ele vai alertar diretamente no meu escritório e eu virei imediatamente. Pode ser uma tosse ininterrupta, mudança de temperatura ou dores na barriga.
- Pode deixar vovó Tsunade! – brincou ele fazendo uma continência.
- Contamos com você! – disse Sakura – E a Hinata também.
Elas se retiraram logo depois. A primeira providência de Naruto estando sozinho no quarto foi medir a temperatura dela. Colocando uma mão na testa dela e a outra em sua própria ele viu que estava normal. Pegou então uma cadeira e pôs ao lado da cama. Tirando um livrinho do bolso, começou a reler as linhas já quase decoradas para a prova que seria em três dias.
- Ai ai... E agora Hinata? Parece que vou ter que me virar sozinho... Afinal, você precisa descansar... Não vou mais incomodá-la com meus problemas.
Então, Naruto percebeu que dali a alguns dias não precisaria ir a biblioteca estudar com Hinata. Provavelmente seria envolvido em missões e mais missões e iria aos poucos perder o contato com ela. Afinal, não tinha lógica continuar com aquelas aulas. Seu objetivo desde o começo era passar naquela prova. Depois que isso acontecesse, cada um seguiria seu caminho. Podiam até repetir noites como aquela na casa da Sakura.
Seriam grandes amigos.
Mas alguma coisa dentro dele dizia que aquilo não era suficiente. De alguma forma incorporara Hinata em seu cotidiano, se surpreendendo ao constatar que durante vários anos ela não passara de uma sombra em sua vida. Alguém com um comportamento peculiar, delicada, mas sem nenhum atrativo especial.
Agora, todavia, ela se fundia em seus dias tão perfeitamente que imaginar-se sem os estudos da manhã, acordar sem saber que iria vê-la, não se maldizer com todos aqueles exercícios enormes sobre funções do chakra, era algo aterrador... Iria precisar se adaptar a toda aquela sensação de estar sozinho de novo. A menos que fosse reprovado na prova e obrigado a estudar mais...
“Que coisa é essa eu to pensando?!” Naruto se surpreendeu por estar tendo um pensamento tão egoísta “A Hinata me ajudou de tanta boa vontade e eu desejando não passar!!! Sou uma besta mesmo e daquelas que puxam carroças... Vou voltar a estudar e parar de pensar nessas coisas...”
Mas estava difícil de se concentrar. A todo instante parava de ler para olhar seu rosto, buscar algum sinal de dor ou consciência em sua face, com medo que ela estivesse sofrendo e ele não percebesse. Quando viu que estava sendo uma perda de tempo tentar estudar e que por mais que quisesse não iria conseguir se concentrar, fechou o livrinho, o guardou dentro do bolso e voltou suas atenções para Hinata que continuava adormecida profundamente.
Ficou imaginado o que teria provocado toda aquela situação. Tsunade explicara que fora uma gastrite nervosa que tinha evoluído. Mas quais teriam sido os motivos de tanto estresse? Não podia sequer imaginar o que faria alguém doce como Hinata sofrer tanto, afinal ela parecia tão ingênua, tão intocável... E tão vulnerável também, ele concluiu. Parecia uma borboleta que tinha tido suas asas arrancadas. Precisava de alguém para protegê-la, para ampará-la... Deveria ser a obrigação de sua família, afinal não era herdeira do clã? Onde estava os tão nobres Hyuuga que nem ao menos fizeram esforços para saber o estado de saúde de Hinata?
- Quando eu for Hokage – sussurrou para a amiga adormecida – Vou ter uma conversinha séria com seu pai sobre essas tradições... Acho que no mundo atual, elas são um tanto primitiva, não acha?
Naruto adoraria que ela pudesse responder. Queria ouvir sua voz de novo e ter a certeza que estava tudo bem. Mas conforme o tempo passava e a madrugada chegava ao fim, Hinata continuava adormecida. Naruto, contudo, permaneceu sem dormir, alerta e foi assim que percebeu que, aos poucos, a cor voltada ao rosto dela. Aproximou-se da cama e tocou com as pontas dos dedos a face que adquiria uma bonita coloração rosada.
Lentamente começou a percorrer os dedos por sua testa e desceu para as maçãs do rosto. Ela tinha a pele tão sedosa e macia que era difícil de acreditar que ali repousava uma ninja. Seus dedos continuaram o percurso, até parar nos lábios. Como os demais locais do rosto, eles também readquiriram sua cor habitual, dando uma tonalidade mais saudável a Hinata. Eles também eram macios e fez com que Naruto automaticamente lembrasse das palavras de Lee:
- Hinata gosta de outra pessoa.
Quem seria essa pessoa? Por que eles não estavam juntos? Será que ele, quem quer que fosse não sentia o mesmo por ela?
“Então ele deve ser um grande idiota”, pensou.
Afinal, qual homem poderia resistir àqueles lábios tão pequenos? A doçura da Hinata? Seu jeito tão frágil?
“Droga, por que estou pensando isso de novo? Eu não posso me referir a Hinata assim! Eu gosto de uma pessoa, então não posso pensar com tanta freqüência em o outra! Mas...” ele parou um pouco se detendo com os dedos sobre os lábios dela “Ela é tão bonita...”.
E começou a aproximar seu rosto do dela.
Hinata começou a recuperar a consciência ainda de olhos fechados e sentindo-se estranha. Sua cabeça estava pesada e sentia um gosto amargo na boca. Quando abriu os olhos devagar, viu o rosto de Naruto bem próximo do seu. Seu coração se acelerou rapidamente e ela arregalou os olhos. Tinha que ser um sonho.
Mas não era. Naruto estava quase colado nela.
Assustada, ela gritou empurrando ele para longe:
- Aieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!
Naruto se desequilibrou e caiu da cadeira, virando-a para trás e batendo com a cabeça no chão. O súbito grito de Hinata o deixou totalmente sem jeito, e envergonhado.
“O que eu estava fazendo? Que tipo de amigo eu sou? Como vou me explicar?!” pensou desesperado.
Hinata estranhou o quarto em que se encontrava. Tentou se levantar, mas uma dor no estômago a impediu. Levando a mão à barriga, ela viu um fino tubo que entrava pelo seu braço até perfurar sua pele através de uma agulha. Foi então que percebeu que estava no hospital de Konoha e que o tubo era fio do soro que gotejava lentamente no frasco. Naruto se levantava desajeitadamente, passando a mão na cabeça, no lugar dolorido que tinha batido no chão.
Olhando totalmente enrubescido para ela, ele falou timidamente:
- Olá!
“Olá? Que tipo de imbecil diria isso para alguém que acabou de acordar de uma cirurgia e que fora incumbido de cuidar dela, mas que quase a beijara?” pensou irritado consigo mesmo.
Ela olhava para ele com as bochechas totalmente rosadas.
- Naruto-kun, o-o q-q-que v-você e-estava f-f-fazendo ?
- Ah... Foi que... Que... Sabe... A vovó Tsunade me pediu pra ficar com você para poder verificar sua temperatura, sabe já que não tinha enfermeiras e... – ele falava rapidamente sem respirar – e eu tava verificando sua temperatura só isso...
- E por que eu estou no hospital? – perguntou com a voz fraca.
- Você não lembra que tava passando mal?
A verdade é que a mente dela estava muito confusa devido à anestesia. Lembrava vagamente de ter se sentido mal... Mas qual fora os motivos mesmo? Ela sabia que era algo muito doloroso, mas o entorpecimento de sua mente não permitia que ela tivesse acesso àquelas informações.
- Bem... Não tente se esforçar. Desculpe se a assustei, não foi minha intenção... Mas como você está se sentindo? Dor no estômago? Tontura? Fome?
- S-Sim, fome sim.
- Ah, mas a vovó disse que você não podia comer, mas que podia tomar água. Você quer água?
Ela afirmou com a cabeça.
- Tem uma jarra com água aqui, vou lhe dar um pouco.
E virou as costas para ela enquanto procurava um copo. Hinata começou a se perguntar por que Naruto estava ali e não alguém do clã, como Neji ou sua irmã. Será que não sabia que ela estava internada? Ou que simplesmente não se importavam?
Foi então que finalmente lembrou os motivos de ter passado mal. Seu pai iria obrigá-la a deixar de dar aulas para Naruto e também não queria que ela o visse mais. Então por que Hiashi permitia que ele estivesse ali, cuidando dela? Teria ele falado alguma coisa com Naruto?
- Naruto-kun – começou ela quando ele a ajudava a se sentar para beber a água – Por que não tem ninguém do clã aqui comigo?
- Bem... – começou ele sem saber o que dizer. Será que deveria contar? – Eu mandei avisar que ficaria aqui com você e eles não se importaram.
Hinata sabia que ele estava mentindo para poupá-la de algo. Seu pai jamais permitiria que ele ficasse ali com ela.
- Ele não deixou ninguém vir, não foi mesmo? Meu pai... Não permitiu que ninguém viesse...
Naruto olhou assustado para ela. Como ela poderia saber? Mas já que pensava assim, melhor não continuar enganando-a.
- Sim, ele não deixou. Então eu me ofereci. Espero que você não fique chateada comigo por isso.
- Por que eu ficaria chateada, Naruto-kun? Por você está cuidando de mim? – ela sorriu timidamente – eu fico feliz que tenha alguém que se preocupe comigo...
- Não fale assim Hinata, como se você fosse sozinha no mundo – ele lhe ofereceu o copo d’agua – Você tem uma família que se preocupa com você... Seu pai deve apenas estar ocupado e...
Ela balançou a cabeça.
- Não, ele não está preocupado. Nunca esteve. Talvez fosse melhor se eu morresse assim Hanabi assumiria a liderança do clã. Ela é infinitamente melhor que eu.
- Não fale isso nem de brincadeira! – protestou Naruto – Isso não é verdade! Você é muito capaz! Veja só, você conseguiu me ensinar! Quem mais fez isso? Eu burro de jeito que sou e você fez com que eu aprendesse!
- Você nunca foi burro Naruto-kun. Só um pouco desligado...
- Hehe... Assim eu fico encabulado – falou coçando a cabeça – E tenho certeza que você será a melhor líder de clã que essa vila já teve! E quando eu for Hokage e você a líder, a gente dá uma revirada bem grande nessas tradições chatas, que tal?
Para a grande surpresa e desespero de Naruto, ela começou a chorar quando ouviu isso.
- Qual o problema? Ta sentindo dor?
- Nunca ninguém me disse que eu pudesse ser boa para o clã. Apenas afirmavam que eu iria destruí-lo. – falou entre soluços.
- Então eles são uns bandos de retardados piores que eu. – ele falou irritado. – E vão engulir a língua grande deles quando você começar a fazer seu trabalho.
Ela olhou para ele e o deixou totalmente sem ação. Seus olhos brilhavam, não por causa das lágrimas, mas por algo a mais que ele não soube distinguir. Apenas o fez se sentir muito melhor do estivera por todos aqueles dias.
- Obrigada, Naruto-kun. Por estar ao meu lado.
- Jamais deixaria você sozinha. Eu vivi toda minha vida sem ter a alguém que pudesse se preocupar comigo, sem ter quem me elogiasse, sendo maltratado por todos. Eu não deixarei ninguém mais ficar sozinho.
- Nossas infâncias foram bem parecidas... – ela murmurou.
Naruto a olhou, surpreso.
- Não estou entendendo Hinata. Você tem sua família e eu cresci sozinho...
- Eu posso até ter tido uma família, mas sempre me senti muito sozinha, sem ter quem pudesse se preocupar comigo, sem ter quem me elogiasse, sendo maltratada por todos... Apesar de ser da Souke e ser a herdeira, eu cresci igual a você...
Não havia motivos para duvidar da veracidade das palavras de Hinata. Ele podia ver toda a dor que seus olhos transmitiam quando falava disso. E quando as lágrimas ameaçavam cair novamente, Naruto fez a última coisa que Hinata esperava que ele fizesse. Ele a abraçou. Um abraço tenro, sem maldade ou malícia, que a fez se sentir segura e protegida. Aninhou a cabeça em seu peito, e deixou que as lágrimas molhassem a camisa dele. Naruto não se importou. Tudo que queria era que o pranto dela parasse e que aquele sorriso bonito voltasse aos seus lábios.
Continuaram abraçados por um tempo até que ela se sentindo melhor olhou para ele e soube que havia chegado à hora de cumprir a ordem se seu pai. Apesar de amá-lo, ainda tinha as obrigações como herdeira.
- Naruto-kun... Sobre suas aulas...
- Ah, eu queria mesmo falar disso! – apressou-se ele em falar - Você não precisa se preocupar comigo! Como só faltam três dias eu quero que você descanse e pode deixar que eu vou estudar sozinho exatamente da forma que você ensinou. Vou apenas revisar os pontos que tenho mais dificuldade. Só peço uma coisinha. – ele corou nessa hora – Quando eu tiver dúvida, posso vir aqui te visitar?
Ela sorriu aliviada. Não precisava magoá-lo. E uma visita em um hospital não poderia ser chamada de “aula”, então seu pai não teria do quer reclamar por hora.
- Pode me visitar a hora que você quiser Naruto-kun.
Ele sorriu satisfeito.
- Agora eu quero que você durma mais um pouco – pediu ele – Já está quase amanhecendo e se a Sakura-chan ou a vovó Tsunade souber que você ficou tanto tempo acordada, vão tirar meus órgãos e vender no mercado negro!
***********************
Shizune estava quase adormecida no balcão do hospital Dormira pouco mais de quatro horas e já estava de pé novamente. Precisava assumir o lugar de Naruto em poucos minutos, e a lembrança não era muito agradável. Não que ela se recusasse a cuidar da menina, longe disso. Mas tudo que queria era estar na cama. E de preferência com Kakashi de seu lado.
Como se tivesse lendo a mente dela o jounin em questão apareceu tão de repente atrás dela que a fez sentar-se ereta de um pulo, com o coração acelerado.
- Calma... – pediu Kakashi sorrindo por trás da máscara. – Apenas vim ver como você está... E lhe trouxe algo pra comer! – E mostrou um copo grande descartável, com café fumegante e uma sacolinha parda que ela tinha certeza se tratar de alguns salgados e pãezinhos.
- Você salvou minha vida... – falou ela aceitando o pacote.
Enquanto Shizune abria o pacote animadamente e sorrindo, esfregou um pouco os olhos. Eles estavam levemente vermelhos, reparou Kakashi.
- O que aconteceu? Você tem um problema não?– perguntou ele antes que ela houvesse dito qualquer coisa.
- Como sempre você acerta na mosca. – confirmou ela tomando um pouco de café.
Lentamente ela relatou os acontecidos da noite passada e como naquele momento Naruto provavelmente ainda estava com Hinata.
- São quase seis da manhã. – disse Kakashi olhando no relógio – Então você assume daqui a pouco não é?
- Isso mesmo. E a coitada da Sakura mais uma vez teve sua folga adiada. Já é a terceira vez...
- Não me espanto que a Hinata tenha parado no hospital... Todos nós sabemos que em breve ela assumirá o clã e que por isso o pai dela deve estar exigindo muito esforço de sua parte.
- E além do mais – acrescentou Shizune – Ela tem se dedicado ao Naruto e ao time...
Ele esperou, em silêncio, que ela terminasse o lanche e depois a acompanhou até a porta do quarto onde estava Hinata.
- O Naruto está se tornando um homem, mas a ingenuidade dele ainda é de menino... Ele não sabe o peso que a Hinata carrega nas costas...
- Mas não existe nenhuma pessoa no mundo que possa ajudá-la mais que ele... – revelou Shizune sorrindo.
- Isso é verdade... - e estreitando o olho ele falou em um tom mais suave – Mas estou com saudades quero jantar hoje na sua casa...
- Ás oito... - Falou ela sorrindo antes de entrar na sala.
***********************
Era como se fosse ele quem tivesse passado por uma cirurgia. Naruto levou a mão ao estômago dolorosamente enquanto bebia um copo de leite na esperança de acalmá-lo. Quando Shizune o chamara eram quase seis da manhã, e ele ainda estava acordado.
- Vá pra casa e durma... – disse ela carinhosamente retirando ele do quarto de Hinata.
Relutantemente ele fora embora, mas não sem lançar um ultimo olhar para a cama. A aparência de Hinata era com certeza bem melhor que a que ela apresentara na noite anterior e isso lhe dera coragem de se retirar do quarto.
Ao chegar ao seu apartamento, ele se atirara na cama sem nem ao menos retirar a roupa e dormira por três horas. Depois, não conseguira dormir nenhum minuto a mais. Tomara um banho rápido e agora bebia leite para poder ir ao hospital.
Sabia que não conseguiria estudar sem ver com seus próprios olhos que Hinata estava bem.
E pegando a mochila, prometeu a si mesmo que não demoraria muito, para permitir que ela descansasse.
“Deixo pra comer depois de sair de lá...” pensou ele passando direto pela barraca de ramen. Mesmo que quisesse, não podia comer. A cena de Hinata cuspindo sangue ainda não saíra de sua cabeça e ele estava mais decidido que nunca em saber o porquê daquela reação. Estava bem distraído em seus pensamentos quando sentiu alguém tocar seu ombro.
- Naruto? Você está bem?
Era Shikamaru. O rapaz parecia ter acabado de sair de casa, pois assim como Naruto, exibia traços de sono no rosto. Todavia, Shikamaru pode perceber bem mais que cansaço no rosto do amigo. Percebia preocupação e sofrimento.
- Qual o problema? – perguntou o jounin.
Naruto suspirou tristemente.
- Hinata. – falou simplesmente.
A cena de Hinata com seu pai não saíra de sua cabeça também, mas nem mesmo ele podia supor que a situação fosse tão grave como Naruto agora lhe revelava.
- E então – concluía o genin – Ela não pode me dizer o que tinha provocado tudo isso... Nem o que queria falar comigo...
Shikamaru olhou com canto do olho para Naruto. Ali estava um dos amigos que ele mais prezava e a quem queria muito bem. Sabia que, se um dia estivesse em uma luta e não pudesse se defender, Naruto seria o primeiro a pular em sua frente e protegê-lo com o corpo se assim fosse necessário. Mas ele tinha um defeito que o deixava vulnerável. Naruto não tinha malícia nem perversidade. Nem mesmo ironia podia se distinguir no meio de suas palavras. Aquilo não significava burrice. Se Shikamaru fosse definir, seria falta de noção.
Exatamente. Naruto não tinha muita noção do mundo por que estava sempre ocupado em tentar construir o mundo à sua maneira.
Então, ele nem desconfiava que o problema de Hinata pudesse ser exatamente ele.
Diferente do amigo, ele conseguia exatamente prever o que se passava dentro do clã Hyuuga, e mesmo que aquilo não lhe importasse, sabia que para Naruto era exatamente o contrário.
Todavia, contar a Naruto o que ele desconfiava poderia desencadear uma reação não muito agradável e nem um pouco discreta que poderia agravar a situação de Hinata. Então, quando o amigo continuava a falar em como iria descobrir tudo, Shikamaru simplesmente falou coçando o ouvido com o dedo mindinho:
- Eu acho que você não deve se envolver agora nisso, Naruto.
O rapaz olhou surpreso para o amigo.
- E por que não? – perguntou.
- Hinata está doente e no hospital. Questioná-la nessa hora pode fazer com que ela fique mais doente ainda...
- Bem, isso é verdade... – concordou Naruto.
- Além do mais – continuou Shikamaru – Tenho certeza que na hora certa, Hinata irá compartilhar com você que a aflige...
- Você acha? – ele não aprecia muito confiante
- Tenho quase certeza. – afirmou o outro.
Olhando para o chão e chutando uma pedrinha, Naruto questionou:
- O que posso fazer para ajudá-la agora?
A mente mais brilhante de Konoha não precisou de muito tempo para responder o questionamento de Naruto. Apontando para uma pequena, mas elegante loja, falou sorrindo:
- As mulheres adoram flores... Isso é unânime... Não sei o que elas vêm nessas coisas sem graça, mas pelo menos é um presente que se pode dar sem medo... – e suspirando acrescentou - É uma das poucas coisas que as tornam menos problemáticas...
Com um sorriso no rosto, Naruto começou a se dirigir rapidamente à loja, sem nenhum traço de cansaço em seu rosto.
- Obrigado Shikamaru!!! Fico te devendo essa!!!
E deixou o amigo para trás, que sorria satisfeito por ter feito uma boa ação naquele dia.
Agora era só esperar que Naruto descobrisse por si próprio que a melhor coisa para Hinata naquele momento era a presença dele.
E um buquê de flores ajudaria bastante.
***********************
Hyuuga Hiashi chegou ao hospital um pouco depois do meio-dia. Passara a manhã treinando Hanabi e só agora decidira procurar saber o estado de sua filha mais velha. Não que tivesse esquecido, pois Neji fizera questão de passar toda a manhã lhe dando várias indiretas quanto ao fato de Hinata está ali sozinha. Deixou o rapaz resmungar um pouco mais pela casa para só então ir ver como estava à menina.
Quando chegou à recepção, a enfermeira o olhou com reverência e cumprimentou solenemente:
- Bom dia, Hyuuga-sama.
- Qual o quarto onde está a minha filha? – perguntou friamente sem retribui o cumprimento.
- Bem – a garota ficara totalmente sem jeito – Siga-me, por favor.
Ela o levou até o segundo andar onde ficava o quarto de Hinata.
- Aqui, Hyuuga-sama. Mas eu creio que a Hokage-sama esteja examinado-a.
Ele apenas concordou com a cabeça e entrou em seguida. Realmente Tsunade se encontrava no quarto e verificava o estado da garota. Ao lado dela, Sakura tomava o pulso de Hinata e foi a primeira a ver o pai da amiga de pé na porta.
- Parece que você tem visitas, Hinata. – avisou ela.
Hinata olhou demoradamente para o pai quando o viu. Deu graças pelo fato de Naruto já ter se retirado do quarto momento antes, onde deixou um vaso cheio de lírios para ela. Agradecer Naruto pelas flores e pela atenção e o aconselhar a estudar ao invés de se preocupar com ela, fora bem mais fácil do que ser analisada de cima a baixo pelo pai.
Simplesmente não sabia o que dizer a ele. Estava envergonhada pelo estado em que se encontrava e sabia que seria duramente criticada. Temia que todos soubessem que a grande causa de seu mal estar fosse devido às pressões que seu pai lhe impunha. Não queria que o pai fosse criticado. Tinha consciência que ele apenas tentava ajudá-la, mesmo que sua forma fosse um pouco distorcida.
Mas tinha que admitir que aquela situação estava destruindo-a aos poucos.
Tsunade também parecia estar pensando a mesma coisa. E foi ela quem iniciou a conversa. Colocou as mãos na cintura e se voltou para o homem que adentrara o quarto.
- Ora, ora, Hiashi-kun. – falou em tom de deboche - Que satisfação em vê-lo. Parece que finalmente você lembrou que tinha uma filha doente.
Ninguém nunca falara assim tão informalmente com Hiashi na frente de Hinata, nem tão pouco o criticavam e aquilo a surpreendeu. Mas para Tsunade ali não estava o líder do clã Hyuuga, mas um garotinho que ela vira crescer e que precisava urgentemente de um puxão de orelha. Hinata percebeu que, por um momento seu pai pareceu extremamente envergonhado. Mas foi só por um momento. Logo recuperou a sua habitual compostura.
- Eu gostaria de falar a sós com minha filha, Tsunade-sama. – pediu ele formalmente.
- Claro. – Tsunade sorriu displicentemente – Mas lembre Hiashi-kun, sua filha ainda está sob observação. Ela não pode ter nenhum tipo de aborrecimento ou irritação. Quando terminar, eu volto. – disse falando com Hinata agora – Até.
E saiu acompanhada por Sakura que antes de sair acenou para Hinata, que retribuiu o aceno.
Agora estavam somente ela e seu pai. Um silêncio mórbido se instalou entre os dois. Hinata sentiu seu estômago se contrair dolorosamente e desejou ardentemente que nem Sakura nem Tsunade tivessem saído.
Hiashi continuou encarando a filha e não se sentou. Limitou-se a fita-la, de pé perto da cama.
- N-Não vai sentar pai? – perguntou ela sabendo que se sentiria melhor se pudesse conversar de igual para igual.
- Não é necessário. – cortou ele, mas depois acrescentou um pouco mais sereno - Como você está se sentindo?
- Bem melhor... – respondeu ela baixando levemente a cabeça.
- Isso é bom. Cuide de sua saúde, afinal sua posse está bem perto.
- S-Sim.
O silêncio mais uma vez se abateu sobre eles. Como era difícil se entenderem, mesmo sendo pai e filha. E como era difícil deixar que ele visse um pouco de sua alma e pudesse perceber que a fazia sofrer!
Se em algum momento Hiashi percebeu a dor que rondava os olhos de Hinata, não deu a entender, muito pelo contrario. Perguntou friamente:
- Você já fez o que eu lhe mandei fazer? Já falou com Uzumaki Naruto?
A pontada foi no coração de Hinata e não em seu estômago.
- Não foi necessário. - falou apressadamente - Ele mesmo disse que podia estudar sozinho já que eu estou internada...
Para ela não havia necessidade de dizer que Naruto viria tirar dúvidas durante suas visitas. Seu pai não precisava saber disso.
- Ótimo. – comentou Hiashi aparentemente satisfeito - Parece-me que este rapaz tem algum bom-senso. Então será capaz de entender que deve se afastar de você, certo?
Hinata desviou os olhos do pai e enrubesceu. Hiashi logo percebeu o que ela quisera dizer com aquela ação.
- Você não falou isso, não é? Previsível. Já que você não parece capaz disso, eu mesmo falarei para ele.
- Por que pai? – ela perguntou em tom de súplica – Por que eu tenho que me afastar do Naruto? O que isso vai mudar no fato que eu herdarei o clã? Ele nem gosta de mim mesmo...
Havia uma profunda dor nessas palavras. Uma dor tão profunda que nem o frio homem à sua frente conseguiu ignorar. E baixando o tom de voz, ele indagou:
- Você gosta tanto assim desse rapaz?
Sem escolha, ela confirmou com a cabeça.
- Mas um motivo para afastá-la dele. – murmurou sóbrio - Seu compromisso é para com o clã e não com sentimentos inúteis como o amor...
Com as mãos sobre o peito, como se acalentasse o coração, Hinata olhou profundamente para o pai.
- Pai... O senhor nunca amou?
O silêncio reinou durante mais alguns instantes no quarto. Hinata não sabia por que, mas aquelas palavras pareciam ter afetado seu pai. Ele fechou os olhos como se lembrasse de algo e suspirou. Quando olhou novamente para ela, seus olhos estavam menos frios e exibiam uma profunda dor.
- Sim eu já amei. E por isso eu quero que você desista desse amor, Hinata. Principalmente pelo fato de não ser correspondida.
Hinata olhou para suas mãos. Não sabia como contestar o que seu pai dizia. Baixou a cabeça e pôs-se a chorar silenciosamente. Seu amor estava prestes a morrer sem ao menos ter nascido. Seus sentimentos seriam enterrados vivos debaixo de uma montanha de suas obrigações.
Hiashi observou o sofrimento de sua filha, maldizendo a existência de Naruto.
- Muito bem – falou ele – Irei te dar uma chance de viver sua ilusão Hinata. De hoje até o dia de sua posse, você estará livre para fazer o que quiser. Nem eu, nem ninguém do clã iremos impedir nada. Serão onze dias nos quais você poderá realizar todos seus desejos, sejam eles qual forem. – e dando uma pausa viu os olhos de Hinata se iluminarem - Porém, ao final desses dias, você irá acordar desse sonho feliz, voltará para a realidade cortando todos seus laços que a ligam a esse rapaz e se dedicará somente ao clã. Essa é a única opção que te ofereço.
“Onze dias” ela pensou tristemente “Onze dias para ser feliz”.
- Então, o que me diz? – indagou ele - É claro que se você quiser poderá apenas deixar tudo pra lá e fazer o que mandei inicialmente.
Não havia o que pensar. Seu coração clamava por aquilo. Ela precisava daquilo. Precisava estar de Naruto um pouco mais... Só um pouco mais...
- Eu aceito sua proposta. – falou convictamente - Viverei intensamente a oportunidade que acaba de me dar, pai. E depois, obedientemente, assumirei a liderança do clã. – e pensando nas palavras que Naruto lhe dissera noite passada acrescentou – Dedicarei a vida a ele e serei a melhor líder de clã que a vila de Konoha já viu.
Hiashi sorriu.
- Assim espero.
Capítulo XIII – Após a tempestade
Quando o despertador alertou às cinco da manhã, Naruto já estava acordado. Apesar de todos os avisos que recebera de dormir bem no dia anterior, esse feito se tornara impossível para ele. Passara a noite toda dormindo e acordando com medo que dormisse demais se não chegasse a tempo de fazer a prova. Agora sua mente estava alerta e um pouco confusa.
“Droga!” pensou “Como farei uma boa prova assim?”.
Mas já não podia fazer mais nada. A hora marcada para o exame era sete em ponto. Iria se dirigir ao escritório da Hokage, onde o encaminhariam ao local da prova. Não sabia quantas questões seriam nem o tempo de duração, mas tinha uma certeza: não seria fácil.
Levantou-se da cama lentamente e foi ao banheiro. Um banho sempre ajudava naquelas horas para esfriar a cabeça. Depois, tomou seu tradicional café da manhã composto por ramen e leite, pegou sua mochila, e saiu de casa.
A vila ainda estava acordando. Poucas pessoas eram vistas nas ruas, apenas crianças que iam para academia e senhoras varrendo a calçada. Cenas tranqüilas que não combinavam com o seu estado interior. Ele estava nervoso, muito nervoso.
“Acho que vou fazer uma visita rápida a Hinata antes da prova... Assim eu me acalmo mais...” pensou tomando o rumo do hospital de Konoha.
- Ei, eu acho que seu caminho não é por aí!
Naruto olhou surpreso para trás em busca de quem falara, e ficou contente de ver Sakura e Sasuke vindo em sua direção, sorrindo.
- Bom dia! – cumprimentou ele.
- Pra onde você ta indo Naruto? Pensei que sua prova era lá no escritório da Hokage... – perguntou Sakura.
- E é. Eu sou estou indo no hospital falar uma palavrinha com Hinata antes de ir fazer a prova...
- Ah! – exclamou Sasuke – Está muito nervoso?
- O que você acha? Esperei um mês para que esse dia chegasse e agora que chegou eu estou totalmente desesperado com medo de pegar na prova e não conseguir responder nada...
- Isso não vai acontecer. – afirmou Sakura convicta - Eu e o Sasuke vimos o quanto você se esforçou, estudando o dia todo e às vezes à noite também... Tenho certeza que você vai passar!
- Obrigado Sakura-chan... – agradeceu ele sinceramente - Estava precisando ouvir isso.
- Por isso que nós viemos lhe desejar boa sorte. – continuou a garota - Mas quando passamos na sua casa você já tinha saído.
- Pois é... Quero falar com Hinata pra ela torcer por mim.
Sasuke e Sakura se entreolharam sorrindo. Naruto não entendeu aquela reação, mas notou que Sasuke e Sakura pareciam bem satisfeitos com as palavras dele.
- Acho que ela já faz isso desde que soube dessa prova. – comentou Sakura.
- Ué, mas não custa lembrar... – falou dando de ombros - A propósito, como ela está Sakura-chan? Você a viu no hospital ontem à noite? Eu saí de lá a tarde e não pude ir novamente...
- Não, estou de folga. Vou ajudar a equipe de arrumação para o festival.
- Festival? – perguntou Naruto coçando o queixo – Que festival?
- Você não ta lembrado? O festival de verão seu bobo. Depois de amanhã no solstício, o dia mais longo do ano. É uma tradição da vila a décadas!
Foi só então que Naruto reparou que ambos traziam sacolas nas mãos cheias de enfeites.
- Você ta ajudando também Sasuke?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Toda vila ta interessada em mostrar seu melhor, já que a vila da Areia vai comparecer... – e estranhando a cara de surpresa do amigo, ele acrescentou – Você realmente não sabia do festival Naruto?
- Não. Nos últimos dias estava ocupado com a revisão para a prova, aí também tinha a Hinata doente, eu estava indo sempre lá ver como ela estava... Nem tive tempo de ir ao Ichiraku Ramen, só pra vocês terem uma idéia. Tava comendo em casa ou no hospital...
Sasuke soltou uma risadinha que deixou Naruto nervoso, mesmo que não entendesse o significado dela e Sakura olhou no seu relógio de pulso.
- Oh, se você quiser ver a Hinata antes da prova é melhor se apressar Naruto. – aconselhou a médica - Ou não chegará a tempo da prova.
- É mesmo! – lembrou assustado – Até mais pra vocês dois. A gente se ver depois da prova!
E correu apressado para o hospital.
Eram seis e quinze. Podia conversar um pouco com Hinata antes da terrível prova e aproveitar para agradecer por tudo. Desde que começaram as aulas que Naruto se martirizava com a gratidão que tinha por Hinata e como poderia retribuí-la. Tinha pensado que era quase impossível pagar tudo que ela havia feito por ele, e não conseguia achar algo a altura. Até que numa conversa no dia anterior, Hinata comentara ocasionalmente que adorava cinema. Então ele comprara duas entradas para a estréia que ia haver na cidade vizinha na tarde seguinte, dia 20.
Mas uma coisa o deixava receoso. Talvez ela não quisesse sair com ele, e poderia até pensar que tinha segundas intenções envolvidas no encontro. Então decidira dar as entradas para que ela escolhesse com quem quisesse ir. Naruto mais que nunca adoraria ir com Hinata ao cinema. Seria um modo de poder vê-la um pouco mais a vontade, mas não queria impor sua presença a quem gostava de outra pessoa.
“Quem será que é esse cara?” ele sempre acabava ficando irritado toda vez que se lembrava disso. “Com certeza deve ser algum cara bem idiota! Imagine, não gostar da Hinata! Ah, se eu soubesse... Ia ter uma conversinha com ele...”.
Chegando ao hospital, Naruto deixou de lado essas suposições e prontamente tomou a direção do quarto onde estava Hinata sem se preocupar em passar pela recepção. Tinha freqüentado bastante o hospital durante esses dias, seja para tirar dúvidas, ou somente para ficar de bobeira conversando, então já nem se sentia na obrigação de avisar que iria entrar. Abrindo a porta do quarto, ele cumprimentou sorrindo:
- Bom dia Hinata!
Mas não houve resposta. O quarto estava vazio. Sem entender o que se passava, ele começou a procurar por vestígios da presença da garota. Porém, tudo estava muito limpo e arrumado, como se ninguém mais estivesse ocupando o lugar. Enquanto ele procurava uma resposta para a ausência de Hinata, às suas costas alguém entrou no quarto.
- Olá Naruto! – cumprimentou Shizune.
- Shizune-nee-san, onde está Hinata? – perguntou preocupado.
- Ah, a Hinata-chan! Ela recebeu alta hoje bem cedo. O pai dela já veio buscá-la há algum tempo.
Shizune percebeu que o semblante de Naruto ficou imediatamente mais triste.
- Algum problema Naruto-kun? Não está feliz de Hinata-chan ter saído do hospital?
- É claro que eu to Shizune-nee-san... Mas eu queria falar com ela antes de fazer a prova...
- Por que então você não vai lá ao clã Hyuuga? – sugeriu ela.
Ele consultou o relógio da parede do quarto.
- Não dá mais tempo... Tenho quer ir fazer a prova. Bem, até mais Shizune-nee-san.
E começou a se encaminhar tristemente em direção ao escritório de Tsunade. Não sabia por que, mas a falta do “boa sorte” vindo da boca de Hinata parecia o prenúncio de mau-agouro. Ele queria muito ter visto ela antes de fazer a prova. Precisava acalmar seu coração, e sabia que a única pessoa que podia fazê-lo estava distante.
“Será que ela lembra que a prova é hoje?” continuou pensando já em frente à porta da Hokage “Deve ter esquecido... Eu não a culpo, deve ter coisas mais importantes para pensar do que uma prova que não diz respeito a sua vida...”.
Naruto entrou na sala. Tsunade já o aguardava de pé ao lado de Iruka. Ambos sorriam para ele.
- Então, está pronto? – perguntou Iruka dando um sorriso encorajador.
- Quase. – falou tristemente ainda lembrando da ausência de Hinata.
- Bem, então fique pronto antes de chegar de chegarmos à sala do exame. – alertou Tsunade – Lembre que não haverá segunda chance.
- Certo, certo.
Eles caminharam poucos minutos antes de chegarem à sala onde seria realizada a prova. Para a surpresa do rapaz, era a mesma sala onde havia sido realizada a primeira etapa do exame chunin que ele havia prestado seis anos atrás. Ficou ainda mais impressionado ao ver ali a examinadora Anko, juntamente com Shikamaru.
- Você deve deixar todo e qualquer material aqui antes que lhe entreguemos a prova. – disse Anko assim que ele se aproximou – Ela será composta de trinta questões e você irá dispor de cinco horas para terminar-la. Não será permitida consulta e caso você dê uma de engraçadinho achando que pode me ludribiar, eu tomo sua prova e corto fora suas mãos se suspeitar que você está colando. – ela deu um sorriso perverso – Alguma dúvida?
- Errr... Posso me sentar agora? – perguntou sentindo que ela dizia a verdade.
- Leve só as canetas e lápis. – respondeu Anko com o mesmo sorriso.
Naruto tirou da mochila oito canetas, seis lápis, duas borrachas e um apontador.
- Pra quê tudo isso? – se surpreendeu Iruka.
- Por precaução.
- Dê logo essa prova a ele, Anko-san – falou Shikamaru – Que saco.
Ela entregou a prova a ele e apontou para um lugar no meio da sala.
- Pode sentar lá. E boa sorte, gostoso! – e dizendo isso aplicou uma sonora tapa nas nádegas de Naruto deixando todos surpresos.
- Anko! – exclamou Tsunade – O que você pensa que está fazendo?
- Ah, Tsunade-sama! Ele é tão bonitinho! Quem me dera tivesse dez anos a menos. – e piscou mandando um beijinho para Naruto.
Totalmente encabulado com o “elogio” e com as nádegas ainda doendo da tapa, Naruto se sentou com as pernas tremendo e as mãos suando.
“Vamos seu covarde” ordenou para si mesmo “Você estudou, você pode”.
E começou a ler a primeira questão.
Tsunade não sabia dizer que estava mais nervoso ali naquela sala, se ela, Iruka ou o próprio Naruto. Apesar de saber que havia se esforçado muito para aquele dia, ainda corria o risco de que ele não pudesse atingir a nota. Se isso acontecesse, sabia que o conselho não daria uma segunda chance para Naruto. E todos seus planos falhariam drasticamente.
“Vamos Naruto” pensou ela “Não me decepcione”
Foram cinco horas de tensão. Naruto só entregou a prova faltando cinco minutos para acabar seu prazo. Trazia um grande sorriso no rosto.
- Você me assustou. – falou Iruka com o rosto pálido ao receber a prova de Naruto – Achei que não fosse dar tempo...
- Eu já tinha terminado há uma hora atrás. Estava apenas conferindo todas as questões.
Iruka olhou surpreso para seu antigo aluno. Naruto havia realmente mudado. Não era mais aquele moleque problemático. Tinha se tornado um homem que assumia suas responsabilidades, tinha maturidade e não fugia dos desafios.
- Estou orgulhoso de você. – disse ele.
Naruto riu coçando a cabeça.
- Então, quanto eu tirei na prova? – perguntou ele ansioso.
- O resultado sai em alguns dias. – avisou Tsunade.
- O QUÊ? – gritou ele tão alto que fez todos na sala se encolher - ALGUNS DIAS?! COMO EU VOU CONSEGUIR DORMIR SEM SABER DESSE RESULTADO?!
- Você pensava que o resultado era imediato? – se surpreendeu Anko – Desculpe decepcioná-lo, gracinha, mas sua prova vai ser corrigida por uma banca composta por cinco jounins, e isso demora...
- CINCO JOUNINS????
- Desculpe Naruto, mas são as regras. – avisou Iruka - Pode sair.
Ele deixou a sala, desolado. Cinco jounins corrigindo sua prova? E se eles decidissem que não era capaz de se tornar um jounin? Era assustadora a idéia e toda sua animação por ter respondido toda a prova foi-se embora.
Enquanto saia do prédio, de cabeça baixa e sem vontade de falar com ninguém, sentiu uma presença familiar a sua frente. Primeiro viu os pés. Então subiu a cabeça lentamente. Um belo corpo feminino começou a tomar forma em seus olhos até que viu que era Hinata que estava parada à sua frente, sorrindo. Seu coração deu um salto de alívio. Ela não tinha esquecido afinal.
- B-Bom dia, N-Naruto-kun...
- Hinata! Você lembrou da prova! – disse ele animadamente.
- Como eu poderia esquecer? Preparamos-nos tanto para esse dia... – e sorrindo mais, acrescentou - V-você s-só falava disso ontem...
Naruto coçou a cabeça com um grande sorriso no rosto.
- É mesmo né? Hehe... Hum... Hinata?
- O-Oi?
- Você gostaria de comer um ramen comigo? Quer dizer, se não tiver nada melhor pra fazer, se seu estomago estiver bom...
- Claro! – ela respondeu sorrindo. – Eu estou ótima. Segundo Tsunade-sama, posso até comer pedra que não fará mal nenhum.
- Fico muito feliz! – ele estava realmente animado - Você realmente assustou todos nós. Bem, vamos?
- Vamos.
O assunto do almoço dos dois não podia ser outro senão a prova que ele acabara de fazer. Comentaram as questões, as respostas dele, e o fato do resultado só sair em alguns dias. Ele ainda não estava conformado.
- Mas isso é normal, Naruto-kun. – ela procurava confortá-lo - Não se preocupe.
- Por que não dá pra corrigir isso logo? Meus nervos estão à flor da pele! Como vou fazer para não pensar nisso?
- B-Bem tem muitas formas... Procure se divertir Naruto-kun... Aproveite a folga.
Foi só então que ele lembrou das entradas de cinema. Ainda estava tentado a convidá-la para ir os dois... Mas ela podia interpretar erradas as suas intenções, e ainda havia a sombra da pessoa que ela gostava.
“É melhor manter o plano original. Vou apenas entregar as entradas a ela.”. decidiu finalmente.
- Ei tio, dá a conta! – pediu Naruto.
- Ah, não precisa pagar, hoje é por conta da casa! – avisou Ichiraku animado.
- Mas por quê? – perguntou Naruto surpreso.
- Ora, você acabou de fazer a prova do exame jounin, não é mesmo? E essa bela menina saiu do hospital hoje não é? Então fica como cortesia! Além do mais, eu não sei se teria coragem de cobrar de um casal tão bonito. – e piscou o olho para os dois.
Naruto e Hinata coraram simultaneamente.
- Não somos um casal. – falaram em uníssono.
Ayame chegou naquele exato momento e, colocando as mãos na cintura, ralhou com o pai:
- Ah, papai, você os deixou encabulados! Não faça mais isso!
- Certo, acho que você tem razão. – desculpou-se o senhor - Mas boa sorte no resultado. Espero que você passe e ganhe bastante dinheiro como jounin para sempre trazer sua namorada pra comer ramen!
Naruto e Hinata coraram mais ainda.
- Papai! – reclamou novamente Ayame.
- Ta bom, ta bom, já parei.
Saindo do Ichiraku ramen, Naruto e Hinata estavam extremamente sem jeito. Ambos sabiam que muitas pessoas na vila os consideravam como namorados.
- Err, Hinata, posso te acompanhar até sua casa? – ele pediu olhando para todos os lados menos para ela.
- C-Claro. – ela responde sem também olhar para ele.
Caminharam em silêncio até chegar a frente ao clã Hyuuga. Naruto parou antes de entrarem nos domínios da família e tirou as entradas de cinema do bolso.
- Hinata – começou ele – Eu sinceramente não sei como te agradecer. Pensei em muitas coisas que te dizer, ensaiei um discurso de agradecimento, mas esqueci-o depois dessa prova – soltando uma risadinha nervosa continuou – Então decidi comprar essas entradas pra te dar. Como você tinha dito que adorava cinema, achei que fosse o melhor presente. E comprei uma extra também. Assim você pode levar quem quiser. Mas cuidado, é só pra amanhã. A sessão das duas.
Hinata pegou os bilhetes oferecidos por ele.
- Chame quem quiser para ir com você. E boa diversão Hinata. – E sem esperar resposta, começou a caminhar de volta pra casa.
Os bilhetes pareciam queimar entre seus dedos. Ela sabia o que tinha de fazer. Estava livre pra isso. E ele era a única pessoa com quem queria estar no cinema.
- N-Naruto-kun! – chamou quando ele já tinha se distanciado um pouco.
- Oi? – ele se virou.
- E-Eu q-q-queria que v-você m-m-m-me acomp-panhassem no c-cinema...
- Eu? – ele perguntou surpreso.
Ela afirmou com a cabeça.
- Yes! Eu realmente queria assistir a esse filme! Obrigado por me convidar, Hinata. Você tem certeza que não quer ir com outra pessoa? – ainda estava incerto quanto a decisão dela.
- Eu quero ir com você, Naruto-kun. – falou Hinata convicta.
Naruto corou um pouco com a resposta dela.
- Então, a gente se encontra ao meio-dia aqui na entrada do clã, certo? Ou você quer ir mais tarde? É por que se não chegarmos cedo, não vamos pegar bons lugares...
- Meio-dia está bom. – ela falou.
- Então, até amanhã Hinata. - E foi embora pulando de alegria.
“Não vou deixar nenhuma chance escapar” pensou Hinata decidida.
***********************
- Ei, para onde você pensa que vai?
Hinata já estava de saída quando ouviu sua irmã falando com ela, num tom muito irritado.
- Eu estou saindo Hanabi.
- Dããã, isso eu vi né? – falou a garota irritada - Quero saber pra onde você vai? Deveria estar se preparando para treinar comigo, sabia?
- Não posso treinar com você hoje, Hanabi. – Hinata parecia sinceramente pesarosa por ter que dizer aquilo - Desculpe.
Hanabi colocou as mãos na cintura e perguntou presunçosa:
- E eu posso saber o motivo disso?
- Bem... Eu vou ao cinema... – respondeu a outra sem jeito.
- Cinema? – o tom de Hanabi era surpreso, afinal, ela nunca vira Hinata se interessar por ninguém - Com quem?
- Naruto... – falou Hinata corando um pouco.
- Com o garoto-raposa? O papai permitiu?
Lembrando da conversa que ela tivera com o pai no hospital três dias atrás ela respondeu:
- Sim, permitiu.
- Uau, quem diria... Papai está bem flexível... – e olhando atentamente para a irmã, indagou - Mas me diga, você vai com essa roupa?
- O que tem minha roupa? – perguntou olhando para seu uniforme de jounin.
- Aiai, santa ignorância. Querida irmã, se você vai sair com um rapaz, você deveria se produzir um pouco mais.
- N-N-Não há n-necessidade... É só um filme...
- “É só um filme” – imitou Hanabi – E daí, é um encontro. Venha, vou ajudar você a escolher uma roupa melhor.
Hinata ficou subitamente vermelha. Não tinha pensando naquilo como um encontro.
- M-M-Mas...
- Nada de “mas”. Eu sei que você tem um monte de roupa bonita. – e pegando na mão da irmã mais velha a levou de volta para o quarto e abriu seu guarda-roupa – Vejamos... Algo para o verão... Não pode ser muito chamativo, mas também nada apagado...
Hanabi começou a tirar toda roupa de Hinata do guarda-roupa e distribuir pelo tatame. Não parecia nem um pouco preocupada com a bagunça que estava fazendo.
- Hanabi... – Hinata não parecia muito convencida que aquilo era uma boa idéia.
- Achei! Você vai com isso aqui! – e levantou uma roupa para que a irmã visse.
- Hã... Tem certeza?
- Veste logo, que eu to mandando! Eu tenho mais experiência em encontros que você!
- Qual experiência você tem Hanabi? – perguntou Hinata incerta.
- Ora, Neji sempre me leva pra tomar sorvete. –falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Agora veste!
Hinata pegou a roupa sem muita convicção. Mas não custava tentar. Naruto ficaria surpreso de vê-la sem o uniforme habitual.
************************
- Yo, Naruto! Como foi a prova?
Desde o dia anterior que Naruto não via os amigos. Ele, tão logo chegara em casa, caíra na cama e adormecera quase que instantaneamente. E Sasuke e Sakura estavam muito ocupados com a decoração da vila para o festival, onde todos estavam se esforçando para que ficasse bonito. Konoha exibia uma imensidão de luminárias com o símbolo da vila e flores por todos os lados. A família Yamanaka devia estar faturando muito, pensou.
- Foi boa... - respondeu sorrindo - Mas prefiro não pensar nisso por hora.
- Você está indo treinar, Naruto? – perguntou Sakura.
- Na verdade eu to indo comer um ramen antes de me encontrar com a Hinata. Nós vamos ao cinema.
Sakura piscou um pouco incrédula diante da frase.
- Hãã... Você vai ao cinema com a Hinata? Beleza... Mas você ainda passa em casa pra se vestir certo?
- Não, Sakura-chan. Vou assim mesmo. Por quê? Não ta bom? É a roupa que eu visto diariamente.
Sasuke começou a rir e Sakura fechou os olhos suspirando.
- Exatamente por ser a roupa que você veste diariamente que eu to falando sua besta! Você vai a um encontro com uma garota e nem se preocupa em se arrumar! Que espécie de homem é você? – vociferou ela.
- Mas é só um cinema! – questionou ele.
Sakura e Sasuke se entreolharam e tiveram a mesma idéia.
- Sasuke, por favor. – pediu ela.
Naruto olhou para o amigo sem entender, e tudo que viu foram dois olhos vermelhos que giravam loucamente.
E caiu desacordado.
- Obrigado amor. O que seria desse idiota sem a gente?
- De nada. Foi um prazer. – falou Sasuke rindo desativando seu Sharingan.
Quando Naruto acordou, a primeira coisa que percebeu foi que estava na casa de Sasuke, em cima da cama deste, ouvindo Sakura discutindo com o próprio sobre que roupa ficaria melhor nele.
- Ei! O que vocês pensam que estão fazendo? – reclamou Naruto
- Ué, te ajudando. – respondeu Sakura.
- Ta e pra me ajudar vocês precisam me DESACORDAR E DEPOIS ME AMARRAR?! - gritou tentando se soltar das amarras.
- Você não sabe ser ajudado. – sentenciou Sasuke.
- O que vocês estão fazendo exatamente? – ele apertou os olhos e seu tom era desconfiado
- Escolhendo uma roupa pra você. – disse singelamente o líder da Anbu.
- NA SUA CASA?!
- Eu dei uma olhada nas suas roupas e você só tem essa calça que serve – disse Sakura e mostrou uma calça dele - Então te trouxe aqui pra ver se tem alguma roupa do Sasuke-kun que dê pra você.
- EU NÃO VOU VESTIR NENHUMA ROUPA DELE!
- Ah, vai sim. Ou não vai sobrar nada de você pra sair com a Hinata hoje. – ameaçou Sakura.
- Ta bom, se vocês pedem tão delicadamente... – falou em tom sarcástico.
Em pouco tempo Sakura já tinha escolhido uma camisa preta muito bonita com um pequeno símbolo de Konoha e uma jaqueta jeans azul.
- Taí, se veste agora. – mandou Sasuke desamarrando Naruto.
Naruto olhou para roupa, desconfiado.
- É, pelo menos não tem o símbolo do clã Uchiha...
******************************
Hinata batia o pé nervosamente. Fazia cinco minutos que estava na porta do clã esperando por Naruto e não havia nem sinal dele ainda. Começava a ficar ansiosa achando que ele tinha esquecido.
- Hinata!
Ela olhou animada sentindo-se aliviada, mas quando viu que era Kiba quem corria em sua direção ficou decepcionada e ao mesmo tempo se sentiu mal. Deveria ficar feliz em rever o amigo. Mas queria que quem estivesse chegando fosse Naruto.
- O-Oi, Kiba-kun.
- Vim lhe fazer uma visita. Só soube hoje que você tinha recebido alta. – e olhando melhor para garota, exclamou surpreso – Uau, Hinata! Para onde você vai?!
Por insistência da irmã, ela estava com um vestido estampado de rosa com branco, sem mangas, com uma bonita fita em torno da cintura. Também tinha calçado uma sandália branca bem parecida com a que a Hokage costumava usar, mas que dava um ar mais feminino ao visual. Trazia uma bolsa da mesma cor a tiracolo.
- Eu v-vou ao cinema...
- Cinema? – ele parecia meio chateado – Com quem?
- Comigo, por quê? – Naruto chegou no mesmo instante que Kiba perguntara. Ele estava muito bonito e Hinata agradeceu mentalmente sua irmã por ter se metido na história.
- Ah, ela vai sair com você? Tsc...
- O que você quer dizer com isso Kiba?
- Naruto-kun... – Hinata estava preocupada, não era bom eles discutirem – Nós vamos chegar atrasados...
- Tem razão, Hinata. Vamos.
- Tchau, Kiba-kun – falou Hinata meio sentida. Não queria magoar o amigo, mas a situação estava difícil – Volte mais tarde.
Kiba não respondeu. Apenas deu meia volta e foi embora.
Com o incidente envolvendo Kiba, Hinata achou que Naruto fosse ficar chateado. Mas ela estava enganada. A tarde foi a melhor que ela já tivera em anos. Eles assistiram ao filme, depois foram passear pela cidade procurando um bom lugar para comer. Ainda comentavam, animados, o que tinham assistido.
- Eu adoro os filmes da Fujikaze Yukie! – ele comentou pela milésima vez. – Eu conheço ela pessoalmente, sabia? Tenho até um autografo! Eu e meu time a protegemos uma vez! (ver movie 1 de Naruto)
- Eu também adoro os filmes dela. – concordou ela sorrindo – E esse filme novo que mistura lutas e romance está ótimo! Pena que não posso sempre ir ao cinema...
- Por que não? – quis saber ele.
- Lá no clã ninguém gosta muito. Então não tenho ninguém pra vir comigo... E sozinha não tem graça...
- Ora, quando tiver com vontade de ver um filme me avisa! Eu posso te fazer companhia! Se você quiser claro...
- Eu adoraria... – ela falou em um tom incerto, contudo, sem que Naruto percebesse.
- Olha! Uma barraquinha de ramen! Vamos Hinata!
A tarde passou voando. Eles nem ao menos perceberam que estava anoitecendo antes que o céu escurecesse completamente. Já passava das sete quando entraram novamente na vila de Konoha. Estavam exaustos, mas muito contentes.
- Bem, foi ótimo sair com você Naruto-kun. – disse ela sinceramente.
- Eu digo o mesmo. Espero que não tenha se arrependido de querer que eu fosse com você.
Ela balançou a cabeça rapidamente.
- Eu realmente queria ir com você Naruto-kun... Gosto de sua companhia...
- Eu também gosto de sua companhia Hinata...
Um silêncio profundo se abateu sobre eles após essas palavras. Ambos estavam com vontade de ficar um pouco mais de tempo um com o outro, mas nenhum dos dois sabia exatamente como dizer isso. Mas Hinata era a mais ansiosa. O prazo que seu pai lhe dera estava reduzido agora a somente sete dias. Era muita coisa para se dizer, para se fazer, mas ela não tinha coragem de dar o primeiro passo. Contudo precisava ser feito. Ela tinha que se declarar.
- N-Naruto-kun... – ela começou.
- Oi?
- E-E-Eu q-q-q-queria t-t-t-tt-t-t-t-e di-diz-zer
Antes que Hinata pudesse terminar a frase, um barulho ensurdecedor de explosões se fez ouvir. Quando eles olharam assustados para cima, viram milhares de fogos pelo céu, de diversas cores e formas.
- O que está acontecendo? – perguntou Hinata assustada.
Foi então que Naruto lembrou do festival.
- Ah, devem estar fazendo um ensaio para o festival!
- Festival? – perguntou confusa.
- Você não ta sabendo, né? Normal já que estava internada. – ele falava como se tivesse conhecimento do festival desde sempre - É o festival de verão da vila. Pelo que Sasuke me contou eles estão querendo fazer bonito dessa vez porque a vila da areia vem nos visitar. Será amanhã.
“Um festival” pensou Hinata. E com o coração apertado, admitiu para si mesma “Eu queria ir para esse festival com o Naruto-kun”.
- Hã, você vai para o festival, Naruto-kun? – não sabia exatamente por que, mas temia que a resposta fosse afirmativa.
- Claro! Vai ser ótimo! Estou louco para ver o Gaara de novo! Só queria já ser jounin para me gabar um pouco com ele hehe... Mas não vai ser possível. – e percebendo uma pontada de tristeza nos olhos dela, perguntou - E você Hinata, vai?
- E-Eu não sei...
Não tinha coragem de falar. Mas também pensava que ele pudesse ir pro festival e conhecer alguém...
- Ah, vamos! – Ele tocou levemente seu ombro - Eu venho te pegar e você vai comigo, o que acha?
“Eu to sonhando? O Naruto-kun ta me chamando pra ir ao festival com ele?” pensou sentindo a mão quente dele em seu ombro.
-Então?
Hinata sorriu. Teve que achar forças para que sua voz não saísse muito tremida.
- S-Sim eu vou com você.
- Beleza! – exclamou satisfeito – Venho te pegar bem cedo viu? Quero ver o Gaara assim que ele chegar. Até mais Hinata! – e já ia saindo quando deu meia volta e perguntou – O que você queria me dizer àquela hora, Hinata?
Ela ficou escarlate.
- N-N-N-Nada d-d-d-demais... A gente c-c-conversa amanhã! – e saiu correndo entrando rapidamente nos domínios do clã Hyuuga.
Naruto sorriu. Decididamente quem não gostasse de Hinata era um grande idiota.
Capítulo XIV – Sonhos de uma noite de verão
- Você está muito bonita, nee-san. Muito mesmo.
Hinata olhou-se no espelho. Talvez Hanabi estivesse exagerando, mas ela realmente gostou do que viu refletido. Usava um quimono lilás, decorado com diversas flores em sua estampa. Seu cabelo estava preso num coque no alto da cabeça, feito pela caçula que fizera questão de se vestir no quarto da irmã e ajudá-la a se arrumar.
- Aquele tal de Naruto vai cair pra trás quando vir você, nee-san. – falou ela soltando uma risadinha.
A menina vestia um quimono parecido com o da irmã, só que me tom azul-celeste. Estava tão produzida que aparentava ter uns dois anos a mais que sua idade, mas ainda assim estava muito bonita também.
- Você não acha que exagerou um pouco na maquiagem, Hanabi? – censurou Hinata.
- Eu não. To ótima. Você que não sabe se produzir, por isso namora aquele babaca e não um cara legal.
- Não chame o Naruto-kun de babaca, Hanabi. – ela corou antes de continuar - E eu não estou namorando ele...
- Não está mesmo? Mas você gosta dele, não é? – insistiu a menina.
Hinata enrubesceu. Isso não era coisa que, em sua opinião, deveria se falar com a irmã caçula.
- Hanabi, eu não acho que esse seja um assunto apropriado pra você...
- E por que não? – quis saber a caçula - Por que você ta com vergonha por ele ser um jumento? Tudo bem, eu não sou preconceituosa.
- Não é isso... E o Naruto-kun não é um jumento...
- E o que é? Medo do papai? Se ele deixou vocês saírem juntos então é por que não ver problema nenhum. Então pode falar sossegada.
Se a menina ao menos suspeitasse que a aprovação do pai nada mais era que um prazo dado para aplacar a própria consciência e não uma permissão, com certeza ficaria chocada. Mas Hinata jamais falaria disso com ninguém. Estava disposta a aproveitar aqueles dias completamente.
- Esqueça, vamos ver se o Neji-niisan já está pronto. – talvez se falasse no primo conseguisse mudar o foco da atenção de sua irmã.
Doce engano. No momento que estava se encaminhando para a porta, a menina mostrou que não ia desistir tão facilmente.
- Espere! – Hanabi bloqueou o caminho da porta – Eu já sei! Ele te deu um fora não é? – falou rindo.
- Hanabi! Não é nada disso. – e sentindo a face arder, sentiu que confessar aquilo para sua irmã talvez não fosse tão difícil - E-E-Ele não sabe que eu gosto dele...
- Oh! – exclamou Hanabi interessada – Você não se declarou pra ele ainda? E eu que pensei que a besta era ele! Mas você é mais besta ainda! Por que você ainda não se declarou?
- Eu tenho m-medo que ele não goste de mim... – uma sensação desagradável se alojou em seu coração.
- Você não deve ter medo dessas coisas nee-san, senão nunca será feliz. – Hanabi falava como se fosse experiente no assunto – Eu já me declarei pra quem eu amo.
- Quem? - perguntou Hinata surpresa.
- Ora quem? O Neji é claro! Mas ele disse que eu não podia falar esse tipo de coisa, que não era apropriado pra minha idade e que eu era ainda uma criança. – aquela afirmação não parecia ter sido muito bem aceita pela menina - Mas não me importo. Quando eu passar no exame chunin ele vai me notar, isso eu garanto.
Hinata só conseguiu rir diante da determinação da irmã. Ela era realmente muito criança ainda. Abraçando a irmã, começou a acariciar seus cabelos.
- Você é realmente especial, Hanabi. Ainda vai achar a pessoa certa pra você.
- Você é surda? Não ouviu o que eu disse? O Neji é a pessoa pra mim. Ele só ainda não se convenceu disso.
Elas saíram do quarto, Hinata rindo e Hanabi contrariada por não estar sendo levada a sério. Neji as esperava do lado de fora, vestindo o tradicional quimono da família Hyuuga. No lugar da bandana da vila de Konoha, ele trazia uma faixa branca na cabeça que cobria seu selo. Não era de se espantar que Hanabi fosse tão apaixonada por ele, afinal, pensou a herdeira. Com dezenove anos, Neji era um homem muito bonito. Seus cabelos estavam mais longos e eram tão belos que fariam inveja a muitas mulheres e seu ar sério e pouco risonho só o deixava ainda mais charmoso.
Logo que o viu, Hanabi se desvencilhou dos braços da irmã e agarrou o braço dele.
- Neji! Você vai ficar comigo a festa toda, não é? – perguntou alegremente.
- Seu pai me pediu para olhar vocês duas, Hanabi-sama. – respondeu ele seriamente.
- Ah, esquece a Hinata-nee-san! Ela vai estar com o Naruto mesmo! Você pode dar atenção só a mim!
- Neji-nii-san, onde está o papai? – quis saber Hinata - Ele não vai para o festival conosco?
- Não. Ele disse que tem muitos afazeres.
- Entendo... – murmurou ela triste.
- Vamos? – perguntou a caçula ainda segurando forte o braço do primo.
- Vamos. – falou Neji sem parecer estar se importando com a menina tentando chamar sua atenção desesperadamente.
Naruto já os esperava do lado de fora dos domínios do clã. Ele vestia uma calça laranja, uma camiseta preta com um redemoinho na frente e tênis. Parecia bem a vontade com a roupa informal.
- Boa tarde, Neji, Hinata e... – ele parou seus olhos sobre Hanabi tentando lembrar seu nome.
- É Hanabi! – ela falou irritada – H-A-N-A-B-I! Entendeu ou quer que eu desenhe?
- Hanabi! – exclamou Hinata corando.
- Vamos Neji! Deixe o casalzinho pra trás! – E saiu puxando o braço do rapaz saiu quase que correndo com ele.
Hinata observou a cena e corou quando seus olhos se cruzaram com os de Naruto, pois ele lhe sorria alegremente.
- Desculpe minha irmã, Naruto-kun. – pediu timidamente - Ela é muito infantil ainda...
- Não tem problema. – Naruto caiu na risada – Ela é bem espontânea, não é?
- Até demais...
Eles começaram a caminhar em direção ao centro da vila. Naruto reparou que Hinata estava muito bonita com seu quimono lilás. Ela também trazia na mão um leque da mesma cor, e caminhava delicadamente em cima das sandálias de madeira.
- Você está muito bonita, Hinata.
Ela corou.
- O-Obrigada...
- Eu que não to um par muito bom pra você, né? – ele coçou a cabeça sem jeito - É que eu acho que aqueles quimonos não ficam muito bem em mim sabe? O Neji que tem jeito para usá-lo... Ele fica bem neles...
- Eu acho que você ficaria muito bem em um quimono, Naruto-kun...
Ele sorriu encabulado e corou um pouco.
- Nada! Eu fico bem mesmo é de laranja! – ele apontou pra roupa – E sem a bandana na cabeça! – os dois riram quando ele apontou para os cabelos espetados - Agora que percebi... O Neji ta usando aquela faixa na cabeça no lugar da bandana... É pra esconder aquele selo, não é?
Hinata afirmou tristemente com a cabeça.
- Ninguém da Bouke anda com aquela coisa horrível a mostra. – e completou – Eu jamais terei coragem de fazer aquilo com qualquer criança.
- Você sabe fazer aquele selo? – perguntou Naruto surpreso.
- Infelizmente. É uma das primeiras coisas que se aprende quando você é um sucessor da família Hyuuga. O selo que é colocado em todos da Bouke, e o encantamento para ativá-lo.
- E o que acontece se o selo é ativado? – perguntou ele ficando sério.
- O portador do selo morre.
Naruto parou de caminhar atônito. Olhou para Hinata como se não acreditasse no que ouvia. Não achava que as coisas chegassem tão longe.
- Então os membros da Souke têm realmente o poder de vida ou morte sobre a Bouke?
- Sim.
- Hinata... – falou Naruto cautelosamente – Você sabe ativar o selo?
Houve um momento de silêncio.
- Sim... Desde criança... – respondeu com um enorme pesar nas palavras.
- Se você quisesse – ele falou lembrando imediatamente de algo – poderia ter matado Neji facilmente no exame chunin há seis anos atrás!
Hinata o olhou nos olhos por um momento e o que Naruto viu, a dor e o sentimento presentes ali, não eram descrevíveis.
- Eu jamais faria isso com Neji-nii-san.
Ela era realmente uma pessoa para se admirar, pensou Naruto.
- Não vamos falar mais disso, Naruto-kun. – pediu ela voltando a andar.
- Tudo bem. Você quem manda!
Chegando ao centro da vila, eles constataram que estava difícil arranjar um local para assistir o desfile. Todos os melhores lugares pareciam estar ocupados quando eles começaram a procurar.
- Droga! – disse Naruto irritado – Assim não vai dar pra ver nada!
- Naruto-kun. – chamou ela – Acho que ali é a Sakura-san e o Sasuke-san nos chamando.
E era. Os dois faziam sinais para eles se aproximarem. Naruto e Hinata começaram a tentar chegar onde eles estavam, mas era muito difícil. Toda a vila de Konoha tinha comparecido e ficava muito ruim de andar no meio de toda aquela gente. Para não se perder dela, Naruto agarrou fortemente sua mão. Ela quase desfaleceu de tanta emoção. Se ele pudesse ver sua face, pensaria que o calor a tinha afetado. Mas o seu coração batia mais forte pelo fato de estar tocando na mão dele daquela forma. Quando finalmente chegaram ao local onde estavam Sakura e Sasuke, eles viram duas cópias de cada um.
- Que inteligente! – exclamou Hinata quando as cópias sumiram dando espaço para eles – Vocês usaram o bushin no jutsu para guardar lugares!
- Estávamos esperando por vocês! – falou Sakura rindo. Ela vestia um bonito quimono rosa estampado com flores de cerejeira. Uma combinação perfeita.
- Diga aí Naruto. Como vai a expectativa para o resultado da prova? – perguntou Sasuke sorrindo de canto de boca.
- Argh! Quando eu to esquecendo minha ansiedade você faz questão de me atormentar!
- É pra isso que os amigos servem! – disse ele dando umas tapinhas nas costa de Naruto.
- Belos amigos...
O desfile começou tomando a atenção de todos. Atrações da Vila de Konoha e da Vila da Areia se mesclavam no cortejo dando uma sensação de unidade para todos os expectadores. Naruto, inconscientemente manteve sua mão segurando a de Hinata e assim permaneceu por todo tempo.
- Olha! – falou ele apontando – É o Gaara!
O Kazekage vinha andando ao lado da Hokage. Estava acompanhado por seus irmãos, Kankuro e Temari. Naruto sorriu ao ver que o amigo o olhava. Gaara sorriu de volta.
- Vocês são muito amigos, não é Naruto-kun? – perguntou Hinata ao ver a forma como eles se olharam.
- Pode se dizer que sim. – respondeu sorrindo - Nós nos compreendemos completamente.
Quando o desfile acabou, ele apertou firme a mão de Hinata.
- Ei! – ele falou para Sakura e Sasuke – Nós vamos ali falar com o Gaara, você querem vir?
- Nós vamos ficar por aqui mesmo. – falou Sasuke – Mande lembranças para o Gaara.
- Pode deixar! – e saiu acompanhado da garota por entre a multidão.
- Eles fazem um par tão bonito! – exclamou Sakura.
- É. Só falta ele perceber isso.
A noite já havia caído quando as atrações acabaram e a multidão se dispersou mais depois do fim do desfile. Agora as pessoas se preocupavam em comer petiscos, brincar nas barracas de jogos e se confraternizar com as pessoas da vila amiga. Era impressionante o número de pessoas com a bandana da vila da areia.
- Veio muita gente da Areia... – comentou Hinata.
- É mesmo. Mas onde será que se meteu o Gaara? – perguntou Naruto que olhava para todos os lados e não achava o amigo.
- Acho que ele deve estar perto da Hokage. Vamos em direção ao lugar onde ela fica.
- Boa idéia! Vamos!
E Hinata estava certa. Ao lado de Tsunade, em uma tenda montada perto do monumento de pedra dos Hokages, Gaara e esta conversavam animadamente.
- Gaara! Ei, Gaara! – gritou Naruto antes mesmo de chegarem até onde eles estavam. Mas antes de se aproximar do local, alguém os barrou.
- Onde você pensa que vai? – falou uma voz irritada.
Era Baki, sensei de Gaara e seus irmãos. Naruto parecia confuso com a interrupção dele.
- Como assim? Eu vou falar com o Gaara!
- O Kazekage está ocupado caso você não tenha visto. E não o chame tão informalmente. Ele não é qualquer um. – O homem parecia irritado com algo.
Naruto o olhou com uma mistura de raiva e vergonha no olhar. Tentou focalizar o amigo para que este o visse, mas com Baki no meio era quase impossível.
- Tudo bem Naruto-kun. – falou Hinata delicadamente puxando-o pela mão. – Quando o Gaara-sama estiver desocupado, nós voltamos.
Tristemente, Naruto se deixou levar por Hinata. Sentia-se humilhado. Não que fosse uma sensação desconhecida por ele, mas estava revoltado com a forma com que Baki falara com ele. Parecia estar falando com alguém descartável, como se ele nunca tivesse salvado Gaara das mãos da Akatsuki.
- Naruto-kun... – chamou Hinata docemente.
- Esqueça Hinata. – e inconscientemente apertou mais a mão da garota - Vamos andar por ai. Depois eu tento falar com ele. Amanhã talvez.
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Shikamaru achava tudo aquilo uma perda de tempo. Tanto trabalho com a decoração que seria retirada no dia seguinte, tanta organização para depois ter que limpar tudo... Decididamente ele não gostava de festivais. Principalmente quando tinha que ficar na barraca montada por seu pai para vender produtos produzidos no clã. Sua mãe parecia muito animada. Vendia loções de beleza para as clientes de diversas idades, tanto de Konoha quanto da Areia com um sorriso no rosto, enquanto o pai cuidava do caixa. A ele foi designado embalar os produtos.
- Aqui está. – dizia sua mãe a um grupo de adolescente – Use três vezes por dia que sua acne vai melhor cem por cento!
- Obrigada Nara-san! – agradeceu a adolescente antes de se retirar com as amigas.
- Ah, querido! – falou Nara Yoshino - As loções já acabaram! Vou ter que ir em casa pegar mais. – e se dirigindo ao filho falou irritada - Shikamaru ponha um sorriso no rosto quando for atender as clientes!
- Ta, ta, vou tentar...
Quando ela saiu pelos fundos, Shikamaru comentou com o pai que arrumava os produtos na prateleira:
- É realmente necessário isso? Somos farmacêuticos, então por que temos que vender produtos de beleza?
- Ah, meu filho. Nem só de remédio vive o clã não. Além do mais, as mulheres são nossas freguesas mais assíduas – completou piscando o olho para o filho.
Ele não estava muito convencido. Muitas dessas “freguesas” podiam morrer usando os produtos do clã Nara e continuariam horrendas.
- Ora, ora, que surpresa! Nara Shikamaru trabalhando...
Temari acabara de chegar à barraca onde ele estava para a surpresa do rapaz. Vestia o típico quimono da Areia e vinha desacompanhada. Parecia se divertir com a cara de emburrado dele.
- Ah, é você... – mal terminou de dizer a frase e recebeu um grande cascudo do pai – Ei, por que você me bateu?
- Isso é jeito de se falar com uma dama? Onde está a educação que eu te dei?
- Cara que saco...
Seu pai se aproximou de Temari com um largo sorriso no rosto e pegou suas mãos.
- Temari-chan, não ligue para esse babaca! Você sempre será bem vinda ao clã Nara.
Ela retribuiu o sorriso.
- Não se preocupe Shikaku-san, eu darei um jeito nele! – disse animadamente.
- Oh - disse Shikaku – eu a amarei eternamente por isso!
- Se a mamãe pegar você falando desse jeito com outra mulher, ela te castra... – Shikamaru falou um pouco aborrecido por ver que Temari sorria tão abertamente com seu pai.
Shikaku parecia não notar o aborrecimento do filho e continuou animado:
- Ah, Shikamaru, sua mãe sabe que ela é a mulher da minha vida! Mas a Temari-chan será nossa nora então tenho que bajulá-la ou ela desiste de você!
Shikamaru ficou totalmente constrangido com as palavras do pai. Para piorar, Temari começou a entrar na brincadeira também.
- Não se preocupe Shikaku-san. Eu não desistirei de seu filho. – falou rindo – Nem que pra isso tenha que matá-lo!
- Oh, que emoção! – seu pai começou a fingir um choro de felicidade.
- Ei, ei. Temari, não dê corda ao meu pai! – agora suas bochechas estavam avermelhadas.
Mas ela parecia estar se divertindo com o pai dele chamando-a de “norinha” o tempo todo. Até que Temari avistou alguém e ficou receosa.
- Droga! Minha dama de companhia! – e pulou para dentro da barraca – Eu não estou aqui! – avisou se escondendo embaixo da mesa.
Uma garota mais ou menos da mesma idade que ele, chegou. Tinha os cabelos longos e pretos e parecia nervosa.
- Por favor, vocês viram Temari-sama por ai? – perguntou se dirigindo a Shikamaru.
- Na verdade... – começou ele.
- Não, não vimos! - falou seu pai rapidamente tapando sua boca – Acho que ela deve estar lá na barraca dos Inuzuka com os cachorrinhos!
A garota pareceu ficar extremamente assustada ao ouvir a palavra “cachorrinhos”, mas agradeceu e seguiu em frente.
- Quem era? – perguntou Shikaku ainda segurando a boca do filho.
- Minha dama de companhia – falou Temari desgostosa saindo debaixo da mesa – Gaara insiste que eu devo ter uma.
Shikamaru finalmente conseguiu se livrar das mãos do pai e respirou fundo.
- Seu velho louco! Queria me matar?! – perguntou colocando as mãos no pescoço.
- Ah, Shikaku-san! Poderia me emprestar o Shikamaru um pouquinho? – pediu Temari com uma voz manhosa.
- Claro, claro! Leve!
Ela agarrou na mão do garoto e fugiu na direção oposta onde estava sua dama de companhia.
- Não precisa devolver hoje! – gritou Shikaku quando eles estavam correndo.
Já distante do tumulto da vila, eles começaram a caminhar lado a lado, ela parecendo aliviada e ele, irritado.
- Você devia parar de dar corda ao meu pai. Ele pensa que somos namorados. – avisou o rapaz olhando para todos os lados, menos para ela.
- Ah, mas eu gosto tanto dele! Ele é super divertido! – disse a garota rindo.
- Ele é um saco... Mas por que você me trouxe aqui?
- Ora, você deveria saber! É o único com quem eu consigo conversar de igual pra igual nessa vila!
- Cara que saco... Por que não vai falar com a Sakura ou a Tsunade-sama?
- Prefiro falar com você.
Shikamaru suspirou.
- É por isso que eu digo que vocês mulheres são complicadas... Uma hora não larga das amigas em outra nem quer ver elas...
Temari caiu na risada.
- Não me diga que você prefere os homens, Nara...
Enrubescendo, ele respondeu rapidamente.
- Claro que não!
- Então o que acha disso? – falou ela sedutoramente abrindo um pouco mais o decote do quimono.
Ele ficou ainda mais escarlate e virou de costas.
- P-Pare c-com isso! – disse nervoso.
-Ah, olhe, olhe!
Mas ele permaneceu de costa, constrangido. Temari sabia que sua presença o deixava incomodado e investia nisso. Aproveitando que ele estava de costas, o abraçou.
- Vamos, olhe para mim... Eu sei o que você sente... E você também sabe o que eu sinto... Vamos conversar... – sua voz era suave quando ela encostou a cabeça nas costas dele.
- Tudo bem Temari. Eu converso. Mas você poderia PARAR DE APERTAR MINHA BUNDA????
- Opa, desculpe! Não resisti! - falou ela rindo e tirando a mão da bunda dele.
Ele se virou.
- Pronto, agora podemos conversar civiliza...- mas não terminou a frase, pois Temari o beijou longamente.
Ele preferiu retribuir. Não dava mais pra se esconder. Ambos sabiam o que sentiam um pelo outro. Como sabiam também que se fossem esperar por ele, nunca aconteceria nada.
“Cara...” pensou ele “ Isso é bom...”
****************
Inuzuka Tsume andava preocupada. Nos últimos dias, desde que se espalhara a notícia que Naruto e Hinata possivelmente estariam namorando, seu filho caçula e Akamaru estavam acabrunhados e tristes. Não comiam direito, nem davam os longos passeios como antes. Começava a achar que deveria pedir para a Hokage examiná-lo. Ele poderia estar sofrendo de depressão.
- Kiba-kun! – chamou carinhosamente – Venha ficar comigo atendendo os clientes!
- Não quero mãe. – falou se encolhendo ao lado de Akamaru, na parte interna da barraca, ambos sentados no chão.
- Ah, meu filho! Já vendemos tantos cachorrinhos! E tem muita gente comprando pílulas e xampus! Estamos cheios de trabalho. Venha por favor!
Ele se levantou a contragosto e a seguiu. Não estava com ânimo de ver ninguém, mas também não queria magoar a mãe que já estava tão preocupada com ele. A barraca dos Inuzuka era uma das mais freqüentadas, talvez só perdesse para a dos Akimichi. Todas as crianças queriam alimentar com os cachorrinhos, brincar com eles e até adotá-los. Sua irmã, Hana, tinha treinado um grupo de filhotes para fazer pequenas apresentações e até tinha colocado uma roupinha em cada um.
- Vamos! – ela chamava os filhotes – Dancem!
E os filhotinhos ficavam em pé nas patinhas traseiras e começavam a dançar. As crianças adoravam. Mas uma delas decidiu armar seu próprio espetáculo. Tirando uma bombinha do bolso, soltou no meio do picadeiro dos filhotes e saiu correndo. Foi um verdadeiro pandemônio. Os filhotes, assustados com a pequena explosão, começaram a correr para todos os lados. Na tentativa de deter a fuga deles, Kiba se abaixou para pegá-los. Mas eles realmente estavam assustados. Passaram por baixo de suas pernas o desequilibrando até que caiu de cara no chão sendo atropelado por um bando de cachorrinhos assustados.
Alisando a testa que sangrava da queda, Kiba tentou se levantar. Porém percebeu que um dos filhotes havia entrado por baixo de sua camisa e estava em suas costas. Tentou alcançá-lo, mas não conseguiu. Quando se virou no chão em busca do filhote que agora andava em seu peito, um par de pernas estava bem acima dele. Um par de pernas femininas. Se levantando de um pulo, ele viu uma garota de uns dezoito anos de cabelos longos e pretos olhando assustada para ele. Ela vestia um quimono tradicional da vila da areia e trazia uma bandana amarrada no braço. Parecia temporariamente sem fala.
- Oi? – disse ele ainda tentando achar o cachorrinho.
- O-O-Oi... – ela gaguejou.
- Mana! – pediu já desesperado – Tira esse filhote aqui!
Hana veio rindo da cena. Já conseguira pegar todos os filhotes de volta.
- Não se mexa. – ela disse enquanto pegava o cachorrinho de volta.
- Ufa, obrigado. – agradeceu quando ela levou o bichinho embora.
Agora encarava a garota que não movia nada além dos olhos. De repente ela levou os dedos aos lábios e fitou nervosa, os cachorros.
- Posso te ajudar? – ele perguntou intrigado.
- Err... Eu e-estou procurando Temari-sama... Disseram-me q-que ela estava a-aqui...
- Temari-san? Não, ela não apareceu por aqui. Mas caso apareça, posso dizer que você procura por ela. Seu nome é...?
- Miyake Soichiro... – ela murmurou ainda olhando para os cachorros.
Kiba reparou que ela não desgrudava os olhos dos cachorros que agora, calmos, brincavam novamente com as crianças.
- Você quer pegar algum? – perguntou sorridente pegando um filhotinho e aproximando dela.
Assustada, Soichiro se afastou do filhote. Kiba estranhou a atitude.
- É só um filhotinho. – disse ele.
- Desculpe... – pediu ela envergonhada – Eu não gosto muito de cachorros...
- Ué, por quê? – perguntou colocando o filhote no chão.
- Eu já fui mordida p-por um...
- Ah, mas não é todo cachorro que morde... Meu Akamaru não faria isso, não é Akamaru?
Akamaru latiu como se concordasse.
Ela ainda parecia não estar convencida.
- Eu n-não... – e sua voz sumiu no meio da frase.
O filhotinho que Kiba tinha colocado no chão lambia seus tornozelos. Soichiro perdeu toda a cor do rosto. E antes que Kiba pudesse tirá-lo dali, ela desmaiou.
- Hã? – exclamou surpreso pagando ela antes que caísse no chão. – Que garota estranha... Mana!
Com a ajuda de Hana, ele colocou a garota desmaiada em um colchonete na parte de trás da barraca.
- Vou buscar um médico. Olhe ela. – disse Hana.
- Mas por que você mesma não cuida dela? – quis saber Kiba.
- Kiba, eu sou uma veterinária. Não cuido de gente, a não ser de você. - sorrindo acenou se despedindo - Espere aqui.
Kiba ficou obedientemente onde estava. Sua testa ainda doía da queda. Limpou o sangue já seco com a mão e ficou olhando para Soichiro. Por que ela tinha tanto medo de cachorros? O que tinha sido tão grave que a fazia ter medo de um simples filhote? Deveria ser algo muito sério, já que a fama dos ninjas da Areia era de destemidos e corajosos.
“De corajosa essa ai não tem nada”, pensou rindo.
Aos poucos ela acordava. Olhou para o teto desorientada e depois se sentou rapidamente no colchonete.
- Yo! – cumprimentou Kiba.
- O que aconteceu? – perguntou desorientada.
- Você desmaiou. Por causa de um filhotinho. – ele riu.
- Não zombe de mim! – ela falou irritada.
- Não estou zombando de você. Só acho engraçado seu medo de cachorros.
- Eles são assustadores... – falou olhando para Akamaru.
Kiba sorriu gentilmente para ela.
- Realmente tem uns que são. Quando eu era pequeno, morria de medo do Kuromaru, cachorro de minha mãe. Mas a gente se acostuma. – ele acariciou a cabeça de Akamaru – Mas me diga, um cachorro te mordeu? Como foi que aconteceu?
- Bem... Eu era criança ainda... Um cachorro selvagem me mordeu e eu quase morri de hemorragia – dizendo isso, ela abaixou um pouco a gola do quimono revelando uma feia cicatriz no pescoço, em formato de presas.
Kiba soltou um assobio.
- Isso foi feio. Agora entendo. Acho que minha irmã pode ajudar, ela é veterinária e tem uns cremes que tiram cicatrizes de mordida.
- Sério? – ela pareceu interessada.
Ele fez que sim.
- Lembre que somos o clã que cuida de cachorros de batalha de Konoha! Precisamos esconder nossas falhas! Afinal, que confiaria em um ninja que treina cachorros, cheio de mordidas?
Foi a primeira vez que Soichiro riu.
- Mas me diga qual seu nome? – ela perguntou.
- Opa, que mancada! Inuzuka Kiba, prazer. – e apertou a mão dela.
- Miyake Soichiro. – ela repetiu.
- Eu sei... Amiga de Temari, certo?
- Na verdade dama de companhia... Idéia do Kazegake-sama... Mas Temari-sama sempre acaba fugindo de mim. Acho que não sou uma companhia muito boa...
- É claro que é! Veja, apesar de você não gostar de cachorro, não me xingou uma única vez! Você é uma ótima companhia.
Envergonhada ela baixou a cabeça.
“Ele gosta de cachorros, mas é bem bonitinho” pensou Soichiro.
“Ela não gosta de cachorro, mas é bem bonita...” pensou Kiba.
- Kiba, não achei ninguém então... Oh, ela acordou! Que bom. – disse Hana sorrindo.
- Mana você ainda tem daquele creme que tira cicatriz? – perguntou ansioso.
Hana pensou um pouco.
- Tenho, mas está em casa.
- Posso ir buscar um pote?
- Claro! Mas fique um pouquinho na barraca pra mim. Depois eu cuido desse corte ai.
- Certo!
E olhando para Soichiro que estava se levantando, perguntou coçando a cabeça:
- Você quer esperar comigo lá fora? Depois a gente vai lá em casa e te dou um pote do creme. Pode deixar que eu mantenho os cachorros bem longe de você!
- C-Claro.
E o acompanhou de volta à barraca.
Naruto e Hinata estavam lá, mas Kiba nem percebeu. Estava empenhado em mostrar a Soichiro que cachorros eram legais. Nem que pra isso tivesse que vestir Akamaru de bailarina e botar ele pra dançar junto com os filhotinhos.
****************
Apesar do ocorrido com Baki, Naruto e Hinata conseguiram se divertir muito. Comeram bolinhos de polvo na barraca armada pelo clã Akimichi, brincaram de achar o inseto no arroz na barraca da família Aburame e até alimentaram cachorrinhos com os Inuzuka. Para o alívio de Hinata, e de Naruto também, Kiba estava conversando animadamente com uma garota da Areia e nem prestou atenção quando eles estavam lá. Pra coroar a noite, Naruto conseguiu pegar um peixinho com os pegadores de papel e deu a ela de presente.
- Obrigada, Naruto-kun. Como irei chamá-lo? – perguntou observando o peixe através do pequeno aquário improvisado feito de sacola de plástico.
- É só um peixe. Você não precisa dar um nome pra ele. – opinou Naruto também olhando para o peixe.
- Claro que precisa. É um bichinho também!
- Ah, põe qualquer nome. Totó, talvez...
Hinata caiu na risada.
- Totó é nome de cachorro.
- Humm... Mimi? – arriscou ele de novo
- Nome de gato. – ela sorria diante das tentativas dele.
- E qual seria o nome apropriado para um peixe? – por mais que tentasse Naruto não imaginava um nome que seria apropriado para o pequeno animal que nadava tranqüilo na sacola.
- Que tal Nemo? – falou ela se lembrando de um filme que gostara.
- É, pode ser. Você quem sabe, o peixe é seu.
- Tudo bem, então. Seu nome vai ser Nemo. – disse olhando para o peixe, como se pudesse conversar com ele.
- Aiai, ela já ta falando com o peixe... – brincou ele.
Eles haviam tomado o rumo do Ichiraku ramen, quando alguém apareceu na frente deles, de braços cruzados e um olhar muito sério. Parecia um pouco irritado e ao mesmo tempo feliz.
- Gaara! – exclamou Naruto feliz.
- Pensei que você iria se dispor a falar comigo, Naruto. – Gaara falou em um tom um pouco chateado.
Naruto observou o amigo chateado e sentiu uma raiva maior ainda de Baki.
- E eu fui. Mas aquele seu sensei não deixou. – acrescentou irritado.
Gaara descruzou os braços e se aproximou ainda mais, perguntando:
- Se refere à Baki?
- Sim.
- Terei uma conversa com ele depois...
Hinata olhou para Gaara e depois para Naruto e percebeu que eles deviam ter muita coisa para conversar a sós, então decidiu sair para deixá-los mais a vontade.
- Err... Naruto-kun? Vou esperar você lá no Ichiraku, certo? Vou deixar vocês conversarem a vontade...
- Certo. – concordou Naruto - Eu não demoro.
Depois que a garota se distanciou, Gaara deu um pequeno sorriso.
- Quem é ela? – perguntou.
- Você não lembra? Hyuuga Hinata. Ela lutou com o Neji no exame chunin há seis anos atrás.
Gaara fazia um esforço para lembrar.
- Hyuuga... Hyuuga... Hinata... A herdeira do clã?
- Essa mesma.
- Interessante. – disse enigmático - Mas me fale um pouco sobre como vão as coisas por aqui. Eu soube que você está tentando virar um jounin.
- Ah, é verdade. – e começou a contar tudo que tinha acontecido, desde que recebera a notícia da Hokage até a realização da prova três dias antes.
- Muito flexível a Hokage. – comentou Gaara – Na Areia, não permitiríamos que um genin tentasse virar jounin...
- Ainda bem que eu moro em Konoha...
Eles riram.
- Mas já que você perguntou, agora é minha vez. Como vão as coisas lá na Vila da Areia?
Gaara olhou surpreso para ele.
- Você não sabe? Pensei que Tsunade-sama tivesse te dito, já que você é o preferido dela.
- Vovó Tsunade não me conta nada. Nem eu sou preferido dela.
Gaara fitou o céu com um olhar distante.
- Você sabe que as vilas ocultas são rivais por natureza. Elas disputam as melhores missões entre si. Mas mesmo assim, há vilas que se unem. É o caso de Konoha e Areia. Somos aliados. Bem como a Nuvem é aliada à Névoa. – e voltando seu olhar para Naruto continuou - Mas uma aliança não é só garantia que aquelas vilas não vão se atacar, mas também uma garantia que, em caso de guerra de qualquer lado, a outra irá a seu socorro imediatamente.
- Então se houvesse uma guerra envolvendo Konoha, a Areia iria lutar ao nosso lado?
- Exato. Bem como a Névoa lutaria ao lado da Nuvem e vice-versa. A questão é que há um clima de muita tensão entre Areia e Nuvem. Uma guerra pode estourar a qualquer momento e seria Konoha-Areia, contra Nuvem-Névoa. Portanto, as forças estão equilibradas.
“Uma guerra?’” pensou Naruto horrorizado. Como é que ele não sabia daquilo? Naquele momento, o jantar na casa de Sakura pareceu bem nítido no seu pensamento. Toda a tensão de Tsunade naquele dia fazia sentido.
- Somente uma vila mantém neutralidade. – concluiu Gaara percebendo a perplexidade de Naruto.
- A Pedra? – perguntou ele lembrando as aulas com Hinata.
Gaara fez que sim com a cabeça.
- Por isso nós estamos aqui hoje. Para reforçar nossos laços com Konoha. Daqui a dois dias eu estarei indo juntamente com alguns de minha vila ao país da Terra tentar um contato com o Tsuchikage. É essencial uma aliança com eles nesse momento.
- Alguém de Konoha vai acompanhar vocês?
- Isso não é possível. Seria o mesmo que declarar a guerra, pois pareceria que queremos uma guerra. Indo apenas nós da Areia, tudo será mais sigiloso.
- Nossa, eu não sabia que isso estava acontecendo. - ele estava um pouco chateado por Tsunade não ter contado nada daquilo a ele - Ser um Kage é muito difícil, não? Começo a questionar se eu serei um bom Hokage...
- Tenho certeza que será. E quando você for o Hokage de Konoha, nós iremos sentar no seu escritório tomando chá, enquanto discutimos o melhor para nossas vilas. – acrescentou Gaara.
Naruto sorriu feliz para ele.
- É claro que iremos.
- Agora eu preciso ir. Já me ausentei por muito tempo. Amanhã nos vemos antes da minha partida. Por hora não quero poupar sua bela namorada de sua companhia.
Naruto suspirou. Já estava cansado de explicar aquilo.
- Hinata não é minha namorada Gaara.
- E por que não? – perguntou ele surpreso.
- Bem... – Naruto corou – Ela gosta de outra pessoa...
- Sério? Se ela gosta de outra pessoa, por que esteve com você durante todo festival e não com a pessoa que ela gosta?
Tinha lógica o que Gaara falara. Por que Hinata estava com ele afinal?
- Até amanhã, Naruto. – acenou se despedindo.
“Por que ela está comigo e não com a pessoa que ela gosta?”
*****************
Sakura e Sasuke andavam felizes e de mãos dadas no festival. Ela parecia bem melhor que nos outros dias, reparou Sasuke. O estresse de se trabalhar em um hospital era grande demais se comparado a outros. Lidar com a dor e o sofrimento de várias pessoas todos os dias era desgastante demais.
Por isso praticamente a arrastara para aquele festival. Queria ver Sakura melhor e menos nervosa.
- Se divertindo? – perguntou ele.
- Muito! – respondeu Sakura feliz – Fazia tempo que não me divertia tanto!
Sasuke apertou um pouco mais a mão dela e sorriu.
- Viu como foi bom nós termos vindo? E você nem queria vir...
Corando um pouco e se sentindo meio constrangida, Sakura desviou a vista do seu namorado.
- Eu estava realmente cansada...
Sasuke reparou que havia algo estranho em Sakura nos últimos dias. Ela estava sempre nervosa e agia estranhamente com ele. Mas não falou nada em virtude de toda tensão que pairava dentro do escritório da Hokage. Como discípula, Sakura tinha acesso direto com Tsunade e parecia estar preocupada tanto quanto sua mestra. Então ele decidira que faria com que aquela noite fosse especial!
- Quer comer alguma coisa? – perguntou ele.
- Quero! – disse animada – Quero Takoyaki!
Eles foram andando animados em direção à barraca de Takoyaki, quando eles passaram por entre algumas barracas mais escuras, Sasuke estacou com os olhos arregalados.
- O que foi Sasuke-kun? – perguntou Sakura.
- Aquele ali não é o Sai?
Sakura olhou rapidamente. Realmente era Sai que estava abraçado possessivamente com uma garota que o beijava ardentemente. Só que a garota não era Ino.
Rapaz viu, no momento que Sakura começou a ficar vermelha que era a hora de tirá-la dali. Pegou a mão dela e saiu puxando-a antes que ela avançasse em cima do casal. Só que a garota não parecia muito disposta a ir com o namorado e forçava o pulso para que este a soltasse. Todavia, Sasuke era bem mais forte e continuou puxando-a até chegar a um local mais reservado.
- Sasuke! – começou irritada – Por que você me tirou de lá? Eu ia pular no pescoço daquele sem vergonha!
- Justamente por isso que eu a tirei de lá. Não é uma boa hora para escândalos.
- Não é? – o tom de voz dela se alterou – A Ino precisa saber disso!
- A Ino pode até saber disso, mas não acho prudente que toda a vila saiba. – e olhando para os lados, constatou que ninguém os via e acrescentou – Ou você quer que sua amiga passe por essa vergonha?
Sakura se acalmou imediatamente. Sasuke tinha razão. Não podia expor a amiga em público dessa maneira.
- O que farei Sasuke-kun? – perguntou ela desanimada.
Ele suspirou.
- Sinceramente, eu não sei. Não sou bom nessas coisas... Mas se fosse eu no lugar da Ino, iria querer saber...
- Eu jamais trairia você! – afirmou Sakura convicta.
Mesmo que a situação fosse séria, Sasuke não pode deixar de sorrir. Abraçou-a fortemente, sentindo uma palpitação no peito. Não gostava nem de imaginar Sakura em outros braços. Mas sabia que ela jamais o trairia. Acreditava nos sentimentos dela. Como também sabia que jamais conseguiria sentir qualquer atração por outra mulher.
- Eu sei. Eu acredito em você, Sakura...
Ela também o abraçou.
- Eu vou falar... – resolveu com a voz embaçada – Vou falar com a Ino...
E dando as mãos, começaram a procurar a menina.
Mesmo que tivesse resolvido falar, Sakura ficava imaginando se Ino iria acreditar nela, ou se ia chamá-la de mentirosa. Já ouvira falar de vários casos de amigas que romperam justamente por que uma delas viu o namorado da outra a traindo e avisou. Todavia a outra não acreditou e elas brigaram. Mas uma coisa ela tinha certeza. Amigos não devem se calar quando vissem algo do tipo. Ou, mais tarde, se ela soubesse por outras bocas, ia repreendê-la por não ter contado.
“É uma faca de dois gumes” pensou Sakura se aproximando de Chouji “Vou ariscar”.
- Chouji-kun! – chamou ela tentando parecer animada – Viu a Ino por ai?
Chouji estava junto de Shino, e os dois pareciam muito absolvidos em uma conversa.
- Não vi não Sakura. – desculpou-se o garoto – Mas se ela aparecer por aqui eu digo que você está procurando por ela.
- Ah, obrigada. – agradeceu a médica e já ia se retirando quando Shino falou:
- Eu a vi.
- Sério? Onde? – perguntou interessada.
Shino apontou para a saída da vila.
- Eu a vi indo para lá, mas já faz algum tempo.
- Mesmo assim obrigada! Vamos Sasuke-kun!
Não demorou muito para achar Ino. Ela realmente estava fora dos domínios da vila. E também não estava sozinha. Sasuke colocou a mão na boca para não cair na risada e Sakura ficou olhando bestificada. Ino estava aos beijos com um rapaz da vila da Areia. Vendo que, afinal não tinha nada o que fazer, Sasuke puxou Sakura, que dessa vez foi sem resistência.
- Acho que isso é um empate. – falou ele rindo ao voltarem para a vila.
- Que namoro estranho... – murmurou Sakura ainda sem acreditar.
- Esqueça isso... – pediu Sasuke lhe dando um rápido beijo – Vamos comer o Takoyaki que você tanto quer.
*****************
Como havia dito Hinata o esperava no Ichiraku ramen. Sorriu feliz quando ele chegou.
- Olá Naruto-kun! Como foi a conversa com o Gaara-sama?
- Esclarecedora. – ele murmurou.
- Já pedi pro tio aprontar o ramen do jeito que você gosta. – esclareceu no momento em que ele sentou. E percebeu que ele tinha a expressão séria - Algum problema?
- Nenhum. To morrendo de fome. – ele respondeu ainda pensativo.
Após o ramen, Naruto percebeu que Hinata estava muito cansada. Ela tentava, sem sucesso, conter o bocejo. Afinal, já era tarde da noite. Devia passar da meia noite.
- Acho que já está na hora de você ir para casa Hinata. – falou ele se levantando após pagar o ramen.
- Eu to bem - falou ela dando outro bocejo.
- Vamos. – insistiu ele.
Eles tomaram o caminho do clã Hyuuga. Hinata estava realmente cansada. Enquanto andava, se apoiava no braço de Naruto sem nem ao menos perceber. Para evitar que ela derrubasse Nemo no chão, Naruto agora carregava o peixe. No meio de uma das muitas pontes que recortava Konoha, um anbu surgiu como um passe de mágica assustando os dois, fazendo com que Naruto se sobressaltasse.
- VOCÊS NÃO SABEM COMO CHEGAR COMO GENTE NÃO? – gritou ele indignado.
O grito de Naruto despertou totalmente Hinata, que prontamente largou o braço dele assumindo uma cor escarlate no rosto. O anbu se limitou a entregar uma carta para ele e foi embora rapidamente.
- Cheguei à conclusão que não gosto desse cara da anbu... – disse mal-humorado enquanto abria a carta.
- O que será isso? – perguntou Hinata apreensiva.
Quando Naruto leu a carta, a cor fugiu do seu rosto. Ele arregalou os olhos e parecia atônito a cada linha que lia.
- Naruto-kun... – chamou ela preocupada.
Naruto nem ao menos terminou de ler a carta, dobrou-a bem e passou para Hinata. A garota passou os olhos pela carta, mal acreditando no que lia. Era o resultado do teste escrito de Naruto.
- Nota... Máxima? – disse ela.
- Eu passei... – ele sussurrou – Eu passei... Eu passei – seu tom de voz foi aumentando até que se transformaram em gritos que ecoaram pelo lugar – EU PASSEI! EU PASSEI!! - e se virando para Hinata – E tudo graças a vocês!
Hinata ficou mais vermelha ainda. Ele a olhava com uma intensidade que ela nunca vira. E antes que pudesse dizer qualquer coisa, Naruto a abraçou pela cintura, suspendeu-a no ar e começou a girar com ela no braço como um louco pela ponte.
- EU PASSEI! EU PASSEI!!!
- Naruto-kun... Cuidado, nós...
Mas ela não conseguiu terminar a frase. Em sua alegria, Naruto tropeçou em uma pedra que havia na ponte e, desequilibrando-se, caiu, juntamente com Hinata, dentro do rio que corria embaixo da ponte.
- Ah! – exclamou ele emergindo – Hinata?
-Aqui. – ela chamou atrás dele – Onde está Nemo?
Naruto levantou a sacola mostrando o peixe são e salvo. Ele não conseguia parar de sorrir.
- Hahahahahaha, eu nem acredito! Eu passei Hinata! E com a nota máxima! Quem poderia acreditar nisso? – ele começou a jogar água pra cima alegre.
- Eu sempre soube que você passaria Naruto-kun! – falou animada jogando água pra cima também.
- Huahuahauhauhauahuah só falta o teste de combate! Esse será fácil!
- Tenho certeza que sim.
Ele a olhou dentro dos olhos.
- Eu nunca teria conseguido sem você, Hinata.
Ela desviou os olhos dele. Não podia creditar que estava ouvindo aquilo.
- Tenho certeza que... Atchim!
- Opa, água fria! Se você ficar doente de novo, Sakura me mata! – e concentrando o chakra na mão, ele se apoiou no rio como se esse fosse chão firme e se levantou. Depois ajudou Hinata a se levantar também.
- Vamos antes que eu te machuque! Ou machuque o Nemo. Não é Nemo? Você ficou assustado com a queda? – falou para o peixe.
Hinata começou a rir.
- E você ainda fala de mim... Quem está conversando com o peixe agora?
Não demorou muito para chegarem à entrada do clã Hyuuga. Apesar de ser uma típica noite de verão, como estavam completamente encharcados, ambos tremiam de frio.
- Espero que seu pai não te veja chegar... – falou Naruto com os dentes batendo devido ao frio – Ele pode se zangar pelo estado que você está e... Sei lá... Lacrar meu chakra para sempre...
- Nós não podemos fazer isso, Naruto-kun...
- Ah, nunca se sabe... A raiva faz coisas incríveis... Melhor não arriscar.
Era hora da despedida. Depois de passar um dia incrível com ele, de tantas coisas boas, a sensação da despedida deixava um gosto amargo na boca. Mas Hinata já tomara uma decisão. E não ia voltar atrás. Chegara à hora.
- Bem – ele começou – Foi muito bem passar esse dia com você, Hinata. Na verdade esse e todos os outros. Muito obrigado. – ele se curvou em agradecimento.
- Quem deve agradecer sou eu, Naruto-kun. Nunca me diverti assim em toda minha vida. Obrigada. – ela se curvou também.
- Que bom que eu pude te divertir Hinata. Fico feliz. Err... Boa noite... – falou relutante - A gente se ver por ai...
Não sabia dizer onde. Não haveria mais estudos. E aquilo era triste para ambos.
- Naruto-kun! – chamou ela antes que ele fosse embora. – Lembra que ontem e-eu quis te dizer algo e não pude?
- Sim.
- E-Eu q-queria d-dizer h-hoje...
- Claro! – falou ele animado.
Hinata suspirou. Era agora ou nunca.
- N-N-aruto-kun... E-E-Eu q-queria t-t-t-t-t-te d-di-z-zer q-que e-e-eu gos-gosto m-muito de-de-de você, Naruto-kun!
Pronto, dissera. Era agora esperar a reação dele. Mas Naruto estava confuso. Não entendia muito bem o que ela quisera dizer.
- Hã, eu também gosto muito de você Hinata. Você é uma ótima amiga...
O coração dela parecia estar se perdendo em um grande abismo. Sempre soube disso. Ele não gostava dela. Tentou segurar as lágrimas, mas foi impossível. Elas rolaram abundantes por sua face.
- Hinata? – ele estava realmente confuso e perturbado. Não entendia as lágrimas dela.
Hinata olhou para ele. Seus olhos emitiam uma dor profunda.
- Eu n-não gosto de você s-somente como um amigo, Naruto-kun – ela murmurou – Pra mim, você é bem mais que um amigo. E sempre será.
E antes que ele pudesse assimilar a frase, ela desaparecerá no meio da noite, deixando seus soluços se perdessem na escuridão.
Capítulo XV – Tempo Perdido
Os vaga-lumes dançavam pelo ar ao redor de Naruto. De pé na entrada do clã Hyuuga, ainda tentava entender o que havia acontecido. Hinata o deixara ali, ensopado e confuso, segurando Nemo e não voltara mais. Ainda pensou em ir atrás dela, mas o que diria? Do que tinha de se desculpar? Simplesmente não sabia em quê a tinha ofendido tanto. Olhando para a escuridão em que se encontrava o caminho para a casa dela, teve vontade de segui-la e antes que ela alcançasse a porta, pedir que lhe revelasse seu erro. Mas ele já era experiente o suficiente para ter noção que entrar nos domínios de um clã como o Hyuuga sem permissão não era algo que fizesse bem à saúde. Então, mesmo se sentindo mal com o ocorrido, decidiu ir para casa e procurar a garota no dia seguinte para esclarecimentos.
- Tenho certeza que não fiz nada demais – falou consigo mesmo – ou você acha que eu fiz Nemo? – e olhou para o peixe como se esperasse uma resposta. Como este se limitou a continuar nadando, ele murmurou – Ta, você parece que não quer manifestar-se a respeito...
Os fogos de artifício começaram a iluminar a céu de Konoha. Os festejos continuavam e davam a entender que perdurariam pela madrugada. Ele, contudo, não teve a menor vontade de voltar à festa.
Sem Hinata, tudo tinha perdido a graça.
Além do mais, seus amigos estavam acompanhados e ele não pretendia ficar sobrando.
Ao entrar em casa a primeira coisa que fez foi providenciar um aquário para Nemo. Pegou um vaso transparente, lavou e colocou o peixe lá. Também jogou algumas migalhas de pão para ele. Só então foi ao banheiro tirar a roupa molhada. Ele tinha ensopado Gama-chan, mas sua sorte era que dentro só havia moedas. Tinha gasto todo seu dinheiro no festival, mas não se arrependia. Tinha se divertido como nunca. E pelo que parecera, Hinata também.
“Afinal, o que eu fiz?” Pensou desesperado colocando as mãos na cabeça.
Sua mente não o deixava em paz. Debaixo do jato de água quente, Naruto sentiu uma dor forte no peito ao lembrar das lágrimas que não fora capaz de evitar. Estava perdido e confuso. Sabia que tinha errado, mas não sabia onde. Tentou relembrar todo o dialogo o que tinha dito, mas era como se uma borracha tivesse apagado tudo.
“Amanhã eu converso com ela” prometeu pra si mesmo ao se deitar na cama alguns minutos mais tarde. “Hinata é uma pessoa centrada, bem diferente de mim. Se eu pedir desculpas pelo que eu fiz, tenho certeza que ela me perdoara!”.
Porém, o amanhã parecia não querer chegar. Deitado na cama, Naruto revirou-se de um lado para o outro sem conseguir dormir. A todo o momento aquele rosto magoado aparecia à sua frente. Nunca vira aquele olhar em Hinata antes. E isso o deixava desconcertado. Ela estava sofrendo... E se sua gastrite voltasse? E se ela precisasse se operar novamente por causa dele? E se naquele instante Hinata estivesse passando mal em casa, o amaldiçoando por tudo?
Definitivamente ele não iria dormir. Levantou-se e ficou andando pela casa. O relógio em formato de sapo já mostrava mais de três da manhã e ainda dava pra ouvir o festival. Chegando até a janela vislumbrou a diversão de todos. Mas aquilo já estava irritando-o. Continuou andando como um zumbi pela casa até estar de frente ao calendário. Já era dia 22. Em cinco dias Hinata faria 18 anos. Não queria estar em maus lençóis com ela quando chegasse essa data. Pretendia fazer uma surpresa para ela. Ainda não sabia muito bem o que era, mas tinha que ser algo à sua altura.
“Será que o cara que Hinata gosta sabe a data do aniversário dela?” Pensou repentinamente “Ou sabe e nem se importa?” então algo passou por sua cabeça “Será que ela se encontrou com ele na hora que eu falava com Gaara?! Pode ser que ele tenha dito alguma coisa para ela que a deixasse tão sensível... Ah, se eu descubro quem é esse miserável... Ele teria que beijar o chão que ela pisa... E ainda não seria suficiente”.
Não passava por sua cabeça quem pudesse ser essa pessoa, mas tinha certeza que “ele” era o responsável pelo sofrimento de Hinata. Começou a repensar mentalmente todos os homens que conhecia na vila procurando alguém que pudesse encaixar no perfil que ele acreditava ser o misterioso “amor” da amiga. Mas por mais que se esforçasse não conseguia pensar em ninguém que fizesse o “tipo” de Hinata.
- Nemo, eu sei que você é novo por aqui, mas me da uma luz!
Silêncio.
- Ótimo, eu já estou pedindo conselhos a um peixe! – exclamou irritado consigo mesmo - Acho que estou comendo ramen demais... – e se sentou numa cadeira de frente para o aquário e ficou observando os movimentos sinuosos da cauda do peixe.
Naruto foi aos poucos ficando sonolento com o movimento compassado do bicho. A sua cauda parecia hipnotizá-lo e causava-lhe uma sensação estranha de entorpecimento. Mas mesmo assim não parava de pensar em sua agonia.
- Tem que ser alguém da vila. – continuou “conversando” com Nemo – Deve ser alguém que ela seja bem próxima... Mas quem? Se ela gosta mesmo dele deve olhar de uma forma especial para ele... Eu já a vi olhar para alguém assim?
Seu rosto se refletia fantasmagoricamente no vidro do aquário. Podia ver claramente as linhas da sua bochecha se misturar com a água. De repente seu coração acelerou. Olhou para sua própria imagem como se estivesse se vendo pela primeira vez. Como se tivesse levado um choque, Naruto se levantou da cadeira tão rápido que a derrubou no chão. Sua respiração acelerou-se e ele parecia mais desperto que nunca.
Um olhar.
A forma de olhar.
As palavras de Sasuke, ditas há duas semanas atrás, começaram a voltar a sua lembrança:
“Naruto, você nunca reparou na forma que a Hinata te olha? Você nunca percebeu que ela te olha de uma forma especial?”
Não. Não podia ser verdade. Mas sua mente continuou despejando coisas que antes passaram despercebidas.
“No dia que VOCÊ conseguir responder essa pergunta, deixará de ser um imbecil.” Palavras de Sakura sobre o que ela queria dizer quando afirmara que a opinião de Hinata sobre ele não valia.
“Você nunca percebeu nada, Naruto-san?” palavras de Lee no dia que Hinata passara mal.
Todos sabiam.
Todos sempre souberam.
Menos ele.
Mal conseguia acreditar na sua burrice, mas só podia ser isso. As palavras dela começaram a rodar por sua cabeça, fazendo mais sentido que nenhuma outra:
“Eu n-não gosto de você s-somente como um amigo, Naruto-kun. Pra mim, você é bem mais que um amigo. E sempre será.”
Era ele a pessoa que Hinata gostava.
Era ele quem a fazia sofrer.
E se odiou por isso.
Em sua fúria, Naruto chutou a cadeira que antes estava sentado, fazendo com que ela se espatifasse na parede. O barulho acordou o vizinho do lado, já que este gritou:
- PARÁ COM O BARULHO AÍ, MOLEQUE!
- AH, VAI VER SE EU TO LA NA ESQUINA DESGRAÇADO!!!! – gritou Naruto mais alto ainda.
Seu coração estava doendo. Parecia que ia partir-se em dois. As lágrimas nublaram seus olhos. Durante todo esse tempo, estivera ao seu lado, conversara com ela, brincaram e se divertiram... Em nenhum momento ele pensou que estar com ela era algo mais, pois sempre estava pensando na sombra do “fantasma” que acreditava que existia na vida dela. O fantasma era ele próprio, o tempo todo. Hinata gostava dele. Isso era um fato.
Mas e ele? O que sentia realmente por ela? Essa foi a pergunta que mais o confundiu naquela noite. Não podia negar que a achava bonita, atraente, simpática... Gostava de sua companhia e de estar ao seu lado. Porém, não podia aceitar os sentimentos dela.
“Eu gosto da Sakura... Não posso me envolver com a Hinata” pensou desesperado.
Todavia Sakura estava feliz e realizada com Sasuke. Desejar algo com ela àquela altura depois de tudo que ele e Sasuke conversaram não seria um modo de trair o amigo? Quase um sacrilégio? Naruto tentava entender os conflitos que agora eram travados em sua cabeça, os sentimentos que afloravam dentro dele, buscava uma saída para toda aquela situação sem, contudo, encontra-la. Tudo o que sabia é que não merecia o que Hinata sentia por ele. Ela deveria gostar de alguém mais legal, alguém que pudesse retribuir seus sentimentos de uma forma mais completa e verdadeira. Alguém sem amarras a nada nem a ninguém.
“Ela precisa de alguém tão especial quanto ela... Quem poderia ser?”
- O Kiba não pode ser. – falava em voz alta para ajudar seu entendimento – Se ele fosse bom suficiente, eles já estariam juntos, pois ele gosta muito dela. Ainda bem que não é. Kiba não é um bom par para a Hinata... Shino? Pouco provável... Ele nem aparece mais depois que entrou pra anbu, e tem aqueles insetos nojentos, eca! Hinata não se apaixonaria por um cara assim...
Deu uma volta pelo quarto, com a mão no queixo, continuando com suas suposições absurdas, mas que para sua mente confusa pareciam ter algum sentido:
- Shikamaru? De forma alguma! Ele e a Temari estão juntos, pelo menos é o que o pai dele diz... Além do mais ele é preguiçoso demais... Chouji? Não. Gorducho demais, ia sufocar ela... Neji? Sem chance! Ela mesma o chama de Nii-san (irmão)... E além de tudo são primos... Quem eu to esquecendo... Sasuke? De forma alguma! Ele é anti-social demais. E tem a Sakura também que ta com ele ... Quem mais seria adequado? Vamos Naruto, pense... Você deve ter esquecido alguém... .... ... Kakashi-sensei?! NÃOOOOO, ele é tarado demais!!!! Eu não o deixaria chegar nem perto dela! Depravado... Ele faria coisas que não se deve com alguém tão inocente como a Hinata... E ele é bem mais velho que ela também... Ah, ele ta namorando a Shizune-neesan, tinha esquecido disso...
Contudo quanto mais cogitava essas possibilidades, mais desesperado ficava, pois pensar em outra pessoa com Hinata doía. O que seria isso que agora sentia quando pensava em ficar sem ela? O fato de não suportar a idéia de alguém a tocando? Quando imaginava seu sofrimento silencioso durante aqueles dias? A simples suposição que provavelmente ela ainda sofria naquela mesma noite por ele? Quantas e quantas vezes eu não a fiz chorar tratando-o como uma simples amiga? Não sabia ao certo. Mas de uma coisa tinha certeza. O que o incomodava ao pensar em todas essas coisas, aquela dor sentida de forma tão amarga, tão doida só podia ter uma explicação.
Ele estava apaixonado por Hinata. Não sabia desde quando, como acontecera e nem ao menos se era realmente verdade, mas havia algo que era real. Havia desejado-a durante todos esses dias sem ao menos se dar conta de que, provavelmente, ela fizera o mesmo. Fora um idiota imbecil, burro, tapado, jumento em grau maior e talvez um pouco mais por não ter percebido antes. Agora não sabia o que fazer. Hinata tinha se declarado e ele, como um bom retardado que sempre fora, tinha dito que gostava dela como amiga.
- Imbecil... - ele murmurou para si mesmo – Como você vai resolver isso agora? Vai simplesmente chegar e dizer “desculpe, não entendi”? Que tipo de homem você é Uzumaki Naruto?
Ele olhou para o relógio novamente. Eram um pouco mais que três e meia. Não havia nada para fazer naquele momento. Hinata deveria estar dormindo. A não ser que ele...
- Nemo! Já sei o que vou fazer! – exclamou animado.
- EU JÁ MANDEI VOCÊ PARAR COM O BARULHO AÍ, SEU MOLEQUE MAL EDUCADO!!!! – seu vizinho parecia ainda mais bravo.
- E EU JÁ MANDEI VOCÊ ME ESQUECER CARA! NÃO GOSTOU? SE MUDA!!!!
Mas nada poderia tirar sua determinação. Tirou o pijama e vestiu-se rapidamente. Pegou o aquário de Nemo e saiu em disparada na direção do clã Hyuuga. O festival estava chegando ao fim e muitas pessoas já se encaminhavam para casa. Sakura e Sasuke andavam de mãos dadas e quando já estavam quase no bairro Kokoro no Haien, viram Naruto correndo como um desesperado na direção deles. Mas Naruto não parou. Como uma bala, passou pelos dois apenas acenando.
- Naruto, pra onde você vai? – gritou Sasuke preocupado.
Ele parou sua corrida momentaneamente virando para trás.
- Vou dizer para Hinata que estou apaixonado por ela! – gritou de volta e depois continuou a correr.
Sakura e Sasuke se entreolharam espantados.
- Será que ele enlouqueceu? – comentou ela assustada.
-Na verdade, - disse Sasuke rindo satisfeito – acho que finalmente ele recuperou a razão.
***************************
Hinata não dormira durante toda noite. Presenciou a noite se tornar madrugada, madrugada virar manhã lentamente sem perder um único minuto. A única coisa que foi capaz de levantá-la da cama fora a lembrança que teria treino naquela manhã com seu time. Seus dias no hospital os deixaram muito preocupados e atrasados também. Na eminência de um exame chunin para breve, todo tempo perdido era questão de vida ou morte.
“Isso Hinata!” pensou consigo mesma. “Se não pode fazer por você mesma, faça por eles!”
E decidida a não deixar seus problemas pessoais interferir no desenvolvimento de seus alunos, se encaminhou para o banheiro em busca de pelo menos de sentir um pouco melhor.
Quando se olhou no espelho, todavia, percebeu que isso seria quase uma missão de rank S. Estava com profundas olheiras, seu rosto estava inchado devido à noite insone repleta de lágrimas e seu byakugan parecia mergulhado em um mar de sangue, tal era a vermelhidão de seus olhos. Tomou um banho demorado, na busca de apagar os sinais de seu sofrimento. Pôs seu uniforme jounin e saiu do quarto.
Apesar de estar totalmente sem fome, sabia que precisava se alimentar. A Hokage fora taxativa ao afirmar que ela deveria comer bem, pois um estômago vazio era mais sensível aos abalos psicológicos. Para seu alívio, ainda não havia ninguém na cozinha. Pegou uma maçã e comeu pausadamente enquanto procurava seu remédio, um tônico que Tsunade-sama recomendara caso seu estômago voltasse a doer. E ele estava doendo.
Depois de comer a fruta pausadamente, tomou duas colheres do líquido amargo e se encaminhou para saída da cozinha. Porém, como estava de cabeça baixa ajeitando seu colete, esbarrou numa pessoa que entrava naquele momento.
- Ai! - exclamou dando dois passos para trás e se segurando na mesa para não cair – Neji-nii-san! O que faz levantado há essa hora?
Neji era quem estava parado na porta olhando-a com um curioso interesse.
- Fui treinar. – respondeu calmamente. E analisando o rosto dela atentamente acrescentou – Se está tão mal quanto aparenta, Hinata-sama, deveria voltar pra cama.
A face dela assumiu a coloração avermelhada tão comum nas situações em que a garota era colocada contra a parede.
- Eu estou bem. – falou rapidamente desviando a vista dele – Só cansada. Cheguei um pouco tarde do festival, só isso.
Dando um passo a frente, Neji colocou as mãos em cima da mesa, e passou a analisar uma maçã como se fosse a coisa mais interessante do mundo, para depois comentar casualmente:
- Deve ter sido muito divertido sair com o Naruto. Afinal, chegar ensopada e chorando é o fim perfeito de um encontro...
Seu tom era mais preocupado que recriminador. Deixava claro que ele sabia que sua expressão cansada provinha de algum acontecimento da noite passada. Mas ela não queria falar nada. Estava tudo acabado. Seu pai não precisaria se preocupar, nem ela precisava mais dos cinco dias que lhe restavam. Naruto não gostava dela. Era algo doloroso de se pensar, mas era verdade. Ele sempre a teria como uma amiga, apenas isso. Talvez no fundo tudo fosse melhor assim. Agora ela podia se dedicar totalmente ao clã sem nada que a prendesse de fora daqueles muros. Uma vida cinzenta e vazia como a de seu pai a aguardava.
Neji ainda esperava uma palavra dela. Uma confissão ou desabafo talvez. Mas, para ela, isso não era permitido. Já derramara todas as lágrimas possíveis na noite passada. Nenhuma mais rolaria.
- Tenho que ir, senão chegarei atrasada. – falou sem olhar nos olhos dele. – Até mais tarde, Neji-nii-san..
- Hinata-sama... Espere...
Neji a tinha segurado pelo braço. Parecia muito apreensivo.
- O que aconteceu? Você sabe que pode confiar em mim...
- Nada que mereça ser dito. – ela respondeu secamente. E se desvencilhando dele correu para porta.
Neji suspirou e se recostou à mesa. Depois que levara Hanabi para casa, ainda cedo, havia voltado para ver como andavam as coisas entre sua prima e Naruto. Como tudo aparentemente tudo estava bem, voltara para o clã. Mas no momento que ouvira passadas se aproximando rapidamente, se levantara a tempo de ver Hinata totalmente encharcada e em prantos entrar na casa.
“Quando ela voltar...” pensou “Conversarei com ela...”
Naquele momento em que tomava aquela decisão, uma figura entrou sonolenta na cozinha, ainda esfregando os olhos, e parecendo preocupada.
- Neji! – exclamou Hanabi – O que deu na nee-san? Ela passou por mim agora... Estava estranha...
Ele nem ao menos considerou a possibilidade de contar o que acontecera a Hanabi. Conhecendo seu gênio, ela poderia sair correndo de casa e ir fazer um escândalo em frente a casa de Naruto, exigindo retratação dele para com Hinata. Por isso se limitou a dar de ombros e distrair a menina.
- Nada que mereça sua preocupação, Hanabi-sama. Por que não treinamos um pouco essa manhã?
Os olhos da menina imediatamente brilharam intensamente.
- Vamos! Vamos sim! – e passou a puxar ansiosamente o braço dele.
Neji suspirou. Talvez aquela não fosse uma boa idéia, no fim das contas.
****************
O sol já estava esquentando. Era um dia perfeito para um treinamento. Sem nuvens, sem ventos fortes, apenas uma leve brisa que apenas agitava seus cabelos. Hinata sentia-se mal por dois motivos agora: o amor perdido e a grosseria com que tratara uma pessoa que apenas queria ajudar. Sabia que tudo o que Neji queria era que ela ficasse bem. Mas não tinha coragem de admitir que fora desprezada. Provavelmente, para fazê-la se sentir melhor, Neji pudesse procurar Naruto em busca de satisfações, e era algo que, definitivamente não precisava naquele momento.
“Bem”... Pensou ela olhando para os pássaros que voavam pelo céu “Vou pedir para o papai que permita meu acesso aos documentos mais secretos do clã. Assim posso ir me familiarizando com o trabalho... Depois acho que ele vai querer reunir todo o clã para que possamos conversar sobre nossos rumos daqui pra frente... Cinco dias... Antes eles pareciam tão poucos, e agora parecem uma eternidade...”
E mesmo sem querer seu pensamento voltou a Naruto.
“Será que ele sabe que eu irei fazer dezoito anos em breve? Acho que não. Nunca ninguém lembra... Só agora que estarei assumindo o clã que todos parecem ter memorizado. O início da decadência dos Hyuuga... Será?”.
Foi envolta nesses pensamentos que Naruto a viu. Estivera esperando durante toda madrugada sentado em uma árvore na beira do caminho que Hinata sempre tomava para treinar seu time, na esperança de falar com ela antes que estivesse com os pestinhas. Ficando em pé, precisou apenas de um pequeno impulso para que tomasse sua frente.
Hinata não acreditava no que via. Naruto aparecera do nada em sua frente, logo na hora que ela já aplacava seu coração com decisões que lhe pareciam as mais sensatas no momento. Mas fora apenas vê-lo ali, parado, olhando fixamente pra ela que toda sensatez a abandonou. Pensou em fugir, mas suas pernas estavam travadas de ansiedade. Ou seria de covardia? Não sabia o motivo que o levara ali, e tinha medo de descobrir.
O rosto de Naruto refletia a mesma expressão cansada que ela virá no espelho àquela manhã. Também tinha profundas olheiras e uma cor vermelho-sangue tingia seus olhos. Mas diferente dela, Naruto sorria. Um sorriso de boas vindas.
- Bom dia. – ele cumprimentou.
Ela tinha medo que, mesmo se abrisse a boca, seus nervos a trairiam e nenhuma palavra conseguisse ser articulada.
- B-B-B-Bom d-d-d-dd-i-a. – ela balbuciou.
- Hã... Hinata... Posso tomar um pouco de seu tempo antes de você ir treinar? – pediu ele parecendo um pouco constrangido.
- C-C-Claro... – respondeu ela, mas sem muita certeza.
Eles ficaram em silêncio por um momento, parecendo estar ambos muito constrangidos para falar.
E foi Naruto quem deu o primeiro passo.
- Tenho um assunto pra falar com você... Na verdade dois. – ele lhe entregou o aquário. – Você o esqueceu comigo ontem...
- Ah... – exclamou ela recebendo o peixe.
- E o outro... Bem, o outro... – Naruto enrubesceu – É sobre ontem.
O estômago de Hinata revirou. E ela agradeceu silenciosamente à Hokage pelo remédio que tinha dado. Se não fosse por ele, provavelmente teria depositado a maçã que comera ainda a pouco nos pés de Naruto.
Ele esperou que ela fosse dizer alguma coisa. Uma negativa, uma resposta mal-educada, um palavrão (apesar de não visualizar Hinata dizendo palavrão nenhum), mas ela não fez nada. Baixou os olhos e esperou. Naruto tomou fôlego.
Era a hora.
-Bem, Hinata. Eu gostaria de... Te pedir perdão! – e dizendo isso se curvou para ela.
Hinata estava atônita.
- P-Perdão? P-Por que você e-está m-me pedindo p-perdão Naruto-kun?
- Quero que você perdoe o fato de eu ser o maior de todos os imbecis que já existiram na vila de Konoha! – ele continuava curvado.
- E-Eu não estou entendendo, N-Naruto-kun.
- Eu também não entendi ontem, Hinata. – seu tom era de pesar - Na verdade, eu nunca tinha entendido nada, nem o que me falavam, nem o que eu via. Ou sentia. Na verdade tudo ainda parece muito confuso na minha cabeça, mas já tem uma coisa que eu entendi, e só queria a sua confirmação.
Naruto ficou novamente ereto e olhou dentro dos olhos.
- Eu passei a madrugada, sentado, nessa árvore como um macaco, só pra poder te perguntar uma única coisa. Hinata, você realmente gosta de mim?
A pergunta tão direta quase a fizera largar Nemo no chão. O que ele queria com aquilo? Já não falara noite passada? Por que viera atormentá-la com algo que ela queria esquecer? Mas sabia que Naruto jamais brincaria com ela. Ele não seria capaz. Devia ter um motivo, mesmo que ele estivesse oculto ao seu entendimento.
- S-Sim, Naruto-kun. E-E-Eu gos-gosto de v-você... Muito...
Para sua total surpresa, Naruto sorriu aliviado. Como se estivesse carregando um grande peso nos ombros e depois o largasse por terra.
- Hinata, serei bem sincero com você. Quando você me disse isso ontem, eu não entendi o que exatamente queria dizer com isso. Na minha cabeça oca, eu achava que você era apaixonada por alguém da vila e que ele não gostasse de você sabe? Eu já tinha ameaçado “ele” de morte um monte de vezes! - e começou a rir nervosamente.
- N-Naruto-kun... – ela começou, mas ele levantou a mão, pedindo para continuar.
- Pois bem. Esse idiota que fala aqui na sua frente não entendeu na hora que você disse isso. Acho que foi informação demais para o meu cérebro! Mas depois, em casa, eu comecei a pensar em tudo que tinha acontecido. Queria encontrar o que eu tinha dito de errado para te fazer chorar. E depois de pensar muito, mais muito mesmo, eu cheguei à conclusão do que eu tinha dito de errado: eu te chamei de “amiga”...
Hinata não sabia a quê aquela conversa iria levar. Mas não conseguia tirar os olhos dos deles. Era a primeira vez que eles se encaravam sem que ela desviasse a vista. Naruto também notara o fato. Isso o encorajou a continuar.
- Eu devia ter percebido. Eu devia ter notado. Principalmente depois de tudo que você fez por mim. Ninguém teria se dedicado tanto a qualquer pessoa a menos que ela fosse especial. Você se dedicou a mim e por causa disso eu passei. Se eu me arrastasse no chão, não seria baixo o suficiente para conseguir agradecer...
- N-Naruto-kun, v-você não p-precisa a-agradecer...E-E-Eu fiz por que q-quis...
- Calma aí, ainda não terminei. – disse Naruto rindo – Passei a madrugada ensaiando isso. – E tomando fôlego, acrescentou – Se eu fosse um pouco mais inteligente e tivesse entendido o que você me disse noite passada, estaria poupando nós dois dessa situação constrangedora e teria permitido que nós dois tivéssemos uma noite tranqüila. Mas como eu sou lento e precisei decifrar o que você disse, minha resposta chegou atrasada. E espero que você nunca me odeie por isso.
- E-Eu jamais s-seria capaz de o-odia-lo, Naruto-kun.
- Fico feliz com isso, Hinata. Por que eu quero te dizer que eu também gosto de você. E não apenas como amiga.
Daquela vez foi impossível segurar. Hinata deixou a aquário escapar por entre seus dedos, e se Naruto não tivesse um bom reflexo e o pegasse, ele teria se espatifado no chão. E colocou-o suavemente no chão antes de se voltar novamente para Hinata.
A garota parecia não acreditar no que ouvia. Levou os dedos aos lábios e começou a tremer. Não esperava por aquilo, nem em seu sonho mais ousado. As lágrimas que ela prometera não derramar mais, agora ameaçavam rolar por sua face. Naruto estava ali, de frente para ela, dizendo que correspondiam seus sentimentos. Devia ser engano.
- N-Naruto-kun – disse em prantos – N-N-ão p-p-precisa s-sentir p-pena d-de mim... Eu... – mas não completou a frase. Quando percebeu estava envolta pelos braços dele que a apertaram contra seu peito.
- Eu jamais a ofenderia sentindo pena de você Hinata. – falou ele acariciando seus cabelos. – Eu digo o que sinto. Eu sinto que estou gostando de você. E a pena não cabe dentro desse sentimento.
Não era ilusão afinal. Hinata encostou o rosto contra a camisa dele e aspirou seu cheiro. Era real. Ela estava nos braços dele e não era sonho onde acabaria acordando.
- Não quero mais ver você chorando. – ele sussurrou em seu ouvido – Nunca mais...
Hinata levantou a cabeça e encarou-o novamente. Naruto sorria. Um sorriso doce. Aquele mesmo sorriso que ela aprendera a admirar durante os anos e que deixava uma paz indescritível em todos que o olhava. Era consolador, quente, carinhoso, como se o sorriso pudesse acariciar sua alma. Timidamente, ela retribuiu aquele sorriso. Lentamente, Naruto colocou a mão na nuca dela e com a outra suavemente enxugou suas lágrimas aproximando o rosto do seu. Hinata fechou os olhos no momento que sentiu os lábios dele encostar-se aos seus.
E naquele instante todas as lágrimas da noite passada, todo o sofrimento remoído nas entranhas da solidão foi esquecido. Nada existia ao redor deles. Nada importava apenas a sensação que os invadiu por inteiro. Ele insinuou a língua entre os lábios dela, que permitiu que o beijo se aprofundasse. O abraço foi estreitado para que os corpos pudessem se tocar mais fortemente. Para Hinata era como achar água no deserto depois de uma peregrinação. Para Naruto, como se finalmente tivesse achado seu lugar no mundo. E assim permaneceram durante algum tempo, se tocando como se ambos procurassem uma certeza que tudo não era somente uma miragem.
Ele não queria solta-la e ela não queria se afastar dele. Continuaram a dar vazão aos sentimentos até então reprimidos, por vários minutos até que finalmente ela lembrou de algo que a tirou do seu devaneio.
- Naruto-kun... – falou Hinata depois de um tempo.
- Estou ouvindo. – respondeu ele anda com o rosto entre seus cabelos, aspirando seu perfume.
- Meu time... Eles estão esperando...
- Deixe-os esperar. Kakashi-sensei sempre chegou atrasado e nós nunca morremos por isso. – e sem esperar resposta dela, tornou a beijá-la fazendo com que todas as obrigações fossem esquecidas.
Capítulo XVI – Ao seu lado
Era extremamente prazeroso vê-la treinar. Foi a essa conclusão que chegou Naruto observando Hinata com o time três. Seus movimentos de taijutsu eram graciosos e seu controle de chakra era preciso. Não havia dúvidas que sabia como passar seus conhecimentos para os alunos. Depois que eles haviam se acertado aquela manhã, tudo parecia diferente. Nemo estava são e salvo na casa dela, e apesar de te-la feito se atrasar duas horas para o treino, tudo transcorria bem agora.
Agora, tudo que ele gostaria era de esquecer as horas que passaram em claro e também o sofrimento que à ambos fora tão intenso. E queria apenas observa-la. Nada mais.
Naquela manhã, o Time três estava treinando quebra de bloqueio. Utilizando seu estilo de defesa absoluta, Hinata propusera que os garotos procurassem achar um modo de atingi-la.
- Será simples. – explicara – Meu byakugan tem uma ampla visão do campo inimigo. Chega a 350º de ângulo. Mas eu diminuirei isso para apenas 250º. A tarefa de vocês é: descubram onde eu vou baixar a guarda e me acertem ali.
- Moleza. – dissera Makoto.
- Veremos. Muito bem! Prontos? Vamos começar!
Depois de um minuto, Naruto já detectara o ponto fraco do bloqueio de Hinata. Mas seus alunos pareciam não saber onde atacar. Desferiam golpes aleatoriamente, sem nem passar perto da vulnerabilidade da defesa. E Hinata não tinha pena de atacá-los quando falhavam. Mesmo sendo só um treino, estava com cara de batalha de verdade.
- Os inimigos não irão ter pena de vocês. – avisou ela depois de um chute bem aplicado que jogou Makoto longe - Principalmente quando chegar a hora do exame chunin. Eles procurarão neutralizar seus ataques para então revidar. Makoto, seus ataques estão apenas voltando para você. – avisou ao aluno que ainda se levantava - Tente prestar mais atenção.
Suzumi fez um selo e usou o bushin no jutsu. Suas sombras atacaram Hinata enquanto a verdadeira usou o dotonjutsu para atacar por baixo.
“Ora, uma boa estratégia!” pensou Naruto vendo a menina atacar.
Mas a falha de defesa não estava embaixo. Quando a garota surgiu pelo chão, Hinata apenas pulou para trás e num rápido movimento pressionou os tenketsus dela.
- Um a menos. – disse – Faltam dois.
Desolada, Suzumi se retirou do campo de treino e foi se sentar embaixo da árvore onde Naruto estava. Ele se afastou um pouco, deixando espaço para a garota sentar na sombra também.
- Droga... – ela parecia muito chateada – Onde eu errei?
- Bem... – disse Naruto rindo – Você subestimou seu oponente. Vocês atacaram muito enquanto ela apenas se defendia. Então ela tomou conhecimento de suas táticas. Se você usa muito apenas um estilo, isso acaba se tornando uma armadilha. E Hinata já disse isso pra vocês que eu sei. Ela me disse a mesma coisa quando estávamos estudando.
- Eu tinha esquecido dessa parte... E como dói esse golpe! – exclamou esfregando os braços.
Naruto riu.
- Não se preocupe, com a força que a Hinata te acertou vai passar logo.
Na clareira, a tentativa dos outros genins continuava. Yumi era a mais cautelosa. Utilizava de ataques a distância se colocando a uma distância segura das mãos de sua sensei. Makoto continuava apenas atacando sem um plano estabelecido. Quando achou que ia pegar Hinata desprevenida, já que esta estava se defendendo de um jutsu bem colocado de Yumi, ele chegou por trás repentinamente.
- Eita, agora ele se fudeu. – disse Suzumi rindo marotamente, parecendo satisfeita com a falha do colega.
- Uma garotinha como você não devia usar esse tipo de palavra. – censurou Naruto.
- Mas é verdade. Olhe. – e apontou.
No momento em que Makoto achou que ia tocar em Hinata, ela se virou rapidamente ficando cara a cara com ele.
- Jyuuken.- e lacrou o chakra dele – Menos dois. Falta uma.
Makoto se juntou aos dois embaixo da árvore com cara de poucos amigos.
- Hahahaha! Idiota! – provocou Suzumi debochada.
- Cale a boca que você foi pior que eu cabeça de fósforo! Foi pega primeira!
- Repete se for homem! – revidou ela.
Naruto deu um pigarro alto para atrair a atenção deles e tentar parar a briga que já ameaçava começar.
- O que você está fazendo aqui? Espionando nosso treino? – falou Makoto grosseiramente com Naruto.
- To tentando aprender com seus erros. – falou debochando do garoto.
- Ora seu...
- Silêncio os dois! – pediu Suzumi levantando as mãos e olhando animada para o campo - Ta só a Yumi e a Hinata-sensei. Agora o bicho pega!
As duas estavam paradas. Ambas esperavam apenas um movimento da outra para atacar. Mas Hinata não seria a primeira. Sabia que tinha que deixa-los tomar a iniciativa, e para isso era necessário encurrala-los.
Yumi não sabia onde atacar. Por baixo Suzumi falhara. Por trás, fora Makoto. Simplesmente a tática dos Hyuuga era invencível.
“Se isso é apenas 250º do campo de visão dela, o que será os 350º?” pensou a garota bestificada. “Minha mãe tinha razão sobre os Hyuuga...”
Numa última tentativa, ela decidiu usar seu jutsu mais forte. Começou atacando pelo alto, utilizando redemoinhos de água que iam a todas as direções. Mas o ataque parecia ineficaz. Foi então que reparou que a barra da jaqueta de Hinata havia molhado com um de seus golpes.
“É ali!” e direcionou rapidamente um dos ataques àquele ponto.
A tática foi bem feita, mas no último minuto Hinata, percebendo o movimento brusco de sua aluna, se desviou do jato de água, tendo apenas se molhado um pouco com o golpe.
- Droga! – exclamou Yumi. – A mamãe vai ficar uma fera!
Mas Hinata se deu por satisfeita. Desfez sua posição de luta e acenou pedindo que seus alunos se aproximassem de novo. Todos vieram correndo acompanhados de perto por Naruto.
- Muito bem. – disse satisfeita - Yumi conseguiu.
- Como ela pode?! – exclamou Makoto revoltado. – Ela nem te acertou!!!
- Sim acertou. – e mostrou a blusa molhada – Ela conseguiu visualizar o meu ponto fraco e investiu ali.
A garota, que até então estava um pouco chateada, sorriu imediatamente.
- Só tome cuidado em uma coisa Yumi. – avisou Hinata - Não deixe o inimigo perceber que você descobriu o ponto fraco dele. Procure atacar de modo a não dar chance de ele revidar. E pode deixar que direi a sua mãe seu sucesso hoje!
- Sim, sensei! – ela parecia muito feliz agora.
- Bem, já é dia alto. Deve ser hora do almoço. Vou dar duas horas a vocês e depois voltaremos ao mesmo treino. - anunciou ela
Diante da reclamação de seus alunos, explicou:
- Vamos continuar com 250º. Amanhã será 280º e depois 300º. Quando todos vocês tiverem dominado isso, eu me darei por satisfeita.
- E se a gente não dominar? – quis saber Yumi.
- Não os nomearei para o exame chunin.
- PARA QUÊ ALMOÇO?! VAMOS TREINAR!!! – exclamou Makoto.
Todos começaram a rir.
- Vão almoçar que logo voltaremos. E mais uma vez parabéns Yumi.
Eles juntaram suas coisas e foram embora discutindo a possibilidade de não participarem do Exame chunin.
- Meu pai me mata se eu não for nomeado! – foi a última coisa que eles ouviram de Makoto.
- Eu fico de castigo... – suspirou Yumi.
Suzumi foi a única que ficou calada e deu de ombros.
Quando eles já tinham se afastado, Naruto sorriu para Hinata.
- Você não acha que pegou um pouco pesado com eles? – perguntou displicentemente.
- Não. A única forma de prepará-los adequadamente para o exame chunin é simulando um combate real.
- Não estava me referindo a isso. Mas ao fato de dizer que não os nomearia se não dominassem isso. Foi um pouco demais, não precisava assustá-los.
- Mas é verdade. Caso eles não quebrem meu bloqueio, eu não os nomearei.
Ele olhou surpreso para ela. Hinata falava sério.
- Você é muito exigente... Ninguém que olhasse diria isso! – disse carinhosamente.
Hinata ficou vermelha com a forma que ele falou e desviou um pouco a vista.
- Eu me esforço para meu time ser o melhor possível.
- Mas isso não depende só de você. Eles também têm que fazer a parte deles.
Eles se dirigiram para a arvore onde Naruto estava acompanhando o treino e se acomodou embaixo dela. Era bom sentar um pouco depois de tanto esforço, pensou Hinata. A noite mal dormida ainda pesava em seus ombros. Naruto a puxou para perto dele e ficaram os dois abraçados, encostados nas raízes da cerejeira.
- Na verdade as pessoas não vêm assim. – falou Hinata tristemente - Se o time vai bem, é por que tem talento, são bons. Se o time vai mal, a culpa é do professor que não se esforçou e nem explorou as habilidades deles...
- Mas isso é muito injusto! – reclamou ele.
- Sim, é. Mas é assim que a maioria pensa. Quando eu fui convidada a ficar com o time da Kurenai-sensei, pensei sinceramente em recusar. Era um time meio problemático.
- Por quê? – perguntou Naruto interessado.
- Bem vamos começar por Yumi. Ela é descendente do 2º Hokage...
- Sério?! - se espantou ele.
Agora, lembrava vagamente de tê-la achado familiar, logo que se conheceram. Devia ser a semelhança que vira com a foto do Nidaime que tinha no escritório de Tsunade. Os traços eram realmente parecidos.
- Sim. Isso faz com que as pessoas esperem sempre o melhor dela. E realmente ela é a mais esforçada. Mas a cobrança de se superar é constante e a deixa nervosa muitas vezes. Ela tem pais amorosos, mas sua mãe é extremamente exigente...
- Mas ela devia dar apoio a filha! A Yumi me parece muito boa!
- A mãe dela dá todo o apoio. O problema é que o clã Kaneshiro tem passado por diversos... Problemas internos... E a Yumi é a próxima na linha de sucessão...
“Assim como eu...” pensou Hinata relembrando da promessa. Mas estar ali com Naruto a fez esquecer de qualquer coisa rapidamente e recomeçou a falar de seu time novamente:
- Makoto pertence ao clã Otori...
- Aquele clã do fogo? – se surpreendeu Naruto. Já tinha ouvido falar deles, mas nunca vira um pessoalmente.
- Esse mesmo. Sua linhagem sangüínea permite que eles ouçam a distâncias incríveis. Mas são muito orgulhosos. Não partilham a liderança com ninguém. Makoto sofre por não ter herdado o que eles chamam de “orgulho de Konoha”, ou seja, ele não tem sua linhagem desenvolvida e está abaixo da media. Isso o torna muito agressivo na maioria das vezes, principalmente por ser... – Hinata imediatamente fez uma pausa como se tivesse assustada por ter falado demais – Bem, isso não vem ao caso. O que posso dizer mais de Makoto é que o pai dele não ajuda, sempre desmerecendo tudo que ele faz.
- Não entendo essas pessoas! – falou Naruto um pouco irritado, sentindo uma simpatia imediata pelo menino – Há pessoas que simplesmente precisam se esforçar mais que as outras, mas isso não faz delas incapazes!
- Eu sei Naruto-kun... – murmurou ela – Sei muito bem...
Eles ficaram em silêncio uns instantes, até que ela continuou.
- E por último Suzumi. – Naruto teve a impressão que os olhos dela se tornaram mais tristes por um momento - Ela não tem nada que possa se dizer especial em termos de habilidades, não pertence a nenhum grande clã, nem possui linhagem nenhuma, mas vive em uma situação delicada como os outros. – suspirando um pouco, ela continuou - Seu pai foi morto durante uma missão rank S e a mãe enlouquecera por causa disso. Ela cuida de seus irmãos, sozinha, sem ajuda de ninguém. Agora estar mais tranqüilo, pois eles entraram na academia. Mas ainda tem a mãe né? Ela é incapaz de reconhecer os próprios filhos...
- Eu não sabia que essas coisas aconteciam em nossa vila. – murmurou ele. E naquele momento, aqueles três meninos de repente se tornaram muito especiais para Naruto.
- Existem muitas coisas escondidas embaixo das folhas de Konoha. Coisas que nem ao menos desconfiamos.
- Mas... Coitada da Suzumi...
- Não deixe ela te ouvir dizer isso. Ela seria capaz de dizer um palavrão bem feio e fazer um gesto obsceno pra você. – advertiu.
- Não duvido nada... – disse lembrando do comentário da menina mais cedo.
- Não comente nada com nenhum deles, ok? Principalmente com a Suzumi. Ela não gosta de falar sobre isso...
- Certo...
Hinata recostou a cabeça no peito dele. O dia estava quente e uma sensação de torpor começou a tomar conta de seu corpo. As pálpebras começaram a pesar. E sem conseguir resistir, deixou-se ser levada pelos laços do sono. Depois de alguns minutos, estranhado o silêncio repentino dela, Naruto a chamou delicadamente.
- Hinata... Vamos almoçar?
E só então percebeu que ela dormia. Abraçou-a mais forte e também fechou os olhos. E ambos adormeceram com um sorriso no rosto.
*********
Estava difícil para Neji se concentrar em qualquer coisa aquela manhã. Ainda pensava no estado em que Hinata se encontrava e isso deixava seus movimentos a desejar, tanto que acabou sendo atingido várias vezes por Hanabi.
- Você não está prestando atenção, Neji! – disse a garota irritada depois de derrubar ele pela terceira vez.
- Perdoe-me, Hanabi-sama. Acho que devemos para por hora. Está na hora do almoço.
- Ah, então você está com fome? Agora entendo! Vamos almoçar então!
Hanabi entrou animada em casa. O almoço já estava sendo servido afinal, e Hiashi esperava por eles.
- Oba to morrendo de fome! – exclamou Hanabi – Mas será que a Hinata-nee-san não virá almoçar?
- Ela deve ter levado o almoço dela – falou Hiashi sem aparentar preocupação.
Neji olhou para a bancada da cozinha. A caixa de lanche de Hinata estava lá. E pelo que lembrava, não tinha a visto carregando nada para o treino. Dirigiu-se então para onde estava a caixinha e começou a colocar comida lá.
- Não vem comer Neji? – perguntou Hanabi já sentada à mesa.
- Daqui a pouco. Vou levar o almoço para Hinata-sama.
- Esqueça-a. – falou Hiashi – Quando ela estiver com fome, voltará.
Neji o olhou surpreso.
- Pensei que minha obrigação era cuidar do bem-estar da sucessora do clã, não esquecê-la.
Hiashi o encarou de volta. Então, baixando a cabeça para a comida, falou indiferente.
- Faça o que quiser então.
- Volte logo para comer Neji! – disse Hanabi quando ele saiu.
Mas Neji não estava com fome, e sim preocupado. Por isso dirigiu-se rapidamente ao local onde sabia que Hinata treinava diariamente seu time. Precisava descobrir o motivo daquele sofrimento que lera em seus olhos. Sabia que, de algum modo, estava relacionado à Naruto. Vira o momento em que ela chegara a casa na noite passada, mas não achou propício pressioná-la então.
“Se Naruto de algum modo a feriu” pensou Neji “Ele vai ter que me dar muitas explicações. E é bom que elas me convençam.”.
Chegando ao local de treinamento, todavia, percebeu que toda sua preocupação era infundada. Encostados em uma cerejeira, dormiam Hinata e Naruto abraçados. A garota repousava entre as pernas dele, com a cabeça encostada em seu peito, enquanto ele apoiava o queixo em sua cabeça. O vento soprava pela clareira, diminuindo o calor do meio-dia e agitava os cabelos do rapaz. Ele sorriu aliviado. Aproximou-se devagar para não acordar os dois e depositou a caixa com o almoço ao seu lado.
- Que bom Hinata-sama. – sussurrou.
E foi embora tão silenciosamente quanto chegara.
********
Naruto acordou com um passarinho bicando sua orelha. Instintivamente tentou afastar-lo com a mão sem abrir os olhos. Mas como ele era insistente, o garoto se viu forçado a espantá-lo com uma kunai.
- Sai daqui passarinho. Vá atrás do Sasuke!
Hinata se mexeu em seu colo.
- O que foi? – perguntou sonolenta esfregando os olhos.
- Viu passarinho metido? Você acordou a Hinata!
O passarinho, assustado, voou rapidamente.
- Desculpe te acordar Hinata. Tinha um passarinho chato aqui...
- Não tem problema... – e olhando no relógio acrescentou – Nossa já é tarde! O time deve estar chegando daqui a pouco. E nem almoçamos ainda!
Ela se levantou rapidamente e começou a ajeitar suas coisas. Naruto começou a se levantar também, mas sua mão encostou-se a algo. Foi quando viu a caixa de lanche a seu lado.
- Hinata, ta aqui seu almoço! – disse levantando a caixinha.
- Ué, não lembro de ter trazido nada...
- Ah, deixa pra lá! Coma antes que as pestinhas cheguem!
- Naruto-kun, não chame os meninos de pestinhas. – falou fingindo-se de irritada. – E nós dois vamos comer isso.
Assim que eles tinham acabado de almoçar, o Time três chegou animado. Foi impossível não olhar para eles e sorrir encorajador. Timidamente, todos eles retribuíram o sorriso.
Mais uma vez o treino foi dedicado ao bloqueio. Yumi parecia ter se preparado bem psicologicamente para o combate, pois estava mais concentrada e agia cautelosamente. Não demorou mais que meia hora para que ela descobrisse o ponto fraco da defesa. Depois disso, foi dispensada da aula que continuou até Suzumi o encontrar também, duas horas depois. E por último, Makoto teve os tenketsu pressionados ao pôr do sol.
- Bem por hoje terminamos. Até amanhã no mesmo horário.
- Eu não o quero aqui amanhã não! – falou Makoto irritado apontando para Naruto - Ele me distrai, por isso não consegui.
- Até respirar distrai você Makoto. – falou Suzumi irônica – Cabeça de vento.
- Vem aqui então que vou te mostrar!
Yumi deu um cascudo em cada um quando a briga parecia prestes a começar.
- Parem de criancices e vamos para casa. Amanhã serão 280º. Em vez de discutir, vão treinar!
E deixaram a área de treinos ainda se olhando estranho.
- Ela é a consciência do time. – observou o rapaz.
- É...
Naruto observou Hinata vestindo o colete que havia tirado para treinar. Chegou bem perto dela e, com um sorriso brincalhão, puxou o zíper para cima, ajudando-a. Ela ficou extremamente encabula com o gesto dele, mesmo tendo achado muito meigo. Então, como que para agradecer o dia que tinha tido, ele abraçou-a dando um profundo beijo. Quando estavam se abraçando carinhosamente, ouviram passos as suas costas.
Suzumi apareceu repentinamente deixando-os totalmente sem jeito. A garota também parecia constrangida e sua face estava tão vermelha quanto seus cabelos.
- Er... – disse ela – Só vim buscar a touca que esqueci... – e pegando o objeto, o colocou na cabeça e saiu rapidamente dali.
Eles se entreolharam por um momento, mas depois começaram a rir.
- Acho que agora eles vão descobrir por que passei o dia aqui... – falou coçando a cabeça encabulado.
- Acho que sim. – as faces dela estavam muito vermelhas, mais que os cabelos de sua aluna.
- Então... Vamos comer ramen? Eu pago!
- C-Claro.
E saíram na direção oposta que Suzumi tinha tomado.
*************
- Mas Shizune, eu só vou procurar o Naruto! – falou Kakashi com a voz um pouco cansado, pela décima vez.
A médica cruzou os braços e o analisou atentamente. Parecia chateada e ao mesmo tempo incrédula. Ficou alguns minutos em silêncio, até descruzar os braços e suspirar.
- Tudo bem Kakashi... Vemos-nos à noite... Certo?
Ele pareceu aliviado.
- Sim nos vemos à noite...
Shizune se inclinou sobre ele e lhe deu um rápido beijo no rosto, saindo em seguida. Kakashi olhou ela ir embora, se perguntando o que tinha feito demais para que ela desse aquele ataque de ciúmes. Afinal, só levara as sacolas para uma mulher que carregava uma criança nos braços.
“Mais tarde terei que ter uma conversa com ela...” Lembrou mentalmente antes de ir em busca de Naruto. Provavelmente ele estaria treinando, mas não sabia exatamente por onde começar a procurar, já que os hábitos de seu aluno haviam mudado sensivelmente desde que começara a estudar. Por isso, quando viu o Time três, achou que ali estaria uma boa fonte de informação.
*****************
Yumi e Makoto já tinham entrado na vila quando a colega os alcançou. Suzumi ainda tinha as bochechas um pouco vermelha quando se aproximou e falou com a voz aguda em um tom bem mais alto que o normal:
- Vocês não vão acreditar no que eu vi!!!- exclamou alto a garota.
- Argh! Fale baixo! – pediu Makoto levando a mão ao ouvido – Isso dói sabia?
- Não tenho culpa se você é tão incompetente que não consegue nem controlar sua linhagem. – resmungou ela mostrando a língua para ele, onde resplandeceu um pequeno piercing.
- Ora sua...
- Mas o que foi que você viu Suzumi? – perguntou Yumi interessada.
Suzumi caiu na risada.
- A Hinata-sensei tava beijando o Naruto-san!
- O QUEEEE?????? – exclamaram os amigos em uníssono.
- E de língua. – acrescentou marota.
- Eca! Que mau gosto! - disse Makoto. – Aquele loiro burro e chato!
- Eu não acho. Naruto-san é bem bonito e simpático! Beijar alguém como ele deve ser melhor do que beijar alguém como você! – e deu uma pequena tapa na cabeça do garoto.
- E quem eu disse que eu quero beijar você com esse troço na língua, cabeça de fósforo? – revidou ele grosseiramente.
- Repita se for homem!
- Parou os dois! – mandou Yumi. – Isso não é conversa para se ter né? A vida é deles, deixem para lá. Vamos nos preocupar com o treino de amanhã. Eu sugiro que a gente se reúna depois da janta para treinar. O que acham?
- Apoiado! Apoiado! – falou Suzumi animada.
- O que eu posso dizer... Sou sempre voto vencido... – balbuciou o único menino do grupo.
Enquanto eles andavam despreocupadamente, uma figura sorridente surgiu na frente deles.
- Yo, vocês são o time da Hinata, não é? – perguntou Kakashi levantando a mão em saudação.
- Sim, por quê? – quis saber Makoto.
- Queria falar com Naruto, mas como não o acho em lugar nenhum, suponho que esteja com a sensei de vocês, não é?
- É, eles estão trocando saliva por ai. – disse o menino enjoado - Que coisa nojenta...
Kakashi deu uma sonora gargalhada.
- Trocando saliva? Sei... Obrigado, garoto. E até mais.
Quando Kakashi desapareceu, Makoto começou a ser espancado implacavelmente pelas garotas.
- Aiaiaiaiaiaia, por que estou apanhando?
- Isso é coisa que se diga, baixinho?! – gritou a Suzumi no ouvido dele, fazendo com que Makoto se encolhesse de dor.
- Devo concordar com você desta vez Suzumi. – disse Yumi um pouco chateada – Não se deve expor a vida dos outros dessa forma Makoto...
- Eu não sou baixinho!!!
- É verdade, ta mais pra projeto de feto mesmo! – continuou gritando Suzumi.
E a briga continuou pelo resto da noite. Makoto se arrependeria mais tarde de tudo o que dissera, pois durante o treino, foi usado de saco de pancada pelas meninas de seu time.
*****************
-Manda outro tio!
- Você está bem animado hoje Naruto-kun. Deve ser a companhia... – exclamou Ichiraku.
Hinata e Naruto jantavam no Ichiraku ramen. Esses comentários, todavia, não os abalava tanto quanto antes, afinal, estavam juntos. Então, se limitaram a sorrir encabulados diante do comentário do proprietário e continuaram a refeição. Quando estavam na segunda tigela de ramen, uma figura conhecida se aproximou deles e os saudou animadamente:
- Oh, Naruto, estava procurando por você.
- Kakashi-sensei! - exclamou Naruto abrindo um enorme sorriso - Aceita um ramen? Por minha conta!
- Hoje não. – dispensou ele. E olhando para mais além de Naruto, percebeu que ele não estava sozinho - Ah, boa noite Hinata.
- Boa noite, Kakashi-san. – disse ela se sentindo um pouco envergonhada do olhar que o sensei lhe direcionara.
- Bem, - começou Kakashi – Vim até aqui apenas para te parabenizar por seu sucesso na prova e desejar boa sorte para amanhã! – e passou a mão nos cabelos arrepiados de Naruto.
- Amanhã? – estranhou Naruto – O que tem amanhã?
Kakashi olhou surpreso para ele.
- Ué, não é amanhã seu teste de combate?
Hinata olhou rapidamente para Naruto, que parecia tão surpreso quanto ela.
- V-Você não t-tinha me falado Naruto-kun...
- M-Mas... Nem eu to sabendo disso!
- Como não está sabendo Naruto? A Hokage mesmo me avisou que seria a amanha às dez da manhã, na arena. – disse Kakashi dando de ombros.
- E QUANDO ELA DECIDIU ISSO? POR QUE NÃO ME AVISOU?!
- Bem, se não me engano a data e hora do combate foram entregues junto com resultado... Você não leu a carta toda?
Foi então que lembrou desolado do envelope e da carta no dia anterior. Como haviam caído no rio, tinha perdido o papel antes de terminar de lê-lo. Sua animação daquele dia fora embora completamente.
- Então, boa sorte, Naruto! – disse Kakashi alegremente como se não estivesse vendo a cara desolada do seu antigo pupilo.
- Amanhã... – murmurou incrédulo – Como eu fui burro de não ter lido a carta toda... Esse Kakashi-sensei não tivesse me avisado? Eu ia perder a chance... – e, sem vontade de continuar a comer, encostou a tigela de ramen.
- N-Não fique assim, Naruto-kun! Você vai passar!
- Mas eu nem treinei, Hinata! E to meio enferrujado, já que passei o último mês só estudando...
Hinata olhou para ele preocupada, e corando subitamente, disse baixinho:
- S-Se você quiser, a gente pode treinar junto agora à noite... – e rapidamente acrescentou – Que besteira eu disse, você não vai querer treinar comigo!
- Mas eu adorei a idéia! – disse Naruto sorrindo. Pegando novamente a tigela de ramen, acrescentou animado – Vamos terminar para você me ajudar a desenferrujar.
Hinata pensou no pai. Não voltara em casa desde a hora que havia deixado Nemo em seu quarto. Em outros tempos ela se preocuparia em avisar, mas naquele momento aquilo não era importante. Hiashi lhe autorizara a fazer qualquer coisa e ela não pretendia desperdiçar nenhum minuto de seu precioso tempo.
- Vamos treinar Naruto-kun. E amanhã, você será o novo jounin da vila de Konoha.
Hinata falou com a convicção de quem acredita realmente em suas palavras. E Naruto confiou no que ela dizia. Acreditava que, com Hinata ao seu lado, era capaz de fazer qualquer coisa.
Capítulo XVII – Mestre e discípulo
A madrugada lentamente chegava ao fim. Cansados, Naruto e Hinata observavam o nascer do sol da área de treinamento. Depois de uma noite de treino, ambos estavam exaustos, mas felizes. Não havia com que se preocupar. Ele estava pronto.
- Naruto-kun... Não é melhor você ir dormir e descansar para a luta? – sugeriu ela preocupada.
Ele balançou a cabeça.
- Não vou conseguir. Estou animado demais.
- Mas, não dormiu noite passada... Nem essa... Sua luta não será fácil assim.
- Bem, eu não espero que seja fácil. – falou seriamente - Além do mais, tem a kyuubi. Ela tem que servir para alguma coisa. – e olhando para ela agradeceu carinhosamente - E obrigado por não me poupar. Você está lutando muito bem. Deu bastante trabalho.
Hinata olhou para ele. Durante a noite, prometera não pegar leve. E mesmo sendo apenas um treino, ele demorou muito para quebrar seu bloqueio completo. Lutaram e se machucaram. Mas nada poderia ter te dado tanta alegria quanto aquele elogio. Ela sorriu.
- Bem, acho que está na hora de cuidarmos desses machucados. – falou tirando uma pomada de sua bolsa – Essa é a pomada especial do meu clã. Vai melhorar seus machucados e aliviar as dores.
- Ah, eu lembro que você me deu uma igual no Exame chunin! E ela foi muito útil!
Repentinamente Hinata ficou vermelha.
- Hã... Naruto-kun... P-Poderia t-tirar a c-camisa p-ara eu passar isso nas s-suas c-costas?
Naruto também ficou vermelho.
- Ah, claro.
E tirou a camisa. Hinata começou a passar delicadamente a pomada nas costas dele. Naruto gostou de sentir aquelas mãos leves massageando-o. Era tão bom estar com ela. Parecia que finalmente alguém realmente se preocupava com ele, que queria estar ao lado dele incondicionalmente e isso o deixava feliz. E o fazia estar confiante mais que nunca.
A pomada não demorou a fazer efeito. Em pouco tempo a dor deu lugar a uma sensação de alívio. As feridas se fecharam rapidamente para a surpresa de Hinata.
- Então, esse é o poder da kyuubi? – murmurou surpresa.
- Acho que sim. – ele riu e se virou para ela – Te assusta?
Seu olhar foi do rosto dele para o selo em seu umbigo. Desde a derrota da Akatsuki, os mais jovens da vila tinham tomado conhecimento do selamento que habitava Naruto. Mas aquilo nunca foi problema para ela, pelo contrário. Sua admiração por ele só aumentara quando descobriu o quanto ele tinha sofrido e, mesmo assim, superara tudo inclusive a dominação da raposa-demônio sobre ele.
- Não Naruto-kun. – e passando os dedos em torno do selamento acrescentou – Isso não me assusta.
- Obrigado Hinata. – balbuciou ele estremecendo levemente ao sentir os dedos dela percorrendo o selamento - Você não sabe o quanto é bom pra mim ouvir isso...
E abraçou-a carinhosamente.
********************
Tsunade olhou para o relógio da sua sala. Eram nove e quarenta. E ele não havia chegado. Estava começando a ficar nervosa. Em breve estaria começando o teste de Naruto e seu oponente ainda não aparecido.
“Se aquele desgraçado não aparecer, terei que providenciar outra pessoa às pressas. Espero que ele não me obrigue isso, senão irei dissecá-lo e mandar os órgãos para as enfermeiras estudarem!” pensou raivosamente.
Uma batida na porta anunciou que alguém entrava.
- Tsunade-sama. Ele chegou. – anunciou Shizune aliviada.
- Já não era sem tempo. Eu vou conversar com ele e dizer o que eu quero desse exame. Para não pegar pesado com o Naruto.
- Tenho certeza que ele sabe o que deve fazer.
- Com tipos como ele, não se pode confiar em nada. – e se dirigindo para a porta acrescentou – Avise a todos para prepararem a arena. Vai ser uma luta interessante.
********************
Naruto não queria se atrasar. Estava muito nervoso por isso passou em casa para refrescar a cabeça antes de ir. Apesar das duas noites sem dormir, não se sentia cansado de forma alguma. A ansiedade tomara o lugar de qualquer outra sensação naquele momento. Debaixo do chuveiro começou a repassar mentalmente todos seus golpes, para não deixar nenhum de fora.
- Hehe, quando foi a ultima vez que fiquei tão ansioso por uma luta? – perguntou a si mesmo em voz alta. – Não lembro... Mas gostaria de saber quem será meu oponente.
Vestiu sua roupa, comeu um ramen rapidamente e foi em direção à arena. Era a mesma onde lutara com Neji durante o Exame Chunin. Ainda faltava uma hora para começar o combate, mas não ia conseguir ficar em casa sozinho. Hinata prometera estar lá o mais cedo possível para torcer por ele. Não queria deixá-la esperando. Mas ao se aproximar, percebeu que localizar sua namorada seria difícil. Todos seus colegas da vila estavam em frente à arena. E não apenas eles. Toda vila em peso comparecera para assistir sua luta. Seu estômago se contraiu dolorosamente.
- Naruto! – chamou Sakura ao vê-lo se aproximar.
- Ah, Sakura-chan, Sasuke... Vocês vieram… - murmurou com a voz falhando um pouco.
- Claro que viemos. – falou Sasuke encorajador - Não podíamos deixar de assistir sua luta!
- Obrigado... Hã... Vocês viram a Hinata por ai? – perguntou vasculhando o lugar com os olhos.
- Hinata? – perguntou Sasuke arqueando um pouco as sobrancelhas e com um pequeno sorriso no rosto – Não...
- Ah, já que você tocou no assunto, que história era aquela de ontem hein, Naruto? – quis saber Sakura.
O garoto foi poupado de responder a questão da amiga pela chegada de Shikamaru que vinha acompanhado de Temari.
- Olá, Naruto! – falou a garota animada. – Quando nós soubemos que você iria lutar pelo título de jounin decidimos ficar mais um pouco em Konoha.
- “Nós” quem? – quis saber o rapaz, mas já prevendo a resposta.
- Ora, nós. Eu, Kankuro e Gaara.
O estômago de Naruto se contraiu ainda mais.
- O Gaara vai assistir minha luta? – perguntou num fio de voz.
- É claro! Ele fez questão de assistir. – respondeu ela com um sorriso maroto.
- Ah, que ótimo... E onde estar ele?
Talvez falar um pouco com Gaara pudesse ajudá-lo a relaxar.
- Ele foi direto para arena por que disse que não queria te deixar nervoso.
- Ah ta... – e vendo que Shikamaru apenas olhava para o lado, perguntou - A propósito, Shikamaru, viu a Hinata por aí?
- Não, não vi. – respondeu ele antes de dar um bocejo - Na verdade por mim tinha ficado em casa... Assistir lutas cansa... Nada contra você, deixando claro...
Shikamaru levou um grande beliscão de Temari ao dizer isso.
- Ai, por que você fez isso? – reclamou ele.
- Isso é jeito de falar com seu amigo, Shikamaru? Ele precisa que você torça por ele!
- Cara que saco...
Naruto se aproximou de Sasuke e perguntou em voz baixa:
- Eu perdi alguma coisa? Eles parecem tão próximos agora...
- Eles estão namorando. – respondeu Sasuke no mesmo tom.
Então o que o pai de Shikamaru constantemente dizia era verdade. Naruto ficou feliz pelo amigo, por que apesar de estar com a cara emburrada e massageando o lugar onde Temari beliscara, ele a olhava com carinho. Um carinho um pouco disfarçado, mas com certeza estava apaixonado.
Dali a pouco, outro casal se aproximava. Naruto não entendeu por que Sasuke e Sakura se entreolharam longamente, mas quando Sai e Ino se aproximam pra desejar boa sorte, Naruto ficou mais que satisfeito. Pelo menos até eles abrirem a boca.
- Não morra, hein? – disse Ino batendo no ombro dele.
- Querida, você não acha que ta pedindo demais de Naruto? – falou Sai sorrindo.
- Ora seu!!!! – resmungou ele irritado, e aproveitou que os dois vinham da região onde estava o clã Hyuuga para perguntar - Mas já que ta aqui, você viu Hinata por ai?
- Não, não. – respondeu Sai.
Mas ele continuou procurando a garota entre a multidão que aumentava cada vez mais.
- Naruto, por que você ta tão preocupado em encontrar a Hinata? – quis saber Sasuke.
Antes que ele pudesse responder, um grito foi ouvido bem perto deles.
- Temari-sama! Finalmente te achei!!!!
Uma garota de cabelos compridos e pretos corria na direção deles, acompanhada por Kiba.
-Ah, não! Ela me achou... – falou Temari desgostosa.
A garota parou cansada em frente à Temari com uma expressão desgostosa no rosto.
- Temari-sama, por que insiste em fugir de mim? Sabe que quem sempre é castigada pelo Kazekage-sama sou eu!
- E você seria...? – pergunta Sakura.
- Miyake Soichiro, dama de companhia da Temari-sama.
Depois da resposta da garota, todos se entreolharam um pouco confusos. Afinal dama de companhia era algo tão... Inapropriado para alguém como Temari.
- Uma idéia idiota que meu irmão teve... – disse a ninja da Areia ao perceber os olhares dos amigos.
- Você não devia falar assim com ela, Temari-san – protestou Kiba – A Soichiro tava realmente preocupada com você!
- Nossa Soichiro, você conquistou um admirador... – falou Temari maliciosamente.
Kiba e Soichiro enrubesceram diante do comentário.
- Não é nada disso! – protestou o garoto.
- Ah, não é? – provocou ela - Então cadê seu cachorro? Akamaru né? Reparei que ele não está aqui... Será que não é por que ela tem medo e você não quer assustá-la?
Dava pena ver a cara dos dois. Soichiro parecia que ia entrar em colapso, tal era a vermelhidão de seu rosto, e Kiba já havia ficado roxo há muito tempo. A expressão deles era tão cômica que logo todos começaram a rir. Naruto se sentiu mais aliviado. Kiba parecia ter esquecido Hinata bem rápido, mas o garoto não achou ruim. De forma nenhuma. Sentiu-se tão confiante que perguntou ao rapaz:
- Kiba, você viu a Hinata por ai?
- Hinata? Não... Eu tinha ido buscar a Soichiro e...
- Olha lá ela, Naruto. – apontou Sasuke.
E realmente ela vinha correndo em sua direção. Acompanhando Hinata, vinham Neji e Hanabi, que parecia entediada.
- Nós vamos ver a luta dele? Que chato...
- Quando a luta começar, você verá, Hanabi-sama, que não será nem um pouco chata.
Naruto se esqueceu de toda ansiedade que sentia quando viu Hinata. Sua vontade era abraçá-la bem forte! Mas com todas aquelas pessoas olhando, não tinha coragem... E provavelmente Hinata também provavelmente não se sentiria bem com tanta gente olhando. Por isso limitou-se a sorrir carinhosamente para ela.
- Err... Como você está se sentindo Naruto-kun? – perguntou ela sentindo a mesma vontade que ele tinha de abraçá-la.
- Bem... Agora que você chegou, eu to menos nervoso. – disse ele coçando a cabeça.
- Eles formam um casal tão bonitinho!!! – falou Ino somente para Sakura ouvir – Será que estão mesmo juntos?
- Sinceramente eu não sei. – respondeu no mesmo tom – Mas espero que sim. Naruto precisa de alguém que goste dele...
- Sakura, vamos. – chamou Sasuke puxando-a pela mão, mas na intenção de deixar Naruto e Hinata mais a vontade - Senão não pegaremos um bom lugar.
- Certo Sasuke-kun. Vamos!
Todos começaram a se dirigir para a arena enquanto Naruto e Hinata ficavam para trás. Ele esperou todos entrarem para perguntar:
-Não vai agora?
Ela balançou a cabeça.
- Neji e Hanabi vão guardar um lugar para mim. Q-Quero ficar com v-você até o último m-minuto... S-Se você q-quiser minha p-presença, Naruto-kun...
- Disso não tenha nem dúvida. Mas... Eu posso te dar um beijo? – perguntou corando.
- C-Claro q-q-que p-pode... – disse ficando vermelha também.
Naruto aproximou a boca da dela, mas antes que pudessem completar o beijo alguém o chamou.
-Naruto-kun, já est... Opa atrapalhei? – Shizune ficou subitamente sem jeito.
- Shizune-nee-san? Não é nada! – desconversou Naruto.
E começou a rir nervosamente.
- Ah, ta. Tsunade-sama está te chamando para entrar na arena. Acompanhe-me, por favor.
Naruto olhou tristemente para Hinata.
-Até depois.
- A-Até...
E acompanhou Shizune enquanto Hinata se dirigia para a platéia, onde Neji e Hanabi a esperavam.
**********
Naruto podia se lembra claramente do dia que enfrentara Neji naquele mesmo lugar. Naquele mesmo exame, Konoha fora atacada e o Terceiro assassinado. Entrar depois de seis anos naquela arena era como reviver um passado dolorido. Ele ainda olhou para o alto como que na esperança de ver o Terceiro olhando-o. Mas isso era apenas um devaneio. Nem mesmo a Tsunade se encontrava lá. A Hokage estava com os pés no chão bem em frente a ele e sorria.
-Bem, vamos começar sua luta. – avisou ela - Vou apenas lhe esclarecer uma coisa Naruto. O importante não é somente ganhar, mas completar uma obrigação.
- E qual é a obrigação que tenho que completar? – quis saber ele.
- Você terá que descobrir.
- Isso não é justo, Vovó Tsunade! – reclamou chateado. Já não bastava aquela prova e agora mais aquela de descobrir uma obrigação que precisava cumprir.
- Claro que é. Temos que saber o tipo de ninjas nomeamos jounin, você não acha?
Ele suspirou. A Hokage estava certa. Por isso ele não iria falhar.
- E quem será meu oponente?
- Você saberá agora.
Tsunade começou a se retirar da arena deixando-o sozinho. Podia ouvir o burburinho da multidão às suas costa. Se coração começou a bater mais forte a cada segundo que se passava. Então as portas da arena se abriram e uma figura solitária entrou. Vinha devagar como se não tivesse pressa e tudo não passasse de uma diversão. Ao ver Naruto sorriu para ele. Naquele instante, todos param abruptamente de falar e olhavam incrédulos para a arena.
- O que significa isso?! –exclamou Sasuke irritado – Esse é o oponente do Naruto?!
Sakura estava perplexa.
- Meu Deus, por que Tsunade-sama fez isso?
Hinata quase desfalecera quando o viu entrar na arena.
- P-Por que e-ele? N-Naruto-kun...
Logo que o viu, Naruto ficou tão surpreso quanto os demais. Mas logo em seguida deu um amplo sorriso.
A luta seria muito interessante.
- Há quanto tempo que não o vejo... Ero-senin...
Jiraya sorriu para o garoto.
-Sim, já faz um tempo. E você progrediu muito pelo que ouvi falar. Parece que até arranjou uma namorada! – ele parecia mais satisfeito com isso que com o fato do garoto estar para se tornar um jounin.
- Ero-senin... Não é hora de falar sobre isso... – disse corando.
- Tem razão. Falamos depois desse combate! Se você me derrotar te ensinarei toda arte de sedução que conheço e, principalmente, como agradar uma mulher “naquelas horas”! – e fez aquela pose tão característica dele.
- “Naquelas horas”...? – Naruto parecia confuso - Do que você ta falando ero-senin? Que horas são essas?
Um corvo passou gritando “aho,aho” em cima deles. E todos na arena tinham uma gota na cabeça.
- Você continua muito burro. É bom ver que certas coisas não mudam...
Acima deles, já instalada em sua cadeira, Tsunade pediu a atenção de todos.
- Bem, iremos começar agora o teste para jounin de Uzumaki Naruto. Que a luta tenha inicio!
Todos os presentes ficaram na expectativa do primeiro golpe. Hinata levou os dedos aos lábios e olhou apreensiva para os dois ninjas que se encaravam lá embaixo. Estava receosa. Uma coisa era uma luta para um teste, outra bem diferente era colocar um sanin lendário para lutar contra Naruto. Qual o propósito da Hokage com isso?
- Não se preocupe Hinata-sama.
Neji estava ao seu lado. Diferente da maioria dos presentes, não estava surpreso ou preocupado. Na verdade, exibia a mesma postura que Naruto na arena.
- Ele não irá perder. – falou convicto.
- Como você pode ter tanta certeza, Neji? – questionou Hanabi.
- Por dois motivos. Primeiro: eu já lutei com Naruto. Ele é capaz de coisas incríveis. Segundo: Hinata-sama está presente. Ele não pode perder, mesmo que quisesse.
- Neji-nii-san... – murmurou ela corando.
- Olhe para ele, Hinata-sama. Vai começar.
Naruto deu o primeiro passo. Tirando as shurikens da bolsa lançou em Jiraya, que não teve dificuldades para desviar-se delas. Mas Naruto aproveitou a distração para avançar em cima de seu mestre com uma voadora bem colocada. Porém, simples golpes de Taijutsu não seriam suficientes para atingir o sanin. Ele pegou facilmente o pé de Naruto e o sacudiu para as árvores do lugar. Utilizando o chakra, Naruto se prendeu a uma das árvores e passou a observar seu oponente.
“Lembre-se Naruto, você não está lutando contra qualquer um, ele foi seu mestre” pensou o garoto olhando para Jiraya “E também a Vovó Tsunade falou algo sobre uma obrigação... Tenho que descobrir o que é...”.
Mas não havia pistas nenhuma sobre o que seria essa tal de “obrigação”. Então não tinha escolhas, o jeito era continuar a lutar da forma que sabia.
- Kage bushin no jutsu!
Dezenas de cópias surgiram na arena, e começaram a atacar. Jiraya sorriu como se esperasse por aquilo. Fazendo selos rapidamente com as mãos, gritou:
- Katon Karyu Endan!
E começou a soprar fogo, destruindo todas as copias de Naruto.
- Não pense que será fácil me derrotar, Naruto.
- Se fosse fácil, não teria graça.
Mais uma vez o combate voltou-se para o taijutsu. Ambos pareciam estar analisando a melhor hora de atacar, observando os movimentos do outro. Apesar de existir uma diferença de quase quarenta anos entre os dois, lutavam com força e vigor como poucos sabiam fazer. Estava sendo um excelente espetáculo. Não havia desigualdade. O nível de luta era idêntico.
- Meu Deus! – exclamou Temari. - O nível de luta do Naruto é igual à de um sanin lendário! Você está vendo isso Gaara?
Sim, Gaara estava. Não tinha ficado surpreso com a escolha de Tsunade. Sabia que qualquer pessoa com a força abaixo de um jounin de elite não seria páreo para Naruto. A escolha não fora aleatória. Tinha um propósito definido.
Desde o momento em que Gaara soube que fora permitido para Naruto fazer o exame jounin sem ao menos ser um chunin, imaginara bem os motivos que fizera a Hokage insistir muito nisso. E vendo-o ali, lutando de igual para igual com Jiraya na frente de toda Konoha, apenas confirmou suas desconfianças. E isso o deixava muito satisfeito.
- Ele está se saindo bem. – comentou Sakura.
- Até quando? – falou Sasuke apreensivo.
A luta continuava. Nenhum dos dois abria espaço para o outro agir. E quanto mais forçava Naruto a recuar, mais Jiraya via seu progresso e ficava satisfeito com os resultados.
Naruto também via surpreso, como os golpes de seu mestre estavam mais visíveis para ele e como conseguia bloqueá-lo. Há três anos atrás aquilo nem passara por sua cabeça. Mas agora, sentia mais que nunca que podia se tornar um Hokage. Todavia, uma coisa o deixava alerta: estranhava o fato de seu sensei não atacá-lo com golpes mais destrutivos, apenas se limitando a defender-se.
“Tem algo errado aí...” pensou.
Quando invocou novamente os clones para atacá-lo, Jiraya usou uma técnica que Naruto tinha visto apenas uma vez, mesmo depois de passar tanto tempo com ele.
- Doton Yominuma (Pântano do além)!
Toda a área de combate começou a ser transformada em um pântano pegajoso e movediço. Rapidamente Naruto pulou novamente para as árvores. Porém dessa vez, Jiraya o esperava lá.
Quando Naruto percebeu foi tarde.
- RASENGAN!
Recebeu o golpe nas costas, a queima roupa e foi arremessado de volta ao pântano que agora encobria todo lugar. Durante somente três segundos, Naruto ficou inconsciente, mas foi o suficiente para se ver preso e não poder se levantar.
- Droga! – exclamou lutando contra a lama. – Preciso ficar em pé.
E da mesma forma que fizera para se levantar do rio com Hinata no dia do resultado, concentrou uma grande quantidade de chakra nas palmas das mãos e conseguiu apoio. Depois, foram os pés. Demorou um pouco a se firmar, o que o deixou espantado. E foi aí que percebeu que alguma coisa estava errada. Sentia seu chakra sendo puxado para baixo.
“Droga!” pensou sentindo seu poder se esvair rapidamente.
Não era um simples pântano, mas sim um pântano que sugava chakra. Sua situação começou a ficar difícil. Estava em pé, mas à custa de muita energia. Olhou para Jiraya que continuava intacto, enquanto ele agora exibia profundas feridas onde fora acertado pelo rasengan. Sua camisa ficou totalmente destruída, bem como sua jaqueta.
- Inventou um jutsu novo, ero-senin... – murmurou começando sentir um cansaço indescritível.
- Até um cachorro velho aprende truques novos.
Mesmo diante da situação, Naruto sorriu.
- Tajuu Kage Bushin no Jutsu!!
Mais uma vez a arena foi repleta por Narutos que atacavam em todas as direções.
- Ninpou Harijizou. – gritou Jiraya sendo coberto por agulhas.
Os clones não tiveram a menor chance. Mas o que Naruto queria era tempo. Quando Jiraya estava preocupado em se defender dos clones, ele chegou repentinamente e atacou.
-RASENGAN!
Porém, para seu total surpresa, a barreira de espinhos não só bloqueou como o repeliu com uma chuva de agulhas muito afiadas que começaram a perfurar seu corpo. Mais uma Naruto foi arremessado contra a lama.
- NARUTO-KUN!
De onde estava Naruto ouviu o grito de Hinata. Com muito esforço se levantou e olhou para a platéia que assistia calada sua luta. Não podia vê-la de onde estava, mas sabia que provavelmente chorava por sua causa. Ele precisava fazer algo. Tinha que acabar aquela luta se quisesse ser um jounin. Se quisesse recompensar tudo que Hinata fizera por ele. Começou então a analisar a situação.
“Ele está se mantendo a distância. Isso deve fazer parte da tal obrigação que a vovó falou. Tenho que descobrir por que. Para isso, vou ter que atingi-lo. Mas como farei isso? Ele prever meus ataques e sabe exatamente o que vou usar. Estou ficando sem chakra, maldito pântano... Não posso mais usar o kage bushin, ou não me manterei em pé aqui... Usar o chakra da Kyuubi está fora de cogitação. E ainda tenho que quebrar essa defesa...”.
E de repente Naruto lembrou.
Podia vencê-lo.
Jiraya percebeu que o olhar de Naruto mudou de repente.
“O que será que ele fará agora” pensou o sanin.
Naruto começou a formar um grande rasengan na mão direita. Sem clones para encobri-lo. Sem a ajuda da outra mão.
- Ele pensa que vai poder ganhar assim?! – exclamou Hanabi sem se importar com as lágrimas já derramadas pela irmã.
Todos esperavam ansiosos os próximos passos.
- Vai realmente me atacar de frente, Naruto? – perguntou Jiraya surpreso - Não acho uma boa idéia.
Naruto começou a correr de peito aberto em direção a Jiraya. Mas, ao chegar perto, ao invés de atacá-lo, dirigiu o rasengan para o pântano. Uma grande quantidade de lama espirrou para todos os lados antes que o golpe fosse sugado pela lama. Ninguém entendeu o que ele pretendia.
Somente Hinata.
- N-Naruto-kun, ele v-vai...
Foi tudo muito rápido. Em um momento tudo estava coberto de lama. No momento seguinte, Jiraya voava com sua barreira totalmente despedaçada pelo rasengan de Naruto, atravessando a arena e indo parar nos limites do campo. O pântano imediatamente se desfez.
- O que aconteceu? – perguntou Sakura assustada.
- O certo seria “como” aconteceu. – completou Sasuke.
Hinata sabia como. Quando viu Naruto direcionar seu rasengan para a lama fazendo com que ela respingasse, lembrou do treinamento do dia anterior que ela tivera com seus alunos. Yumi só descobrira a falha de seu bloqueio por causa da água de seus ataques. Então, ele utilizou a lama para descobrir onde a defesa de Jiraya tinha falha. Depois, direcionou todo seu ataque no ponto rapidamente com outro rasengan, como tinha treinado com ela aquela noite. E assim conseguira atingir completamente seu sensei.
Tsunade se deu por satisfeita. Era hora de parar o combate. Levantou-se e começou a falar.
- Bem, eu quero...
Mas suas palavras foram abafadas por um grito:
- AH, MOLEQUE MALDITO!
Jiraya se levantou repentinamente totalmente irritado.
- Que se dane esse teste, aqui vou eu! – avisou ele.
E começou a correr em direção a Naruto.
- Jiraya! – exclamou Tsunade surpresa – Já acabou!
Mas o sanin não ouvia. Voltara a atacar Naruto com força total.
- Você quer lutar seu ero-baka? Pode vir! – gritou Naruto atacando também.
Todos agora olhavam perplexos, o desenrolar nada convencional do exame.
- EI VOCÊS DOIS! PODEM PARAR! – chamou a Hokage irritada. Mas se eles a ouviram, simplesmente ignoraram seus chamados.
- Tsunade-sama, é melhor ir separar os dois... Ou eles vão se matar... – disse Shizune preocupada.
- Vou fazer isso agora. – e arregaçando as mangas pulou para dentro da arena – JIRAYA SEU MALDITO, EU DISSE QUE ACABOU!!! – e socou Jiraya sem dó fazendo-o voar até bater na parede e cair no chão aparentemente desacordado.
Naruto olhou surpreso para Tsunade. Ela estava muito brava.
- Vovó Tsunade... – murmurou assustado.
Ela chegou bem perto dele e, pegando-o pela orelha, levantou seus pés do chão.
- Aiaiaia, isso dói! – reclamou ele.
- Da próxima vez que eu disser que já chega, é por que já chega entendeu? – ela parecia mais ameaçadora que nunca.
- Sim senhora!
- Ótimo. – e largando Naruto no chão, se dirigiu para onde estava Jiraya e começou a chutar ele que ainda estava no chão – E isso serve para você também!
Foi só então que Naruto entendeu.
- Peraí, Vovó Tsunade. Se você disse que acabou... E eu? Passei?
Tsunade parou de chutar Jiraya e olhou para ele.
- Eu lhe disse que você teria uma obrigação. Sabe qual foi ela?
- Quase. Você queria que eu descobrisse como quebrar o bloqueio do ero-senin, mesmo com aquele pântano?
- Eu queria que você pensasse durante a luta Naruto, mesmo que estivesse em uma situação difícil e estressante. Que descobrisse um meio de vencer, sem usar a Kyuubi, com seus próprios esforços. E você conseguiu. Parabéns.
- Isso quer dizer que... – mas as palavras dele falharam nessa hora.
Seria verdade?
-Shizune! – chamou a Hokage.
Shizune entregou um colete de jounin para Tsunade, que o jogou para Naruto.
- Seja bem vindo à elite jounin, Uzumaki Naruto.
Ele não acreditava no que ouvia. Nem no que via. Mas o colete estava ali, nas mãos deles. Conseguira. Era um jounin.
- YES!!! – começou a gritar.
Seus amigos começaram a pular um a uma para a arena. Primeiro Sasuke e Sakura, depois os demais. Hinata foi a ultima a entrar e ficou observando Naruto sendo cumprimentados e aplaudidos por todos. Teve receio de chegar mais perto, pois todos queriam um pouco da atenção dele.
- Não vai se aproximar, Hinata-sama? – perguntou Neji vendo o receio dela.
- Não sei Neji-nii-san... – murmurou encostando as pontas dos dedos - Ele está tão ocupado...
- Mas sem você ele não teria chegado aqui...
Apesar disso, ela manteve uma certa distância. Era tão bom ver ele tão feliz.
- E aí? Como estou? – perguntou Naruto a Sasuke vestindo o colete de jounin.
- Ridículo. – respondeu o outro sem pensar duas vezes.
- COMO ASSIM RÍDICULO?
- Ora, o que você esperava? Com essa calça laranja-sukita e esse colete?
- Parabéns, Naruto. – disse Neji antes que Naruto partisse para cima de Sasuke.
Naruto logo esqueceu de Sasuke e olhou para os lados.
- Neji? Onde está Hinata?
Neji apontou para trás. Naruto abriu um sorriso.
- HINATA! EU CONSEGUI! – gritou correndo em direção a ela.
Quando menos esperava, Hinata se viu abraçada por ele, que parecia ter esquecido que toda vila os observava. Naruto segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou longamente.
- Hã... Acho que isso esclarece muita coisa. – disse Sakura corando tal era intensidade do beijo.
- Será que devemos avisá-los que toda vila ta olhando? – falou Shizune preocupada.
- Deixe-os. – disse Tsunade rindo – Precisamos comemorar! Vamos beber sakê! Por conta do Jiraya!
- Por que por minha conta? –perguntou Jiraya que acabava de se levantar.
- Por não ter parado quando eu mandei. – disse Tsunade ameaçadoramente – Algo contra?
- Nada não. Eu pago...
E todos começaram a se retirar da arena, enquanto Hinata e Naruto ainda trocavam o beijo de comemoração.
Capítulo XVIII – Lugar Distante
Hinata deixou-se ser beijada a vontade por Naruto. Por um momento esqueceu de tudo, de que estavam em plena arena e nem mesmo viu quando esta se esvaziou. Naruto também não parecia se importar com nada, a única coisa que queria era beijá-la, beijá-la, cada vez mais. Quando o beijo foi diminuindo de intensidade até restar somente os lábios encostados um no outro, Naruto abriu os olhos, se afastou e sorriu.
- Eu jamais teria conseguindo sem você. – falou carinhosamente alisando seus cabelos.
- N-Naruto-kun... Não é crédito m-meu... Você se esforçou muito...
- Com a sua ajuda... – e a abraçou fortemente.
Foi só então que perceberam que haviam sido deixados para trás. No lugar onde os amigos tinham estado, no chão, havia um bilhete.
- O que será isso? – perguntou Hinata apanhando o papel no chão.
- Oh, é a letra do Sasuke! O que diz?
- “Quando você terminarem, estaremos no restaurante de Konoha esperando para comemorar sua promoção. Tudo por conta de Jiraya-san. Sasuke”. Nossa que legal da parte do Jiraya-sama, pagar sua comemoração, Naruto-kun!
- Tem alguma coisa errada ai... – falou Naruto desconfiado – Mas vamos, né? É comida de graça!
Hinata começou a rir com ele, mas depois assumiu uma expressão preocupada.
- Naruto-kun, e esses ferimentos?
Naruto olhou para o próprio corpo.
- Ah, não é nada. Ele não queria me acertar em nenhum ponto vital. Só esta doendo um pouco, mas lá no restaurante eu peço para a vovó Tsunade dar um jeito nisso. Você pode ir na frente, Hinata. Eu quero passar em casa para tomar banho e trocar de roupa... – e fazendo uma careta acrescentou – Estou fedendo a pântano!
- Naruto-kun... E-Eu n-não queria ir s-sem você...
Hinata pensava na possibilidade de que, sem Naruto, provavelmente seria bombardeada de perguntas sobre o relacionamento dos dois e decididamente não estava disposta a isso. Naruto percebeu que ela não queria estar lá sozinha e ficou vermelho ao propor:
- Bem... Se você quiser pode ir esperar lá em casa...
Foi a vez de Hinata ruborizar.
- C-Certo... – respondeu.
Eles então se dirigiram para o apartamento de Naruto. No caminho, muitas pessoas da vila, até mesmo aquelas que ele nem conhecia, começaram a parabenizá-lo pela luta.
- Parabéns, Naruto! – falou um dos espectadores.
- Arrasou, hein? – disse outro dando um tapinha nas costas dele.
- Quem diria, um jounin... – murmurou um anbu ao passar por eles.
- Naruto! Chegou mais hentai, viu? Dê uma passadinha aqui mais tarde! – gritou o dono da livraria para todos que pudessem ouvir. Hinata começou a rir quando Naruto corou.
- Tanaka, maldito!
Logo chegaram ao apartamento. Ao colocar a chave na fechadura, porém, Naruto hesitou por um momento. Sorrindo sem jeito, ele falou:
- Não repare na bagunça, não. Quase não tenho tido tempo de arrumar o apartamento.
- N-Não tem problema...
Realmente o que ele dizia era verdade. Quando a porta se abriu, Hinata pôde ver que o apartamento não devia ver uma vassoura há muitos dias. Naruto parecia extremamente constrangido com a situação que se encontrava o ambiente.
- Hã... Eu vou tomar um banho rápido... Fique a vontade.
No momento em que ele se trancou no banheiro, Hinata passou a vasculhar a casa como se buscasse algo. E achou. Uma vassoura e uma flanela para tirar a poeira dos móveis. Começou rapidamente a arrumar todo quarto de Naruto, o que não demorou muito, pois não era um apartamento grande. Quando estava limpando rapidamente o criado-mudo, viu diversas fotos de Naruto com Sakura e Sasuke. Uma em especial lhe chamou a atenção, mas continuou arrumando, pois logo Naruto sairia do banheiro. Depois de deixar tudo limpinho, aproveitou para dobrar as roupas lavadas que ele nem tinha tirado da sacola da lavanderia. E achou uma peça muito interessante.
- Que bonitinho! - exclamou Hinata.
- O que é bonitinho? – perguntou Naruto saindo do banheiro.
- Isso. – disse ela colocando o gorro de dormir dele na cabeça.
- Ah, isso. Eu nem lembrava que tinha mandado para a lavanderia – e reparou na limpeza do quarto – Ué, ta tudo limpo...
- Você disse que eu ficasse a vontade, então dei uma arrumada rápida... N-Não gostou? – perguntou insegura.
- Claro que gostei! Muito obrigado, mas não precisava se incomodar.
- N-Não foi incômodo.
- Err... Você não quer esperar na cozinha enquanto eu me troco?
Foi então que notou que ele estava só de toalha na sua frente. Os dois coraram drasticamente e ela se retirou rapidamente para a cozinha. Pouco tempo depois, Naruto aparecia totalmente vestido.
- Não tenho aquela roupa legal azul de jounin, mas acho que esta serve.
Por baixo do colete de jounin ele vestira uma calça e jaqueta preta. Nos ombros, um redemoinho laranja se destacava. Mas havia ficado uma combinação perfeita.
- Está ótimo, Naruto-kun.
- Então vamos! Mas antes, não é melhor você tirar isso? – e apontou para o gorro que ainda estava na cabeça dela.
- Ah, mas é tão bonitinho! – disse rindo, mas tirando o gorro. - Naruto-kun... – murmurou ela logo depois enquanto passavam pelo criado-mudo – Essa foto aqui... Foi há uns dois anos atrás não é? – perguntou ela apontando para uma das fotos no criado-mudo que exibia os três amigos juntos.
- Foi. – murmurou ele ficando momentaneamente triste – Foi a foto que nós três tiramos logo que o Sasuke saiu da prisão...
- Ah! – exclamou ela – Eu não queria relembrar isso e...
- Calma... – pediu Naruto sorrindo – Não precisa ficar constrangida. Tudo já foi superado. - Agora, vamos comer por conta do Ero-senin! Nem vou levar Gama-chan!
E foram rapidamente em direção ao restaurante onde todos os esperavam.
O cheiro da comida foi a primeira coisa que sentiram. Reunidos em volta de uma grande mesa, todos já tinham começado a comer e beber quando eles entraram. Sakura começou a bater palmas para Naruto assim que o viu, sendo acompanhada pelos outros. O rapaz ficou um pouco vermelho, mas sorriu e se dirigiu para os lugares que tinham sido reservados para ele e Hinata, ao lado de Sasuke e Sakura.
- Finalmente, chegaram – disse a garota.
- Eu fui tomar um banho, não podia continuar fedendo àquele pântano.
- Ei, olhe como fala do meu pântano rapazinho! – reclamou Jiraya com um copo de sakê na mão – Se você falar desse jeito, não te ensinarei ele!
- E você ia me ensinar? – perguntou ele incrédulo.
- Ia, mas com a condição que você me apresentasse a sua namorada... - e olhou maliciosamente para Hinata, que teve vontade de se esconder embaixo da mesa.
Naruto parecia não ter gostado nem um pouco da brincadeira. Colocou o braço em volta dos ombros da garota e a puxou um pouco mais para perto.
- Então já sei que não vou aprender nunca, pois não vou deixar um ero-baka como o senhor perto dela! – disse irritado.
- Oh, ele é ciumento, Tsunade! Viu como o amor é lindo? – falou Jiraya começando a rir e sendo acompanhando por todos.
- Jiraya, você já está bêbado? – reclamou a Hokage - Se começar a dizer besteiras, eu não arrastarei você para casa, não.
- Deixa de ser uma velha rabugenta! Me dá um beijinho! – e fez biquinho para ela.
Tsunade deu um soco na boca de Jiraya, onde todos puderam ouvir o barulho do queixo rachando.
- Isso deve ter doido... – comentou Kiba.
- Ele vai sobreviver. – disse Tsunade indiferente colocando mais sakê no copo.
- A propósito, Vovó Tsunade, poderia olhar meus ferimentos? – pediu Naruto - Não é muito grave, mas ta doendo.
- Claro. – e passando a mão por cima da roupa de Naruto, ajudou as dores aliviarem.
- Bem melhor agora. Obrigado Vovó Tsunade.
- Você lutou muito bem, Naruto-san. – disse Temari enchendo o copo de sakê sob o olhar de desaprovação de Shikamaru – Gaara me disse que achou sua luta excepcional.
- Por falar nele, onde está o Gaara? – perguntou Naruto vasculhando o ambiente.
- Ele foi embora logo que acabou sua luta. Não podia se atrasar mais. Tinha compromissos.
Compromissos. A visita à Vila Oculta da Pedra. Naruto já quase esquecera o que Gaara lhe confidenciara. Existia uma crise entre as vilas e estavam às portas de uma guerra. Tsunade ainda não tinha falado nada para ele, mas esperava que isso fosse só questão de tempo. Como jounin, ficaria a par de diversas coisas. E se a situação estava tão grave quanto o amigo deixara entrever naquela noite, não demoraria muito para a Hokage tomar providências.
- Naruto-kun, ficou sério de repente... – murmurou Hinata.
- Nada não Hinata. – disfarçou ele, pois não queria que ela ficasse preocupada - Só chateado por que não falei com o Gaara.
- A propósito Temari-san, por que não voltou junto com seu irmão? – perguntou Ino interessada – Por causa do Shika-kun?
- Ino! – exclamou Shikamaru enrubescendo.
- Ah, Ino, mas é claro! Se bem que eu to mesmo é querendo ver o show do Asian Kung Fu Generation que vai haver na capital, e o Shikamaru vai me levar para vermos eles de perto!
- Vou? – perguntou ele preguiçosamente.
-Vai sim! – falou ela irritada.
- Cara que saco...
- Nossa e o Gaara te deixou ficar? – se surpreendeu Sakura. Sabia que Temari tinha muitas obrigações na Vila da Areia.
- Sim, deixou. Mas “essa” aí teve que ficar também... – e apontou para a moça sentada ao lado de Kiba.
- Por favor, Temari-sama, não me deprecie dessa forma. Eu estou apenas cumprindo ordens! – protestou Soichiro.
- Então cumpra minhas ordens e volte para a vila da Areia. – disse ela secamente.
- Estou cumprindo ordens do seu irmão e uma delas é não te obedecer!
- O Gaara tem cada uma... Mas não pense que você vai comigo ao show não! Eu quero namorar em paz!
- Temari-sama... – a garota estava quase em prantos.
- Você pode ir comigo Soichiro! Assim não descumpre suas ordens e se diverte um pouco!
Kiba fez o convite sem nenhum receio de ser recusado. A garota o olhou, vermelha, e então sorriu.
- Seria ótimo, Kiba-kun...
- Graças a Deus, ela arranjou uma distração. – murmurou Temari para apenas Shikamaru ouvir.
- Vai ser um ótimo show! – disse Sakura animada. – Vai ser ao ar livre em comemoração ao novo estádio que o daymiou construiu!!! Eu e Sasuke vamos sem dúvida!
Naruto olhou para Hinata, que não falou nada, apenas continuava bebendo seu chá.
- Você quer ir, Hinata? – perguntou sorrindo.
Ela quase engasgou com o chá.
- S-Se eu quero ir n-no show? E-Eu a-adoraria...
- Então eu e Hinata iremos também! – exclamou ele animado.
- Ótimo! – falou Sakura – Então iremos todos juntos. Encontraremos-nos no portão da vila na hora do almoço para que a gente consiga um bom lugar para assistirmos o Show!
- A propósito, quando será o show? – perguntou Naruto depois de perceber que não fazia a mínima idéia de quando seria.
Sasuke olhou incrédulo para o amigo.
- Você disse que ia e nem ao menos sabe a data? Tem certeza que ele passou Tsunade-sama?
- Ora seu!
- Dia 25. Depois de amanhã. – respondeu Sai achando divertido ver a cara de Naruto irritado – Na capital.
Hinata observou todos na mesa. Estavam ali para comemorar a promoção de Naruto e se divertiam. Ela também estava feliz, mas ao mesmo tempo ficava triste. Faltavam quatro dias para seu aniversário, mas tentava não lembrar disso. Porém não ia poder fugir daquela lembrança por muito tempo. Seu prazo estava se esgotando.
- Algum problema Hinata-sama?
Neji a olhava fixamente. Como Hinata, recusara o sakê e bebia chá. Não estava acompanhado de Hanabi, então se podia supor que também passara em casa antes de vir ali.
-N-Nenhum problema, Neji-nii-san. E-Estava a-apenas me p-perguntando onde esta Hanabi. Ela, com certeza, d-deve ter pedido para vir...
- Sim, pediu. E Hiashi-sama não autorizou.
- Entendo. Mas espero que ele permita que ela nos acompanhe ao show. Você irá, não é mesmo, Neji-nii-san?
Ele considerou por um instante o pedido.
-Sim, é claro.
- Opa, esse show promete! – exclamou Sakura.
Ninguém ali duvidava disso.
********************
Na manhã do dia 25, Hinata dispensou seu time mais cedo.
- Bem, como vocês sabem hoje vai haver o show do Asian Kung Fu Generation. Normalmente eu não me ausentaria de minhas obrigações para me divertir, mas como vocês conseguiram cumprir a meta de quebrar minha defesa de 300º nos últimos dois dias, vou dar essa folga para todo time.
- Beleza! – exclamou Makoto.
- Mas amanhã voltaremos com tudo. – avisou ela sorrindo.
- Droga...
- Gostaria de saber qual de vocês quer ir conosco? – perguntou pensando que eles precisavam de alguma diversão afinal. Antes de serem ninjas, eram adolescentes e precisavam gastar a energia reserva que tinham.
Suzumi desviou o olhar triste para o chão.
- Eu adoraria sensei, mas não tem quem possa ficar com meus irmãozinhos, então não posso ir...
- Nem eu. – disse Makoto emburrado – Estou de castigo. Papai acha que não estou me esforçando o suficiente.
- Que pena... – falou sinceramente triste - E você, Yumi?
Yumi olhou para os dois companheiros. Ela não tinha irmãos para cuidar, nem estava de castigo. Sabia que sua mãe não veria nada contra ela sair com sua sensei. Mas por algum motivo, não queria ser a única a ir. Sabia que, mesmo que se divertisse muito no show, não seria a mesma coisa sem eles.
- Não posso sensei. Tenho algumas coisas para resolver.
- Tudo bem então. Vejo vocês amanhã. Dispensados!
Quando eles saíram, Hinata ainda pode ouvir Yumi propor animada aos companheiros:
- Já que ninguém vai, vamos todos jantar lá em casa? Tem panquecas hoje!
Sorriu satisfeita, percebendo o ato de Yumi. O verdadeiro espírito de companheirismo.
Voltando para casa, percebeu que Hanabi a esperava ansiosa em frente da casa. A menina parecia irritada e questionou com as mãos na cintura:
- Você demorou! Está quase na hora de ir!
- Mas eu cheguei na hora que prometi Hanabi! – falou depois de consultar o relógio.
- Não enrola e vai logo se arrumar!
Vinte minutos depois, ela, Hanabi e Neji, se dirigiram para o portão da vila. Naruto ia esperá-la lá. Nos últimos dois dias, sua vida virara um verdadeiro sonho. Ela e Naruto não se separavam em nenhum momento durante o dia e a ajuda dele fora essencial para que seu time progredisse. Ele ia todos os dias assistir seu treino e acabava participando também. Makoto relutou a principio, mas logo estava muito a vontade com a presença de Naruto. Suzumi o idolatrava e Yumi o indagava sem parar sobre as missões já realizadas pelo time dele. Mas o que mais atraiam os garotos era a história da Akatsuki que Naruto sempre era obrigado a repetir nos momentos que paravam para lanchar. Depois dos treinos, eles iam ao Ichiraku ramen e só se separavam à noite.
- Aiaiaia, que ansiedade! – falou Hanabi. – É a primeira vez que saio da vila com você Neji! Prometa que vai ficar ao meu lado o tempo todo! – e se segurou no braço do rapaz.
- Hanabi, pare de perturbar Neji-nii-san. – pediu Hinata - Ele não pode ficar ao seu lado o tempo todo.
- E por que não?
- Vamos logo, estão todos nos esperando. – falou Neji sem se meter na conversa das garotas.
Hinata se espantou com o número de pessoas que iam sair da vila para o show. E se surpreendeu mais ainda de ver Shino, já que fazia meses que eles não se encontravam.
- Shino-kun... Há quanto tempo.
- Hinata-san. É um imenso prazer revê-la depois de tanto tempo. – falou formalmente - Infelizmente nós temos estado muito ocupados e isso fez com que não nos víssemos. Porém, fico feliz em saber que você está bem e dou os parabéns por seu relacionamento com Naruto-san.
- Err.. Obrigada. – disse timidamente.
-Hanabi-chan! – chamou uma voz animada.
Lee veio correndo para onde eles estavam. Junto com ele, estavam dois meninos, um mais ou menos da mesma idade que Hanabi e o outro era visivelmente mais jovem. O rapaz se dirigiu diretamente para Hanabi. Ele parecia muito animado.
- Minha pupila! Aposto que você está ansiosa para ficar ao meu lado durante o show! Prometo te colocar nos ombros para você ver o Asian de perto! – e fez a pose de nice guy.
- Eu vou fingir que nem te conheço lá. – disse a garota taxativa.
Os meninos ao lado de Lee tiveram reações totalmente diferentes. O mais velho riu, concordando com Hanabi e o mais novo apertou os olhos, parecendo chateado.
- Neji!!! Meus discípulos não me amam!!! – disse Lee chorando copiosamente.
- Problema seu. – resmungou o outro.
- Lee, você sabe que Hanabi-chan não gosta dessas suas demonstrações de afeto. – Tenten surgiu ao lado dele – Então não pressione a menina.
- Mas nenhum dos meus pupilos me admira! – e olhou para os meninos. Nenhum deles vestia uma roupa igual a sua e pareceram constrangidos diante do olhar de Lee.
- Se eu tivesse um sensei que se veste como você, eu também não o respeitaria. – falou Sasuke chegando. E se dirigindo à garota ao lado dele, falou – Hinata, Naruto disse que ia se atrasar um pouco, mas chega logo.
- Obrigada, Sasuke-san. – agradeceu ela aliviada, pois já estava ficando preocupada.
- Mas eu me visto bem! – reclamou Lee, vestido igual ao Gai-sensei.
- Se isso é bem, não imagino sua noção de mal. – disse Neji.
- A propósito, Neji, está desacompanhado? – perguntou Tenten sorrindo e se aproximando do rapaz.
- Está comigo! – disse Hanabi pegando no braço dele.
- Eu não falei esse tipo de companhia...
Enquanto Tenten e Hanabi iniciavam uma discussão, Hinata se aproximou de Sakura e perguntou:
- Por que o Naruto-kun vai demorar?
- Ele falou que ia buscar alguém. – respondeu a médica.
- Quem? – Hinata imaginou que fosse, já que todo pareciam estar ali.
- Não sei. Mas espero que ele não demore, ou poderá ficar para trás. – e acrescentou animadamente – Estou tão empolgada com esse show!
Os minutos começaram a passar rapidamente e Naruto não chegava. Somente quando todos já pensavam em deixá-lo para trás para o desespero de Hinata, ela ouviu a voz dele ao longe.
-Ei, esperem por nós!
Ele vinha acompanhado de Konohamaru.
- Então ele tinha ido buscar o Konohamaru-kun... – disse Hinata aliviada.
- Desculpe o atraso. – falou Naruto rindo – Eu tive que ir buscar o Konohamaru, por que ele não tinha aparecido ainda.
- É e me tirou de casa antes que eu pudesse terminar meu almoço... – disse Konohamaru chateado.
- Você come lá. – resmungou ele - E não seja mal agradecido, se eu não tivesse ido buscar você, teria ficado para trás.
Com todos reunidos, começaram o caminho em direção à capital. Durante o percurso, Sakura assumiu a liderança e dava ordens a todos para quando chegasse lá.
- Vamos nos dividir em dois grupos: um vai guardar os lugares em frente ao palco, enquanto o outro vai conhecer a cidade. Depois trocamos. Assim podemos nos distrair antes do inicio do show. Concordam?
Todos concordaram.
E a idéia de Sakura foi muito útil. Como eles chegaram bem cedo à cidade, puderam passear sem se preocupar com os lugares. Hinata e Naruto estavam no segundo grupo que foi somente conhecer a cidade depois dos outros. Durante a andança, Hinata viu algo que a conquistou totalmente.
- Veja Naruto-kun! Uma kyuubi!
Era uma raposa de nove caudas de pelúcia que repousava numa vitrine de uma loja infantil. Junto com ela, outras criaturas lendárias, muitas delas composta pelos bijus.
- Olha que interessante! Tem o gato de duas caudas... Tem até o Shukaku de Gaara-sama!
- Esses vendedores fazem tudo para ganhar dinheiro... – comentou Naruto sorrindo – Opa, olha a hora! É melhor voltarmos!
A apresentação estava marcada para começar às oito horas. Ás sete, outras bandas menores iniciaram a prévia do show. A maioria delas eram bandas da própria região e pareciam tão ansiosos quanto os expectadores para o show principal. Eram oito e quinze quando as luzes apagaram e os acordes de “Haruka Kanata” começaram a tocar. A multidão presente foi ao delírio, e começou a pedir a entrada da banda.
- Ainda bem que chegamos a tempo. – gritou Naruto por cima do barulho para que Hinata pudesse ouvi-lo.
As luzes se acenderam novamente. No palco, Masafumi Gotou , Kensuke Kita, Takahiro Yamada e Kiyoshi Ijichi cumprimentavam a multidão. As meninas eram as que mais gritavam.
Vou começar, se apresse
Não é só porque você faz
Que também vou fazer, verdade
A noite passa
Sakura começou a pular no meio da multidão sendo seguida por Sasuke que parecia estar se empolgando também com ritmo. Em pouco tempo, os ninjas se esqueceram que eram ninjas e passaram a cantar as músicas com o mesmo fervor dos presentes. Flashes de câmeras partiam de todos os lados e se tornou difícil se manter todos juntos.
No início me esforço,
Mas no fim
Dá na mesma, verdade
Os dias passam
Aos poucos
Abro os meus sentimentos
Se me aproximar
Entenderá melhor!
- Ah, eu queria ver melhor para tirar uma foto! – gritou Sakura.
- Eu to vendo muito bem! – respondeu Sasuke.
- É, mas minha câmera não tem Sharingan então ta difícil!
- Venha! – e se abaixou para Sakura subir em seus ombros. A garota ficou extremamente feliz.
- Vou tirar uma foto do Masafumi Gotou. – gritou excitada.
- Que mau gosto, ele é tão feio. – disse Naruto para Hinata que começou a rir.
- Neji me põe no ombro para que eu possa ver melhor! – pediu Hanabi.
- Basta que você ative seu byakugan, Hanabi-sama, para ver melhor.
Hanabi ficou extremamente decepcionada ao ouvir isso.
- Se você quiser, pode subir no meu ombro, Hanabi. – disse Konohamaru sorrindo insinuante para a garota.
- Você eu não usaria nem como carpete!
- Ah, deixa de ser chata... Tipo... Alguém já te disse que esses olhos ficam muito bem me você?
Irritada, Hanabi deu um soco forte no olho de Konohamaru, que o deixou imediatamente roxo.
- Esse olho também fica bem em você...
A música chegou ao fim, sendo imediatamente substituída por um solo de guitarra diferente, precedendo a sua sucessora.
- Não acredito! – alegrou-se Hinata – Rewrite é minha música favorita! – e começou a cantar junto com o vocalista a letra que, em sua opinião, identificava muito dela própria.
Quero gritar todos estes pensamentos
Pois não existe outra prova de minha existência
Este futuro que eu deveria agarrar
Entra em conflito entre "dignidade" e "liberdade"
Quero apagar essa imagem distorcida a minha frente
Pois vejo meu limite bem ali
Nesta janela de excessiva consciência própria
Naruto começou a cantar junto com a garota, em uma voz desafinada mais muito animada. Em pouco tempo já estavam roucos de tanto gritar. “Rewrite” foi precedida por “Ao no uta” e depois “Butterfly”. Uma hora depois, Hinata já quase não agüentava ficar em pé. A multidão ao seu redor tinha aumentado consideravelmente.
- Naruto-kun... – falou ela bem perto de seu ouvido – Eu estou com sede, vamos beber algo?
- Acho que vi um ambulante por ai, lá perto de Sasuke e Sakura. Vamos.
E saíram empurrando todos tentando achar o ambulante. Quando se aproximara do individuo que realmente estava próximo dos seus amigos, ele gritou por cima da musica “Yuugure no aka”:
- Ei, me vê duas águas.
- Não tem água tem só refrigerante. – respondeu o vendedor.
- Então dois refrigerantes!
- Só tem essa latinha aqui.
- Então dá logo essa latinha!
O vendedor deu a latinha a Naruto que pagou irritado. Depois, ele entregou-a para Hinata.
-Não vai querer, Naruto-kun?
- Vou tomar outra coisa. – e se dirigindo ao vendedor perguntou - O que tem mais ai?
- Tem rum, vodca, cerveja, Nabunda...
- Nabunda? – perguntou achando que tinha ouvido mal.
- É, a cachaça Nabunda! Quem toma Nabunda não esquece jamais! É a bebida mais forte que tem! – e dando um sorriso malicioso, perguntou - Vai querer tomar Nabunda?
- Não obrigado... Dá uma cerveja mesmo... Mas... Ei Sasuke! – gritou para o amigo.
- Oi? – responde Sasuke ainda com Sakura nos ombros.
- A bebida perfeita pra você! Cachaça Nabunda! Quer tomar Nabunda?
- Por quê? Você tomou tanto que gostou é? – rebateu o outro com um sorriso debochado.
- Maldito! Sempre tem uma resposta pra tudo!
O ambiente foi ficando cada vez mais quente, e imprensado. Quando os acordes de Re Re começaram a tocar, Naruto já tinha bebido várias latinhas de cerveja devido ao calor do local. Hinata começou a passar mal. Sentia-se sufocada e várias pessoas já tinham pisado em seus pés e eles começaram a doer muito.
- Hinata, você está se sentindo bem? – perguntou ele reparando em seu semblante.
- T-Tô... – murmurou.
- Não, não está. Vamos sair daqui.
- M-Mas se sairmos não conseguiremos mais voltar...
- Daremos um jeito.
*****************
Neji não entendia por que as pessoas gostavam tanto de shows. Muita gente junta, empurra-empurra, um forte e desagradável cheiro de suor e um barulho ensurdecedor. O simples motivo de ele estar ali fora Hinata. Sabia que ela ficaria triste se Hanabi não pudesse ir, e a menina só teria permissão do pai caso Neji também fosse. Então ali estava ele, totalmente desajustado ao ambiente agitado, contando os minutos para que aquilo tivesse um fim.
Naquele momento, Hanabi parecia tê-lo esquecido um pouco. O Asian Kung Fu Generation cantava Re Re, a sua música favorita. Ela acompanhava a música aos gritos, empolgada com a performance da banda. Foi quando Neji sentiu uma mão em seu ombro. Era Tenten.
- Neji – falou ela bem próximo ao seu ouvido – Eu gostaria de falar com você um instante. É possível?
Neji olhou para Hanabi pulando junto com Tasuki, seu colega de time ao ritmo da música.
- Não poderei. – respondeu secamente.
- É importante. – insistiu a garota.
Ele considerou por um momento. Se Hanabi os visse juntos faria um escândalo. Mas como ela estava distraída, talvez pudesse sair um pouco.
- Sim. Mas aqui não. Vamos sair do tumulto.
Com dificuldade, eles saíram da aglomeração. Tenten parecia agitada e nervosa. Olhava para os lados a todo instante, como se esperasse alguém.
- Algo errado? – perguntou Neji.
- Não, não. Nada errado. Só estou vendo se Hanabi-chan seguiu a gente.
- E qual seria o problema disso?
- O que eu quero te falar é confidencial...
Neji a olhou seriamente, mas nada comentou. E quando chegaram a um local mais afastado, ele disse:
- Estou ouvindo.
Tenten tomou fôlego.
- Neji, durante sete anos fomos do mesmo time. Passamos por muita coisa juntos, você, eu, Lee e Gai-sensei. Eu tenho um carinho muito grande por todos vocês.
- Não entendo o que tem de importante nisso, Tenten.
Ela corou, mas continuou o que estava falando.
- O que eu quero te dizer é que apesar de todo carinho que eu sinto por Lee e Gai-sensei, você é especial para mim. Muito especial. Eu gosto de você, Neji. Na verdade eu te amo. Passei anos tentando dizer isso, e só tive coragem porque Sakura-chan e Hinata-chan tomaram coragem. Não quis ficar para trás...
No meio do show, ao final da música, Hanabi notou a ausência de Neji. Olhou para todos os lados, mas não viu nenhum sinal dele.
- Tasuki, você viu o Neji? – perguntou Hanabi ao seu colega de time.
Tasuki parou de pular por um momento. Tinha o cabelo castanho molhado de suor e seus olhos verdes se apertaram enquanto ele pensava. Apesar de ser apenas um ano mais velho que garota, ele era bem mais alto que ela. Usava uma camisa preta com uma foto do Asian e um bermudão jeans.
- Não vi não. Por que você não pergunta para o Konohamaru-kun?
Hanabi olhou rapidamente para o rapaz perto deles, que cantava uma garota bem mais velha. E ela parecia estar caindo na conversa dele.
- Eu não! Do jeito que ele é burro e pervertido, vai confundir minha pergunta com um pedido de namoro. Vou procurar o Neji com meu byakugan.
- Não pode, é proibido o uso de qualquer habilidade ninja aqui. Eu li em um cartaz. – avisou Tasuki.
- Então me dê cobertura! – e ativou o byakugan.
Em poucos segundos, detectou o local onde Neji estava com Tenten.
- Ai, aquela vadia! O que ela está fazendo com o meu Neji?
- SEU Neji? – indagou Tasuki caindo na risada.
- Eu vou buscar ele!
- Boa sorte.
Ela correu rapidamente no meio da multidão, utilizando das suas habilidades para abrir caminho. Não queria nem saber se era proibido ou não. O que não ia permitir era que ninguém se aproximasse de Neji, além dela.
Neji encarou longamente Tenten após a confissão da garota. A garota estava ansiosa, esperando uma resposta. Ele suspirou.
- Um nobre sentimento, Tenten. Espero que você possa encontrar algum dia alguém que possa retribuí-los. Mas não serei eu.
Os olhos de Tenten se encheram de lágrimas. Mesmo que já esperasse aquilo, ouvir doía.
- Eu não quero “alguém”. Eu quero você, Neji. – disse intensamente.
- Infelizmente não posso retribuir seus sentimentos.
- V-Você g-gosta de outra pessoa? – perguntou entre as lágrimas.
- Não. Eu não amo ninguém.
- Então – ela deu um sorriso esperançoso – Por que você não me dá uma chance de fazer com que você aprenda a me amar? Fique comigo, Neji.
- Você sabe que isso não passa de uma ilusão. – respondeu secamente - Ninguém aprende a gostar de ninguém. Apenas se gosta. Só isso. Ficar com você sem amá-la, seria apenas uma forma de desrespeitá-la, de machucá-la. – com a expressão suavizando um pouco ele continuou - E você disse bem no início. Passamos sete anos juntos, ainda somos um time, mesmo sem cumprirmos missões juntos. Eu a considero demais para fazer algo assim com você.
- Essa é sua última palavra? – perguntou ela olhando para o chão.
- Sim. Eu sinto muito.
Tenten nem ao menos olhou para o amigo. Simplesmente deu meia volta e saiu sem dizer uma palavra, seguindo a direção oposta ao show. Nesse mesmo instante, Neji sentiu alguém pular em seu braço.
- Neji! O que aquela garota queria com você? – perguntou Hanabi parecendo chateada.
- Nada de importante, Hanabi-sama. Vamos voltar ao show.
******************
Tentar sair do meio da multidão era pior que tentar entrar, fora a conclusão que Naruto chegara. A todo o momento alguém esbarrava neles, quase os separando. Quando já estavam bem próximos de sair do formigueiro que se tornara a rua principal, onde estava sendo realizado o show, uma pequena manada de adolescentes atravessou seu caminho, empurrando Hinata para um lado e Naruto para o outro. Depois disso, eles se perderam. A garota continuou andando em frente tentando encontrá-lo, mas simplesmente não o achava.
“Vou ter que recorrer para o byakugan!” pensou ela.
Assim que ativou sua linhagem, sentiu uma pontada grande nas costas, que desativou imediatamente seu byakugan. Virando-se para ver quem a atingira, viu um grupo de homens fardados que a olhavam em desaprovação.
- É proibido o uso de linhagens sanguíneas ou qualquer poder ninja nesse show. Não leu o regulamento?
- D-Desculpe, eu n-não sabia... Só q-quero e-encontrar u-uma p-pessoa...
- Que bonitinha, ela nem sabe falar direito, rapazes! Diga-me gracinha, de que vila você é? – perguntou se aproximando dela.
Hinata deu dois passos para trás. Se aqueles homens conheciam uma linhagem e eram fortes o suficiente para desativar seu byakugan, com certeza sabiam que ela vinha de Konoha.
- E-Eu vou i-indo... M-Mais uma vez d-desculpe...
Quando se virou para ir, contudo sentiu um puxão em seus cabelos. O homem a segurava por trás, rindo com um bafo forte de bebida em seu rosto.
-Calma gracinha! Eu e meus amigos só queremos conversar com você.
- P-Por f-avor n-não m-me o-obrigue a te m-machucar...
- Oh, rapazes! Ela vai nos machucar! Qual seu posto? Pela cara deve ser genin ou chunin, não é?
Segurando o braço dele, ela tentou uma manobra para se soltar. Teria conseguido se outros três não tivessem a segurado.
- Nossa, vamos nos divertir muito, rapazes! Ela é selvagem...
- Mais selvagem sou EU! – gritou Naruto chegando ao local e nocauteando o homem com um único soco. Ao ver o amigo inconsciente no chão, os outros soltaram Hinata e começaram a correr.
- Naruto-kun... Desculpe... Eles me pegaram e...
- Você não tem que se desculpar. – e abraçando ela carinhosamente acrescentou – Vamos sentar longe daqui, esse show já deu tudo que tinha que dar...
E se afastaram do local do show. Ainda dava pra ouvir “Tight Rope” do lugar onde se sentaram. Era um banquinho em uma rua lateral pouco iluminada, mas tranqüila. Quase não tinha movimento, pois a rua não tinha saída. Então eles puderam ficar bem à vontade.
- Como você está se sentindo? – perguntou ele preocupado.
- B-Bem... Fiquei assustada quando me perdi de você...
- Eu também. Imaginava uma coisa como aquela. Alguém tentando te maltratar. Eu sabia que você tentaria evitar um conflito no meio de muita gente... Você é tão meiga... Tão delicada...
Naruto começou a passar a mão pelo rosto dela. Não sabia se era a privacidade do local, ou as cervejas que bebera, mas ela parecia excepcionalmente desejável, sob a meia luz da rua. Puxando-a para bem perto dele, começou a beijá-la com uma voracidade que Hinata ainda não conhecia. Explorava sua boca com a língua, enquanto a apertava contra seu corpo. Uma tontura começou a tomar conta da cabeça da garota. Naruto parecia querer assimilá-la para dentro de si próprio, apertando-a, sentindo a pulsação mais rápida do seu coração. Em pouco tempo, sua respiração tinha se acelerado e sentiu um arrepio agradável quando os lábios dele começaram a roçar em torno se seu pescoço.
- N-Naruto-kun... P-Pode a-parecer al-guém...
Ele considerou por um momento suas palavras.
- Então, venha.
E se levantando, ofereceu a mão para ela, que aceitou. Hinata não entendeu por que Naruto a levava para o fim da rua se esta nem ao menos tinha saída. Porém, logo compreendeu. Ele a levara para longe da luz do poste e encostou-a suavemente no muro. Depois, tornou a beijá-la, dessa vez mais suavemente, e a envolveu com seus braços. Ela permitiu que ele explorasse seu corpo com suas mãos, envolvida por uma sensação que nunca sentira antes. Era inebriante, enlouquecedora. Quando ele desceu os lábios em direção ao seu decote, precisou sufocar o gemido que quase escapara. Começou então a percorrer os braços deles com suas mãos, chegando às costas. Queria acariciá-lo também, mas a grossa jaqueta que ele vestia, dificultava o caminho de seus dedos.
- N-Naruto-kun... N-Não e-está com c-calor? E-Essa jaqueta é-é tão p-esa-da...
- Sim, está muito quente aqui – sussurrou ele tirando a jaqueta.
*************
Sakura e Sasuke se entreolharam. Imaginavam que algo daquele tipo acabaria acontecendo mais cedo ou mais tarde. Mas nunca em frente a tantas pessoas, e no meio do show.
Sai estava acompanhando por uma bela morena de curvas bem generosas e que parecia estava achando aquilo muito divertido. Ino estava acompanhada por um rapaz que parecia querer sumir diante da cena. E os namorados se encaravam, enfurecidos.
- Como você pode me trair Sai? – gritou ela furiosa.
- Eu? Você quem estava antes com ele. – disse sem nenhuma inflexão na voz.
- Gente... – falou Sakura se aproximando – eu acho que...
- Você devia ficar calada. – disse Sasuke puxando ela – Não se meta nisso.
E era realmente a coisa mais sensata a fazer. Ino parecia que estava prestes a explodir enquanto Sai mantinha uma frieza invejável. E muitas pessoas olhavam esperando o desenrolar dos fatos.
- Você é um falso! – gritou Ino.
- E você não tem vergonha na cara. – devolveu ele.
- Vergonha? Quem é você pra falar em vergonha? – revidou ela.
- Talvez eu seja seu namorado que não gostou de te ver com outro. – replicou ele.
Na verdade a cena foi inusitada. Logo que começara o show, cada um foi pra um lado, sem se importar muito com o outro. Segundo Sakura soubera, eles tinham brigado antes do show. E então arrumaram respectivos “ficantes”. E por um acaso, acabaram se encontrando estando acompanhados. E agora brigavam por causa da “traição”.
- Você sempre faz isso não é? – sibilou Ino para Sai – Fica se esfregando com vadias nas minhas costas!
- Olha o respeito garota! – disse a mulher ao lado de Sai.
- Cale a boca! – gritou a loira.
- Não faço muito diferente de você, com esse outro ai... – disse Sai friamente.
- Eu nem sabia que ela tinha namorado... – se defendeu o pobre rapaz.
- Então... Você quer insinuar que estamos empatados? – quis saber ela.
- Não estou insinuado. Estou afirmando. – confirmou Sai sem hesitação.
E eles se olharam longamente por cima da música, enquanto todos esperavam o final daquela trama, que parecia agora chamar a atenção de muito mais pessoas que antes.
- Ai meu Deus... – murmurou Sakura.
- Acho que vai acabar agora... – avisou Sasuke.
E era verdade. Depois de se olharem longamente, Sai e Ino pareciam ter ambos chegada a mesma conclusão. Ele soltou o braço da mulher e disse:
- Não preciso mais de você.
Ino empurrou o rapaz e falou:
- Foi bom enquanto durou, querido.
E para a surpresa de todos, os dois se abraçaram e se beijaram intensa e apaixonadamente.
- Nunca vou entender eles... – comentou Sakura vendo todos se afastarem rindo e comentando o acontecido, enquanto os dois acompanhantes tratavam de sumir dali rapidinho.
- Existem as mais inusitadas formas de amar. – falou Sasuke sorrindo e abraçando Sakura possessivamente – Essa é a deles.
- Vamos deixá-los ai! Quero aproveitar o resto do show! – gritou a médica empolgada começando a pular novamente e fazendo Sasuke sorrir.
********************
Lee encarava a garrafa de Coca-cola à sua frente. Sua animação pela festa tinha ido toda por água abaixo. Apesar de saber a algum tempo que Sakura e Sasuke haviam se entendido, sentiu uma contração desagradável no estômago ao ver eles dois se beijando durante o show. Aproveitara que Kasuma, seu aluno, pedira para ir ao banheiro, para acompanhá-lo até fora da aglomeração e agora o esperava sentado em uma barraca.
- Pronto sensei. Podemos voltar.
Kasuma era a estrela do Time Cinco. Com apenas nove anos de idade se graduara na academia. Ele era um menino muito bonito, tinha olhos azuis profundos e cabelos negros que caiam sobre o rosto delicadamente. Ainda era pequeno, afinal, era muito novo, mas tinha uma aguçada inteligência por trás do semblante infantil. Quando Lee questionou se era apropriado ele cuidar de um time com dois gênios como Kasuma e Hanabi, Tsunade lhe respondera:
- Você é o gênio do esforço, Lee. Sei que vai conseguir.
E realmente, até então, não tivera problemas com nenhum de seus discípulos. Exceto pelo fato de nenhum deles idolatrá-lo, nem fazer a pose de nice guy. E com certeza, tinha mais afinidade com Kasuma que com Tasuki, que não levava nada a sério, e com Hanabi, que levava tudo a sério demais.
- Hã... Vamos voltar sensei? – chamou o garoto novamente.
- Pode ir à frente, Kasuma-kun... – murmurou Lee desanimado - Vou ficar mais um pouco aqui...
- Tem certeza? Ta bem animado lá! – o menino logo percebeu que havia algo de diferente com seu professor.
- Tenho. Pode ir. Só não fale com estranhos, nem aceite doces. – mesmo sendo ninja Kasuma ainda era uma criança.
- Ta, ta. – respondeu sorrindo e voltou para o show.
Lee terminou de tomar sua Coca-cola e chamou o garçom.
- Vê mais uma aí!
- Bebendo o quê Lee?
Tenten sentou-se inesperadamente ao seu lado. Mantinha a cabeça baixa ao falar com ele e parecia estar se sentindo muito mal. Mesmo tentando esconder o rosto nas sombras Lee reparou que ele estava inchado e seus olhos muito vermelhos.
- Nossa Tenten! O que aconteceu? – perguntou preocupado.
- Nada. Ou melhor, tudo... Lembra do que eu te falei hoje a tarde?
- É claro. Você me falou que finalmente decidiu se declarar para o Neji. Então, falou com ele?
Ela afirmou tristemente com a cabeça.
- E? – quis saber o rapaz.
- Ele disse que não me amava... Com todas as letras.
Lee encarou a amiga, pesaroso.
- É parece que nem eu, nem você tivemos sorte ao nos apaixonar.
- Você ainda insiste com aquela história com a Sakura, Lee? Ela namora o Sasuke há mais de um mês. E eles parecem bem apaixonados.
Cruzando os braços sobre o balcão, Lee inclinou a cabeça e suspirou.
- É eu sei. Mas mesmo assim é difícil lidar com essas coisas.
- Eu que o diga... – concordou Tenten.
- Mas há uma diferença entre nossos casos. O Neji disse que não te amava, mas ele gosta de alguém?
“Eu não amo ninguém”.
Lembrando das palavras de Neji, ela respondeu:
- Não.
- Mas a Sakura sim. É mais doloroso ver alguém que você ama com outra pessoa.
O garçom chegou com a Coca-cola de Lee. Trazia também um cardápio que entregou a Tenten. Diversas bebidas, de vários lugares eram oferecidas. Uma vontade tentadora tomou conta da garota. E decidiu não resistir a ela.
- Quer saber Lee? – falou com a expressão desafiadora – Cansei de bancar a boa moça! Esse negócio de ficar remoendo dor de cotovelo não é meu estilo. Não faço o gênero “coitadinha”! Eu não vou ficar choramingando pelo Neji! Pelo menos não estando sóbria!
- Tenten... O que você pretende? – perguntou o rapaz receoso.
- Garçom, qual a bebida mais forte que você tem aí?
- Bem, a mais forte é a cachaça Nabunda, mas eu não a aconselho à senhorita, ela é muito forte.
- Não quero saber! Pode mandar!
- Tenten, por favor! – pediu Lee - Você nunca bebeu antes!
- Há uma primeira vez para tudo. E hoje eu quero beber muito e descontar todos esses anos de abstinência!
Mas a vontade de Tenten não pode ser concretizada, pois depois da terceira dose, a garota já tinha as bochechas muito vermelhas e dava nítidos sinais de estar totalmente embriagada.
- Leeeeeeeeee – falou com a voz arrastada – Eu não to me sentindo muito bem... Acho que eu não devia ter bebido isso...
- Eu avisei! – reclamou exasperado.
- Esse negócio de tomar Nabunda não é brincadeira não... Já subiu tudo pra minha cabeça...
- E o que você está sentindo? – perguntou Lee preocupado.
- Eu to sentindo um calor tãããããããããããão grandeeeee...
E para total desespero do ninja, sua colega começou a desabotoar a blusa, fazendo com que todos os homens presentes parassem o que estavam fazendo para observá-la.
- TENTEN! Você não pode tirar a roupa aqui! – disse angustiado, segurando as mãos da amiga.
- Ah, deixa ela à vontade cabeça de bolha! – gritou um dos homens na barraca fazendo com que todos os outros caíssem na risada concordando.
- Leeeeeeeee... Não posso tirar a blusa aqui? – a voz de Tenten estava arrastada e ela não parecia deter o controle de seu corpo.
- NÃO, NÃO PODE!
- Então me leve para um lugar onde eu possa... Tomar Nabunda me deixou queimando por dentro...
Lee ajudou a amiga a se levantar oferecendo apoio, o que não adiantou muita coisa, pois Tenten não se sustentava nas pernas. Tirando uma nota alta do bolso, ele pagou a conta ao garçom.
- Fique com o troco! – disse ao sair.
Não dava para andar daquela forma. Ele não conseguia fazer Tenten se locomover e a todo momento ela caia, sem forças para se sustentar sobre as próprias pernas. Muitas pessoas já paravam e apontavam à cena rindo.
- Acho que vou ter que te levar no braço... – e colocando ela no braço, passou a se distanciar do show.
- Leeeeee, para onde você está me levando?
- Para casa. Não vou te deixar ficar assim.
- Mas eu não quero ir...
- Você não tem querer! – disse chateado - Tenten, você não podia ter feito isso!
- Ei, Lee, Tenten!
Chouji estava em uma barraca de churrasco ao lado de uma garota cheinha, mas muito bonita. Ela olhou interessada a cena.
- Seus amigos, Chouji-kun? – perguntou.
- Sim. – e voltando-se para Lee perguntou – O que está havendo?
O rapaz hesitou por um instante. Não podia dizer o que realmente estava acontecendo com Tenten. Naquele momento ela podia não estar com plenos domínios de seus atos, mas no dia seguinte depois de recuperar a consciência, com certeza ficaria constrangida com ocorrido, principalmente se várias pessoas tomassem conhecimento dele.
- A Tenten não ta passando bem, Chouji-san. Estou levando ela de volta para Konoha. Avise aos outros, por favor.
- Pode deixar. Eu aviso.
Lee tomou o rumo de volta à vila. Durante o percurso, quando passavam por entre as árvores, Tenten segurou forte o braço de Lee.
- Leeeeee... Acho que vou vomitar...
Rapidamente ele a pôs no chão. Mas ela não vomitou. Apenas começou a arquejar como se tivesse com falta de ar e reclamava em voz baixa enquanto arranhava o próprio pescoço:
- Queima, queima, queima...
- Acho que vi um lago por aqui. Vou te levar lá. Dizem que molhar a cabeça faz bem nessas horas. Vamos!
O lago brilhava à luz do luar. Suas águas eram calmas, sendo perturbadas apenas pela brisa da noite que ondulava lentamente sua superfície. Tenten se inclinou as margens do lago e, pegando um pouco de água entre as mãos, molhou o rosto. Lee sentou em uma pedra e aguardou.
- Eu queria que ele me amasse, Lee... – sussurrou Tenten, como se temesse quebrar o silêncio do local.
- Eu também. Você merece ser feliz.
- E você, Lee? Não merece ser feliz?
- Sinceramente não sei... – respondeu ele baixando a cabeça.
A verdade era que ele jamais considerou a possibilidade de ficar com outra pessoa que não Sakura. E isso o fazia se sentir vazio, solitário e infeliz. Porém, tudo que podia fazer era desejar de todo coração que ela fosse muito feliz. Quanto a ele, não pensava no futuro. Iria sobreviver um dia de cada vez, até esquecer seu amor completamente.
Envolto nesses pensamentos, Lee sentiu algo delicado roçando em seu rosto. Quão grande foi sua surpresa ao constatar que o que tocara seu rosto fora a blusa de Tenten e mais ainda quando olhou para ela e a viu tirando completamente a roupa.
- TENTEN! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!
- Estou com calor... – e dizendo isso se atirou de cabeça no lago.
Lee se desesperou totalmente, principalmente quando viu que a garota não voltava à tona.
- SUA LOUCA, VOCÊ VAI SE AFOGAR!
E atirou-se no lago também. Conseguiu pegar a amiga antes que essa afundasse e subiu com ela em busca de ar.
- Tenten – chamou ele preocupado – O que deu em você?
A garota olhou para ele com um ar vazio, distante.
- Leeeeeeee... Você me acha bonita?
A pergunta o pegou de surpresa. Que tipo de coisa se passavam na cabeça dela naquele momento? Não dava para saber. Dentro do lago, com aquela brisa noturna passando por seus rostos, ele a admirou por alguns instantes. O cabelo, cotidianamente preso, havia se soltado no mergulho e agora, molhado, emoldurava o rosto vermelho pela bebida. Os pequenos lábios tremiam com o frio da água e a expressão desamparada com que ela esperava sua resposta, podiam fazer qualquer coração esmorecer.
- Você é linda, Tenten. – falou Lee com sinceridade.
- Então me beije.
- QUE TIPO DE PEDIDO É ESSE? VOCÊ CONTINUA BÊBADA!
- Por favor, Lee... Eu preciso me sentir desejada. Nem que seja por um momento. Nem que seja uma mentira.
Agora eram as bochechas de Lee que se avermelharam intensamente.
- Isso não é algo que se peça a um amigo Tenten...
- E a quem vou pedir se não posso contar com meu melhor amigo?
Aquelas palavras mexeram com seu interior. “Melhor amigo”... Nunca pensara que ela o considerava tanto. Ele também gostava muito dela e vê-la olhando para ele com um pedido nos olhos, era algo que não podia ignorar.
- Está bem. Um beijo não fará mal...
E eles se beijaram. E não foi só um beijo. Nem dois. Foram vários beijos. E a cada novo contato de suas bocas, eles se intensificaram mais. Tenten o abraçou fortemente encostando seu corpo nu no de Lee. Eles tremiam, mas não de frio, e sim de um desejo que nem sabiam que estava ali. Tenten apertou fortemente Lee em seus braços e queria sentir que podia preencher o vazio dentro de sua alma com ele.
O corpo de Tenten era firme, mas também delicado. Ele não sabia por que nunca havia reparado a mulher dentro dela, enquanto olhava pra ninja. Mas agora, sentiu-se invadido por um desejo tão grande que por um momento achou que fosse explodir. Nunca imaginara que tantas sensações poderiam ser sentidas de uma vez só. Todavia sabia que tinha que manter a razão. Sabia que ali em seus braços, pousava alguém que ele não queria machucar jamais. Por isso, quando as mãos de Tenten começaram a querer arrancar a roupa dele, Lee a refreou. Sorrindo, ele segurou delicadamente suas mãos e disse:
- Melhor pararmos por aqui Tenten. – sussurrou com a voz rouca - Você disse que queria ser desejada e eu a estou desejando mais do que acho aceitável em seu estado atual. Se continuarmos, acabaremos fazendo coisas que podemos nos arrepender amanhã. Vamos voltar para Konoha.
Lee ajudou Tenten a sair do lago. E como um cavalheiro, também a ajudou a se vestir. Quando chegaram à porta da casa dela, já mais consciente, ela lhe pediu:
- Lee, me perdoe...
-Não há o que perdoar... E Tenten – chamou ele quando ela lhe virou às costas para entrar na casa – Se você, depois de sóbria, quiser terminar o que começamos no lago, pode me avisar.
E enrubescendo fez a pose de nice guy antes de ir embora, sem ouvir a resposta dela.
******************
- AI TÁ DOENDO! TÁ DOENDO!
- Mas é só uma unha...
-MAS É A MINHA UNHA!
Kiba foi carregado para fora da aglomeração quando o show estava perto de chegar ao fim. Seu pé sangrava muito. Na pressa de sair para evitar a correria quando a banda deixasse o palco, enfrentaram um longo e cheio caminho. Durante o trajeto, algo ou alguém, eles não viram bem, caiu sobre o pé do rapaz arrancando sua unha do dedão e deixando as outras em estado lastimável. Tiveram que carregá-lo para um lugar bem afastado e deixaram seu pé levantando enquanto esperavam Shino que fora buscar Sakura.
- Cara, isso ta feio... – disse Shikamaru olhando o pé de Kiba.
- Pior é o que eu to sentindo! Vocês não têm pena de mim não?
- Sinceramente... Não. – respondeu Neji.
- Por que eu ainda pergunto...
Sakura chegou um pouco depois, aparentando estar muito irritada.
- Espero que seja algo grave para você me tirar na hora que eles tão cantando a última música! – disse para Shino.
- Isso é grave o suficiente para você? – perguntou apontando para o pé de Kiba.
A expressão dela mudou repentinamente.
- O que aconteceu Kiba?
- Eu também queria saber...
- Resolvo isso num minuto. – e começou a tratar do rapaz.
- Acho que isso é o fim da festa... – disse Ino desanimada.
- Mas olhe pelo lado bom, nos divertimos bastante! – falou Sai abraçando a namorada.
Todos os olharam com as sobrancelhas arqueadas.
- Já que estão todos aqui, devíamos ir embora. – propôs Shino – O show está no final mesmo.
- Não estamos todos aqui. – retrucou Neji – Hinata-sama e Naruto não estão presentes.
- Nem o Lee-san e a Tenten-san. – disse Konohamaru.
- Não se preocupem com o Lee e a Tenten. Eles já foram. – esclareceu Chouji.
- Já? Por quê? – perguntou Sakura
- Parece que ela não estava se sentindo muito bem...
- Mas ainda faltam dois. Eu vou procurá-los. – se ofereceu Neji.
- Pode deixar que eu irei Neji. – pediu Sasuke – Você fica ai e não deixe ninguém mais sair, por favor, senão vamos nos desencontrar.
Apesar de ter se oferecido, Sasuke não sabia por onde começar a procurar. Vira que Hinata não estava se sentindo muito bem, então supunha que eles se afastaram para se sentarem algum lugar. Andou durante alguns minutos, até passar em frente à rua sem saída. Como a visibilidade estava horrível, ele ativou o sharingan. E foi assim que os encontrou. No primeiro momento não viu Hinata, apenas Naruto, por isso chamou.
- Ei, Naruto!
O coração de Hinata quase parou quando ouviu a voz de Sasuke. Corando instantaneamente, se escondeu por trás de Naruto, enquanto baixava sua blusa. Naruto ficou extremamente irritado com a interrupção.
- O que você quer Sasuke? – perguntou rudemente.
Sasuke não entendeu a forma com que Naruto falara com ele.
- Algum problema Naruto?
- To ocupado, vai embora!
- Mas nós já estamos indo embora, por isso vim te chamar. Ta tirando água do joelho?
- Cara vá embora, vou já!
- Cadê a Hinata?
- PORRA, EU JÁ DISSE QUE TÔ INDO! VAI EMBORA!
Sasuke ficou chateado com a forma que Naruto falara com ele. Já ia revidar quando percebeu que Naruto não estava sozinho. Encolhida nos braços dele, Hinata parecia querer desaparecer. Então entendeu o nervosismo do amigo, deu uma risadinha e saiu sem dizer nada.
Hinata ficou muito insegura. Quase que Sasuke os flagraram em um momento tão intimo. Ela não tinha mais coragem de permanecer ali.
- N-Naruto-kun... A-Acho q-que temos q-que ir...
- É, acho que sim. Só me dê um segundo... Preciso me acalmar...
Pouco depois que Sasuke chegara onde estavam os outros, Naruto e Hinata se juntaram ao grupo. O rapaz ainda estava muito mal-humorado e nem ao menos falara com o amigo. Somente depois que começaram a sua ida de volta para Konoha, que Sasuke tocou no ombro de Naruto.
- Ei, cara, foi mal. Eu não a vi naquela hora. Achei que você estava sozinho.
- Ok. Deixa pra lá. – respondeu suavizando a expressão.
- Eu não tinha a intenção de atrapalhar vocês.
- Sei, sei...
- Comprei até uma coisa pra você, para me redimir.
- Sério? O quê?
Sasuke lhe entregou um embrulho e esperou Naruto abrir.
- Muito legal de sua parte, Sasuke não precisava... – e abrindo o pacote acrescentou – Não precisava mesmo...
Era uma garrafa de um litro e meio da cachaça Nabunda.
- Pronto. Você toma Nabunda e fica mais calminho. – e saiu andando na frente.
- ORA SEU MALDITO, VOLTA AQUI! – gritou Naruto, começando a correr atrás de Sasuke.
- O que deu neles? – perguntou Hinata assustada.
- Deixe-os para lá. – disse Sakura achando graça – Homens... Quem os entende?
Capítulo XIX – Sentimentos enterrados vivos
O relógio marcava meia-noite em ponto. O silêncio reinava sobre o clã Hyuuga. Não se podia ouvir nenhum outro som além do vento que balançava as folhas das árvores e os grilos que cantarolavam do lado de fora. Tudo parecia mergulhado em uma profunda paz. Só parecia.
Em seu grande quarto, Hinata permanecia acordada. Olhou para o calendário. Vinte e sete de Dezembro, seu décimo oitavo aniversário. Todavia para ela não havia motivos para comemoração ou alegria. A partir daquele momento em diante, contava apenas com vinte e quatro horas. Depois disso, teria que renegar tudo o que conquistara em sua última semana de liberdade, sua última semana de vida, em troca da estabilidade de sua família. Por um momento desejou ardentemente que seu pai tivesse nascido um pouco depois que seu irmão. Desejou também possuir o selo que amaldiçoava a Bouke, mas que para ela nada mais seria que uma prova de seu desimpedimento. Se Neji fosse o herdeiro e não ela, sabia que provavelmente não haveria motivos para não ficar com Naruto. Mas o destino pregara uma peça e escolhera-a, não um gênio, mas alguém normal, para liderar o clã mais antigo de Konoha. Não que odiasse sua família, muito pelo contrário. Se não a amasse tanto, se não a respeitasse tanto, deixaria tudo para trás e iria em busca de sua felicidade. Mas os laços de sangue falam mais alto. Não queria envergonhar seu pai diante de toda vila, nem impor a Hanabi uma obrigação que legitimamente é sua.
Não. Não iria fugir. Ia continuar vivendo, drenando toda sua existência das lembranças que tinha conseguido ao lado de seu grande amor.
Todos aqueles pensamentos lhe arrancaram o sono. Então, se levantou. Em cima da prateleira onde Nemo nadava tranquilamente, a roupa cerimonial com a qual tomaria posse pela manhã repousava como uma mortalha. Seria uma cerimônia fechada, apenas para os membros do clã. Nem mesmo à Hokage seria permitido assistir. Depois que tudo acabasse, procuraria Naruto. Não sabia exatamente o que iria dizer. Toda vez que pensava em algo, uma dor profunda tomava de conta de seu peito, obrigando-a a adiar a decisão. Na hora que estivesse cara a cara com ele, saberia o que ia dizer. Ou pelo menos esperava saber. Tocando com a ponta dos dedos no quimono de seda branca, pensou em qual seria a reação de Naruto. Uma lágrima solitária escorreu por sua face. Seria uma lágrima de tristeza, medo ou conformação? Não sabia dizer. Como também não podia imaginar o que ele faria diante de sua despedida. Entenderia? Sofreria? Ou simplesmente iria dar de ombros e continuar sua vida? Ainda não sabia ao certo o que ele sentia por ela. Mas duvidava que fosse amor. Não se aprende a amar em poucos dias. Ela o amava, não havia dúvidas. Sempre o amara, durante toda sua vida.
“Naruto-kun... O que você sente por mim? Queria tanto saber... Será que vai sentir minha falta? Será que lembrará de mim?” pensou.
Talvez fosse melhor não descobrir jamais. A ignorância é uma benção para os sonhadores. A salvação dos tolos. Cultivara uma ilusão durante aquele período e não pretendia destruí-la, nem abrir mão dela. Limpou a lágrima do rosto e já se preparava para voltar para a cama, quando ouviu uma pancada surda no chão. Olhando assustada para a fonte do barulho, viu um enorme e gordo sapo verde que acabara de pular de sua janela para dentro do quarto. Levando a mão ao peito, como que para controlar seus batimentos cardíacos, falou:
- Oh, é só um sapo... Você me assustou amiguinho... Mas como conseguiu abrir essa janela?
- Ah, foi fácil! – disse o sapo.
Hinata levou a mão à boca horrorizada. Não pelo fato de um sapo falar, mas a forma com que ele falou.
- Essa voz...
O sapo desapareceu numa nuvem se fumaça, dando lugar a um sorridente Naruto.
- Feliz aniversário, Hinata-chan!
- N-Naruto-kun... O-O que f-faz aqui...?
- Queria ser o primeiro a te desejar parabéns!
Uma felicidade doce tomou conta do coração da garota, misturando-se com o medo. Rapidamente fechou a janela e verificou o corredor.
- Como você conseguiu chegar até aqui? – perguntou sussurrando.
- Ué, como sapo. Ninguém usa o byakugan num sapo.
- Neji-nii-san usaria. Sua sorte é que ele não está aqui essa noite. Você se arriscou muito.
Ele abriu mais ainda o sorriso, coçando a cabeça.
- Hehe... Na verdade eu sabia sim que ele não estaria aqui hoje.
- Como?
- Você vai descobrir. É só se arrumar e me acompanhar.
- Acompanhar? Pra onde?
- Confie em mim. Venha.
Hinata confiava. Não sabia o que exatamente Naruto queria dizer com aquilo, mas estava muito feliz por ele estar ali. Quando começou a procurar uma roupa, afinal não podia ir de pijama, ouviu nitidamente passos que se aproximavam de seu quarto. Seu coração começou a bater mais rápido.
- Naruto-kun! – ela murmurou apressada – Rápido, entre aqui!
Naruto se levantou num pulo e entrou dentro do armário dela. No momento que Hinata fechou-o lá dentro, a porta do seu quarto foi empurrada por Hanabi, que entrou sorrindo sem pedir licença.
- Ah, eu queria acordar você! – falou desapontada – Mas, tudo bem, serei a primeira a desejar um feliz aniversário!
Hanabi a abraçou fortemente e entregou um lindo embrulho.
- Presente para mim? Não precisava Hanabi...
- Abre logo!
Era um lindo estojo de maquiagem inserido em uma caixinha de madeira onde, esculpido em alto relevo, se encontrava o símbolo do clã Hyuuga.
- Que lindo... Obrigada.
- Para você ficar muito linda hoje na sua posse... – e dando um beijo na bochecha da irmã, acrescentou – Agora vá dormir, senão amanhã você estará cheia de olheiras! – e saiu do quarto tão intempestivamente quanto entrara.
Quando os passos de Hanabi pararam de ecoar pelo corredor, Hinata abriu novamente o armário. Naruto parecia estar se sentindo bastante desconfortável. Saiu com dificuldade, tropeçou em uma meia-calça e caiu de cara no chão, coberto de roupas.
- Você tem roupas demais. – reclamou ele se levantando – Mas foi por pouco hein? É melhor não corremos mais riscos. Vamos logo.
- C-Certo. E obrigada pela ajuda. – brincou ela tirando um vestido que estava na cabeça dele – Eu não via esse vestido há tempos. Vou com ele mesmo.
Eles saíram furtivamente pela janela do quarto dela e correram silenciosamente pelas sombras da noite, sem perceber que dois olhos os observavam.
Logo estavam fora dos domínios do clã Hyuuga e adentrando pelas ruas de Konoha, vazias àquela hora.
- Pra onde vamos?
- Não posso contar. Nem você pode ver. – e tirou dos bolsos uma venda – Não vale usar o byakugan, hein?
Naruto passou a venda pelos olhos de Hinata e passou a guiá-la pela mão. Andaram durante vários minutos, ziguezagueando sem parar até ela não saber exatamente para onde estava indo.
- Naruto-kun...
- Calma, estamos chegando. Cuidado com o degrau.
Ela sentiu o ar na noite dar lugar a um ambiente mais quente. Podia ouvir murmúrios também, mas não conseguia distinguir as vozes.
- Pronto!
A venda foi retirada de seus olhos. Uma luz forte foi projetada na sua vista naquele momento.
- FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!
Estavam na casa de Sakura e todos seus amigos tinham comparecido. Agora diversos braços a abraçavam e diversas bocas a cumprimentavam. Tinham planejado uma festa. Uma festa para ela. Seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas.
- Ah, não vale chorar Hinata! – exclamou Sakura abraçando-a – Fizemos isso para te deixar feliz! E se você começar a chorar, eu vou acabar chorando também!
- Nós tivemos que fazer agora já que mais tarde vai ter a cerimônia do seu clã e não daria tempo. – esclareceu Sasuke.
- P-Puxa g-gente... E-Eu n-não s-sei o que dizer...
- Não diga nada então. – falou Ino – Apenas aproveite a festa!
Logo ligaram o aparelho de som e começou a rolar o cd do Asian Kung Fu Generation a um volume bem agradável.
- Acho que isso vai virar nossa trilha sonora. – disse Naruto dando um copo de refrigerante a ela.
- Acho que sim...
- Hinata-sama, feliz aniversário.
Neji viera parabeniza-la depois de todos os demais. Tinha ficado esperando uma oportunidade quando só estivessem somente ela e Naruto.
- Neji-nii-san, que bom que você está aqui!
- Foi ele quem me disse onde encontrar as armadilhas para não cair nelas quando estivesse indo buscar você.
- E eu mesmo irei rearmá-las em maior quantidade e mais lugares depois de hoje. – decretou inflexivelmente.
- Chato! – falou Naruto caindo na risada depois disso.
Hinata observou sua festa. Surpreendeu-se com a quantidade de pessoas que estavam ali. Até Temari, que ela achava que já tivessem voltado para a Vila da Areia, estava presente ao lado de Shikamaru que bocejava abertamente. Sasuke ajudava Sakura servindo as bebidas e os salgadinhos. Tenten e Lee cochichavam alguma coisa no canto da sala, enquanto Kiba fazia Akamaru realizar gracinhas para Soichiro, que apesar de parecer mais a vontade na presença do animal, ainda mantinha uma distancia segura. Shino também estava lá e mantinha uma conversa absorta com Kakashi para total chateação de Shizune. Ino e Sai pareciam estar dedicando à festa para constranger Chouji, o perguntado sobre sua nova namorada. Tudo refletia descontração e alegria. Uma batida na porta alertou que mais alguém chegara. E para completar a alegria de Hinata, o time três, acompanhado por ninguém menos que Kurenai e Asuma, entraram.
- Kurenai-sensei! – exclamou a garota abraçando-a.
- Feliz aniversário, Hinata. Eu não perderia isso por nada nesse mundo.
- Mas e o bebê?
- Gravidez não é doença. – falou Asuma rindo.
- Hinata-sensei! Feliz aniversário!
Todo o time a abraçou, inclusive Makoto, e a presentearam com uma bela jaqueta.
- Obrigada. Vocês não precisavam se preocupar comigo...
- Claro que precisávamos! – reclamou Suzumi – Que espécie de alunos seríamos se nem ao menos lembrássemos de nossa sensei?
- Eles não são os únicos. – disse Kurenai dando outro presente para ela.
- Obrigada Kurenai-sensei...
Sakura olhou toda aquela movimentação e exclamou chateada.
- Ei não era hora dos presentes ainda!
- Deixa Sakura. – disse Sasuke – Vamos dar logo o nosso a ela.
O presente deles foi um lindo porta-retrato, com uma foto tirada no dia do show, em que aparecia ela, Naruto, Sakura e Sasuke.
- Nossa é lindo...
Hinata recebeu mais presentes que jamais havia ganhado de uma vez só. Temari lhe dera um belo leque, Ino e Sai um buquê de rosas, Shino, um livro, Kiba e Soichiro uma sandália, e Lee junto com Tenten deram uma blusa verde.
- Puxa gente, não sei o que dizer.
- Então não diga nada. – disse Neji entregando o dele, uma caixinha de música.
Naruto chegou bem perto de Hinata e disse no ouvido dela:
- O meu vou dar quando eu for te deixar em casa.
Seu rosto começou a corar rapidamente e ela respondeu de volta:
- Você não precisa me dar nada, Naruto-kun...
- Que espécie de namorado eu seria se não te desse nada?
Namorados. Era a primeira vez que ele se referia assim a ela. Porém, ao invés de alegria, Hinata sentiu uma grande dor no peito.
- Bem vamos voltar para a festa! – exclamou Sakura animada.
A comemoração foi até, mais ou menos, quatro da manhã quando todos começaram a se retirar pedindo desculpas, já que no dia seguinte trabalhavam normalmente.
- Amanhã tem treino, sensei? – perguntara Makoto.
- Não, não terá. Vocês estão de folga.
O garoto saíra comemorando sob os protestos das colegas.
- Boa sorte Hinata. Vemos-nos amanhã! – despediu-se Sakura quando ela saiu acompanhada por Neji e Naruto.
No caminho em direção ao clã Hyuuga, Neji pegou as sacolas que continham os presentes que Hinata ganhara e falou:
- Irei à frente me certificar que tudo está tranqüilo. Não entre na propriedade até eu vir buscá-la Hinata-sama.
- Certo Neji-nii-san.
E deixou-os a sós.
- N-Naruto-kun... Obrigada por tudo hoje.
- Não tem o que agradecer. – disse ele coçando a cabeça – Fiz por você o que tenho certeza que você faria por mim...
Hinata o beijou longamente. Era bom estar com ele, abraça-lo e beija-lo como fazia naquele momento. Depois do beijo, o olhou longamente.
- Naruto-kun, e-eu preciso f-falar algo...
- Hinata-sama – Neji voltara – é melhor irmos agora enquanto tudo está tranqüilo...
Não sabia se ficava feliz ou chateada com a interrupção. Optou pela primeira opção. Diria em outra hora. Olhando para o primo, respondeu:
- Ah, certo.
- Hinata, sua cerimônia vai até que horas? – perguntou Naruto interessado.
- Hã... Não sei bem. Até à tardinha imagino.
- Quando terminar, posso ir buscá-la para a gente comemorar mais?
Ela considerou por um instante. Tinha até meia-noite.
- S-Sim pode.
- Então irei.
- Hinata-sama, se apresse.
- Certo.
Naruto lhe deu um rápido beijo e entregou um pacote.
- Só abra quando estiver sozinha! – e piscando o olhou, foi embora acenando.
Fez exatamente o que ele mandou. Depois de passar por toda a casa furtivamente com Neji e voltar ao quarto, abriu o presente de Naruto. E mais uma vez as lágrimas vieram aos seus olhos. Usando um gorro de dormir idêntico ao de Naruto, a kyuubi de pelúcia que ela admirara no dia do show, sorria inocente. Hinata abraçou seu presente. Não existiam dúvidas em seu coração. Jamais amaria outro homem em sua vida.
*************
- Está tudo pronto, Hiashi-sama.
- Certo. Pode se retirar. Vamos dar inicio a cerimônia.
Todos os Hyuuga aguardavam ansioso. Chegara o momento que a grande maioria não esperava. Para as pessoas mais rígidas do clã, a posse de Hinata nada significa além se meras formalidades a serem cumpridas. Duvidavam da capacidade como líder que ela poderia manifestar, cientes que, bem ou mal, Hiashi ainda tomaria as decisões mais importantes por um bom tempo até que Hanabi pudesse governar à sombra da irmã. Tinham esperanças também que a futura líder contraísse matrimônio o mais rápido possível, e que seu marido, um Hyuuga da Souke, acabasse por tomar seu lugar pouco a pouco.
Contudo, Hiashi não pensava assim. Sabia das limitações de sua filha e almejava que, após sua nomeação, ela começasse a se esforçar como a mesma determinação que tinha mostrado anteriormente e conquistasse a confiança de todos. Claro que não descartava um bom casamento para ela e já começara a ver os pretendentes mais apropriados.
Hinata entrou na sala de cerimônia. Em seu quimono branco e com os cabelos presos no alto da cabeça, ela parecia um anjo saído dos céus. Apenas seus olhos traiam sua aparente serenidade. Por um momento, Hiashi sentiu uma pontada no peito. Sabia o motivo daquela dor contida e amaldiçoava a existência do “moleque-raposa” com toda sua alma.
“Se ao menos você não se parecesse tanto com ela, Hinata... Se ao menos eu soubesse que você poderia ser feliz...”.
A garota parou em frente ao pai. Ajoelhando-se até encostar a testa no chão, falou:
- Estou aqui, meu pai, para cumprir minha obrigação de servir ao clã até o fim de minha vida.
- Levante a cabeça.
Hinata obedeceu e olhou para o pai. Em um breve instante, visualizou a hesitação dele. Esperançosa, falou para que apenas ele pudesse ouvir:
- Pai, eu te imploro. Serei a melhor líder que já existiu nesse clã. Farei de tudo para nossa prosperidade. Permita-me apenas viver o meu amor.
Hiashi suspirou.
- Sua obrigação é para com o clã, Hinata. Você já me deu sua palavra, lembre-se. Cumpri minha parte do acordo. Agora cumpra a sua.
Ela baixou sua cabeça.
- Se ele a amasse, eu poderia entender o seu pedido... – murmurou Hiashi.
Não podia contestá-lo. Apenas abaixou a cabeça, conformada. Sabia que seu pai jamais voltaria atrás no que dissera. A hesitação que vira provavelmente fora fruto do seu desespero.
- Vamos dar continuidade à cerimônia.
Do lado de fora da propriedade, no alto de uma árvore, Naruto observava inutilmente a mansão Hyuuga. Gostaria de saber o que se passava lá dentro, que espécies de rituais faziam para a nomeação, se havia juramento e principalmente, o que mudaria na vida de Hinata a partir daquele dia. Estava preocupado. Sabia que ela sempre temera aquele momento, apesar de nunca ter falado nada pra ele. Mesmo assim, Hinata estava lá, enfrentando seu maior medo. Naruto ficou orgulhoso de sua coragem e sorriu.
- Rindo sozinho?
Sasuke acabara de chegar em seu habitual traje da anbu e tocou seu ombro. Parecia preocupado
- Você sabe que não devia estar aqui. – censurou.
- Sei, sei. Mas não podia ficar em casa.
Olhando ao redor atento, o chefe da anbu advertiu:
- Há outros anbus por aqui Naruto. Hyuuga Hiashi requisitou nossos serviços à Hokage-sama justamente para evitar bisbilhoteiros como você.
Naruto suspirou.
- Vai me expulsar pardal?
Sasuke riu.
- Como te expulsar se não estou vendo nada além de uma árvore aqui?
- Obrigado, Sasuke. - disse agradecido.
E voltou seu olhar para a casa.
- Eu gostaria de poder ver alguma coisa. Saber o que se passa lá dentro...
- Podemos arranjar isso.
Ativando seu sharingan, Sasuke passou a narrar ao amigo tudo que podia ver sobre a cerimônia de Hinata. Não era muita coisa, pois apesar de poderoso, o sharingan não tinha tanto poder de percepção quanto um byakugan. Mas pelo menos ele soube que foi uma cerimônia muito bonita, simples e que Hinata parecia tranqüila.
- Me sinto bem melhor agora. – falou ele quando Sasuke lhe dissera tudo.
- Acho que já esta acabando. – disse desativando sua linhagem – Melhor você ir agora.
- Tem razão. Vou em casa tomar um bom banho para ficar bem bonito para poder sair com ela daqui a pouco.
- Então vá o mais rápido possível, porque pra você ficar bonito vai demorar uma eternidade!
- Hahaha, engraçadinho...
*********************
A cerimônia finalmente chegara ao fim. Depois de feitas todas as formalidades, agora Hinata era oficialmente a líder do clã Hyuuga. Quando, dias atrás, pensara sobre isso, um mal-estar invadia todo seu interior. Naquele momento, todavia, era como se uma dormência tivesse tomado de conta de seu corpo e de sua alma. Não se sentia diferente, nem desesperada. Apenas triste. Parecia que ainda não tinha ainda se dado conta do que precisaria fazer em poucas horas. Ou então, propositalmente, sua mente bloqueara tudo pra que seu coração não parasse de bater repentinamente. Como se fosse uma sombra voltou para seu quarto. Olhando-se no espelho, viu sua imagem como se visse um filme de horror. Aquela era sua prisão, pensava enquanto admirava o quimono de líder. Uma prisão de onde não havia escapatória. E justamente por ele lembrar de seu cruel destino, decidiu se encontrar com Naruto usando ele mesmo. Para lembrar de sua promessa.
Não havia mais ninguém em sua casa quando ela sentiu que era hora de ir. Porém, quando estava quase na porta, ouviu uma voz atrás de si.
- Onde está indo, Hinata?
Não precisou se virar para saber a quem pertencia aquelas palavras.
- Indo cumprir minha promessa, pai. – falou firmemente.
- Sábio de sua parte. Você tem até a meia-noite.
- Eu sei.
E ainda sem olhar para trás, saiu em direção à tarde que se desfazia no horizonte. Atrás da porta que levava à sala, Neji ouviu o breve dialogo. Sua mente então o alertou que havia algo errado. De que promessa falara Hinata-sama? E por que saíra de casa logo após sua posse? O que faria? Quando pensava em segui-la para obter suas respostas, Hanabi o encontrara.
- Neji! Viu como foi uma cerimônia bonita? Agora minha irmã é a líder do clã! Sabe o que isso significa?
- Sei. Entramos em uma nova fase dentro do clã Hyuuga. Uma fase que, acredito eu, vai mudar muita coisa aqui...
- Não é nada disso, bobo! Significa que você deve obedecer tudo que minha irmã ordenar. E sabe qual vai ser a primeira coisa que eu vou pedir a ela?
- O quê, Hanabi-sama?
- Que ela ordene que você se case comigo.
Neji suspirou.
- Acho que seu pai está nos esperando. – desconversou ele chateado. Se fosse agora atrás de Hinata, provavelmente Hanabi iria também. Era melhor entretê-la até que pudesse sair.
Doce engano. Neji não conseguiu fazer com que a garota largasse dele um só momento. Então ele não pôde saber o que se desenrolava longe dali. Mas estava decidido a descobrir. Nem que tivesse que passar a ouvir todas as conversas daquela casa por trás da porta.
***************************
Naruto esperava ansioso. Precisava saber como estava Hinata. Mas os minutos se transformaram em horas e ela ainda não aparecera. De pé, à porta da propriedade do clã Hyuuga, olhava para o céu como se esperasse algum aviso. E ele realmente veio quando a tarde morria, em forma de suaves passos que se aproximavam. Ele virou rapidamente a cabeça. Hinata saia pelo portão, sorrindo. O coração dele disparou.
- Naruto-kun...
- Hinata... – ele segurou suas mãos – Você está linda...
- Obrigada... – agradeceu corando.
- Bem... Para onde você quer ir? Podemos ir ao Ichiraku ramen, no restaurante de Konoha... Ou na cidade vizinha... Você escolhe.
Ela pensou por um momento.
- N-Não i-importa o l-l-lugar, Naruto-kun... T-Tudo que eu quero é e-estar com v-você...
Naruto sorriu aliviado.
- Que bom... Na verdade eu não tava com muita vontade de enfrentar um lugar cheio, sabe? Queria poder ficar mais a vontade com você... Sei um lugar perfeito.
- Que bom...
- Vamos então.
De mãos dadas eles passaram a percorrer o caminho que levava para saída de Konoha. Fora dos limites da vila, ele parecia querer levá-la até onde treinava seu time todos os dias. Mas não era. No meio do caminho ele parou de repente. Voltando-se para ela, perguntou:
- Você lembra?
Sim, ela lembrava. Era o lugar onde ele tinha dito que gostava dela. Onde tinham trocado seu primeiro beijo. Onde o sonho começara.
- Foi aqui que nos beijamos pela primeira vez...
Ele confirmou com a cabeça.
- Não existe melhor lugar para nós, não é mesmo? Venha, vamos nos sentar aqui.
Sentaram-se debaixo de uma antiga árvore, cujos galhos frondosos chegavam até chão, oferecendo um esconderijo caso algum curioso aparecesse. Ele a puxou para seu colo, acomodando-a entre suas pernas e abraçando-a.
- Então, como foi sua posse? – perguntou ele sem cerimônia.
Uma sensação desconfortável que não combinava com aquele momento se instalou em seu coração. Hinata agradeceu o fato dele não poder ver seu rosto naquela hora.
- Foi uma cerimônia normal. Nada demais.
- Estou abraçado com a líder do clã Hyuuga! Que honra! – brincou ele.
- Não. Você está abraçado com Hinata. Apenas Hinata.
Ele notou o tom sério que ela usou ao falar essas palavras.
- É melhor assim. Hinata deve ser mais agradável que a líder do clã. Mas se você começar a falar como Neji, vai se arrepender...
- Por que vou me arrepender?
- Por que farei cócegas em você até não poder mais!
E começou a fazer cócegas na cintura dela. Hinata pôs-se a rir, tentando fugir das mãos dele sem muito sucesso. Depois da brincadeira, ele decidiu fazer a pergunta que o incomodara o dia todo:
- Hinata...?
- Sim, Naruto-kun?
- O que mudará em sua vida a partir de agora?
Hinata não esperava aquela pergunta. Sua voz desapareceu totalmente de usa garganta.
“Não” pensou ela desesperada “Ainda não!”.
- Não quero falar sobre isso, Naruto-kun. Não agora. – desconversou.
Estranhado a maneira sombria com que ela lhe respondera, Naruto deu de ombros. Se Hinata não estivesse à vontade de falar, não iria obrigá-la a isso. Por isso, começou a falar de assuntos bobos e rotineiros a partir daquele momento. Ele começou a contar de tudo que tinha acontecido durante aquele dia que ela se afastara da rotina da vila. Contou que Suzumi tinha se sentido mal depois de comer muito doce e Sakura a atendera no hospital, falou que conhecera a namorada de Chouji, uma menina muito simpática e que morava na capital, comentou surpreso o possível relacionamento entre Tenten e Lee, que tomara conhecimento graças a Tanaka, o dono da livraria, e também que Iruka-sensei parecia estar apaixonado por Ayame, a filha do dono da barraca de ramen.
- Tomara que eles casem! – disse Naruto – Assim eu vou poder comer ramen de graça na casa de Iruka-sensei!
- Ela gosta dele? – perguntou Hinata interessada.
- Ele ainda não teve coragem de se declarar. Mas acho que ela gosta sim, pois sempre põe uma porção extra de macarrão no ramen dele... Sortudo...
- Ah, você preferia que ela colocasse uma porção extra de macarrão no seu prato? – perguntou em um falso tom de raiva.
- Sim, quero dizer, não... Ah, você entendeu!
- Entendi não, especifique.
Naruto corou.
-Bem, não é que eu queira que ela goste de mim, - falou encabulado - mas eu queria mais ramen e... – ao notar que ela ria da expressão dele, falou – Você ta fazendo de propósito!
- Fazendo o que?
- Ah, você sabe...
- Sei o que? – perguntou ela sem conter o riso.
- Ah, você quer brincar? Então toma!
E começou novamente a fazer cócegas nela.
- Pára! Pára! – pedia ela já com lágrimas de riso rolando pelo rosto.
- E o que eu ganho em troca?
- Hahaha... O que... hahaha você quiser...hahaha...
Ele parou abruptamente com a brincadeira.
- O que eu quero já está aqui...
E pegando no rosto dela, puxou-o delicadamente na direção de sua boca. Um calmo e delicado beijo se iniciou. Com a nuca encostada no peito dele, Hinata tinha que levantar a cabeça para poder beijá-lo. Naruto estreitou os braços ao redor de sua cintura. Com uma das mãos, Hinata passou a acariciar os cabelos dele. Não demorou muito tempo para que ambos percebessem que aquela posição era incômoda. Interrompendo o beijo momentaneamente, Naruto virou Hinata para que ela pudesse ficar de frente para ele.
- Naruto-kun... Eu...
Ele colocou os dedos sobre os lábios dela, interrompendo-a. E sem dizer nenhuma palavra, retomou o beijo interrompido, porém de forma mais intensa, mais angustiada. A cada novo encontro de lábios, uma necessidade de ficar mais perto, de ficar mais próximo, surgia dentro deles. Naruto a beijava com ânsia e volúpia, como se estivesse se alimentando de sua alma. Hinata correspondia oferecendo seus lábios com total desimpedimento, sem se importar com a fúria devastadora que começou a sentir emanando do corpo dele. Deixou-se levar por todas as sensações que começaram a brotar dentro de si. Quando sentiu a boca dele mordiscar seu pescoço, não conteve o gemido que escapou por entre seus lábios.
Ele então mergulhou em direção ao seu colo e, com as mãos trêmulas, abriu o quimono branco. Começou a provar da pele macia com a língua, sentindo o gosto do corpo de Hinata, com a sensação de jamais ter experimentado algo tão inebriante. Continuou descendo até chegar aos seus seios. Primeiro acaricio-os com as mãos delicadamente, afrouxando mais ainda a roupa dela, para depois envolvê-los em uma infinidade de beijos. Ouvindo a respiração dela se tornar pesada, ele levantou os olhos, buscando seu olhar.
- Peça para eu parar – murmurou ele com a voz rouca – e eu pararei.
- Não.
A escuridão que tomava conta do lugar era como o anjo da guarda para Hinata. Não podia ver o rosto dele com clareza, nem ele podia ver sua face em chama. Todavia, não era tempo de timidez, era o tempo de viver intensamente. Mas mesmo pensando assim, não pôde esconder o tremor de suas mãos. Agarrou as pontas da camisa dele e puxou-a para cima. Naruto conteve seu gesto. Segurou firmemente as mãos frias e olhou no fundo de seus olhos.
- Hinata... Se começarmos, não sei se terei forças para parar... Não quero machucá-la... Nem obriga-la a nada...
Hinata retribuiu o olhar dele com a mesma intensidade.
- Minha alma pertence ao clã Hyuuga. Meu destino está preso aos laços de sangue que decidiram minha vida. Mas esta noite, ao menos por essa vez, meu corpo me pertence. E eu quero dá-lo a você, Naruto-kun.
Naruto não entendeu o que aquelas palavras significavam, mas sabia o que ela queria dizer com seus olhos. Deixou que Hinata tirasse sua camisa e passou a admirar a forma com que ela acariciava seu peito. Quando os dedos dela chegaram ao selamento em seu umbigo, ele estremeceu.
- Dói? – perguntou ela.
- Não...
Naruto buscou mais uma vez aqueles lábios úmidos, enquanto inclinavam-se abraçados em direção à grama fria. Lentamente despiu-a de seu quimono, enquanto explorava o corpo macio com suas mãos. A cada toque, atentava para os tremores de Hinata, procurando descobrir onde toca-la de forma mais intensa, onde devia acariciar para que ouvisse as palavras murmuradas sem nexo de sua boca. Sua vontade era possuí-la intensamente, sem barreira ou empecilhos. Mas tinha medo de assustá-la ou feri-la. Dominou os instintos que queriam tomar sua vontade, mergulhando seu rosto entre os cabelos que já haviam se soltado de seu penteado e absorvendo seu cheiro.
Hinata deixou suas mãos percorrerem as costas dele, arranhando levemente com suas unhas. Ele arqueou para trás sentindo um intenso desejo tomar de conta de seu corpo. Tornou a beijá-la, aprofundando o contato entre as peles, sentindo os batimentos acelerado de seu coração. Não podia agüentar mais.
Em um gesto brusco, arrancou o resto das roupas que atrapalhavam aquele contato íntimo e a trouxe para junto dele, sentindo o cheiro doce de seu perfume.
- Naruto-kun...
Seus corpos começaram a se movimentar no mesmo ritmo calmo, seguido as batidas compassadas dos dois corações, com a respiração embaçando o ar frio da noite, sem nenhum medo ou receio. Hinata se sentiu preenchida, arrebatada por um mar de sensações desconhecidas que surgiam a cada momento. Envolvia Naruto com seu corpo e sua alma, saboreando aquele mágico e misterioso acontecimento, enquanto seus olhos podiam ver, acima de suas cabeças, o céu cintilado de estrelas e a lua, que parecia velá-los. Continuaram a se explorar mutuamente durante horas, começando de novo e de novo até se darem por satisfeitos e exaustos.
Deitado com a cabeça sobre os seios dela, Naruto sorriu. Nunca tinha experimentado um contato tão intimo e completo com alguém daquela forma. Fechou os olhos por um momento, se embriagando com perfume que se desprendia do corpo dela. Era tudo tão novo e atraente para o rapaz, que ele decidira que não poderia jamais se privar de Hinata em sua vida.
No instante que Naruto decidia que queria ficar ao lado de Hinata, ela olhou mais uma vez para o céu. A lua já se encontrava na metade de seu percurso. Era hora de por fim a tudo. Remexeu-se impaciente embaixo dele.
- Ah, desculpe Hinata. – ele pediu em um tom carinhoso – Devo ser muito pesado para você...
E se levantou buscando aliviar a pressão sobre o frágil corpo, esperando que ela voltasse a se deitar com ele sobre a relva. Mas Hinata não voltou. Levantou-se cautelosamente e pôs a vestir suas roupas. Por um momento Naruto não entendeu o gesto repentino.
“Ela deve estar com frio” pensou levantando-se também e vestindo sua roupa. Enquanto estava de costas para ela colocando sua camisa, sentiu os braços dela envolvê-lo por trás.
- Naruto-kun...
Ele virou e encarou-a. Quão grande não foi sua surpresa quando viu a dor estampada em seus olhos.
Hinata pôs as mãos em sua nuca e puxou seu rosto para perto do dela. E com lágrimas nos olhos, disse:
- Nossa história acaba aqui. Adeus...
Um calor intenso se espalhou pelo corpo de Naruto, partindo do lugar onde as mãos de Hinata se encontravam. De repente, sentiu que perdia o controle de seus movimentos e que sua mente começava a ficar enevoada. Começou a cair lentamente no chão se livrando das mãos que haviam provocado aquilo. Com os olhos entreabertos, a visualizou indo embora, suas costas voltadas para ele.
- Hi...na...ta... – murmurou antes de perder definitivamente a consciência e mergulhar nas trevas.
Capítulo XX – Conseqüência de seus atos
A morte ainda é o maior mistério que ronda a humanidade. Há milhares de anos o homem se pergunta: afinal, o que acontece quando se morre? Para onde vamos? O que encontraremos? E principalmente, o que sentimos ao morrer? São perguntas para quais não queremos respostas vivenciais. Porém, se existe dor ao morrer, Hinata sabia que deveria ser como aquela. Uma dor forte e aguda, que misturada ao desespero e angustia dão lugar a um gélido e escuro vazio. As lágrimas já não escorriam pela sua face, tamanha era sua aflição. Sua alma estava morrendo, ela sabia disso. E não podia fazer absolutamente nada para mudar aquele quadro. Percorreu, incógnita, todo o caminho de volta para casa, sentindo que deixava para trás, a cada passo dado, um pedaço de sua felicidade, abandonando-a como quem deixa uma bagagem valiosa, mas importuna. Não havia volta. Não havia escolha.
Na varanda da Casa Principal, Neji esperava pela volta de Hinata. Ainda trazia em sua mente as palavras da conversa que ouvira mais cedo e elas o preocupavam. Porém, tudo foi esquecido quando seus olhos pousaram sobre a garota quando esta entrou pelo portão. Sua primeira sensação foi de choque, pois o estado em que ela se encontrava era deprimente. Seu quimono branco jazia todo sujo de grama e terra fresca e seus cabelos voavam descontroladamente em torno de sua cabeça. Todavia, o que mais chamou a atenção dele foram seus olhos. Estavam desfocados, como se não vissem nada da realidade a sua frente e sim um mundo paralelo, que era negado a ele naquele momento. Esse olhar vazio, sem vida, com se alma tivesse sido arrancado corpo frágil, passou por ele sem notar sua presença e se encaminhou para o quarto.
- Hinata-sama... O que a-?
Neji não pode continuar sua frase. Hinata se trancou em seu quarto. No instante em que o rapaz olhava, preocupado, a parede a sua frente, no lado de dentro a garota encostou-se à parede, escorregando lentamente pelo chão. Dentro de seu esconderijo, permitiu que as lágrimas aflorassem com uma intensidade maior que qualquer vez que vieram. Abraçando o próprio corpo, tinha a impressão que se fechasse os olhos, ainda podia sentir os lábios de Naruto em seu corpo. O cheiro dele ainda estava impregnado em sua pele e os resquícios da noite de amor faziam seu interior fervilhar. Jamais teria outra noite como aquela. Em seu desespero jurou para si mesma não permitir que nenhum outro homem a tocasse. Seria para sempre dele, mesmo que nunca se vissem novamente. Ninguém a profanaria.
Os soluços secos chegavam aos ouvidos de Neji. Como também o barulho de batidas no assoalho. Na tentativa de amenizar o vulcão que ardia em seu peito, Hinata começou a auto-flagelar o próprio corpo. Com as unhas, começou a arranhar o pescoço, como se estivesse sem fôlego e implorasse por ar. Buscava a dor física para esquecer a do espírito. Quando suas mãos já estavam banhadas de sangue, começou a bater as mãos fechadas no chão, na esperança de abafar o choro e tentando impedir que sua dor se transformasse em gritos, porque tinha certeza que se eles viessem à tona com a intensidade que sentia, seria capaz de acordar toda vila de Konoha. Seus olhos ardiam e seus lábios mordidos sem compaixão, sangravam. Desabou sobre o piso, sentindo o gosto amargo do seu futuro: sangue misturado a lágrimas.
Não podia mais. Suas forças se esgotaram. Deixou-se ficar deitada olhando para o teto, sentindo as últimas gotas de si própria evaporando sob o jugo de sua obrigação. Não queria mais lutar. Só velar sua alma.
Do lado de fora do quarto, Neji observou todo o desespero de sua prima com seu byakugan. Se ela pensava que podia esconder algo dele, iria perceber que era inútil. Fora incumbido de sua missão há muito tempo por seu pai: protegê-la. Mesmo que tivesse esquecido disso durante a fase escura de sua vida, prometera a si mesmo não falhar mais. Por isso, não se opôs ao ódio que começou a fervilhar dentro dele. Não imaginou outra explicação para o que acabara de presenciar a não ser o fato que Naruto havia feito alguma coisa com ela, algo que a machucara ao ponto de levá-la à beira da loucura. Não sabia o eu era, mas era a única coisa lógica a se pensar. Sentou-se no chão em frente ao quarto e ficou a observar a porta, como um anjo da guarda. Fosse o que fosse, qualquer que tenha sido o motivo, Naruto fizera Hinata sofrer. E iria pagar por isso. Ele não iria se aproximar mais aquela casa ou de Hinata.
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Naruto tentou mexer as pernas, mas elas não lhe obedeciam. Todos os nervos do seu corpo pareciam responder aos comandos de seu cérebro de forma errada. Sentindo o cheiro da terra molhada, levantou a cabeça com dificuldade. O dia já começava a raiar e cada minuto que passava era para ele uma aflição. Queria correr, correr o mais rápido que pudesse para saber que brincadeira de mau gosto era aquela que Hinata lhe aplicava. Sua mente simplesmente não aceitava o fato dela ter lhe dito adeus. Não depois de tudo que viveram. Não depois daquela noite.
Fora a primeira vez que estivera com uma mulher e sabia que Hinata também nunca tinha tido ninguém. Sentira sua inocência, seu medo, seus tremores. Havia sido especial para os dois, ele tinha plena certeza disso. Como tinha certeza também que, pelo menos daquela vez, não tinha feito nada de errado. Sua consciência estava limpa. Tratara Hinata com doçura, delicadeza e até com receio, com medo de agredi-la com seu desejo extremo. A noite fora maravilhosa, inesquecível. Pelo menos até a hora que ela o desacordara e fora embora.
Mais uma vez Naruto tentou se levantar. Dessa vez conseguiu que as pernas atendessem seus pedidos. Com dificuldade se pôs de pé. Seu corpo doía e tremia com o esforço. Cambaleando, encostou-se na árvore, totalmente sem fôlego.
“Seja lá o que for que Hinata tenha feito comigo, fez muito bem feito” pensou Naruto olhando para o céu que clareava rapidamente.
Sua respiração falhava a cada novo esforço. Mentalmente começou a repassar todas as possibilidades de ataques cujo resultado fosse à perda do controle corporal. Devia ter um jeito para parar aquilo. E foi então que lembrou. Hinata provavelmente havia atingido seu sistema nervoso central, impedindo seus nervos de reconhecerem os comandos do cérebro. Ela mesma lhe dissera isso em uma aula, antes do exame que se podia usar a técnica Hyuuga para paralisar ou destruir os órgãos internos de seus inimigos. Concentra-se o chakra na palma da mão e aplica conforme sua vontade no corpo do rival, atingindo a área de sua preferência. Os nervos eram alvos preferíveis, pois neutraliza-los era importante para impedir contra-ataques além de deixar o alvo incapaz durante um bom tempo.
Mas ele não era seu inimigo. Era seu namorado. Por que então usara um golpe tão poderoso contra ele? Por que o atacar após terem feito amor? E por que o adeus?
- Vamos sua raposa maldita! – falou com seu umbigo – Dê um jeito logo nisso. Eu tenho pressa!
“Para que a pressa?” ele pode ouvir nitidamente o rosnado tão familiar.
- Isso não é da sua conta. Só faça isso logo...
“Só por que entramos em um acordo de ‘boa vizinhança’ não quer dizer que você pode falar comigo de qualquer jeito...”.
- Eu falo com você do jeito que eu quiser. Você está no meu corpo, então faça o serviço direito. Imagine que você ta me pagando o aluguel. Afinal são dezoito anos de parasitismo...
“Seu ingrato! Já salvei sua vida inúmeras vezes!”
- Correção: você salvou SUA vida várias vezes. Se eu morrer, você morre. É a lei. Então que tal você se apressar? Preciso resolver uns probleminhas pessoais.
“Você continua o mesmo imbecil de sempre. Sabe o quando demora reestruturar todo um organismo depois do golpe dos Hyuugas? Por isso acho que seria muito mais simples se apenas arrancássemos aqueles braços...”.
- Não fale isso nem brincando, sua raposa desmiolada. Hinata é minha namorada!
“Namorada? E para quê você quer uma namorada?”
- É bom ter alguém perto de mim, alguém pra gostar...
“..............”
- Esqueça, saiba apenas que Hinata é importante para mim e eu preciso vê-la!
“Pena que não parece ser recíproco...”.
- O que você quer dizer com isso?
“Posso não entender muito de relacionamentos humanos ou seus tolos sentimentos, mas até onde já observei de suas vidas, vocês não costumam paralisar o sistema nervoso central de alguém que se gosta...”.
- Ah, vai pra uma merda e termina logo isso!
“Se você for, eu terei prazer em te acompanhar... hehe...”.
- Ótimo, que dia... Até essa raposa idiota tá tirando onda com a minha cara...
Mas logo depois que a kyuubi silenciou-se, Naruto sentiu o controle de seus movimentos voltarem totalmente. Mexeu os braços e as pernas para provar a si mesmo que tinha recuperado o controle de seu corpo. Vestiu a camisa que ainda jazia no chão e começou a correr em direção ao clã Hyuuga. Esperava que Hinata tivesse uma boa desculpa para o que tinha feito. E explicasse direitinho essa historia de adeus. Ele não iria permitir que ela saísse de sua vida tão facilmente.
“Vocês humanos e seus sentimentos idiotas...” ouviu a voz rouca comentar dentro de si. Mas não se importou. Se ser idiota significava correr atrás de sua felicidade, seria um eterno idiota e sem medo de assumir isso.
*************************
Por algum motivo, quando Sasuke olhou para o céu da janela do seu quarto aquela manhã, teve a impressão que algo aconteceria. Todavia ignorou aquele pressentimento. No momento, tinha coisas mais importantes para se preocupar.
Sakura.
O rapaz levantou de sua cama e olhou o relógio da parede. Eram quase seis horas da manhã, horário em que sua namorada começaria a trabalhar no hospital. Com uma expressão de desdém, se encaminhou para o banheiro. Sua vida não estava sendo fácil nas ultimas duas semanas. Sakura mudara bruscamente com ele. Nunca conseguiam ficar juntos e o motivo alegado era sempre o mesmo, a falta de tempo de ambos. Sim, ele entendia que as obrigações de uma ninja médica eram diferentes de outro ninja qualquer, e ele era o chefe da anbu. Porém, nem mesmo em suas folgas, eles se viam agora e aquilo o frustrava muito. Lembrava claramente que, no dia do festival, tivera que praticamente arrasta-la para a festa.
- Mas, Sasuke-kun – argumentara – Eu já ajudei com os preparativos! Tenho que voltar ao hospital!
Sasuke nem dera ouvidos. Simplesmente foi à casa dela e a tirá-la de lá com a ajuda da senhora Haruno. Depois do festival, a convenceu a dormir na casa dele. Foi a ultima vez que passaram a noite juntos.
O que mais o irritava era que, para o show do Asian Kung Fu Generation e para preparar o aniversario de Hinata ela tivera tempo de sobra. Então o problema era ele. A companhia dele. Se estavam a sós, sempre havia um compromisso, sempre precisava sair.
Decidido a pôr tudo nos eixos, ele caminhou resoluto em direção ao hospital. Não precisou esperar muito. Pontualmente às seis horas, Sakura chegava com sua maleta branca e pareceu extremamente surpresa ao vê-lo parado a porta de entrada.
- Sasuke-kun...
- Sakura. – falou ele sério – Precisamos conversar.
- Conversar? A-A essa hora... S-Sobre o quê?
- Sobre nós.
Sakura parecia confusa e muito nervosa.
- Você tem me evitado – começou ele – Por quanto tempo você achou que eu não perceberia?
- Não sei do que você está falando... Eu não tenho evitado você... – falou na defensiva.
- Faz duas semanas que você não tem tempo para mim.
- Ah, é só isso! – falou ela aliviada, mas ainda forçando um sorriso – Você quer atenção Sasuke-kun? Infelizmente é difícil para mim, você sabe o hospital...
Ele se aproximou bruscamente ficando com o rosto a poucos centímetros do rosto de Sakura, como se fosse beijá-la, mas ela se afastou involuntariamente.
- Viu? – constatou ele chateado - É disso que estou falando. Você não me quer mais.
- Não é isso! – falou Sakura ofendida - Eu te amo e você sabe disso!
- Então me diga qual o problema! – insistiu ele.
- Não há problema!
- Há! – disse Sasuke irritado – Existe um problema e eu sinto isso!
- E o que você imagina que está acontecendo?
- Não imagino nada. Tenho certeza. Você tem agido diferente. Se fosse o tempo todo, com todo mundo, até que eu entenderia. Mas o problema é que essa sua atitude é exclusivamente para mim. Quando estamos com os outros, você se comporta normalmente. Quando ficamos as sós, você sempre arranja uma desculpa para ir embora.
- Você não está sendo justo comigo! – disse ela alterando o tom de voz – Eu tenho estado ocupada, estressada, sou chamada nas horas de folga e você ainda vem me cobrar algo que não posso lhe dar no momento?
Sasuke analisou a expressão dela. Era uma mistura de indignação, nervosismo e medo. Mas medo de que? Quando ela começou a tremer, não teve dúvidas. Ela escondia algo. Como viu que a pressionando não iria conseguir nada, decidiu ser mais gentil. Não queria brigar com ela, no final das contas. Só pioraria a situação.
- Tudo bem, Sakura. Tudo que eu queria era ficar mais tempo com você... Sinto sua falta... – falou em tom carinhoso, procurando vencer a resistência dela.
Todavia, as palavras ditas tão ternamente pareceram que despertaram o efeito contrario do esperado. Perdendo o controle, Sakura gritou:
- SEU EGOÍSTA! VOCÊ NÃO PERCEBEU AINDA QUE MINHA VIDA NÃO GIRA EM TORNO DE VOCÊ?! EU TENHO OBRIGAÇÕES! PRECISO DE PAZ!
Aquela palavras, proferidas com tanta raiva, caíram como uma bomba para Sasuke. Então esse era o amor que ele proclamara para todos durante toda sua vida? Sasuke estava magoado, muito magoado. Sua expressão se tornou mais sombria que o costume e sem se importar com a face preocupada dela, disse friamente:
- Então fique com suas obrigações.
E foi embora.
No mesmo instante, Sakura percebeu que tinha cometido um terrível erro. Jogou a maleta no chão e correu atrás dele.
- SASUKE-KUN!!!!
Mas ele já havia desaparecido. As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Sakura e ela levou as mãos à cabeça, desesperada.
“Meu Deus! O que eu fiz?!” pensou.
Sasuke ainda ouviu o grito dela chamando-o. Se queria tanto suas malditas obrigações, que ficasse somente com elas e o esquecesse. Apesar de estar extremamente magoado com as palavras dela, não queria ficar pensando naquilo. Por isso, se dirigiu à sede da anbu. Precisava urgentemente trabalhar. Precisava não pensar em nada. E principalmente, precisava não pensar que poderia ficar sem ela, em ficar sozinho.
Ao chegar à porta do local, notou um movimento estranho. Todos os anbu estavam em frente ao prédio e pareciam nervosos.
- O que está acontecendo? – perguntou preocupado.
- Uchiha-san – falou Shino – Nós temos um grave problema.
- O quê?
- Naruto-san está atacando o clã Hyuuga.
- COMO É QUE É?!
E sem esperar resposta, começou a correr em direção à propriedade sendo seguido por todos os membros da anbu.
**************
Naruto correu o mais rápido que pode. Em pouco tempo já avistava a entrada do clã Hyuuga. Sem esperar por um convite, adentrou os portões na esperança de estar o mais rápido possível à presença de Hinata. Mal tinha dado os primeiros passos, quando percebeu um ataque vindo em sua direção. Conseguiu pular para trás antes que as kunais atingissem seus pés. Olhou para o atacante. Eram quatro membros do clã, provavelmente pertencentes à Bouke, já que usavam ataduras na testa como as de Neji.
- Você não tem permissão de entrar aqui. – falou o mais velho deles, que parecia o líder do grupo.
- Eu preciso falar com Hinata.
- Não poderá. – respondeu friamente.
- E posso saber por quê? – Naruto começara a ficar irritado.
- Nenhuma visita foi autorizada pela líder do clã. – disse o segundo.
- Então vai lá e fale com ela. Tenho certeza que ela vai autorizar minha entrada.
- Temos ordens de não perturbar a casa principal essa manhã. – voltou a falar o mais velho deles.
- Cara, eu não saiu daqui antes de falar com minha namorada!
- Você não a verá. – falou uma voz vindo das árvores.
Era Hyuuga Hiashi, que vinha acompanhado por vários membros do clã, criando uma verdadeira barreira entre Naruto e o caminho que levava a casa.
Naruto estava confuso. Não entendia por que a intromissão do clã em um assunto que só dizia respeito a ele e Hinata. Tudo que queria era poder falar com ela e esclarecer algumas coisas. Decidiu se acalmar primeiro. Não queria causar uma má impressão no pai da garota. Respirou fundo.
- Hyuuga-sama – falou polidamente – Eu realmente preciso falar com a Hinata. Sei que ela deve ter muitas obrigações, já que é líder agora, mas prometo não demorar. Só preciso de alguns minutos.
- Não. – respondeu ele.
- Por que não?
- Entenda Uzumaki Naruto. Não sou eu que estou impedindo. Minha filha não quer vê-lo. E deve ter deixado isso bem claro noite passada.
O coração de Naruto deu um salto dentro do peito.
“Nossa história acaba aqui. Adeus...”. Essas palavras voltaram a latejar em sua mente. Mas ele se recusava a ouvi-las. Não iria aceita-las.
- Eu vou falar com Hinata! Ela vai me atender!
- E como espera fazer isso?
Diante das palavras de Hiashi, os Hyuuga adotaram suas poses de luta.
Naruto tomou fôlego. Não ia lutar por enquanto, faria outra coisa.
- HINATA!HINATA!HINATA! – começou a gritar para a surpresa de todos.
*************
Hinata estava na sala de chá. Tomava café da manhã silenciosamente, sendo observada por Neji e Hanabi. Enquanto Neji não demonstrava nenhuma expressão, Hanabi não conseguia disfarçar a surpresa.
- Hinata-nee-san? – chamou a menina.
- Fale Hanabi. – disse Hinata fracamente.
- O que são esses arranhões em seu pescoço?
- Nada demais. – respondeu levantando o quimono e escondendo as marcas.
Havia algo de estranho, percebia Hanabi. Naquela manhã ao sair do quarto, sua irmã estava irreconhecível. Parecia uma outra pessoa quando se sentou à mesa dando um seco “bom dia” e se calando logo em seguida. Seus olhos não exibiam o brilho de sempre e a pele estava mais pálida que o normal. Olhando fixamente para ela, a caçula chegou a uma conclusão: Hinata parecia uma casca seca, vazia e sem vida nem emoções. Nenhuma expressão no rosto, apenas uma cínica máscara de carne.
Neji também reparara, mas nada comentou. Decidira que mais tarde iria procurar Naruto e exigir que contasse o que havia feito. Depois, o proibiria de ver Hinata.
Naquele momento, eles começaram a ouvir vozes distantes dali. Depois, as vozes começaram a aumentar de intensidade, até se transformar em sonoros gritos, onde se ouvia claramente a voz de Naruto chamando por Hinata.
- Eu acho que é seu namorado Nee-san.
- Eu não tenho namorado. – respondeu seca.
O estômago de Neji deu uma volta completa e dolorosa. Nunca ouvira Hinata falar daquela maneira com ninguém, muito menos com alguém de quem gostava.
- Hinata-nee-san, Você terminou com o Naruto? – insistiu Hanabi.
- NÃO FALE ESSE NOME NA MINHA FRENTE! – gritou rispidamente.
Hanabi a olhou atônita.
- Nee-san... Você nunca falou assim comigo... – e começou a chorar.
Hinata se arrependeu profundamente da forma com que falar com a irmã, mas não se controlara. Toda sua força de vontade estava por um fio. Ouvir a voz de Naruto gritando tão desesperadamente seu nome seria suficiente para pôr tudo a perder. Num gesto de proteção, levou as mãos aos ouvidos. Queria abafar o som, não podia ouvir aquela voz de novo. Não podia lembrar das sensações da noite passada.
- Hinata-sama – falou Neji se levantando – Vou por um fim nisso.
Ela assentiu com a cabeça.
- O que quer que eu diga a ele?
- Não quero mais vê-lo. Nunca mais. Que esqueça de mim, que não me procure. E vá embora.
- Certo.
Neji saiu.
Hanabi ainda olhava em direção à porta quando sentiu que Hinata a abraçava.
- Não devia ter gritado com você. Perdoe-me Hanabi. Porém, te ordeno que nunca mais se refira a essa pessoa na minha presença.
Retribuindo o abraço, a garota confirmou com a cabeça. Ainda estava magoada, mas sentia que quem mais precisava daquele abraço era Hinata. Provavelmente o tal Naruto devia ter feito alguma coisa com ela. E era tão grave que a deixara daquela forma.
“Maldito Naruto! Você nunca me enganou! Sempre soube que você era um mau-caráter e não gostava de verdade da nee-san! Você me paga.”
*********************
Naruto estava com a garganta doendo de tanto gritar em vão. Não houve uma resposta, nenhum sinal.
- Percebe agora, Uzumaki Naruto? Minha filha não virá até aqui.
- Então eu irei até ela. – decidiu.
- Como passará por nós?
- Dessa forma! – e começou a formar o rasengan em uma das mãos.
A raiva já estava tomando de conta de Naruto. Permitiu que o chakra desprendesse a vontade de seu corpo. Não importava quantos fossem necessários matar. Iria ver Hinata.
“Muito bom... Realmente bom...Vou me divertir muito hoje...” ouvia a kyuubi sussurrar dentro de si.
O chakra da raposa começou a misturar-se com o dele. A instabilidade emocional estava descontrolando-o. Desesperado, precisava passar por tudo e todos para aplacar sua ira. Sua mente começou a ficar nublada.
Dois Hyuuga se atiraram sobre Naruto. Com apenas um movimento de sua mão, mandou ambos para longe, desacordados.
- Podem vir. Eu destruirei todos... – falou com a voz alterada.
Continuo derrubando a todos que o atacaram, sem compaixão, até restar somente ele e Hiashi.
- Saia da frente... Velho...
- Não. – Hiashi estava inabalável.
- Você não pode me deter!
- Não serei eu que irei detê-lo. – afirmou tranquilamente.
Naquele momento diversas pessoas pularam para o lado de Naruto. Era o grupo da anbu, liderados por Sasuke. Logo que este viu o amigo se surpreendeu com seu estado. Naruto estava envolto pelo chakra da kyuubi, dando uma aparência demoníaca a ele, que perdera todo o controle de suas ações pela primeira vez em vários anos. Seus olhos estavam vermelhos e exibiam pupilas riscadas e suas presas já estavam à mostra.
- Naruto, o que está acontecendo?
- Sasuke – falou ele em um rosnado – Tire esse velho e sua família da minha frente, senão...
- Senão o que? – perguntou Hiashi.
- Senão você Sasuke, irá presenciar a aniquilação de outro clã de Konoha!
Naruto tomou impulso em direção a Hiashi, que nem ao menos de mexeu, e foi detido por Sasuke que o segurou por trás.
- Naruto! Você não pode atacar Hyuuga-sama! Seria uma traição à Konoha! Explique-me o que está acontecendo!
- Minha filha não quer mais vê-lo. E ele não aceita isso. – disse calmamente o velho.
- É verdade, Naruto? – perguntou Sasuke surpreso.
- MENTIRA! – gritou ele - Hinata não faria isso comigo! Ela gosta de mim!
- É verdade sim, Naruto. – disse friamente uma voz.
Neji aproximou-se caminhando calmamente. Encarou Naruto nos olhos e não temeu se aproximar dele, mesmo que a sua aparência denunciasse que ele não estava no controle de suas emoções.
- Hinata-sama me deu ordens. – começou Neji – Disse que eu transmitisse essas palavras a você: “Não quero mais vê-lo. Nunca mais. Que esqueça de mim, que não me procure. E vá embora.”.
Naruto sentiu-se mergulhado em uma escuridão profunda e fria.
- Isso... Não pode... Ser... Verdade...
- Por que eu mentiria para você, Naruto?
Olhando dentro dos olhos de Neji, Naruto viu a crua e dolorosa verdade. Seu chakra apagou-se imediatamente, suas pupilas se dilataram e voltaram a ter a cor azul. Seu rosto adquiriu uma expressão desamparada e o ar ao redor dele esfriou. Desvencilhando de Sasuke, deu as costas ao clã Hyuuga e foi embora sem olhar para trás.
Sasuke não acreditava no que tinha ouvido. Hinata e Naruto estavam separados. Deu ordens aos seus comandados que cuidassem da bagunça e levassem os feridos para o hospital e correu atrás do amigo. Esqueceu de tudo que passara de manhã consigo próprio por um momento. Sentia que Naruto precisaria dele.
Capítulo XXI – O Tempo não pára
Naruto caminhou de cabeça baixa, cambaleante, como se as forças faltassem às suas pernas. Sasuke correu em direção a ele até que ficaram lado a lado. Mas o rapaz não deu mostras que percebia alguém o seguindo. Limitou-se a continuar andando até seu apartamento, subindo degrau por degrau, compassadamente, sem dizer uma palavra ou dar qualquer sinal que falaria. Sasuke também não falou nada, e quando Naruto abriu a porta, entrou junto com ele.
- Vá embora... – mandou Naruto.
- Não posso.
- VÁ EMBORA! – berrou dando um soco no amigo.
Sasuke segurou a mão de Naruto sem dificuldades, antes que esta pudesse atingi-lo. Olhou seriamente para ele e falou numa voz fria:
- Quer bater? Bata. Mas eu revidarei.
A raiva começou a tomar de conta de Naruto, mas o desespero logo a substituiu pela frustração e vergonha. Grossas lágrimas começaram a rolar por sua face, enquanto desabava sobre o chão como uma criança abandonada com seus soluços preenchendo o ambiente. Sentando no chão em frente ao amigo, Sasuke passou a observá-lo. Deixou que ele chorasse a vontade, e quando pareceu que o pranto perdia sua força, perguntou:
- O que aconteceu, Naruto?
Naruto encarou o amigo.
- Eu não sei Sasuke...
- Como assim não sabe? E o que foi tudo aquilo?
- Ela me abandonou... – murmurou inconsolável.
- Hinata? Por quê?
- Também queria saber...
Segurando a cabeça com as duas mãos, ele gritou:
- EU JURO QUE NÃO FIZ NADA!
- Eu acredito em você.
Em nenhum momento daquele episódio, Sasuke sequer cogitara a possibilidade que a culpa da confusão fosse do próprio Naruto. O rapaz não tinha motivos para se afastar de Hinata, ou fazer nada que pudesse ofendê-la. Eles estavam tão bem até o dia anterior durante o aniversário dela, que era impossível acreditar que agora estivessem separados. E a julgar pela atitude extrema do amigo, imaginava a que o rompimento partira dela e sem nenhuma razão aparente. Era um rompimento que o rapaz não aceitava.
- Você... Acredita em mim... Sasuke? – perguntou ele olhando desesperado para o amigo e ainda segurando a cabeça entre as mãos.
- Claro. Sei que você gosta de Hinata e que nunca faria algo propositalmente para magoá-la. Por isso, conte-me tudo que aconteceu ontem à noite. Vamos achar a resposta.
Naruto suspirou. Era doloroso lembra de tudo. Mas sabia que, se existia uma pessoa que pudesse ajudá-lo naquele momento, era Sasuke. Ele podia ajudá-lo a encontrar uma razão plausível para toda aquela confusão.
- Bem... Depois da posse dela nós fomos passear juntos e andamos até o lugar onde começamos a namorar... Começamos a conversar... E... – Naruto ficou vermelho e desviou a vista.
- E...?
- Er... Nós... Nós... – ele suspirou – Fizemos amor...
Sasuke arqueou as sobrancelhas.
- E depois? – perguntou sem inflexão na voz.
- Do nada, ela disse adeus e foi embora. No meio da noite. Desacordou-me e foi-se. – as lágrimas voltaram a cair com mais intensidade, mas Sasuke queria mais informações.
- Desacordou? Como?
- Paralisou meu sistema nervoso central. Eu perdia consciência e quando acordei quase não consegui andar.
Houve um momento de silêncio, até que o líder da anbu perguntasse novamente:
- Então foi só isso?
- Só.
- Ela não deu nenhuma explicação para o fim do relacionamento?
- Não.
Sasuke fechou os olhos, pensativo.
- Então ela já pensava em fazer isso. – decretou.
Naruto olhou surpreso para ele.
- Como assim?
-Se ela simplesmente te disse adeus e se foi, quer dizer que ela nunca teve a intenção de ficar com você e já planejava te abandonar ontem à noite. Talvez até antes.
- Não... Isso não é possível... Hinata não faria isso... – balbuciou incrédulo.
- E por que não? O que você conhece dela para saber que ela pudesse não estar fingindo? As mulheres sabem enganar muito bem.
A ênfase que ele deu às últimas palavras deixou entrever que ele sinceramente acreditava no que dizia. Naruto baixou a cabeça. Seria realmente verdade? Hinata nunca gostara dele? Então o que quisera com ele durante todo esse tempo? Não tinha lógica.
- Sasuke... Você acha que ela nunca gostou de mim?
- Isso eu não sei lhe dizer com certeza. Mas quem gosta não abandona... Não deixa... Não esquece...
Parecia que ele falava muito mais para si mesmo que para o amigo. Se estivesse em condições de observar melhor as atitudes de Sasuke, repararia que estava tão ferido quanto ele. Mas a dor naquele momento impedia qualquer raciocínio sensato.
- Eu... Não sei o que fazer... – murmurou Naruto.
Sasuke levantou-se e, sem dizer nada, se dirigiu ao armário. De lá tirou uma garrafa e dois copos. Colocou-os no chão em frente ao amigo e encheu os copos, oferecendo um deles para Naruto.
- Pegue. Tome. Vamos esquecer isso.
Os olhos de Naruto se deteram um momento sobre a garrafa e viu que era a cachaça Nabunda que Sasuke lhe dera três dias atrás. Aceitou de bom grado a bebida oferecida e, junto com o outro, tomou o conteúdo do copo de uma vez só. O líquido desceu rasgando e queimando seu esôfago e foi assimilado rapidamente pelo organismo. Depois da terceira dose, os rapazes perceberam por que disseram que ela era a bebida mais forte existente. Já estavam tontos e seus reflexos mais lentos. Também começaram a falar mais alto que o normal.
- Ela terminou comigo... – repetiu Naruto pela milésima vez - Sem nenhuma explicação, sem razão... Disse adeus... Foi embora... Sasuke... Dizem que você é um gênio, apesar de não acreditar nisso... Prove-me que você é um gênio e me responda: Por quê?
- As mulheres... São seres... Estranhos – disse Sasuke em uma voz alterada – Dizem que te amam... Faz você acreditar nas mentiras delas... Faz você acreditar que pode ser feliz com elas...
- As mulheres são umas falsas!
Sem coordenação sobre seu corpo, Naruto tentou se levantar, mas derrubou um vaso, fazendo um barulho estrondoso. Sasuke começou a rir descontroladamente, sendo seguido pelo outro que começou a chutar tudo a sua frente.
- EI MOLEQUE, PARE COM ESSE BARULHO! – gritou o vizinho de Naruto.
- VÁ SE DANAR!!! – gritou Sasuke, fazendo Naruto rir mais ainda.
- Sasuke, me dá mais um pouco de Nabunda...
- Toma... – disse enchendo mais um copo.
- EU VOU AI E VOCÊ VAI VER O QUE É TOMAR NA BUNDA! – continuou berrando o homem.
- TÔ MORRENDO DE MEDO! EU SOU UM JOUNIN AGORA, SABIA? – gritou Naruto de volta.
- O poder subiu à sua cabeça! – Sasuke gargalhava e agora enchia um copo para si mesmo.
- Maldito vizinho! Acho que vou me mudar...
- Aproveite e alugue uma casa lá no meu bairro...
- Para enriquecer você? Nem morto!
O vizinho continuou berrando mais um tempo, para total irritação de Naruto que, com muita dificuldade, se levantou e começou a se dirigir para a porta.
- Vai onde? – perguntou Sasuke se levantando também.
- Dar um rasengan nas fuças desse aí...
- Não desperdice chakra... Vamos tomar Nabunda em outro lugar... – convidou.
- Onde?
- Lá em casa...
- Você não tem vizinhos? – perguntou ele pensando se iria dar um rasengan em alguém.
- Tenho... Mas sou dono das casas deles... Se reclamarem, eu as pego de volta...
- Que maldade! – disse Naruto caindo na risada – Gostei! Vamos para sua casa... Não esqueça da garrafa!
- Ta aqui! – disse mostrando a garrafa.
Saíram os dois se apoiando um no outro, em direção ao bairro Kokoro no Haien. Eles iam falando palavrões e impropérios em voz alta, sem se importar que toda vila estivessem os observando.
- Naruto... Essas pessoas estão olhando para nós... – falou Sasuke apertando os olhos para que os vultos que via entrassem em foco.
- E daí? Que olhem...
- Será que não querem tomar nossa bebida?
- EI VOCÊS! – gritou Naruto com um grupo de genins que cochicharam quando eles passaram.
Os garotos olharam assuntados.
- VENHAM AQUI! – chamou Naruto.
Um deles se aproximou com receio.
- Quantos anos você tem? – perguntou Naruto fazendo uma expressão assustadora.
- D-D-Do-Do..
- FALA QUE NEM GENTE PORRA! – Naruto parecia ter se irritado com o gaguejar do menino.
- DOZE! – gritou o menino quase em prantos.
- Então nem pense em tomar Nabunda! Entendeu? Só quem vai tomar Nabunda sou eu e o Sasuke!
- Isso mesmo... – concordou Sasuke.
- Sim senhor! – disse o menino que saiu correndo junto com amigos, totalmente amedrontados.
Continuaram andando até que, quando passavam por uma loja, ouviram um chamado:
- Naruto-kun, Sasuke-kun... O que vocês estão fazendo?
Era Tanaka, o dono da livraria.
- Tanaka! Grande Tanaka! Tem hentai novo? Eu e Sasuke vamos precisar muito sabe? – falava o rapaz com a voz engrolada.
- E como... – concordou Sasuke.
- Hã... Vocês estão bem? Parecem meio... Descontrolados...
- Descontrolados?! Não estamos descontrolados! Estamos Sasuke? – perguntou quase gritando.
- De forma alguma... – falou Sasuke mal conseguindo se manter em pé.
Tanaka observou bem os garotos e viu a garrafa na mão de Sasuke. Então entendeu a situação.
- Bebendo a essa hora da manhã... Vocês não estão muito novos para isso? – quis saber o senhor.
- Que nada! Tomar Nabunda não tem idade! – disse Naruto caindo na gargalhada.
- Hinata-chan sabe que você está bebendo?
A expressão de Naruto nublou-se imediatamente.
- E se souber? Ela não tem nada a ver com minha vida!
- Naruto? – o homem parecia confuso.
- Olha Tanaka! Aquela lá me abandonou, sem nenhum motivo. Foi embora! Me largou... Agora o que eu faço ou deixo de fazer não é da conta dela. Vamos Sasuke. Vamos tomar Nabunda na sua casa.
Sasuke bebeu um gole da garrafa no gargalo e deu para o amigo, que bebeu também. Continuaram o caminho cambaleante até chegarem a um beco, onde se encostaram no muro. Não conseguiam dar mais um passo.
- Vamos... Beber... Aqui... Mesmo... – disse Sasuke sentando no chão, se encostando ao muro e bebendo mais.
- Dá um pouco... – pediu Naruto sentando também.
A garrafa já estava no fim. Naruto olhou para o frasco por um tempo como se procurasse palavras certas para expressar seus sentimentos. Depois de alguns minutos e falou com a voz enrolada:
- Nunca se deve confiar nas mulheres...
- Verdade... – concordou o outro.
- A única mulher confiável é a Nabunda... Só ela nos entende...
- Por isso eu digo: todo mundo de Konoha devia tomar Nabunda...
- Sasuke... Eu não quero mais ser enganado... – e virou o resto do conteúdo da garrafa, largando ela no chão em seguida.
Sasuke olhou para a garrafa vazia. Lá em um cantinho da mente sabia que estava errado em fazer aquilo. Não devia fugir dos seus problemas. Mas essa voz de consciência foi imediatamente calada por sua raiva. Não era hora para sentimentalismo ou racionalismo.
- Acabou... – murmurou ele para Naruto apontando para a garrafa vazia.
- É... Onde será que arranjamos mais?
- Só na capital, acho...
- Então vamos para a capital, comprar mais Nabunda! – disse ele se entusiasmando ao ouvir falar de mais bebida.
- Não conseguimos nem chegar à minha casa... – questionou Sasuke - Como vamos chegar à capital?
- Naruto! O que está acontecendo?
Naruto e Sasuke olharam em direção a quem os chamava. Jiraya se aproximou dos dois, com uma expressão nem um pouco satisfeita.
- Tanaka me contou que vocês estavam fazendo confusão pela vila!
- Velho fofoqueiro... – disse Naruto.
- Não estávamos fazendo confusão... – completou Sasuke um pouco hesitante, tentando lembrar se haviam feito algo de errado.
- O que vocês estavam fazendo então?
- Tomando Nabunda. – responderam os dois em uníssono.
O olhar de Jiraya se deteve surpreso sobre eles e depois foram em direção à garrafa vazia que repousava no chão. Para a surpresa dos rapazes, Jiraya abriu um largo sorriso e exclamou satisfeito:
- Nabunda? Vocês estão tomando Nabunda? Que coisa boa! Cachaça Nabunda é a patrocinadora oficial da série Icha Icha! Eu sempre recebo os melhores lotes para experimentar. Acabei de vir da capital! Veja!
E abrindo o colete, mostrou várias garrafas de Nabunda.
- Opa, dá uma aí, Ero-senin! – falou Naruto tentando alcançar Jiraya, mas tropeçando nos próprios pés e caindo de cara no chão.
- Claro, claro! – disse levantando Naruto e entregando a garrafa para ele.
Naruto pegou a garrafa oferecida pelo seu mestre, com muito esforço deslacrou-a e bebeu um longo gole, depois passou para Sasuke que fez o mesmo.
- Muito bem, já fiz a minha parte. Só me contem o motivo da comemoração!
Muitas pessoas passavam pelos três e saiam cochichando sobre a situação. Afinal, ali estavam o chefe da anbu e o favorito da Hokage, completamente bêbados, na companhia do sanin lendário. A notícia se espalhou rapidamente pela vila de Konoha. Muitas pessoas vinham e ficavam olhando à distância, como que para confirmar a veracidade da informação. Enquanto via o incômodo interesse das pessoas nele e em Sasuke, Naruto começou a narrar o episódio para Jiraya, que ouviu tudo calado, apenas afirmando com a cabeça de vez em quando.
- Então foi isso, ero-senin...
- Entendo... – murmurou Jiraya - Mas a primeira decepção amorosa é assim mesmo...
- Primeira... e última... – disse Naruto olhando desfocado para o chão.
- Sabe garotos, por isso não me envolvo sério com nenhuma mulher. Elas não são muito dignas de confiança...
- Olhe como fala da gente!
Sakura apareceu no local com o rosto em brasa. Sua mãe tinha ido comprar pão e vira o estado que se encontrava o namorado e o melhor amigo de sua filha. Sem pestanejar, contara para Sakura que decidiu ir conferir pessoalmente e também acabar com a palhaçada. Estava totalmente irritada e não escondia isso. Olhou para Naruto, Jiraya e as muitas garrafas de Nabunda pelo chão, antes de encarar Sasuke, que nem ao menos deu mostras que estava vendo a garota ali na sua frente.
- Sasuke! – começou nervosa – O que significa isso?
Sasuke a olhou friamente.
- Você é cega? Não ta vendo que eu estou tomando Nabunda?
As palavras faladas com tanto rancor e agressividade foram como um soco no estômago de Sakura. Contendo as lágrimas que queriam derramar, ela respirou fundo controlando suas emoções.
- Sasuke-kun... Não é bom para você nem para o Naruto ficarem fazendo essas cenas!Vocês têm reputações a zelar! E as pessoas que respeitam vocês, o que acharão dessas coisas? Vamos para casa... - estendeu a mão para ele.
Quando a garota se inclinou em direção ao namorado, este deu uma sonora tapa na mão que lhe foi oferecida. Sakura recolheu a mão surpresa e magoada, encarando aqueles inexpressivos olhos que, momentaneamente, se tornaram vermelhos.
- Sasuke-kun... – murmurou ela.
Jiraya observou toda cena e se levantou.
- Bem rapazes, eu vou levar vocês para casa...
- Obrigada, Jiraya-sama... – agradeceu a garota, feliz por alguém ali está sóbrio além dela.
Entretanto, Sakura logo mudou de opinião quando viu que Jiraya levantou os rapazes e começou a se dirigir com eles para o bordel mais conhecido de Konoha.
- EI, ONDE VOCÊ PENSA EM LEVAR MEU NAMORADO?!
- Ué, para casa... Nada melhor que os braços de uma mulher para esquecer outra... E não existe algo mais acolhedor do que os braços de uma mulher experiente. – disse maliciosamente.
- O que você quis dizer com isso Jiraya-sama?! - quis saber Sakura.
- Me deixe em paz Sakura! – falou Sasuke nervoso, se desvencilhando de Jiraya e encostando-se ao muro novamente para conseguir ficar de pé – E vá embora... Você é irritante...
Sakura não soube se foi a forma com que ele falou ou o que ele falou. O certo é que aquilo lhe trouxe lembranças nada agradáveis, de uma outra despedida há seis anos quando Sasuke fora embora de Konoha. A única reação que conseguiu no momento foi cair em prantos. Quando viu que ele, em nenhum momento, se comoveu de suas lágrimas, saiu correndo na direção oposta, sumindo em pouco tempo.
- Ainda tem Nabunda? – perguntou Sasuke se dirigindo a Naruto e, na tentativa de alcançá-lo, caindo por cima dele.
- Tem... – Naruto sustentou o amigo e lhe entregou a garrafa em suas mãos, de onde foram logo para a boca sem pestanejar.
Continuaram a beber, sentados mais uma vez no chão. Pelo ritmo que estavam Jiraya soube que logo, logo não agüentariam mais e ficariam desacordados. Imaginava a decepção que eles deviam estar sentindo. Principalmente Naruto. Ele sabia exatamente o que era se desprezado por alguém que se ama. Era por isso que estava sozinho. Tsunade nunca o quisera. Após a morte de Dan, ela não dera chance para ninguém se aproximar de sua vida.
- Ei, garotos, me dá um gole disso!
- Isso ero-senin! Tome Nabunda também! – falou animado para ver seu sensei bebendo junto com eles.
******************
Longe dali, Sakura correu sem ver exatamente para onde ia, Se sentia magoada, ofendida, humilhada. Sentia também que grande parte de tudo que acontecera era única e exclusivamente por sua conta. Mas não podia evitar. Não podia contar a Sasuke o motivo de sua mudança. Não tinha coragem.
Imersa em seus pensamentos, não viu que uma pessoa vinha em sua direção e acabaram se esbarrando sem querer e ela caiu sentada no chão.
- Sakura-chan, me desculpe.
Era Iruka. Ele ofereceu a mão para a garota, que aceitou, enquanto Kakashi observava-a, curioso.
- Sakura, está acontecendo algo?
A garota recomeçou a chorar e contou toda situação para os dois.
- E por que eles estão fazendo isso? – surpreendeu-se Iruka.
- E-Eu não sei Iruka-sensei...
Kakashi se aproximou de Sakura e tocando em seu ombro, diz amigavelmente:
- Vá para casa Sakura. Deixe eu e Iruka resolvermos tudo isso.
- Mas Kakashi-sensei...
- Confie em mim. Vá.
Ainda relutante Sakura seguiu seu caminho deixando os seus antigos senseis para trás. Kakashi esperou a garota desaparecer para tomar o caminho onde estavam Sasuke e Naruto.
- Kakashi, você sabe o que está acontecendo? – perguntou Iruka.
- Tenho uma leve desconfiança, Iruka. Uma confusãozinha no clã Hyuuga que eu fui investigar sabe... Mas prefiro ver pessoalmente o estado daquele moleque...
Mas não era apenas um moleque. Na verdade eram três. Jiraya já estava no mesmo pique com os rapazes e bebia generosos goles de Nabunda, sendo incentivado por eles.
- Vai ero-senin! Toma Nabunda, toma! – incentivava Naruto.
- Ta derramando, ta derramando! Não desperdiça! – reclamou Sasuke.
- Yo, que festa, hein? – disse Kakashi animado.
- Oh, Kakashi-sensei! – exclamou Naruto – Vamos tomar Nabunda?
- Isso mesmo! A patrocinadora oficial da série Icha Icha! – exclamou Jiraya já embriagado.
- Não obrigado. Não costumo fazer essas coisas masoquistas... Peraí... Você disse patrocinadora da série Icha Icha?! – perguntou Kakashi interessado.
- Isso mesmo! – gritaram os três.
- É... Acho que vou aceitar um pouco! – disse feliz se aproximando da garrafa.
- Kakashi! – exclamou Iruka irritado – Não viemos para isso!
- Deixa de ser chato, Iruka-sensei. – reclamou Sasuke – Venha beber um pouco também...
- É só um golinho... – pediu Kakashi.
- Lembre o que viemos fazer aqui!
Kakashi suspirou.
- É, é... Você tem razão...
- Garotos, - começou Iruka preocupado - vocês não acham que estão passando um pouco dos limites?
- De forma alguma. Estamos comemorando a libertação deles! – exclamou Jiraya.
- Libertação? – quis saber Iruka.
- Das mulheres. – disse Naruto fechando os olhos – Elas não merecem o que fazemos por elas.
- São todas umas falsas. – falou Sasuke.
- E ingratas! – completou Jiraya.
Iruka olhou sem entender para o grupo que bebia sem parar e depois para o companheiro ao seu lado. Diferentemente dele, Kakashi parecia estar entendendo a situação. Assumindo uma atitude mais severa, aproximou-se de Naruto e falou:
- Beber não vai mudar a situação, Naruto. Quando você acordar amanhã, ainda vai lembrar da Hinata.
A expressão de Naruto mudou totalmente. De risonha e meio patética, tornou-se sombria e irritada. Perdendo o controle dos seus atos, jogou a garrafa que estava na mão contra Kakashi, que desviou sem dificuldade. A garrafa se espatifou na parede, respingando por todos os cantos.
- Nunca mais quero ouvir falar sobre isso! – rosnou ele.
- Vai ser difícil. Ela é a líder do clã mais importante de Konoha... – lembrou seu antigo professor.
- Ela e o clã dela podem se danar que eu não estou nem aí! Não quero mais saber dela!
- Isso é realmente verdade?
Naruto encarou Kakashi por um tempo. As lágrimas voltaram imediatamente aos seus olhos.
- Por quê? – começou sentindo as lágrimas rolarem – Por que você fez isso comigo Hinata? FINGIDA! HIPOCRITA! FALSA! DISSIMULADA! SONSA! DUAS-CARAS! MENTIROSA! SEM CORAÇÃO! DESLEAL! TRAIÇOEIRA! VÍBORA! MALVADA! ENGANADORA! INGRATA!
Naruto terminou de falar todas as aquelas ofensas de uma vez só e com uma forte agressividade, como se tirasse um veneno mortal que o corroia por dentro. Em seu desespero, começou a socar o chão com as duas mãos. Sentia-se o pior dos homens, o mais idiota, e principalmente, o mais sozinho. Iruka não podia mais suportar vê-lo daquela forma. Ele era muito mais que um ex-aluno. Era como se fosse um filho. Por isso, não podia deixá-lo ali, naquele estado. Aproximou-se de Naruto, tocando em seu ombro.
- Naruto... Vamos...
Naruto deixou-se levar pelo seu antigo sensei sem resistência. Enquanto isso, Kakashi levantava Sasuke. Jiraya observou tudo e acabou se levantando também. Não havia nenhum traço de embriagues nele.
- O senhor não devia ter permitido isso. – criticou Kakashi.
Jiraya deu de ombros.
- Nessas horas, Kakashi, toda sanidade de um homem é esquecida. Eu garanto que eles estarão bem melhor pela manhã. Pelo menos a ressaca vai ser tão grande que nem vão lembrar de mais nada!
E caindo na risada, desapareceu.
***************
Sakura chegou em casa se sentindo um pouco mais calma. Sabia que Iruka e Kakashi dariam um jeito de fazer aqueles dois cair na realidade. Sentia-se apreensiva. Não queria ter brigado com Sasuke. Com certeza fora isso que provocara toda a situação. Só não sabia onde Naruto se enquadrava naquilo tudo.
- E então filha, o que você resolveu?
Sua mãe a olhava preocupada. Estava vestida em um avental e segurava uma panela recém lavada.
- Kakashi-sensei e Iruka-sensei vão levá-los para casa...
- Que bom...
- É...
- Mas não entendo por que o Sasuke estava bebendo também. O Naruto é compreensível já que foi abandonado...
Sakura olhou para sua mãe surpresa.
- O Naruto? Abandonado? Como assim?
- Ué, você ainda não sabe? O Tanaka me contou que a Hinata terminou com ele...
- E porque Hinata faria isso?!
- E quem sabe? O Naruto pode ter feito alguma coisa com ela.
- De forma alguma! – rebateu Sakura – Ele seria incapaz de fazer mal a qualquer pessoa!
- Às vezes nos enganamos com as pessoas, Sakura...
- Pode até ser mãe. Mas eu não admito que a senhora se refira assim ao Naruto! Ele não fez nada, tenho certeza. Se tivesse feito, em vez de estar se embebedando, estaria tentando concertar o erro!
A senhora Haruno suspirou.
- Foi a mesma coisa que Tanaka disse...
- E se a senhora perguntar a qualquer um nessa vila vai ouvir a mesma coisa!
- Bem, eu não penso dessa forma... Mas quem sou eu né? A propósito, chegou isso pra você, lá da capital...
E tirano um envelope fechado do avental o entregou a Sakura. O coração da garota deu um salto e ficou mais acelerado. Pegou o envelope com os dedos trêmulos e correu para seu quarto.
- Que menina estranha... – falou sua mãe voltando para a cozinha.
Na segurança do seu quarto, Sakura ficou observando o envelope sem coragem de abri-lo. Teria sido mais fácil fazer aquilo em Konoha mesmo, mas não tinha coragem. Tivera que ir até a capital onde ninguém a conhecia. E agora sabia que sua angústia ia acabar ou aumentar ainda mais. Abriu o envelope e lentamente tirou o papel de dentro. Respirando fundo, desdobrou-o. E sentiu uma onda de alívio imenso invadi-la.
- Negativo... Eu não estou grávida...
E começou a chorar. Não queria contar para Sasuke que suas atitudes estranhas eram apenas seu medo de estar esperando um filho. Afinal eram tão jovens, tinha começado a namorar a tão pouco tempo... Ele com certeza ficaria feliz, mas ela estava tão insegura. Melhor não dizer nada a ele sobre o acontecido. Acabariam brigando novamente. Ele iria acusá-la de não confiar o suficiente nele. Mas devia desculpas. Sabia que naquele momento não era apropriado, mas não podia espera. Rasgou o exame e jogou na privada, dando descarga em seguida. Ninguém saberia daquilo. E saiu de casa apressadamente sem dizer a sua mãe aonde ia, dirigindo-se ao antigo bairro dos Uchiha.
**********************
Kakashi levou Sasuke até em casa sem muita dificuldade. Percorreram todo caminho em silêncio, sob os olhares surpresos dos moradores. Ao chegar em frente ao portão, Sasuke se soltou dos braços de seu antigo sensei e se segurou no portão.
- Pode deixar que eu me viro. – disse procurando a chave nos bolsos.
- Tem certeza? – perguntou Kakashi apreensivo.
- Absoluta.
- Sasuke... O Naruto eu até entendo... Essas coisas são típicas dele... Mas você... Por quê?
Sasuke encostou-se à parede e analisou Kakashi.
- E por que não? Por que eu não posso me divertir de vez enquanto?
- Isso não é diversão. É idiotice.
- Então me deixe ser um idiota...
Kakashi suspirou.
- Tudo bem Sasuke. Quando você estiver sóbrio, nós conversamos. Até mais.
E acenando, desapareceu.
Sasuke conseguiu encontrar as chaves com dificuldade, mas nem precisou delas. Quando a colocou na fechadura, o portão se abriu sozinho. Ou pelos menos assim pareceu. Mas era somente Sakura que o empurrara.
- Sasuke-kun...
Ele nem ao menos a olhou. Entrou na casa, irritado, se dirigindo logo ao banheiro. Enquanto Sasuke esfriava a cabeça, Sakura fez uma xícara de café para ele. Tinha esperança que após isso, pudesse ao menos se desculpar. Mas logo que ele voltou à cozinha, ainda de toalha, falou rudemente.
- O que você está fazendo aqui?
- Eu queria conversar com você...
- Não há o que conversar. Você deixou bem claro que não me queria mais...
- Isso não é verdade!
- Então, qual é a verdade, Sakura?
Ela o olhou, indecisa. Não queria contar o motivo de seu estresse nos últimos dias. Mas também não queria deixá-lo desconfiado. Por isso limitou-se a desviar o olhar para o chão, sem resposta.
- Você me ama, Sakura?
Ela continuou calada.
Ele se aproximou como uma cobra que ia dar o bote. Segurou-a pelos cabelos e a beijou avidamente. Sakura sentiu o gosto da bebida na boca dele e tentou se desvencilhar. Mas Sasuke era bem mais forte e a abraçou sem deixar chance de escapatória. Com o braço, ele derrubou tudo que estava em cima da mesa, deitando-a lá. Rapidamente começou a rasgar as roupas da garota sem ligar para seus protestos.
- Sasuke-kun... Não... Aqui não... Desse jeito não...
Porém, ele parecia incapaz de ouvi-la. Continuou a beijá-la descontroladamente, tocando todos os lugares, explorando com sua boca aquele corpo frágil e delicado, sem medo de deixar-se tomar por seus instintos. Sakura fechou os olhos e não parou de resistir. Enquanto chutava e batia, tentando afastá-lo, Sasuke continuava a apertá-la contra seu corpo cada vez mais forte, puxando-a para junto dele. Contudo, apesar de sua mente continuar pedindo o fim daquilo, Sakura sentia que seu corpo tremia de vontade a cada toque dele. Ele tocava seus seios e os apertava com força, fazendo com que ela protestasse, mas ele nada ouvia. E com fúria, puxou os quadris dela em direção a seu corpo que pulsava em meio ao desejo.
Fora a primeira vez que se possuíram com tanto desejo, tanta angústia, tanta violência. As unhas dela o rasgavam sem pena, toda vez que ele a penetrava com ânsia. Os gemidos que entrecortavam seus movimentos, só serviam para aumentar ainda mais aquele desejo insano que Sasuke sentia de maltratá-la, de puni-la. Ela mordeu com força seus ombros, mas isso só serviu para ele soltar um grunhido e lhe aplicar um tapa no rosto. E depois, puxou-a pelos cabelos e a beijou. E ela retribuiu. Contra a vontade, mas retribuiu.
Continuaram naquela luta de desiguais por algum tempo até que atingiram a clímax. Ao final, estavam os dois feridos e um fio de sangue corria dos lábios dela. Sakura se sentiu enojada por ter sentindo tanto prazer naquela relação indesejada.
Sasuke então caiu em si. Se afastando da mesa, ele a olhou com remorso. Sakura estava toda machucada e arqueava deitada em cima da mesa. Era difícil saber se era de dor ou prazer. Com dificuldade, ela se ergueu e o encarou de volta.
- Sim. – ela murmurou – Eu te amo. Apesar de tudo. Apesar de agora.
Sentindo-se o pior dos homens, Sasuke a abraçou. Sakura não repeliu seu toque. E surpreendeu-se ao sentir lágrimas caírem nos seus ombros. Nunca tinha visto Sasuke assim. Alisando os cabelos dele, sussurrou em seus ouvidos, ternamente, como uma mãe faria a um filho machucado:
- Esqueça. Vamos esquecer tudo. E recomeçar de novo.
****************
Naruto acordou sentindo o sol no seu rosto. Tentou se levantar mais não conseguiu. Sua cabeça doía tanto que parecia que ia explodir. Segurou-a entre as mãos enquanto tentava lembrar o porquê daquela dor.
- Naruto, como você está?
Surpreso, virou a cabeça com dificuldade encontrando Iruka o olhando preocupado.
- Iruka-sensei... O que está fazendo no meu quarto?
- Você não está no seu quarto.
Foi então que percebeu que aquela realmente não era sua casa e sim a do seu antigo sensei. Estava vestindo um pijama que não era seu e sentiu um cheiro forte de café. Iruka o ajudou a sentar na cama.
- Tome, beba. – disse oferecendo uma xícara a ele – Está bem forte.
Aceitando de bom grado, Naruto começou a tomar lentamente o líquido amargo. Seus movimentos tinham que ser lentos e pausados, pois qualquer atitude brusca fazia sua cabeça latejar mais forte ainda.
- Aiiaiai, parece que meu cérebro vai explodir!
- E o que você esperava depois de todas aquelas garrafas? Você foi muito inconseqüente Naruto!
- Sempre sou mesmo... – falou tristemente.
-Isso não é verdade. Você já está um homem. E já deu muitas provas disso. Mas suas atitudes de ontem não condizem com a pessoa que você vinha se mostrando.
- Ontem? – perguntou confuso.
- Sim, ontem. Você dormiu um dia inteiro. Apagou antes de chegar em casa. Então decidi trazer você para cá.
- Mas há essa hora você não devia estar ensinando Iruka-sensei? – falou olhando para o relógio na cabeceira.
- Devia. Mas não podia trabalhar sabendo do seu estado.
Naruto baixou a cabeça, envergonhado. Não conseguia encarar Iruka após isso. Realmente tinha agido com um grande idiota e até levara Sasuke pelo mesmo caminho. Estava se sentindo um imbecil, um irresponsável e imaturo. A mão de Iruka pousou em seu ombro, consolando-o.
- Naruto, o Kakashi me falou o motivo de tudo.
- Eu não quero falar sobre isso Iruka-sensei...
- Mas precisa. Se você não se abrir, vai acabar se envenenando por dentro. E eu não posso permitir que você se acabe por causa dos caprichos de uma garotinha mimada!
- Como assim sensei?
- Bem, eu andei pensando junto com o Kakashi e chegamos à conclusão que Hinata só queria estar com você até a posse dela. Agora que é a líder do clã, suponho que não fique bem para ela estar com você. Tudo deve ter sido uma diversão antes de assumir aquele posto maldito.
A dor que Naruto sentiu dentro de si foi tão grande que não conseguiu manter os olhos abertos. Lembrou-se de Hinata e tudo que viveram naqueles poucos dias. Teria sido tudo apenas uma grande brincadeira? Fora usado daquela forma tão baixa?
- Naruto, me responda sinceramente: Você a ama?
Ele pensou por um momento.
- Acho que amor é uma palavra muito forte sensei. Estávamos juntos há tão pouco tempo... Mas eu realmente gosto dela...
- Não é “gostar” que eu falo. É amar mesmo.
Alguma coisa lhe dizia que ele tinha uma resposta para aquilo. Mas a dor de ser abandonado de forma tão brusca e insensível fez com que Naruto ignorasse aquela vozinha delicada que sussurrava dentro dele.
- Não. Amar acho eu não amo...
- Então não há motivo para esse desespero. Já que ela também não te ama, então fica tudo mais fácil. Esqueça-a. Existem muitas mulheres em Konoha e no mundo para você conhecer.
Era verdade. Iruka estava certo. Não podia ficar sofrendo por alguém que nem se importava com ele. Era injusto. Ele era jovem, tinha todo um caminho pela frente. Não podia ficar choramingando pelos cantos como uma criancinha. Estava na hora de colocar a vida para frente.
- Tem razão sensei. Eu não a amo. Então devo esquecer tudo e seguir em frente. Hinata que se dane. Vou continuar minha vida. O tempo não espera ninguém.
Iruka deu um sorriso.
- Isso! É exatamente assim que eu quero ver você. Agora vamos. Tome um banho que vou buscar um remédio para você. E seria bom você procurar a Hokage e pedir uma missão a ela. Ficar sem fazer nada só faz com que pensemos besteira!
*******************
Neji abriu a porta lentamente. Dentro da sala, Hinata rabiscava lentamente algumas palavras em um pergaminho oficial do clã Hyuuga. Sua expressão era indecifrável. Sem fazer barulho, ele entrou no aposento. Estavam apenas os dois.
- Hinata-sama... Mandou me chamar?
Ela levantou os olhos para ele.
- Sim Neji-nii-san... Gostaria que você levasse isso até a Hokage-sama, o mais rápido possível. – e entregou o documento sem selo a ele.
- Hinata-sama, não está selado ainda.
- Eu sei... Mas eu gostaria que você lesse-o antes que eu o lacrasse.
Desenrolando o pergaminho, Neji leu o conteúdo. A cada linha sua face adquiria uma nova expressão de surpresa.
- Hinata-sama... Tem certeza que irá fazer isso? – perguntou preocupado.
- Sim, Neji-nii-san. Eu irei.
- Mas essa é uma atitude muito extrema...
- É necessária.
Ele a encarou por um tempo. Hinata abaixou os olhos. Não queria que o primo pudesse ao menos supor os motivos daquilo. Recebendo novamente o documento, lacrou-o com o símbolo do clã e entregou de volta a Neji.
- Apenas entregue a Hokage-sama. Por favor.
- Sim.
E ele saiu apressadamente.
Tão logo se viu sozinha, Hinata tirou de dentro do quimono a foto feita no show quatro dias atrás. E ciente que não estava sendo observada, deixou uma lágrima de dor rolar silenciosamente pela face, enquanto acariciava o rosto de Naruto impresso no papel. Depois se levantou, e indo até seu quarto, guardou a foto em um lugar que ninguém acharia, lavou o rosto e saiu para novamente cumprir suas obrigações.
Capítulo XXII – Três vezes Três
- Isso só pode ser brincadeira! – gritou Makoto.
- Infelizmente não é. – falou Tsunade.
- Mas... Hinata-sensei... – murmurou Suzumi.
- Quer dizer que estamos sozinhos? – perguntou Yumi angustiada.
- Sim.
A Hokage olhou penalizada para os adolescentes à sua frente. Sentia uma mistura de compaixão e raiva pelas expressões desoladas. Em cima da mesa, uma carta aberta, a causadora daquela situação. Fechou os olhos, cruzando as mãos e suspirou.
- O Time três está temporariamente desativado. – disse por fim.
- VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COM A GENTE! – explodiu o único garoto do grupo.
- Você está interpretando erradas minhas ações, Makoto. Eu não quero fazer isso, mas estou sendo obrigada a fazê-lo. Sem um jounin responsável, eu não posso designar nenhuma missão para vocês.
Os três se entreolharam como que procurando uma solução para a situação.
- Hokage-sama – começou Yumi – Por que a Hinata-sensei se afastou de nós?
- Se é que ela se afastou! – falou Makoto olhando feio para Tsunade – Podem ter demitido ela!
- É verdade! – concordou Suzumi com o garoto pela primeira vez – Hinata-sensei estava nos preparando para o Exame Chunin! Ela não tinha motivo para nos abandonar!
- Eu recebi uma carta de próprio punho da Hinata me comunicando da desistência. Se duvidarem, leiam. – e estendeu o pergaminho para Yumi.
Todos se juntaram para ler o pergaminho de uma vez só. Makoto teve que ficar na ponta dos pés para conseguir ver o que estava escrito.
“Cara Hokage-sama,
Em virtude da minha posse realizada no último dia 27 e diante das inúmeras obrigações que agora me são impostas, comunico-lhe meu afastamento definitivo da liderança do Time três, composto pelos genins Kaneshiro Yumi (12), Kimura Suzumi (12) e Otori Makoto (12). Espero que designe um professor à altura do grupo.
Atenciosamente,
Hyuuga Hinata”
- Então... É verdade... – balbuciou Makoto.
- E agora, o que será de nós? – falou Suzumi à beira das lágrimas.
Yumi enrolou o pergaminho e o entregou de volta a Tsunade. Parecia a única que ainda mantinha um controle de suas emoções no momento. Encarou a líder da vila e falou numa voz firme:
- Quem será designado para o nosso time?
Tsunade retribuiu o olhar da menina.
- Eu já falei com todos os jounins... Inclusive ofereci o grupo a um anbu... Na verdade a vários anbu...
- Ei, nosso time não é uma panela velha para esta sendo oferecido por aí! – reclamou Makoto.
- Deixe a Tsunade-sama terminar, Makoto! – falou Yumi áspera.
- Obrigada, Yumi. Como eu estava dizendo, falei com vários anbu, mas todos estão envolvidos em alguma missão. Talvez vocês não tenham conhecimento, mas há uma tensão rondando a vila. E em virtude disso, já designei obrigações para todos os jounins.
- Mas se não tivermos um jounin responsável, como seremos indicados para o Exame Chunin? – perguntou a ruivinha do time.
- Quanto a isso não se preocupe Suzumi. Vocês não prestarão o Exame Chunin dessa vez. A nomeação dos times foi feita essa manhã. E como vocês podem ver pela carta que leram o Time três não têm condições de participar.
A reação do grupo não poderia ser pior depois dessa trágica notícia. Tsunade esperava gritos, palavrões, inconformismo, mas nunca tantas lágrimas. Makoto foi o primeiro a começar a chorar. Foi seguido por Suzumi e para total surpresa da Hokage, Yumi também. Não sabia o que fazer. Passara a manhã procurando todos que pudessem ficar responsáveis, mas simplesmente não havia ninguém. Contudo, não podia deixar-los sem missões até Kurenai voltar. Se ela voltasse.
Sua indignação era enorme. Mas não podia deixar de entender Hinata. Ela, agora como líder, teria muitos afazeres. Talvez estivesse apenas pensando no bem dos garotos quando escreveu a aquela carta. Mas mesmo assim não se conformava com o que estava acontecendo.
- Bem, vou dispensar vocês. –continuou a Hokage - Enquanto eu não achar um jounin disponível...
- Eu estou disponível.
Todos olharam para a porta. Naruto entrou decididamente no escritório da Hokage, que mal o reconhecera. Sua expressão estava um pouco abatida, cansada e trazia um ar diferente ao seu redor. Tinha que admitir que o colete sobre a roupa preta lhe dava um ar distinto, o oposto de antes. Ele definitivamente parecia muito mais maduro.
Naruto se aproximou do time, que ainda chorava, e colocou uma mão na cabeça de Makoto e a outra na de Suzumi, sorrindo para os garotos.
- Eu ficarei com o Time três. – anunciou.
Tsunade pensou por um momento.
- Isso não será possível. – disse taxativa.
- E posso saber por quê? – ele parecia irritado com a recusa.
- Você é um jounin iniciante. Faz apenas uma semana que ganhou esse colete.
- E daí? Já realizei missões de rank S mais que qualquer outro jounin.
- Mas não tem experiência como professor. – rebateu ela.
- Se você não me deixar tentar, realmente nunca terei.
Ambos se olharam longamente.
- Naruto, - falou Tsunade suspirando – entendo sua preocupação, mas não posso ir entregando o time a qualquer um. Essa já é a terceira mudança e provavelmente será definitiva. Imagino que Kurenai não voltará a ensiná-los. Nem Hinata.
Não sabia se fora a negativa do pedido ou a menção ao nome de Hinata. O certo é que Naruto bateu com a mão fechada em cima da mesa, derrubando um pote de tinta em cima do pergaminho dos Hyuuga.
- Eu não sou qualquer um! Eu sou Uzumaki Naruto. Jounin de Konoha. E se a vila precisa de um jounin, não vejo porque não me dispor. Além do mais, quando você disse que não havia ninguém disponível, não lembro da parte “alguém com experiência disponível”.
O grupo observava a discussão, atônitos. Nunca tinham visto alguém falar tão asperamente com a Hokage, nem contestá-la com tanta segurança. Mas Naruto lutava por eles.
- Eu quero o Time três. – falou ele resoluto.
Ajeitando os papéis à sua frente, como que para ganhar tempo, Tsunade analisava a proposta. Seria realmente um problema a menos colocar Naruto com o time, mas algo a dizia que a preocupação dele não provinha apenas de responsabilidade e compromisso com a vila.
- Naruto... Você não estaria querendo o time como uma forma de vingança, não é mesmo?
Ele ficou em silêncio alguns instantes, respondendo em seguida:
- Não tenho por que me vingar da Kurenai-sensei.
- Não estou falando da Kurenai, e você sabe disso.
- Eu realmente não sei a quem você está se referindo Hokage-sama.
A situação era séria. Naruto nunca se falara com ela como “Hokage-sama” e sim sempre era “Vovó Tsunade”. A referência a seu título era um aviso que ele não queria falar sobre o assunto. Ela, é lógico, tomara conhecimento de todo acontecido no dia anterior, tendo inclusive pedido a Kakashi que fosse investigar a confusão no clã Hyuuga. Como todas as pessoas da vila, ela também não acreditava que o rapaz tivesse feito algo que provocasse aquilo. Na verdade, não responsabilizava nem Hinata. Sabia quem era o pivô de tudo aquilo, mas como Hokage, não podia interferir na vida pessoal de seus subordinados. A única coisa que podia fazer era tentar amenizar a situação da maneira mais discreta possível. E foi pensando assim, que ela balançou a cabeça afirmativamente.
- Se você insiste tanto, eu o nomeio como responsável pelo Time três, Uzumaki Naruto. A partir de agora, eles são seus soldados, e devem obedecer todas suas ordens. E você deve protegê-los. Darei somente dois dias para adaptação. Após isso, vocês serão enviados para uma missão o mais rápido possível.
- Obrigado, Hokage-sama. – disse vitorioso - Posso me retirar agora com eles?
- Fique a vontade. São todos seus. Só peço uma coisa.
- O quê?
- Não me chame mais de “Hokage-sama”. – falou fazendo uma expressão desagradável.
Naruto deu um largo sorriso e se atirando sobre ela, deu-lhe um barulhento beijo na bochecha.
- Realmente obrigado, Vovó Tsunade!
E saiu levando o grupo, ainda surpreso, com a reviravolta do caso.
Naruto os levou exatamente para o mesmo local onde Kakashi havia se apresentado para o Time sete. Durante o percurso, para aliviar o clima, dissera:
- Bem, agora vocês são meus alunos! Isso não é bom?
- Naruto-san... – começara Suzumi.
- É sensei! – corrigiu rapidamente Yumi.
- Ah, Naruto-sensei... Por que a Hokage falou em vingança? Você não está bem com a Hinata-sensei?
Ele parou de andar abruptamente. Virando-se para a garota, tentou dar um sorriso descontraído, sem ter muito êxito. Seus lábios estavam repuxados e ele parecia mais assustador que alegre.
- Como sensei de vocês, eu devo impor umas regras para nossa convivência. –falou imponente - A primeira e mais importante delas é: nunca mais mencionem a antiga professora de vocês na minha frente. Nem para falar bem, nem para falar mal. Entenderam?
- Sim. – falaram eles sem muita convicção.
Chegando ao telhado, Naruto se sentou na grade e começou:
- Bem, vamos começar as apresentações?
- Mas sensei, você já nos conhece! - questionou Yumi.
- Eu sei Yumi. Mas quero que agora seja oficial, entende? Vamos começar por você. O que gosta, o que não gosta, hobby, sonhos... E nome completo também...
- Humm. Kaneshiro Yumi. Tenho doze anos, meu aniversário é dia 1 de junho, eu adoro massas, coleciono bruxinhas, moro com minha mãe, meu pai e um irmão pequeno, o Yuki. Detesto roupas apertadas e comida apimentada. Meu sonho é ser uma ninja tão boa quanto minha mãe.
- Ótimo! Você Suzumi!
- Kimura Suzumi! – disse ela fazendo um V com os dedos – Doze anos! Adoro rock, botar piercing, usar preto, dançar, e gosto de todo tipo de coisa comestível, principalmente doces! Meu aniversário é dia 22 de novembro! Moro com meus dois irmãos, o Suichi de sete anos e o Shunsui de nove. Meu sonho é... – ela vacilou um pouco como se tivesse uma dúvida, mas depois disse – Achar um namorado bem legal! Detesto coisas paradas, romances melosos e principalmente, o Makoto!
- EI! – reclamou Makoto.
- Ok, sem briga. – falou Naruto, mas sem conseguir conter a risada – Sua vez Makoto.
- Otori Makoto. Tenho doze anos, meu aniversário é dia 7 de outubro, moro com minha mãe e meu pai. Sou filho único. Detesto doce e massas. Gosto de comida apimentada. Meu sonho é crescer muito e poder dar uma surra na Suzumi e chamá-la de baixinha!
- Continue sonhando! – disse Suzumi caindo na gargalhada.
- Ótimo. Bem, eu sou Uzumaki Naruto, dezoito anos, meu aniversário é dia 10 de outubro, e eu adoro comer ramen. Meu maior sonho é me tornar um Hokage. Sobre as coisas que eu odeio... Eu odeio falsidade e mentira. Prefiro mil vezes uma verdade dolorida que uma mentira suave, pois ela sempre se transforma no final... – seu olhar ficou um pouco distante quando falou essas ultimas palavras, mas ele logo se recuperou – Bem, vou dar uma hora para vocês. Peguem suas armas ninjas e me encontrem na saída da vila. Vamos ter treinamento.
- Já?! – reclamou Makoto – Você mal assumiu esse time!
- Mas o que importa é que assumi. Até daqui a pouco! Ah, e não comam nada! Vocês podem vomitar! – e saiu acenando para eles.
Tão logo Naruto se distanciou, Yumi começou a falar para os colegas.
- Isso tudo ta muito estranho... O que será que aconteceu aqui na vila?
- Ahhh, a culpa foi minha! – disse Suzumi aflita - Se vocês não tivessem ido me ajudar na faxina lá em casa, saberíamos! Passamos todo o dia ocupados! E meus irmãozinhos não nos deixaram em paz!
- Eu que o diga! Eles são umas pestes! – resmungou Makoto cruzando os braços.
- Olhe como você fala dos meus irmãos, nanico!
- Nanico? NANICO?! ABAIXE AQUI QUE EU ARRANCO ESSA CABEÇA DE FOSFÓRO!
- Ok, parou os dois! – interferiu Yumi - Meu pai estava muito estranho quando foi me buscar lá em Suzumi ontem. E hoje também, quando mandou a gente falar com a Hokage. Deve ter acontecido um problema muito sério entre a Hinata-sensei e o Naruto-sensei. Ele falou de um jeito tão frio dela... Precisamos descobrir!
- E como faremos isso? – perguntou Makoto incerto.
- Eu sei! – exclamou Suzumi.
- Como? – perguntaram os dois.
- Sigam-me! Mas vocês deverão fazer tudo que eu mandar. Para começar, façam uma cara bem triste e concordem comigo sempre viu?
Mesmo sem entender o plano da amiga, os dois concordaram e a seguiram. Depois de poucos minutos, chegaram a uma das muitas lojas de Konoha. Empurrando a porta com dificuldade, eles entraram.
- Oh, bom tarde Suzumi-chan! Infelizmente seu mangá ainda não chegou...
- Oh, Tanaka-san... – disse a garota num falso, mas muito convincente tom de tristeza – Que pena... Eu realmente estava precisando me distrair... Estou me sentindo tão mal...
- Nossa, o que aconteceu? – perguntou Tanaka interessado.
- A Hinata-sensei nos abandonou...
- Ah, ela fez isso com vocês também? Eu sempre soube que aquela menina não era confiável... Primeiro o Naruto, depois vocês. Aqueles Hyuuga...
O homem parecia muito irritado e usava o espanador de forma bem estabanada, como se procurasse extraviar a raiva limpando a poeira.
- Hã... Tanaka-san... – arriscou Yumi – A Hinata-sensei abandonou o Naruto-sensei?
- Vocês não sabem certo? Imagino que não, afinal são tão novos para essas coisas sórdidas e... Você disse “Naruto-sensei”?
- Naruto-sensei é agora nosso sensei no lugar daquela Hyuuga! – falou Makoto tentando conseguir a atenção do velho. E foi bem sucedido. Tanaka passou os próximos quinze minutos falando da forma “cruel e insensível” que Naruto fora abandonado, exagerando nos detalhes e tirando suas próprias conclusões.
- Então – falou ele indignado – Só porque ela é a manda-chuva daquele clã de meia tigela, achou que andar com o Naruto era se rebaixar! Pode isso? Coitado do Naruto!
Eles três se entreolharam.
- E coitados de vocês também! Ficar sem professor pela segunda vez seguida... Mas acho que a mudança foi pra melhor! Por isso não fiquem tristes! Peguem isso como consolo!
E ofereceu animadamente doces para eles. Ao saírem da loja, um silêncio constrangedor se abateu sobre os garotos. Em suas cabeças, apesar de acharem a história contada pelo livreiro um pouco exagerada, não encontravam uma outra explicação para tudo.
- Nossa como eu me enganei com ela... – falou Yumi olhando para seu doce.
- Falsa! – disse Suzumi irritada – Ainda bem que agora temos o Naruto-sensei!
Makoto não se pronunciara. Parou quando chegou em frente ao bairro do seu clã e disse numa voz relutante:
- Não sei... Ta tudo confuso... Eu não acho que a Hinata-sensei fosse capaz disso...
- Então você é o único idiota! Ouviu o que o Tanaka-san disse? Toda vila concorda com ele!
- Suzumi, você sabe o quanto a Hinata-sensei se importava com a gente!
- Se importava tanto, cabeça-de-bagre, que nem ao menos nos nomeou para o Exame Chunin! E se sente tão culpada que nem teve coragem de olhar para nossa cara! Agora defenda ela seu merdinha, quando seu pai souber que você não participará do Exame!
Makoto empalideceu um pouco. Podia ver claramente a dor de sua colega. Suzumi era a única do time que não tinha toda sua família. Perder outra pessoa importante estava mexendo com seus nervos. Yumi observou toda discussão sem se meter. Internamente concordava com Suzumi, mas precisava pará-los.
- Ei, os dois. Vamos chegar atrasados ao nosso primeiro treino com Naruto-sensei. Por que vocês não param de brigar e vão pegar suas coisas? Deixem isso pra lá...
- Tem razão Yumi. Entra nanico e pegue as coisas que esperamos aqui...
Makoto estava tão triste que nem revidou. Apenas murmurou olhando para a guloseima em sua mão:
-Eu detesto doces...
- Não seja por isso! – exclamou Suzumi tomando o doce dele.
- EI!
- Vai logo! – ela o empurrou para dentro de casa e fechou o portão.
Yumi suspirou.
- Vocês não mudam... Tadinho do Naruto-sensei... E Suzumi! O sensei falou para não comer! – falou exasperada ouvindo os gritos do garoto de trás do portão enquanto Suzumi colocava alegremente os dois doces de uma vez só na boca.
*******************
Kakashi entrou no escritório da Hokage com uma expressão nada satisfeita.
- Hokage-sama, eu ouvi boatos que você designou Naruto para ser o responsável pelo Time três...
- Não são boatos. – disse Tsunade sem nem olhar para ele. – Eu realmente fiz.
- Hokage-sama! Naruto ainda é um jounin iniciante, nem ao menos realizou uma única missão com o novo cargo. Fora que ainda é muito imaturo. A senhora está condenando aquelas crianças à morte!
Tsunade parou de escrever e olhou zangada para Kakashi.
- Você devia confiar um pouco mais em Naruto, Kakashi. Ele já deu provas que é maduro o suficiente para arcar com responsabilidades maiores. Além do mais, seria um desperdício inutilizar o Time três. Aqueles meninos prometem.
- Mas Hokage-sama...
- Minha decisão está tomada, Kakashi. Eu não vou voltar atrás. – e continuou a escrever.
- A senhora não está fazendo isso pensando em...
- A única coisa em que eu penso é no que é melhor para o time e para o próprio Naruto. Ele precisa manter a cabeça ocupada. E com Otori Makoto e Kimura Suzumi no time dele, ele vai sempre estar ocupado, tenha certeza disso.
- E quanto a Hinata? A senhora conhece a razão disso tudo, não é mesmo?
O pincel que escrevia no pergaminho, parou de se mexer. Analisando o jounin à sua frente, a Hokage não pode deixar de lembrar do Quarto Hokage. Sempre preocupado com os alunos, mesmo que eles não fossem mais seus alunos.
- Sim, eu sei. Sei exatamente o motivo. Algo bem parecido com o que aconteceu há muitos anos atrás. Mas isso não é da minha conta Kakashi. Nem da sua. Deixe Naruto resolver seus próprios problemas. E lembre-se que você também tem um time para cuidar. Principalmente agora que eles prestarão o Exame Chunin.
- Sim, Hokage-sama.
Kakashi baixou a cabeça tristemente e fez menção de sair.
- Kakashi! – chamou Tsunade quando ele já estava na porta.
- Sim?
Ela sorriu.
- Naruto será um sensei muito bom. Afinal, ele tem em quem se inspirar, não é mesmo?
Kakashi pareceu um pouco encabulado.
- Obrigado, Hokage-sama.
******************
A área de treinamento ficava em frente ao monumento dedicado aos mártires da vila. Em frente aos tocos de árvore fincados firmemente no chão, Naruto colocou as mãos na cintura e analisou os garotos.
- Bem, será um treinamento de sobrevivência. O sol já está se pondo, então eu darei a vocês até à meia-noite.
- E o que faremos Naruto-sensei? – perguntou Yumi.
Naruto mostrou dois sinos a seus alunos.
- É bem simples. Vocês terão que pegar esses sinos de mim até a meia-noite. Se não conseguirem, eu devolverei o time à Vovó Tsunade e pedirei para vocês voltarem para a academia.
- O QUÊ? – gritou Makoto – E aquela encenação toda lá no escritório da Hokage?
- Naruto-sensei, é sério? – indagou Suzumi preocupado.
- Sim, é.
- Mas só tem dois sinos! – exclamou Yumi.
- Alguém será reprovado. E amarrado naquele tronco ali do meio.
Eles se entreolharam.
- Bem, vamos começar! – falou animadamente amarrando os sinos da calça – Se não virem para cima de mim com vontade de me matar, não conseguirão.
E desapareceu em seguida.
Os genins olharam para os lados, preocupados.
- Por onde será que ele virá? – perguntou Suzumi apreensiva.
Makoto tirou uma kunai do bolso.
- EI SEU COVARDE, APAREÇA!
- Meu Deus Makoto, calado! – pediu Yumi – Precisamos nos camuflar!
E pulou para dentro do bosque, sendo seguida por Suzumi. Mas o garoto não deu ouvido a ela. Com a arma em punho, começou a correr aleatoriamente pelo campo.
“Preciso ouvir onde ele está!” pensava ele.
Escondido em cima de uma árvore, Naruto observava sorrindo a atitude inexperiente de Makoto. Se fosse em uma missão e ele fosse um ninja inimigo, poderia matá-lo facilmente.
“Primeiro ponto a ser trabalhado no time: a indisciplina de Makoto” pensou.
Sem se preocupar em se esconder, Makoto parou em meio ao campo, e fechou os olhos. Procurava ouvir onde Naruto poderia estar, mas sua linhagem não cooperava muito. Forçou um pouco mais, até que começou a ouvir um barulho em de uma árvore próxima.
“Ali!”
E atirou suas kunais.
Algo caiu fazendo muito barulho no chão e o deixando desnorteado por alguns instantes. Mas ele correu mesmo assim até o local e viu o corpo de Naruto no chão.
- Eu consegui! – exclamou ele, antes de ser pego pelo pé em uma armadilha e ficar de cabeça para baixo. No mesmo instante, Naruto saiu de uma moita e, com todas as forças de seus pulmões, soprou um apito no ouvido do aluno inconseqüente.
- AAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!! – gritou o menino de dor.
- Ai, que idiota! – gesticulou Suzumi para Yumi.
Escondidas perto dali, entraram no consenso de utilizar a linguagem dos sinais para se comunicar, a fim de não chamar a atenção do sensei.
- Temos que tira-lo dali!- fez Yumi com as mãos.
- Ah, deixa! Ele ta tão bonitinho pendurado.
Yumi fez uma cara exasperada.
- Ta bom... Vamos tirá-lo dali...
- Espere nos certificamos de que o sensei não está por perto.
Após alguns momentos de observação, elas se olharam e balançaram a cabeça afirmativamente.
Pularam da moita ao mesmo tempo. Enquanto Yumi fazia uma barreira de água em torno do local, Suzumi pulou em direção ao colega, cortando a corda com sua kunai e segurando Makoto antes que ele atingisse o chão.
Observando tudo, Naruto fez mais uma anotação mental:
“Eles se preocupam com os companheiros. Um ponto a favor.”
- Makoto, você está bem? – perguntou Yumi.
- HÃ?! FALA MAIS ALTO QUE EU NÃO TÔ OUVINDO!
Suzumi deu um cascudo na cabeça do menino.
- Idiota! – ela gesticulou – Temos que nos camuflar!
- E fazer um plano em grupo para podemos conseguir os sinos!
- Mas só tem dois! – Makoto começou a gesticular também – Alguém tem que ser reprovado!
- Não necessariamente. Se pegarmos os sinos conjuntamente, ele não poderá reprovar ninguém! – “disse” Yumi.
- Sei não isso parece suspeito...
Suzumi estranhou o tremor vindo da terra.
“Droga! Ele está vindo por baixo!” pensou.
- PULEM! – gritou, mas foi tarde demais.
Naruto quebrou a barreira de água feita por Yumi, atacando os três ao mesmo tempo. Pegados desprevenidos, Yumi e Makoto foram arremessados para longe. Suzumi teve tempo de pular e, se prendendo com o chakra em uma árvore, pegou impulso para atacá-lo. Imediatamente, Naruto se desviou do golpe da menina e conseguiu atingi-la bem no estômago com uma joelhada.
Suzumi sentiu a vista escurecer. Caiu sem fôlego no chão, regurgitando tudo que havia comido e se asfixiando sem poder virar a cabeça para colocar tudo para fora. Yumi não pensara duas vezes. Correu até onde estava a amiga e a virou de costas, fazendo com que ela pudesse vomitar no chão e não sufocar.
- Eu avisei para você não comer aqueles doces...
- Desse jeito vocês não conseguirão nada... – avisou Naruto desaparecendo de novo.
Yumi levou Suzumi até onde estava Makoto. A garota parecia recuperar aos poucos o controle de seu corpo. O garoto também devia estar recuperando a audição, já que falou baixinho.
- O que vamos fazer?
- Agir em grupo. – disse Yumi.
- Deixa eu me recuperar... – pediu Suzumi com a mão no estômago.
Faltava pouco tempo para o prazo acabar. Todas as tentativas deles estavam falhando. Passado algum tempo, o novo professor percebeu que seus alunos tinham um plano. O silêncio estava quase palpável. Apenas os sinos perturbavam a calmaria.
De repente, Naruto sentiu dois braços agarrarem suas pernas. Suzumi usava o donojustu para imobilizá-lo por baixo. Antes que pudesse revidar, foi atacado por dois tornados que foram direcionados diretos para sua cabeça. Quando tentou puxar as pernas para fora da terra, viu Makoto indo à direção aos sinos. Mas antes que pudesse tocá-lo, algo passou pela cabeça do garoto:
“Será que elas não estão me usando para pegar os sinos e depois tirá-los de mim?”
O momento de hesitação foi suficiente para Naruto se afastar das mãos do garoto. Pulando para fora da armadilha, socou a terra até puxar Suzumi de lá pelos cabelos. Jogou-a em cima de Yumi e por último, pegou uma kunai e encostou-a ao pescoço de Makoto, que estava caído por perto.
- Por causa de sua hesitação, vocês fracassaram. – disse ele irritado - Se isso fosse uma batalha real, todo seu time estaria morto por sua causa!
Makoto tremia olhando para a lâmina bem abaixo de seu queixo. Mais à frente, Suzumi ajudava Yumi a se levantar. Olhavam penalizadas para o céu. Devia ser quase meia-noite e elas haviam falhado novamente.
- É, - disse Suzumi baixinho – foi bom estar com você, brincar com você, deixar correr solto o que agente quiser...
Yumi caiu na gargalhada.
- Nem nesse momento você deixa de piada, Suzumi?
- Qual é? Antes rir que chorar... Já que a gente vai voltar para academia mesmo...
- Ei, meninas! Uma ajuda aqui!
Elas olhavam para onde estava seu sensei. E qual não foi o tamanho de sua surpresa, ao ver Makoto sendo amarrado ao toco de árvore do meio.
- EI!! ME SOLTA! ME SOLTA! – gritava ele.
- Naruto-sensei... Por que o Makoto ta amarrado? – perguntou Yumi.
- Por que vocês falharam por causa dele.
- Mas... Ele será mandado de volta para academia? – Suzumi parecia um pouco preocupada.
Naruto caiu na gargalhada.
- Claro que não! Eu só queria deixa vocês mais ansiosos. Eu vou continuar como sensei de vocês.
As meninas se abraçaram chorando.
- Puxa sensei... Mas nós falhamos... – disse Yumi ainda não convencida.
- Na verdade, se esse aqui – e deu um cascudo em Makoto - não tivesse hesitado, vocês teriam pegado os sinos. Mas eu aprovei seu trabalho em grupo – falou para Suzumi – e sua preocupação com seus companheiros – falou para Yumi – Por isso estão dispensadas!
- E o Makoto? – perguntou Suzumi.
- É, E EU?! – gritou o menino.
- Não se preocupem. Com ele eu me entendo...
Naruto acenou para as garotas quando elas saíram levando suas bolsas. Estavam animadas. Depois, se virou para Makoto. Ele parecia extremamente infeliz.
- Makoto – começou ele numa voz calma – Por que a hesitação?
O garoto desviou a vista.
- Eu achei que se eu pegasse os sinos, elas viriam, bateriam em mim e tomaria os sinos...
Naruto balançou a cabeça negativamente.
- Se você não confiar em seu time, em quem confiará Makoto?
- É fácil para você falar! Você é forte! Não precisa de ninguém! Eu não conheço nenhum jutsu legal... Eu sou um fracote... Eu sou um... – e a voz dele se perdeu nas sombras.
Naruto se aproximou e tocou os cabelos de Makoto.
- Não, não é. Só é inseguro e precipitado. Igual a mim na sua idade...
- Sério? – surpreendeu-se Makoto.
- Sim.
Makoto o encarou por um tempo.
- O que eu faço para ser forte?
- Confie em você mesmo. E confie nos seus amigos. – e olhando pro céu falou sorrindo - Dizem que aqueles que não seguem as regras são lixos. Mas aqueles que esquecem dos seus amigos são pior que o lixo...
- Nossa sensei... Que bonito...
- Kakashi-sensei me disse a mesma coisa quando eu estava amarrado nesse mesmo tronco que você, seis anos atrás.
Diante do olhar surpreso do menino, Naruto puxou uma kunai e cortou as cordas.
- E você quer aprender um justu? Vou te ensinar um jutsu imbatível...
********************
Otori Masami olhava irritado para o relógio. Já passavam de meia-noite e Makoto ainda não voltara. Ainda naquela manhã soubera que ele além de não ter sido indicado para o Exame Chunin, também mudara de sensei novamente. E um bem pior.
Quando ouviu os passos do menino no assoalho, já começou a brigar.
- Onde você estava Makoto? – sussurrou quase inaudível.
-Treinando... – respondeu o menino timidamente.
- Treinando? Com aquele cabeça-de-vento que designaram para seu time?
- Naruto-sensei não é cabeça-de-vento! – falou o garoto na defensiva, surpreendendo seu pai.
- Então você acha que o garoto-raposa pode te ensinar alguma coisa? Não sei quem é pior, ele ou você por acreditar nele!
Makoto fechou o pulso de raiva. Não ia admitir que ninguém falasse mal de seu sensei.
- O Naruto-sensei é um excelente ninja! Ele me ensinou até um jutsu novo!
Otori Masami soltou uma gargalhada de deboche.
- Uzumaki Naruto? Ensinou-te um jutsu? Acho que ele não tem capacidade nem de amarrar os próprios sapatos! Quanto mais ensinar algo a um idiota como você!
- Eu posso provar que aprendi! – desafiou o garoto.
- Então prove! Deixe-me ver esse jutsu novo!
Makoto respirou fundo. E fazendo um selo, ele gritou:
- SEXY NO JUTSU!
E se transformou um uma bela morena totalmente nua.
Seu pai imediatamente desmaiou sofrendo uma grave hemorragia nasal. Depois disso, o garoto caiu na risada. E passando por cima do pai, se dirigiu feliz para seu quarto. Estava muito satisfeito com seu jutsu novo. E pela segunda vez na vida, admirava sinceramente alguém.
“Takeshi-sama vai gostar de conhecer o Naruto-sensei!” pensou feliz.
**********************
- Saia daí, Hinata-nee-san! Vai pegar um resfriado!
Hinata saiu de seu torpor e encarou a irmã. Hanabi parecia muito irritada com alguma coisa.
- Algum problema, Hanabi?
- Claro que há! Você, que fica olhando para o céu escuro como se fosse uma retardada e não ouve o que eu quero dizer!
- Perdoe-me! Então diga.
Hanabi colocou as mãos na cintura numa atitude de desafio.
- Você anda muito avoada! Precisa sair e tomar um pouco de ar! Vamos passar na vila amanhã!
- Não Hanabi. Não poderei...
- E posso saber por que não?
- Tenho muito trabalho...
- E você vai viver de trabalho agora?
Depois de fazer essa pergunta, Hanabi se arrependeu. O olhar de sua irmã era tão intenso e deprimido que chegava a doer na sua alma.
- Minha vida, Hanabi, é o clã. Eu não existo mais de fora dessas paredes...
E se levantando, recolheu-se ao seu quarto, deixando a irmã com um grande aperto no coração.
Capítulo XXIII – A dor do silêncio
- Sensei... - uma voz hesitante tirou Naruto de seus pensamentos.
Eles estavam treinando desde cedo. Era apenas a primeira semana que estavam juntos, mas ele já conseguia distinguir o padrão de todos eles. Desviando seus olhos de Makoto, que tentava fazer flexões com Yumi sentada nas costas dele, olhou para sua aluna de vastos cabelos ruivos.
- Diga Suzumi.
- Será que eu poderia sair um pouco mais cedo hoje do treino? Tenho umas coisas para fazer...
Naruto pensou um momento. Já passava do meio dia e a menina já tinha feito todos os exercícios que ele passara.
- Não vejo problema. Pode ir.
- Obrigada...
Observando a garota caminhar lentamente com a cabeça baixa, Naruto percebeu que havia algo errado. Suzumi era a mais expressiva e animada do Time, mas naquele dia sua empolgação parecia ter sido esquecida em algum lugar.
- Não estranhe Naruto-sensei. – falou Yumi notando a preocupação dele e se aproximando – Uma vez por mês Suzumi fica assim...
- Por quê? – quis saber um pouco preocupado.
- Deve ser TPM... – gracejou Makoto antes de ver o olhar reprovador de Yumi e acrescentar rapidamente - Hoje é dia de ela visitar a mãe...
Naruto então se lembrou da história de Suzumi. Seu pai, um jounin, havia morrido em uma missão de rank S e a mãe da garota enlouquecera. Cuidava dos irmãos, sozinha. Era muita responsabilidade para uma garotinha de apenas doze anos.
- Isso significa que tem acampamento hoje! – falou Yumi animada.
- Acampamento? – perguntou Naruto confuso.
- Sabe sensei, eu sou amiga de Suzumi desde a academia. Sempre que ela vai visitar a mãe, fica na maior deprê. Então eu sempre ia dormir lá na casa dela nesses dias. Depois que a gente se tornou ninja, Makoto foi incorporado no ritual!
- Deixo bem claro que isso é contra minha vontade... – resmungou o menino.
- Deixa de ser chato, você é o único que gosta daqueles horríveis biscoitos que ela faz. – reclamou Yumi colocando as mãos na cintura.
- Claro! É a única coisa que eu como quando vamos para lá!
- E o que é? – quis saber Naruto.
- Biscoito de chocolate e pimenta! – disse o garoto animado.
- Pensei que você não gostasse de doce... – observou o sensei.
- Chocolate e pimenta não são doces!
Naruto riu da reação do menino. Apesar de todos os atritos, ele e Suzumi se gostavam bastante.
- Quem leva o refrigerante hoje é você. – disse Yumi ao menino.
- Certo. E você leva a comida. Vê se coloca algo que eu coma!
- Vou levar lasanha. – avisou Yumi - Afinal você sempre acaba se entupindo de biscoito mesmo...
Parecia ser algo divertido, pelo que seus dois alunos falavam. E aquilo lhe deu uma imensa saudade dos tempos em que formava um time com Sakura e Sasuke.
- Ei ei, que horas vocês fazem isso? – perguntou Naruto interessado.
- De noite. – respondeu Yumi - Nós vamos à casa dela, levamos comida e barracas...
- Barracas?
- Sim. – quem falou foi Makoto - Armamos as barracas na sala e dormimos todos lá! E acendemos fogueira também!
- DENTRO DA CASA?! – Naruto estava horrorizado.
- Calma sensei. – acalmou a menina levantando as mãos - Não é fogueira de verdade... A gente só bota umas brasas em uma vasilha de cerâmica para poder fazer uns espetinhos...
- Ahhhhh... Eu acho que vou com vocês! – falou animado – Teria algum problema?
- Ah, você não ia gostar sensei, os irmãos da Suzumi são umas pestes... – o garoto franzia a testa como se lembrasse de algo muito desagradável.
Yumi fez uma careta.
- Deixa disso Makoto! Claro que o sensei pode ir!
- Beleza! O que eu levo? – o professor parecia mais animado que os alunos.
- Leve algo com muita pimenta! – pediu Makoto.
Naruto pensou um pouco antes de responder:
- Vou pensar no seu caso...
****************
Quando o relógio batia sete da noite, Suzumi já esperava os amigos. Precisava urgentemente que eles chegassem. Sabia que não iam conversar a respeito.
Ela nunca falava sobre aquilo.
Nunca.
Nem mesmo quando criança, nunca deixou que ninguém soubesse o que se passava dentro de seu coração.
Todavia, somente a presença de seus amigos era suficiente para se sentir mais tranqüila.
Naquele dia, tudo tinha sido pior que as outras vezes. Suichi e Shunsui haviam visto a mãe apenas de longe, pois tinham medo. Ela não. Pedira a Hokage para se aproximar e tentar falar com ela.
- Tudo bem. – dissera Tsunade – Mas tenha cuidado.
O aviso tinha fundamento. Logo que Suzumi entrou no quarto, percebeu que a mãe falava com a cadeira como se falasse com o marido morto. Quando viu a garota se aproximar vagarosamente e por as mãos no encosto da cadeira, voara em seu pescoço e começara a esganá-la.
- VOCÊ QUER ROUBAR MEU KAHEI, NÃO É SUA VADIA?!
Foram necessários dois ninjas médicos para fazer a pobre mulher largar o pescoço da filha.
- Eu não deveria ter entrado lá... – falou baixinho olhando para o forno, onde duas formas de biscoito assavam. – Não devia... – e passou a mão pelos vergões no pescoço.
- O que você disse nee-san?
Suichi, o mais novo dos irmãos, entrara na cozinha com as mãos cheias de chocolate.
- Não estava falando nada! E eu já mandei você parar de comer os biscoitos antes da hora! – disse fingindo raiva.
- Eu disse isso a ele, mas ele não me ouviu! – disse Shunsui, cujas mãos estavam em um estado pior que o do irmão menor.
- Pro banheiro, os dois! – ordenou Suzumi quando ouviu a campanhia tocar.
Alegremente correu para abrir a porta e quase caiu para trás de susto. Junto com Yumi e Makoto, vinha Naruto, com as mãos cheias de sacolas.
- Naruto-sensei... – murmurou a menina.
- Oi, Su-chan! Espero que você não se importe de eu ter vindo. – disse alegremente.
- Claro que não sensei! Entrem!
Logo todos estavam se divertindo muito. As meninas começaram a cozinhar coisas esdrúxulas para o jantar, fazendo o pobre Makoto de cobaia. Pela cara que ele fazia, isso parecia uma rotina naqueles passeios.
- Nós temos um padrão de qualidade. – explicou Yumi para o incerto Naruto que observava Makoto amarrado em uma cadeira, enquanto Suzumi lhe empurrava tudo goela a abaixo – Se ele não gostar, a gente come. E se ele gostar... A gente come de todo jeito!
Os irmãos de Suzumi eram realmente pestes. Corriam pela casa, empurravam Makoto, corriam mais, fingiam briga, Suichi abraçou Yumi e saiu correndo de novo e quebraram três pratos na tentativa de comer bolo. Mas para o alívio do Time três, eles pareciam tão empolgados com a presença do jounin que decidiram só importunar ele.
- Conta de novo a história da raposa, conta! – pediu Suichi.
- Não! Conta a parte da luta contra a Akatsuki! – pedia Shunsui.
- Mas meninos, eu já repeti essas duas histórias quatorze vezes cada! – falou Naruto com um sorriso amarelo.
- AHHHHHHHHHHH!!!! Conta!!!!! – pediram eles.
E lá foi ele contar de novo.
- O sensei é tão bonzinho... – falou Suzumi suspirando.
- Realmente... – concordou Yumi – Não sei por que a Hinata-sensei não o quis...
- Ele é tão bonito, gentil...
- Não sei o que você viu nele... – comentou Makoto comendo uma tigela grande dos seus biscoitos favoritos e parecendo irritado com o comentário de Suzumi.
- Eu adoraria ser a namorada dele... – disse ela provocando o garoto.
Makoto se engasgou com um biscoito e começou a tossir descontroladamente. Yumi bateu nas costas dele para evitar que ele sufocasse.
- Ele jamais ia querer uma pirralha com você! – disse ele irritado.
- Quem você ta chamando de pirralha, seu projeto de feto? – devolveu ela.
- Ta bom, ta bom. Parem vocês dois. – pediu Yumi se levantando e indo em direção à geladeira - Ta na hora da “fogueira”, dos espetinhos e depois, cama!
Acenderam as brasas na tigela de cerâmica e armaram as barracas na sala. Enquanto assavam os espetinhos, Suzumi e Naruto revezavam nas piadas e nas histórias de terror. Foi a noite mais divertida que os três irmãos Kimura jamais tiveram. Só foram se deitar depois das três da manhã, quando ninguém mais se agüentava em pé.
Entre Yumi e Suichi, Suzumi foi a única que continuou acordada. Sentia o coração bater mais forte ao lado de seu sensei. Não sabia se era admiração ou se realmente estava se apaixonando. Por isso, quando viu que não conseguia dormir, se levantou e ficou encarando sua face tranqüila.
Naruto dormia ao lado de Makoto e parecia estar tendo um sonho feliz, já que seus lábios estavam levemente repuxados. Sentindo-se tentada, a garota se debruçou sobre seu sensei. Aproximou os lábios dos dele e fechou os olhos. Porém, antes que pudesse roubar-lhe um beijo, Naruto murmurou durante seu sono:
- Hinata...
Suzumi parou a poucos centímetros dele com o coração acelerado. Afastou-se rapidamente. Não era justo. Ele não pensava nela.
“Hinata-sensei... Como eu a invejo... E a odeio... Queria fazer você pagar tudo que ta fazendo o Naruto-sensei passar... Você não merece o que ele sente por você... E é muita deslealdade comigo... Não posso nem competir contra você...” pensou com lágrimas nos olhos.
E se virando para o lado, deitou-se ali mesmo agarrando Makoto, que dormia serenamente.
- Acho que vou ter que me contentar com você... – murmurou sorrindo e dando um suave beijo na bochecha do garoto, e adormecendo ao seu lado pouco tempo depois.
****************
Apesar de tentar repetidas vezes ouvir qualquer coisa dentro daquela casa, somente a calmaria chegava aos ouvidos de Makoto. Isso o deixava frustrado. Diferente das outras pessoas, queria muito poder escutar vários ruídos que o deixassem acordado, ao invés de apenas o silêncio para adormecê-lo. Levantou-se tomando cuidado para não produzir nenhum som e foi até a parede de seu quarto. Como sempre fazia antes de sair, mediu a sua altura mais uma vez. E sorriu. Apesar de pouco, as várias marcas na parede comprovavam que ele estava crescendo. Tomou um banho, pegou seus equipamentos ninjas e foi tomar café da manhã.
Igual a todos os dias, sua mãe servia a comida ao seu pai. Sentou-se a mesa como se fosse invisível. Acostumara-se a ser sempre ignorado. Nunca recebia um cumprimento de nenhum dos dois, nem mesmo um “bom dia”. E naquela manhã, não fora diferente. Comeu rapidamente e saiu sem se despedir.
As ruas do clã Otori eram sempre calmas. Não era um clã de muitas palavras. Principalmente por que qualquer coisa falada, logo se tornava conhecimento de todos. Como ele não pertencia ao ramo principal da linhagem, morava bem perto da saída do bairro. Poucas pessoas falaram com ele durante o curto percurso. E muito rapidamente. Pareciam ter medo de cumprimentá-lo, de ser gentil com ele. Makoto odiava aquilo, pois o fazia lembrar-se de sua inaptidão, de sua deficiência. Do fato de estar abaixo da média para qualquer Otori. E principalmente, o fato de ser ele um “experimento”.
Todavia, naquele dia em especial, o garoto decidira que estava na hora de pôr um fim naquela situação. Já se cansara de ser o motivo de compaixão e pena de todos. Iria mudar. E começaria tudo a partir daquela manhã.
Esse pensamento fez com que apressasse o passo. Era importante chegar ao local de treinamento antes de suas colegas. Tinha um pedido para fazer ao seu sensei, e isso não podia ser falado na frente delas. Seria constrangedor demais. Suzumi com certeza iria fazer uma de suas piadas infames. Era especialista naquilo.
“Ela bem que podia agir mais como uma menina de vez enquanto” pensou “E se vestir um pouco melhor... Usa aquela blusa minúscula que quase da pra ver os... os... ‘aquilo’ lá...”.
Naruto já os esperava na área de treinamento. Rodava uma kunai no dedo indicador e ficou extremamente surpreso ao ver Makoto chegar cedo e sozinho.
- Bom dia, Makoto! – exclamou sorrindo – Caiu da cama?
- Bom dia sensei. – e sem responder a pergunta foi logo dizendo – Eu tenho uma coisa muito importante para te pedir.
O sorriso do jounin se apagou instantaneamente e ele parou o movimento da kunai. Seu aluno estava sério como nunca estivera antes. E seu olhar firme somente reforçava a expressão decidida.
- Peça Makoto. – disse sustentando o mesmo olhar que o garoto – Se eu puder fazer, farei.
- Eu quero dominar minha linhagem, mas para isso preciso de um treinamento especial...
- Oh, se você quiser ajuda me conta como é que...
- Não, não! – falou o menino apressadamente – Não preciso de ajuda. Só quero que você fale com as meninas, principalmente a Suzumi para não me perturbar mais... É que meu treino exige que eu fique sem poder falar por um tempo, sabe... E isso é meio impossível com aquela cabeça de fósforo ambulante...
- Você não vai poder falar? – perguntou ele surpreso – Que tipo de treinamento é esse?
- Não quero falar sobre isso!
Pela forma como Makoto falou, Naruto percebeu que ele parecia mais assustado que irritado diante de sua pergunta. Estava mais para “não posso” do que “não quero”. E, agora, olhando para seu aluno, algo veio à sua mente. Antes de conhecer Makoto, nunca havia visto um Otori, e até demorara muito para saber de sua existência. Também não conhecia nada a respeito deles, nem mesmo uma informação qualquer. Era como se eles simplesmente não existissem, ou vivessem à parte da vila. Por isso achou melhor não pressioná-lo. Quando tivesse um tempo, falaria com a Hokage sobre aquele assunto. Abriu um largo sorriso para Makoto e falou:
- Tudo bem. Não precisa me contar se não quiser. Pode fazer seu treinamento em paz. Vou conversar com Yumi e Suzumi a respeito disso. Só te aviso uma coisa: essa história de ficar sem falar vai exigir muito de sua paciência. A primeira coisa que você tem que aprender é a ficar calmo e controlar suas emoções.
- O sensei vai me ensinar a ter paciência e calma? – perguntou esperançoso.
- Bem... Acho que isso nós vamos ter que aprendermos juntos!
Não foi difícil convencer as meninas da necessidade de parar de provocar Makoto. O único comentário feito por Suzumi foi:
- Ótimo! Detesto aquela vozinha de maricas dele!
A parte mais complicada ficou a cargo do próprio Makoto. Naruto pôde observar de perto todo o processo de adaptação do garoto à total ausência de conversação. Por muitas vezes, o viu brigar com os lábios que pareciam forçá-lo a algo. Nem ao menos recorria à linguagem de sinais. Isolara-se totalmente. Qualquer que fosse o objetivo daquele estranho treinamento, já estava fazendo Naruto perder a paciência. Em muitos momentos, assistia Makoto se contorcer no chão como se estivesse sendo levado à loucura. Apertava os ouvidos, como se soltá-los custasse sua vida. Por diversas vezes quase o forçou a parar com aquilo. Em uma das muitas crises que presenciou, perdeu a compostura como professor e procurou a Hokage para saber sobre aquelas práticas.
- Vovó Tsunade, eu gostaria de perguntar sobre o clã Otor...
- Se você continuar essa pergunta, tiro você da liderança do Time três.
A forma ríspida usada para dizer aquela frase o surpreendera.
- Mas Vovó, o Makoto...
- Naruto... - disse ela pausadamente – Não posso te dar nenhuma informação sobre esse clã. Agora, desista de saber sobre eles o mais rápido possível. Para seu bem e, principalmente, o de Makoto. Se insistir, entregarei o Time à qualquer outra pessoa. – e vendo o olhar abismado dele, acrescentou com a voz branda - Quando você for Hokage, entenderá minha posição.
Nunca mais procurara nada a respeito. Preferiu ajudar seu aluno de outra forma. Deixou-o totalmente à vontade. Enquanto Makoto lutava em sua batalha interna, ele dava atenção às meninas. Ambas precisavam de toda ajuda que pudesse também. Na primeira semana de treinamento já havia reparado que Yumi dependia demais de seus jutsus e tinha um péssimo domínio de taijutsu. Apesar de ter seu chakra sob seu total controle, em uma luta acabava liberando muito poder inicialmente na tentativa de derrotar logo o oponente, e ficava sem chakra numa velocidade muito rápida.
- Yumi – dissera – Você é boa, menina! Mas não pode ir soltando tudo em cima de um inimigo de uma vez só. E se seus ataques falharem? E se seu chakra acabar antes do fim da luta? Precisamos trabalhar isso. Treinaremos apenas taijutsu e métodos de combate, ok?
Com Suzumi, isso foi exatamente o oposto. Com um domínio perfeito de lutas corporais, a menina não controlava muito bem o chakra que tinha. E ela tinha muito chakra. Para incentivá-la a subir em árvores e assim aprender a soltar seu poder aos poucos, ele fez um acordo:
- Você gosta de usar o bushin no jutsu não é? Se você aprender a controlar seu chakra, irei te ensinar o Kage bushin e o Taijuu Kage bushin. Assim você pode distrair seus oponentes com clones de verdade, e não apenas sombras, enquanto usa seu dono jutsu para imobilizá-los!
O resultado fora surpreendente. No final da semana, já ensinava o novo jutsu à menina.
Os dias passavam, as semanas iam embora, e logo o verão dera lugar ao outono. No começo de Março, já podiam se considerar o time com mais missões realizadas em pouco tempo. Na ânsia de manter sua mente ocupada, Naruto pedia constantemente obrigações à Hokage e era imediatamente atendido. Nunca estavam na vila durante muito tempo. Mas nada lhe dava mais prazer do que ver seus alunos progredirem. Seu desenvolvimento era palpável. E, para total alegria silenciosa de Makoto, ele já estava do mesmo tamanho que Suzumi. Mas não era apenas o sensei que se surpreendia com o Time três. Todos comentavam como eles pareciam mais maduros, não só os alunos, mas também o professor. Mesmo nas noites que sonhava com uma garota de quimono branco que lhe dava as costas, não se deixava mais abater pela tristeza. Cobrava cada gota de suor e sangue de seus alunos, tendo entrado várias madrugadas adentro com treinos. No ritmo que estavam não seria demais esperar que no próximo Exame Chunin, todos os três se dessem bem.
Em uma manhã de sol, eles tinham acabado de realizar uma missão importante. Era a quarta missão Rank C que era feita em menos de um mês. Daquela vez em especial, pode ver todo desenvolvimento deles em um combate real. Enfrentaram e venceram dois inimigos chunins sem a necessidade da interferência de Naruto, que transbordava de alegria.
- Aiaiai, que fome! – reclamou Suzumi tão logo adentraram na vila.
- Você está sempre com fome... – observou Yumi.
- É claro! Gastei todo meu chakra naquela luta! Maldito chunin! Perdi meu piercing da sobrancelha quando ele me jogou no chão!
- Você devia estar preocupada com esse buraco que ele abriu em sua testa! – disse Naruto rindo e apontando para as têmporas da garota que ainda sangravam mesmo ela pressionando o local com um lenço.
- Ah, Naruto-sensei! Sabe quanto custou aquele piercing? Eu economizei muito dinheiro para comprá-lo!
- Tudo bem, eu te compro um novo então!
- Sensei! – a garota o abraçou de alegria. Era um gesto muito comum ultimamente. Suzumi se tornara uma garota muito carinhosa com Naruto.
- Naruto-sensei, – falou Yumi – antes de falar com a Hokage não é melhor passar no hospital e ver a testa de Suzumi e o braço do Makoto?
Makoto trazia o braço bem junto ao corpo numa atitude de dor.
- Tem razão... Vamos ao hospital!
- E meu lanche? – reclamou Suzumi.
Mesmo sem falar, Makoto deixara bem claro sua irritação. Revirou os olhos, impaciente, tomado o rumo do hospital, mesmo antes de Naruto mandar.
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As horas passavam lentamente, e cada dia demorava a findar-se mais que o anterior. Para Hinata, os minutos pareciam presos às teias tecidas pelo tempo, que se mostrava seu maior algoz, arrastando-a para as entranhas da insanidade. Há muito tempo deixara de dormir tranquilamente sendo assombrada por pesadelos durantes noites sem fim, e acordando sentindo uma pegajosa solidão. Também não encontrava mais prazer na companhia de seus familiares, nem no sabor de uma comida, nem no som de uma música, nem via mais a beleza do pôr-do-sol. Seus sentidos pareciam se deteriorar junto com sua alma. Trabalhava rotineiramente da mesma forma, resolvia mecanicamente todas as questões tal qual uma máquina programada, sem sentimentos ou emoções. Desmaiava constantemente e não se alimentava bem há muito tempo. Deixou seu semblante ficar cada dia mais abatido, sem se importar que a aparência doente lhe tirasse aos poucos sua delicada beleza.
Neji observava o desenrolar de tudo como se assistisse ao mais horrendo dos filmes de terror. E simplesmente não podia fazer nada para alterar o roteiro. Logo nos primeiros dias, angustiado com a situação da prima, procurara o pai da garota e expusera sua preocupação. Friamente, Hiashi respondera:
- Isso não te diz respeito. Coloque-se em seu lugar, seja subserviente e apenas cumpra suas obrigações.
Assim, fora obrigado a se calar e apenas esperar o momento que Hinata viria até ele e abrisse seus sentimentos. Porém, o tempo passou, os ventos de março trouxeram o outono e o silêncio ainda reinava absoluto no clã Hyuuga. A raiva sentida por Neji em relação à indiferença do clã para com sua líder, só era superada por aquela sentida contra toda vila, que adotara Hinata como novo bode expiatório, enquanto a Naruto cabia o papel de mártir. Sempre que precisa ir à Konoha, reparava na forma com que o olhavam, e nos comentários sussurrados à sua passagem. Por isso, quando Hanabi insistira para que a irmã fosse até sua cerimônia de nomeação como chunin, ele fora terminantemente contra.
- Mas é meu grande dia! – exclamou a garota – Nós fomos o único time onde todos os integrantes tornaram-se chunins!
- Eu sei que é um momento importante Hanabi-sama, contudo, não aconselho Hinata-sama a abandonar suas obrigações para fazer algo que eu ou Hiashi-sama possamos fazer.
- Eu quero que ela vá! – insistiu – Como líder do clã, tem a obrigação de me prestigiar!
Hinata ouviu toda a discussão calada. Adoraria ver Hanabi receber das mãos da Hokage o colete chunin. A menina havia se esforçado tanto! Porém, concordava com Neji. Seu pai ou o primo podiam fazer aquilo, não por que ela tinha obrigações, mas porque não queria se arriscar a encontrar ninguém da vila. Principalmente Naruto. Já chegara aos seus ouvidos os comentários que circulavam na vila a seu respeito. Apesar da dor causada por eles, se sentia de certo modo um pouco tranqüila, pois Naruto tinha quem o apoiasse. Ele não estava sozinho. E se ele não sofria, ficava mais fácil para Hinata suportar sua própria dor.
Naruto estava bem, e era isso que importava.
- Pai! – pediu Hanabi exasperada – Eu quero que a Hinata-nee-san vá para minha nomeação!
Hiashi encarou sua caçula com a expressão séria, desviando depois seu olhar para a primogênita que continuava de cabeça baixa.
- Seria apropriado que a nova líder do clã Hyuuga aparecesse na Vila. Afinal, já se passaram dois meses de sua posse, Hinata. Precisamos mostrar para todos que não há nenhum problema interno entre nós.
O desespero tomou conta de Hinata. Ainda não se sentia segura o suficiente para deixar os domínios do clã.
- P-Pai, e-eu...
- Está decidido. – falou Hiashi – Hinata irá à nomeação de Hanabi.
E levantando-se, deixou a sala enquanto Hanabi comemorava.
Hinata olhou para Neji, e ele pode ver todo o pânico que a dominava.
- Não se preocupe Hinata-sama. – disse Neji num tom tranqüilizador – Irei organizar uma escolta entre as pessoas mais habilidosas do clã. Você não ficará sozinha. Eu estarei sempre ao seu lado.
E pela primeira vez em semanas, Neji pôde ver um trêmulo, mas sincero sorriso na face de Hinata.
- Obrigada, Neji-nii-san.
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Os primeiros socorros foram rápidos e não havia motivo para preocupação. A testa de Suzumi fora rapidamente restaurada por Sakura, e o braço de Makoto, que sofrera uma leve luxação, resolvido pelo experiente chakra da médica.
- Pronto! – disse Sakura ao examinar o braço de Makoto pela terceira vez – Está perfeito! Já poderiam realizar uma missão rank A neste exato momento!
Todos riram menos Makoto.
- Obrigada, Sakura-chan!
- Não precisa agradecer Naruto. Fico feliz em poder ajudar seu time, que a propósito, está indo muito bem, parabéns!
- Mérito deles. – disse Naruto coçando a cabeça, envergonhado.
- Naruto-sensei! – chamou Suzumi – Podemos ir comer algo antes de reportamos a missão à Hokage-sama?
- Melhor não, Suzumi. Já estamos atrasados.
- Ahhhhhhhhhhhh!!!! Tô com fome!!!
- Naruto-sensei, hein? Esse título ficou bem em você! – comentou Sakura rindo.
- Obrigado.
Naruto estava bem melhor, observou Sakura aliviada. Nem parecia mais se lembrar da antiga namorada. Depois do fatídico dia, quando ela e Sasuke fizeram as pazes, a garota o procurara, oferecendo ajuda.
- Se você quiser – tinha dito – posso procurar Hinata e falar a respeito de tudo com ela.
Ele se recusara categoricamente, explicando:
- Se ela quisesse falar, teria dito a mim.
Então, ela e Sasuke haviam combinado de não tocar no assunto “Hinata” novamente, e ajudar o amigo de outras formas. O problema era que, com Naruto envolvido em mais e mais missões, se tornou muito raro vê-lo ou ao seu time pela Vila. Por isso, era necessário aproveitar que ele estava na sua presença para fazer um convite.
- Naruto, o que você vai fazer hoje à noite?
Naruto pensou um pouco.
- Dormir, ué.
Sakura deu um sonoro cascudo na cabeça dele.
- To falando antes disso retardado!
- Aiaiaia, não precisava ser tão grossa... – reclamou passando a mão na cabeça – Nada em especial. Por quê?
- É que eu tenho uma amiga aqui no hospital, ela é enfermeira sabe, e te acha uma gracinha! – disse Sakura piscando o olho – O que você acha de sairmos hoje, eu, Sasuke, você e ela?
- Não obrigado. Estou muito cansado.
- Isso é uma desculpa muito esfarrapada! – irritou-se ela – Vamos! Você precisa conhecer outras pessoas Naruto!
- Não tenho interesse em conhecer ninguém. Desculpe Sakura. – e falando com seus alunos disse – Vamos garotos!
“Talvez eu tenha me enganado” pensou Sakura observando o amigo se afastar acompanhado por seu time “Achei que ele tivesse superado aquilo. Mas parece que o fantasma de Hinata ainda o assombra”.
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Hinata sentia olhos sobre si desde o momento que cruzara o portão do clã Hyuuga. Eram olhares frios, que pareciam agulhas quentes perfurando seu corpo. Andou todo o caminho de cabeça baixa, evitando encontrar sua vista com qualquer um. Neji caminhava ao seu lado, como um guardião, juntamente com outros dez Hyuuga. Quando chegaram ao pátio do prédio da Hokage, muitas pessoas conhecidas estavam presentes. Se ela tivesse coragem de levantar a vista, veria ali muito mais que frieza. Veria desprezo. Todavia, o que Hinata se recusava a olhar, era bem observado por seu primo, que fez questão de deixar bem claro à todos os presentes sua insatisfação.
Hanabi estava de pé ao lado de seus companheiros de time. Não aparentava nervosismo, nem impaciência. Estava muito animada. E quando viu Hinata chegar, vestida com o quimono de líder do clã, acenou alegremente. Hinata procurou forçar um sorriso e acenou de volta para a irmã.
Apenas cinco genins haviam conseguido passar no Exame Chunin. Dois da Vila da Areia e os outros três de Konoha. Lee estufava o peito de orgulho. Era a primeira vez que um time completo conseguia passar tendo competido pela primeira vez. O seu time.
- Eu sabia que você conseguiria Lee! – exclamou Gai fazendo a pose de nice guy.
- Obrigado, Gai-sensei! – agradeceu Lee retribuindo a pose.
- Lee!!!!
- Gai-sensei!!!
E se abraçaram chorando.
- Aiaiai, eu ainda me pergunto por que a Tsunade-sama fez isso com a gente... – murmurou Hanabi.
- Mas o Lee-sensei é ótimo! – defendeu Kasuma.
- Ótimo ele é. – disse Tasuki – Mas faz a gente passar cada vergonha...
Hinata assistiu a nomeação satisfeita. Lee era uma grande pessoa e merecia toda a admiração que agora todos lhe davam.
- Vocês conseguiram uma proeza – falou Tsunade para o Time cinco – Meus parabéns! À medida que eu for chamando seus nomes, se aproximem e recebam seu colete. Amano Tasuki.
Tasuki se aproximou de Tsunade e recebeu seu colete.
- Niwa Kasuma.
O mais jovem chunin da Vila parecia radiante. Ao receber o colete, virou-se para onde estava seu sensei e fez a pose de nice guy.
- Oh, que emoção! - exclamou Lee chorando, ainda abraçado com Gai.
- Hyuuga Hanabi.
O silêncio perdurou após a pronúncia do nome “Hyuuga”. Sem se deixar atingir pela situação, Hanabi se aproximou altiva da Hokage. Diferente dos colegas, não sorriu ao receber a nomeação. Limitou-se a vestir o colete e se dirigir até onde estava a irmã.
- Estou orgulhosa de você, Hanabi. – disse Hinata acariciando a cabeça da irmã.
- Obrigada, nee-san. E você, Neji? – perguntou esperançosa – O que acha?
- Acho que devemos voltar para casa.
A menina ficou extremamente decepcionada.
- Hanabi-chan! – gritou Lee acenando – Vamos comemorar! Por minha conta!
- Vá Hanabi – incentivou Hinata – Comemore com seu time.
Hanabi pensou por um momento. Queria poder ficar um pouco com seus amigos, mas também queria estar com sua família. E logo que Hinata chegara ao local, a garota sentira tantos olhares frios para ela que se surpreendeu. Hanabi ainda não sabia dos boatos da Vila. Seu time e sensei haviam feito de tudo para ela não ouvir nada. Não foi muito difícil, já que todos estavam empenhados demais no Exame Chunin para pensar em qualquer outra coisa. Conheciam a natureza temperamental da menina e tinha até medo de imaginar o que ela seria capaz de fazer se pegasse alguém falando algo contra sua irmã. Mas ela não era idiota. Sentia que havia algo errado. Por isso, preocupada, respondeu:
- Obrigada, Lee-sensei, mas prefiro voltar para casa.
- Que pena! Até amanhã então!
-Bem, vamos. – chamou Neji.
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- Ué, cadê a Vovó Tsunade?
O Time três juntamente, com seu sensei, tinha acabado de entrar no escritório da Hokage, esperando encontrá-la em seu habitual trabalho. Todavia, quando adentraram no local, tudo que viram foi a sala vazia. Naruto ficou observando como se esperasse que ela fosse pular de algum lugar e receber o envelope que ele trazia na mão.
- Ela deve ter ido comer... – opinou Suzumi – Já ta quase na hora da janta... Devíamos fazer o mesmo...
- Ou deve ter ido resolver algum problema urgente – argumentou Yumi.
Makoto se aproximou da janela. Lá fora o sol já começava a se pôr. Olhando para baixo, viu uma grande aglomeração de pessoas. Pareciam estar em volta de um único ponto, onde estava a Hokage. Viu também um grupo distinto começar a se afastar. Um dos integrantes que caminhava na frente chamou sua atenção. E seu coração se acelerou quando a reconheceu.
- Makoto, que cara é essa? – disse Suzumi se aproximando da janela – Ta vendo uma assombração?
Suzumi riu e olhou para baixo também. Seu rosto empalideceu subitamente.
- Hinata-sensei! – exclamou.
Naruto levou um choque ao ouvir essas palavras. Rapidamente se aproximou da janela e pôde vê-la rodeada de Hyuugas, indo embora da vila. Sem dizer uma única palavra, jogou o envelope em cima da mesa e saiu correndo porta afora. Seus alunos imediatamente o seguiram.
- Naruto-sensei! – chamou Yumi.
Porém, a única coisa que ele ouvia era o latejar do sangue em sua cabeça. Um frio pegajoso se instalou em seu estomago. Dois meses. Dois meses faziam que ela lhe dera o adeus repentino. Não sabia bem o porquê, mas queria rever uma pessoa que ele mesmo jurou que ia esquecer.
No momento em que ele chegou à rua, a comitiva Hyuuga se aproximava de onde ele tinha parado. Suzumi, Makoto e Yumi o rodearam esperançosos. Hinata vinha na frente, comandando o percurso. Usava um quimono azul, com o símbolo do clã e trazia à sua direita, Neji, e às sua esquerda, Hanabi. Ficando bem em frente a ela, propositadamente em seu caminho. Naruto se perguntava o que realmente queria com aquilo. Todas as sensações enterradas voltaram à superfície, borbulhando como o magma saindo de um vulcão. Lembrou-se daquele sorriso meigo, da voz carinhosa, do beijo doce, do cheiro sedutor e da noite em que se sentira completo pela primeira e única vez em toda sua vida. Angustiado, procurou encontrar seus olhos no momento em que ela passava ao seu lado. Buscava neles o reflexo das memórias vividas por ambos. Foram poucos os segundos em que se cruzaram, mas para ambos pareceu toda uma eternidade. Naruto tentava desesperadamente enxerga-la, enquanto Hinata desejava desaparecer. Evitou olhá-lo a todo custo. Sabia que se o fizesse, não conseguiria dar mais nenhum passo. Nem mesmo levantou a cabeça. Continuou a andar numa fingida tranqüilidade, passando por ele sem dar mostras que notava sua existência. Ignorou-o como quem ignora um cachorro leproso, ou uma cadeira vazia. Continuou seu trajeto, dando-lhe as costas mais uma vez.
O sentimento nostálgico que invadira Naruto deu lugar a uma profunda frustração. Fechou os pulsos tentando controlar a raiva e trincou os dentes. Não aceitava o desprezo. Não aceitava aquele silêncio. Decidido a arrancar qualquer que fosse o murmúrio daqueles lábios que já havia beijado, virou-se bruscamente em direção a ela, e correu para alcançá-la.
- HINATA! – gritou.
Rapidamente Neji entrou em seu caminho. Levantando a mão, olhou dentro dos olhos dele e falou na voz mais impessoal que Naruto jamais ouvira:
- Você não tem permissão para dirigir a palavra à líder do clã Hyuuga, Uzumaki Naruto.
Ele enfatizara bem a palavra “líder”.
- Neji – pediu impacientemente – Deixe-me passar.
- Não.
Naruto sentiu a kyuubi remexesse impaciente dentro dele. Ela queria batalha. Queria sangue. Mas isso ele não daria. Mesmo tendo uma vontade irresistível de abrir caminho com seu rasengan até onde estava Hinata, não iria fazer aquilo. Não por ela, ou seu maldito clã, mas em respeito a seus alunos. Desviou sua vista de Neji para Hinata, que não havia parado sua caminhada ao seu chamado e parecia ignorar todo o acontecido. Sentiu-se um grande idiota.
- Naruto-sensei... – falou Yumi puxando-o pela manga da camisa – Vamos embora, por favor.
Sem dizer uma palavra, Naruto virou as costas para Neji e se distanciou.
- Droga, perdi a fome... – reclamou Suzumi.
Eles seguiram Naruto durante algum tempo, até que ele parou e, sem olhar para eles, disse:
- Vão para casa. Amanhã teremos treino no mesmo local e mesma hora.
- Mas sensei... – tentou Yumi.
- É uma ordem! – rosnou Naruto.
Por um breve momento, puderam visualizar dentro da alma dele, a raposa que o habitava. E sem nem pensar duas vezes, se retiraram dali. Naruto então começou a vagar pela vila. Tinha se enganado durante aquele tempo. Em nenhum momento esquecera Hinata. Todavia, ela nem sequer parecia disposta a se lembrar dele.
“Acho que minha sina é viver sempre sozinho” pensou amargamente.
**************
Ao chegar perto da entrada do clã Hyuuga, Hinata não pode deixar de admirar sua força. Apesar de suas pernas ainda estarem tremendo, tinha conseguido passar por Naruto sem fraquejar. Sentiu uma alegria imensa ao ouvir sua voz pronunciando seu nome, e tivera vontade de mudar seu percurso direto para seus braços. Mas não podia. E continuara andando sem saber direito como conseguia manter-se de pé. Mas logo seu corpo cobrou o preço por aquela intensa emoção. A dois metros do portão, sentiu sua vista escurecer e seu corpo desfalecer, caindo no abismo de sua alma. Neji conseguiu segura-la antes que caísse no chão.
- Nee-san! – exclamou Hanabi – O que você esta sentindo?
- Acho que ela não pode te ouvir, Hanabi-sama. – E pegando na testa dela, falou para um rapaz ao seu lado – Chame um médico do clã o mais rápido possível. Ela está com febre.
O rapaz saiu rapidamente, enquanto Neji a transportava em segurança para dentro. Deitando-a em sua cama, alojou-a da forma mais confortável possível.
- Ele está vindo Neji-sama. – avisara o rapaz que fora buscar o médico.
- Certo. Vou precisar que você reforce a segurança do clã.
- Qual o motivo dessa decisão? – perguntou ele surpreso.
- Apenas precaução. Não deixe que nada chegue à mansão. Nem mesmo um sapo.
- Sim, Neji-sama.
Mesmo aturdido, o rapaz foi cumprir a ordem.
Neji olhou para Hinata mais uma vez. Seu semblante era de dor.
“Afinal, o que está acontecendo, Hinata-sama? Por que não me deixa ajuda-la?” pensou. “Há algo muito estranho acontecendo por aqui... E eu descobrirei o que é.”.
História Extra I
Otori Takeshi fechou os olhos e esperou. Imediatamente conseguiu localizar os sons do garoto. Ele parecia estar acordando naquele exato momento, já que as batidas de seu coração estavam calmas e sua respiração tranqüila. Ele levantou e se dirigiu ao banheiro, e pouco depois à cozinha. Estava na companhia do pai e da mãe que, diferente dele, traziam seus corações agitados e o sangue fluía com mais rapidez pelo corpo. Minutos depois, os passos começaram a ecoar nos ouvidos treinados do líder do clã Otori. Andavam tranquilamente, como quem passeia despreocupadamente. Sentiu a vibração de seu assoalho de madeira na hora que os dois entraram na mansão, e também quando falaram com seu encarregado:
- Ele os espera. – disse o rapaz.
Otori Masami entrou no escritório acompanhando de seu único filho, Makoto. O líder se impressionou quando olhou o menino. Os boatos estavam certos. Ele era muito menor que qualquer criança do clã e aparentava ter menos que os oito anos que completara no dia anterior. Quando seus olhos se encontraram com o do menino, Takeshi sorriu. Era preciso mostrar confiança a ele.
- Bom dia, Makoto-kun! – cumprimentou alegre.
Makoto corou um pouco. Era a primeira vez que via o líder do clã e não imaginava que ele fosse tão simpático. E tão jovem. Não devia ter mais que vinte anos.
- Bom dia Otori-sama. – respondeu encabulado.
- Ah, não precisa me chamar de “Otori-sama”! Takeshi já é o suficiente – disse sorrindo de forma bondosa - Então, você já está quase um homem, não? Oito anos... Meus parabéns!
- Obrigado, Takeshi-sama. – sorriu diante do elogio.
- Quer que eu os deixe a sós, Otori-sama? – perguntou Masami parecendo incomodado.
- Sim, eu prefiro. Gostaria de conversar a sós com o Makoto-kun.
Masami se curvou e retirou-se da sala, fechando a porta. Makoto olhou para onde seu pai havia saído e se perguntava o porquê daquilo. Não entendia qual o objetivo de seu pai tê-lo trazido ali para falar com o líder do clã, sendo ele ainda tão jovem. Devia ser pelo fato que não fora aceito na academia principal do clã. Por um momento, ficou assustado, mas ao olhar o rosto sorridente de Takeshi para ele relaxou mais. O homem à sua frente emanava uma aura de confiança palpável. Não havia como não se encantar com Otori Takeshi ou se sentir mal em sua presença. Ele se dirigiu para uma prateleira e pegou um pote colorido.
- Quer doce, Makoto-kun? – e ofereceu gentilmente as guloseimas.
- Mas ainda estar tão cedo, Takeshi-sama. Minha mãe não quer que eu coma doces a essa hora...
- Pode pegar. Por minha conta.
O menino se aproximou lentamente e pegou um bombom.
- Obrigado, Takeshi-sama. - agradeceu colocando-o na boca com um sorriso satisfeito.
Takeshi começou a analisar o menino a sua frente. Ele não tinha nenhuma noção do destino que seria lhe outorgado. Era uma simples criança sem o espírito das tradições, conceitos de responsabilidades, e de regras. Sem noção do seu papel no clã. Sentiu seu coração se encher de ternura pelo menino, ao mesmo tempo em que sentia também uma extrema tristeza pela situação que o colocaria a partir daquele momento. Mas não havia outra forma menos drástica. Só pior.
- Responda-me, Makoto-kun. – começou ele se sentando – Você sabe o que significa ser um Otori?
Mesmo estranhando a pergunta, Makoto balançou negativamente a cabeça.
- Nós somos o clã mais antigo de Konoha, mais até que os Hyuuga. Todavia, ninguém ouviu falar sobre nós, a não ser entre a elite jounin e a anbu. Você sabe o motivo disso?
- Não... – respondeu sorrindo, ainda empolgado com os doces.
- Deixe-me contar então. Nossas habilidades de espionagem são dentre as melhores do mundo ninja. Podemos ouvir qualquer coisa, a qualquer hora, desde conspirações secretas até as batidas do coração de um bebê ainda na barriga de sua mãe. Para ocultar essa sensibilidade auditiva, preferimos ficar nas sombras. Não nos interessa o reconhecimento pelo qual muitos almejam, desejamos apenas o cumprimento de nossas obrigações e ter uma vida tranqüila. Eu mesmo prefiro passar minhas tardes cuidando do meu jardim que em intermináveis reuniões – disse contente – E você Makoto-kun, o que gosta de fazer?
- Bem... – falou pensativo – Eu gosto de andar por aí, observando tudo... Nada em especial. Só andando.
- Ah, isso é muito interessante! Você é o primeiro que presencia a primavera. – ao dizer isso Takeshi observou o rosto do menino se iluminar e se sentiu bem – Então, por gostar de coisas simples como essas, não gostamos de nos meter nas intrigas de Konoha. Por esse motivo, temos nossa própria academia. Queremos nossas crianças perto de nós. Não freqüentamos a academia tradicional da vila, e nossos ninjas só saem daqui para entrar na Anbu ou fazer o Exame Jounin. Nossos chunins também são nomeados entre nós. Está me entendendo?
- Sim. – disse Makoto começando a perceber que havia algo mais naquela conversa.
- Ótimo. Pegue mais um doce – e estendeu o pote para menino que aceitou outro bombom - Quero que você entenda que nos orgulhamos de nosso sangue, de nossa família e dos laços afetivos que nos unem. Você dificilmente encontrará um Otori infeliz, pois o que mais prezamos é a felicidade dos membros. Somos como um só. Qualquer pessoa aqui morreria feliz por todos. – nesse momento o semblante de Takeshi adquiriu uma expressão sombria - Mas algumas vezes, algumas coisas saem do nosso controle... E alguns entre nós não nascem com a habilidade esperada.
Naquele momento, o coração do menino começou a acelerar. E pela expressão de seu rosto, sabia que Takeshi se referia a ele.
- Não gostamos de ver nossas crianças infelizes, principalmente eu, por ser responsável por todos vocês. É devastador ver o sofrimento de uma criança Otori – Makoto pode ver o sofrimento em sua face - Por isso, quando surge alguém como você, Makoto-kun, que não consegue entrar para a nossa academia, que não nasceu com a capacidade necessária de nossa linhagem sanguínea, nós, por sabermos que você mais que qualquer um irá sofrer com isso, procuramos aliviar esse o sofrimento o mais rápido possível. Sabe como?
- N-Não s-senhor... – disse já assustado.
Takeshi olhou para ele deu um sorriso triste e desolado.
- Nós as eliminamos.
Agora o líder do clã podia ouvir os batimentos do menino trovejando em seus ouvidos como uma sinfonia sinistra.
- Acalme-se Makoto-kun. Pegue mais um doce. – novamente estendeu o pote de doces para Makoto que, com as mãos trêmulas, apanhou um pirulito - Esse não será seu destino. Há muito tempo que eu contesto essa tradição, até que eu e a Hokage-sama conversamos e chegamos a um trato. Das poucas crianças sem habilidades para entrar na academia Otori, uma seria mandada para a academia de Konoha, para vermos como ela se adaptaria a um tratamento diferente. É uma experiência que decidimos tentar pelo bem de todos. Quando reuni o conselho e comuniquei minha decisão, eles concordaram. Ao invés de um fim tranqüilo, você teria uma árdua missão: entrar na academia de Konoha e se desenvolver lá. Se você conseguir isso, estará salvando a vida de crianças do clã Otori que nasceram como você e contribuindo para deixarmos no esquecimento esse passado de sombras.
- Por que eu, Takeshi-sama? – perguntou o menino assustado, mas em nenhum momento culpando Takeshi pelo que teria pela frente.
- Quando soube da decisão do conselho, seu pai prontamente me ofereceu você.
Seu pai procurara livra-lo da morte certa. Mesmo que seu coração enchesse de alegria naquele momento, não podia ficar tranqüilo. Apesar de ter somente oito anos, Makoto entendeu bem a situação. A vida dele e a de outras crianças do clã estavam em suas pequeninas mãos.
- Takeshi-sama... – começou incerto – E se eu falhar?
A expressão do líder do clã tornou-se sombria quando ele respondeu.
- Eu não deixarei você sofrer por isso. – respondeu Takeshi ciente de que teria que matá-lo caso isso acontecesse.
As lágrimas começaram a brotar dos olhos de Makoto, sabendo exatamente qual seria seu destino se falhasse. Assistindo ao desespero do menino, Takeshi se perguntou se não era melhor acabar com aquilo tudo de uma vez. Mas dera sua palavra a Hokage. Makoto permaneceria vivo e seria entregue aos cuidados do responsável pela academia ninja, Umino Iruka.
- Espero seu triunfo, Makoto-kun. Rezarei por isso. Suas aulas se iniciarão amanhã. Pelas batidas do coração de sua mãe, imagino que ela deve estar ansiosa para comprar seu material escolar. – e sorrindo ofereceu – Mais doces?
O garoto recusou com a cabeça.
- Que pena. Aqui têm tantos... Pode se retirar agora. Porém, deixe-me te dar uma ordem: você não poderá, de forma alguma, dizer a qualquer um de fora do clã sobre nossas práticas, nossas técnicas, ou nosso treinamento. E principalmente, de nossa experiência com você, entendeu?
- Sim, senhor... – respondeu tristemente, mas conformado encarando o líder do clã nos olhos.
- Adeus, Makoto-kun. Espero que você venha me visitar com freqüência. – pediu com um semblante triste.
- Sim, eu virei. – disse Makoto sabendo que aquilo não era um simples convite.
Lá fora seu pai o esperava. Olhando para o filho desolado, ele falou friamente:
- Limpe essas lágrimas. Um Otori não deve chorar nunca. E me espere aqui. Tenho uns assuntos para tratar com Otori-sama.
Quando o pai virou as costas e entrou na sala do líder do clã, Makoto se dirigiu à lata de lixo mais próxima. Com as lágrimas rolando pelo rosto, jogou o pirulito com toda sua raiva, fazendo-o se despedaçar. Nunca um doce tivera um gosto tão amargo.
Ai, pode ter ficado "um pouquino" grande mais eu acho que vale a pena!
copie pra um editor de texto e leia de pouquinho e pouquinho!
oq é?
é uma hisória de uma fan de como seria a história do anime NARUTO depois que se acabassem os episódios!
VÁ POR MIN VALE A PENA!
Se vc leu e gostou o resto será lancado no site http://fanfics.animespirits.net/visualizar/21005/
xau!
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Naruto - Livro
Postado por
animessword
às
1/07/2008 01:18:00 PM
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